Melhores de 2023: Por Emerson Lopes *

Melhores de 2023: Por Emerson Lopes *

Ah, as famosas listas dos melhores do ano. Mas a pergunta que sempre fica implícita é: Melhores para quem, cara-pálida? Bom, cada um tem um gosto e cada disco tem o seu momento. E é isso que faz você gostar mais deste disco do que daquele outro. Enfim, as listas nos ajudam a conhecer sons que, provavelmente, nunca escutaríamos diante da oferta infinita de músicas que estão gratuitamente ao nosso alcance. O meu Top 10 não tem ordem de preferência, pois tem dias que quero ouvir a voz James Hetfield, mas em outro, quero apenas escutar a guitarra de Nils Lofgren.


Rival Sons – Lightbringer/Darkfighter

A banda formada em 2009 tem o rock clássico como principal influência. Em várias entrevistas, o cantor Jay Buchanan declarou várias vezes que Small Faces, Led Zeppelin, The Rolling Stones, The Kinks, entre outros, fizeram parte de sua formação musical, mas que o grupo não quer soar como eles. Em 2023, a banda lançou dois discos que se completam – Darkfighter e Lightbringer – com uma diferença de 4 meses entre eles. Vale lembrar que Lightbringer tem “apenas” seis músicas. Mas quem gosta realmente de música não se preocupa com a quantidade de canções, mas sim como elas “batem” na mente, não é mesmo? Então, quem ouvir os novos álbuns do Rival Sons não irá se decepcionar. A voz de Buchanan continua rasgada e potente, assim como a guitarra de Scott Holiday. Não sei se a maioria dos ouvintes terá a mesma sensação que a minha, mas nesses dois álbuns, a banda ficou ainda mais parecida com o Audioslave, com suas devidas diferenças. A sinergia entre Buchanan e Holiday lembra muito a sonoridade de Chris Cornell e Tom Morello. Mas é claro que o Rival Sons faz um rock mais setentista, com guitarras que lembram muito os suecos do The Hellacopters. Enfim, os discos trazem porradas como “Nobody Wants To Die”, “Guillotine” e “Horses Breathe”, todos do Darkfighter, e “Mercy” e “Sweet Life”, do Lightbringer. Destaque para a belíssima balada “Redemption” e para “Before the Fire”.


Black Stone Cherry – Screamin’ At The Sky

O quarteto norte-americano liderado pelo cantor e guitarrista Chris Robertson continua afiado, entregando aquilo que seus fãs esperam, ou seja, peso e guitarras afiadas. Apesar de muitas vezes comparado aos canadenses do Nickelback, o Black Stone Cherry tem um som mais consistente, com riffs que tornam as canções mais potentes. Basta ouvir “Out Of Pocket”; e “Show Me What It Feels Like” para entender a fórmula da banda, ou seja, o peso das guitarras e a melodia se fundem e tudo se encaixa. O ritmo alucinante permeia todo o álbum, com “When The Pain Comes”, “The Mess You Made”, “Not Afraid” e “Screamin’ At The Sky”, com um belíssimo trabalho do baterista John-Fred Young. A banda está escalada para tocar no Brasil em abril, na edição de 2024 do Summer Breeze Brasil, na capital paulista. Além do grupo, já foram confirmadas as presenças de Gamma Ray, Black Stone Cherry, Overkill Mr. Big, Sebastian Bach, Anthrax, Death Angel, Hammerfall, Biohazard e Angra.


Joni Mitchell – Joni Mitchell At Newport (Live)

O improvável retorno da veterana cantora canadense Joni Mitchell aconteceu em grande estilo, em 2022, durante o tradicional Newport Folk Festival, nos Estados Unidos. Afastada dos palcos desde 2015, quando teve um aneurisma cerebral, Joni reapareceu, aos 78 anos de idade, ainda debilitada fisicamente, mas com a voz ainda intacta e sempre precisa. A apresentação foi um show-supresa, que contou com uma “ajudinha” da cantora Brandi Carlile e do cantor Marcus Mumford, da banda Mumford & Sons. O clima emotivo do momento está por toda a apresentação, em especial nos dois maiores clássicos da cantora “A Case of You” e “Both Sides Now”. Não podemos dizer que é um “disco de Joni Mitchell”, já que Brandi é quem “comanda” o show com sua afinada e onipresente voz, mas Joni é quem prende a atenção de todos não apenas por sua presença física, mas pelo riquíssimo repertório, que inclui ainda “The Circle Game”, “Shine” e a icônica “Big Yellow Taxi”.


The Struts – Pretty Vicious

Tenho que confessar que não conhecia a banda britânica pra valer. Já tinha ouvido falar das apresentações performáticas do vocalista Luke Spiller, que sempre o comparam com Freddie Mercury e Steven Tyler (Aerosmith), e escutado uma ou outra música, mas não chamaram a minha atenção. Mas o disco “Pretty Vicious”, o quarto do grupo, tem uma pegada mais forte, com Spiller mais maduro e solto nos vocais e guitarras mais nervosas. O primeiro single “Too Good At Raising Hell”, que abre o disco, é um som pra cima, contagiante e que deixa o ouvinte curioso com o que vem adiante. E o grupo entrega um bom repertório, com destaque para “I Won’t Run”, “Do What You Want”, “Rockstar” e “Remember The Name”, que nos faz lembrar dos bons tempos do disco Give Out But Don’t Give Up, do Primal Scream. Outro tema contagiante é “Better Love” e a balada roqueira “Hands On Me”. O piano de Spiller aparece em outro balada (“Somebody Someday”), que fecha o disco em clima de nostalgia e de esperança gritando aos quatro cantos que “Eu vou ser alguém algum dia“.


Extreme – Six

Acreditem ou não, mas depois de hibernarem por 15 anos, o Extreme voltou e com força. A banda que “nunca foi levada a sério” passou toda a carreira fazendo aquilo que queria sem se preocupar com as críticas e a má vontade dos críticos. A parceria entre o guitarrista Nuno Bettencourt e o cantor Gary Cherone continua sendo a mola mestra do grupo, com vocais potente e a a guitarra impressionante de Bittencourt. Não há novidades por aqui para a alegria dos fãs antigos da banda. “Thicker Than Blood”, “Rise”, “Rebel”, “Mask” e “Save Me” mantêm a temperatura alta, com bons riffs e a já costumeira competência de Bittencourt. Como de costume, o grupo aproveita a voz de Cherone para oferecer algumas baladas para o ouvinte. “Small Town Beautiful” e “Here’s to the Losers” seguem a velha fórmula, com violões de backgrround, vozes rasgadas e aquele solo de guitarra para fechar a conta. Por fim, destaque para as belas “Other Side of The Rainbow”, a música mais radiofônica de todas, e “Beautiful Girls”, que poderia ter sido lançada tranquilamente pelo cantor Jason Mraz.


Ash – Race the Night

É sempre bom ver uma banda da década de 1990 retomando um lugar que um dia já foi seu, pelo menos entre os ouvintes do rotulado “indie rock”. A banda irlandesa Ash teve seu momento dentro do movimento Britpop, mas nunca chegaram perto da onipresença de Oasis, Blur ou Suede. Mas, mesmo sem conseguir seu lugar ao sol entre os grandes, a banda manteve sua personalidade musical e continuou fiel aos seus instintos. Agora, após uma pausa de cinco anos, eles retornam com Race The Night, com o cantor e guitarrista Tim Wheeler mostrando fôlego e uma pegada forte. Temas como “Braindead”, “Like a God”, “Double Dare” e “Usual Places” são canções fortes e apontam o caminho escolhido para um belo álbum. Os fãs de Weezer vão se identificar com “Reward in  Wind”, “Peanut Brain” e “Over Out”. Por fim, as três “melhores” músicas do disco: “Summer Devil”, com um belo solo de guitarra e outros elementos do rock de arena, “Crashed Out Wasted”, que traz a sonoridade do Britpop da década de 1990, e a faixa-título, que só não vira hit porque……bom eu não sei o motivo de uma música tão boa não tocar nas rádios por aqui.


Steve Lukather – Bridges

Aqui temos mais um veterano que poderia estar em casa contanto uma montanha de dinheiro após quatro décadas dedicada a um dos conjuntos mais bem sucedidos de toda a história do rock: Toto. O guitarrista e cantor Steve Lukather retorna com mais um disco solo coerente com sua história e legado. Com participações de Simon Phillips (bateria), Leland Sklar (baixo), Joseph Williams (vocal) e David Paich (vocal), todos integrantes do Toto, em algum momento, o álbum abre com o peso de “Far From Over”, seguida por “Not My Kind of People”, que trazem bons riffs e a sempre marcante guitarra de Lukather. Em “When I See You Again”, ele soa como Neal Schon (Journey), o que sabemos não ser demérito. A balada da vez é “All Forevers Must End”, com todos aqueles elementos que levam o público a ligar a lanterna do celular nos shows (antes eram isqueiros, lembra?). Por fim, “Burning Bridges” traz uma pegada mais bluesy, e mostra uma faceta menos conhecida do músico, que se notabilizou pelo talento de criar riff como “Hold The Line”, “Rosanna” e “Stop Loving You”.


Nils Lofgren – Mountains

O septuagenário guitarrista sempre será lembrado por ser membro da E Street Band, grupo que acompanha o cantor Bruce Springsteen há cinco décadas. Mas uma pequena pesquisa no histórico de Nils Lofgren mostrará que seu talento já esteve a serviço de Neil Young e Ringo Starr. Nada mal, não é mesmo? Paralelamente às gravações e às turnês com Springsteen, Lofgren gravou dezenas de discos solos e manteve um pequeno, mas fiel grupo de fãs. O novo álbum traz participações de Young, Ringo, David Crosby e do baixista Ron Carter. A voz e a guitarra marcantes de Lofgren fazem toda a diferença em temas como “Dream Killer” e “Won’t Cry No More”. Outro belo momento é a acústica “Nothing’s Easy”, com Nils e Neil dividindo os vocais, e “Ain’t the Truth Enough”, em dueto com a cantora Cindy Mizelle, com quem Nils divide o palco nas turnês com Springsteen, e Ringo na bateria. Das 10 faixas, apenas “Back in Your Arms” não foi composta pelo guitarrista. O tema é uma balada composta por Springsteen, que aqui recebe o belíssimo arranjo do Howard College Gospel Choir.


Metallica – 72 Seasons

Depois de um longo hiato, a banda volta com um álbum consistente, sem novidades, é verdade, mas isso não tira o mérito de conseguirem entregar um álbum pesado e com riffs que grudam na mente do fã. A voz de James Hetfield continua potente, e a bateria de Lars Urich tem a consistência de sempre. Por mais que as viúvas do grupo continuem dizendo que Metallica morreu após o disco …And Justice for All, é inegável que o grupo continua relevante e fazendo “barulho” de qualidade. Lembre-se, são quatro décadas juntos, com muitas mudanças no mundo e na indústria fonográfica e, mesmo assim, mostram uma integração invejável. É claro que a banda continua colhendo os frutos de uma carreira longeva, mas isso não fez com quem o grupo se acomodasse, apenas continuam com a fórmula que elevou o grupo a gigantes do rock, desde 1991, com o Black Album. Destaques para as faixas “Lux Æterna”, “Inamorata”, “72 Seasons” e”Screaming Suicide”.


The Gaslight Anthem – History Books

A “pequena” banda de Nova Jersey (EUA) tem feito um trabalho consistente em seus álbuns, mas nunca conseguiu alçar voos mais altos longe da região de sua terra natal. É claro que não chega a ser um problema, já que o grupo liderado pelo guitarrista e vocalista Brian Fallon não parece ter pretensões muito maiores do que isso. Em seu novo álbum, o sexto da carreira, o som cru, que mistura rock com pitadas de punk continua ditando o ritmo, mas parece que a idade dos integrantes, que agora estão na faixa dos 40 anos, fez o espírito mais rebelde ficar meio adormecido. Temas como “A Lifetime Of Preludes”, “Michigan, “1975”, “Empires” e “The Weatherman” mostram uma faceta mais introspetiva do grupo, com belas melodias e letras que falam de desafios e das dificuldades que cruzam nossos caminhos no decorrer da vida. O disco também conta com a participação especial do cantor Bruce Springsteen, no tema “History Books”, a melhor do álbum. Para os fãs mais antigos, “Little Fires”; e “Positive Charge” não vão decepcionar, eu garanto.

* Emerson Lopes é jornalista, autor dos livros Jazz ao seu alcance e Springsteen, ambos publicados pela editora Multifoco, e editor dos blogues Jazz ao seu alcance e Bruce no Brasil. Atualmente, escreve para o site do Blue Note SP e para a Agência CMA.

4 comentários sobre “Melhores de 2023: Por Emerson Lopes *

  1. Pelo andar da carruagem vai ser difícil tirar o Rival Sons do posto de melhor do ano…
    Só tomei contato com esse disco do Black Stone Cherry depois de ter fechado minha lista, mas gostei bastante, tanto que já ouvi algumas vezes depois da primeira audição, bem como o Extreme, que só chegou ao meu conhecimento meio tardiamente. Legal ver dois grandes guitarristas, Nils Lofgren e Steve Lukather, que não sabia que tinham lançado coisa nova, vou conferir!

  2. Concordo contigo: para quem curte listas, creio ser um consenso o fato de que estas de final de ano nos trazem dicas preciosas acerca do que deveríamos, ao menos, arriscar a audição – sobretudo as de vocês aqui do site, sempre tão valiosas e de alta qualidade.
    Posto isso, também concordo contigo que há momentos de mais pancada e outros de mais suavidade, e nisso a sua lista está ótima! Concordo com as escolhas e os textos de Rival Sons, Black Stone Cherry e Metallica e agradeço sua escolha do álbum da Joni Mitchell, que sequer imaginaria que existisse e já está rolando bastante por aqui depois que o recomendou.
    The Struts eu confesso que nunca tinha ouvido falar, bem como The Gaslight Anthem, e ambas me agradaram.
    O Extreme é chover no molhado de todos os que escreveram sobre eles aqui no site de vocês: que grata surpresa! Discaço que também está na minha lista dos 10 preferidos de 2023 (não tenho coragem e nem cacife para uma lista de 10 melhores).
    Agora, as cerejas do bolo de sua seleção, para mim, foram Steve Lukather (que assim que desgrudar da Joni Mitchell vai entrar nos alto-falantes) e Nils Lofgren, dois nomes que me agradam e que (novamente…) também passei batido em 2023, que bom que me alertou deles! Só pelo que escreveu, já sei que vou gostar.
    Fechando com o Ash: rapaz, até chorei lendo seu texto sobre eles, pois eu tenho os “1977”, “Nu-Clear Sounds” e “Free All Angels” em CD, comprados na época em que foram lançados, e há um bom tempo não os ouvia, nem me lembrava da banda que tanto curti no toca-cd do Celtinha que eu tinha, o meu 1º carro comprado à vista lá no longínquo 1999, que substituiu o meu 1º carro, um Kadett maravilhoso, comprado à prestação… Bons tempos! Dos que não conhecia de sua lista, foi o primeiro que ouvi e reconheço que está maravilhoso – o que significa que lá vamos nós mexer mais uma vez na minha lista de preferidos de 2023…
    Acho que escrevi demais, perdoem-me. Mais uma vez, obrigado, Emerson, e a todos do site, pelas postagens e ótimos textos! Bom 2024 a todos!

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