This Winter Machine – Kites [2021]

This Winter Machine – Kites [2021]

Por Fernando Bueno

O rock progressivo é um das searas que mais me agrada no rock há muito anos (décadas até). Obviamente as minhas bandas preferidas são as que lançaram seus principais discos e tiveram o auge de suas carreiras na década de 70, mas como alguns sabem sou um grande fã de Marillion e o chamado neo-prog sempre esteve presente nas minhas buscas por algo diferente. Nesses últimos anos eu tenho visto muitas bandas do estilo surgindo, mas por ser uma música um pouco mais rebuscada e de certa forma difícil de ser absorvida ela fica no underground. Aliás, o rock, não só o progressivo, e o heavy metal estão hoje muito mais no underground mesmo.

O This Winter Machine apareceu para mim há quase dois anos. Ouvi Kites, seu terceiro disco, por um acaso e foi paixão à primeira vista. E é sobre ele que venho falar um pouco aqui para nossos leitores. Comecei a escrever esse texto logo após ouvir pela primeira vez o quarto disco da banda que foi lançado em outubro desse ano de 2023. Mas sobre ele podemos deixar para depois.

O This Winter Machine começou em 2016 depois de Al Winter conseguir arregimentar um grupo de músicos que tinham os mesmos interesses musicais que ele. Porém a ideia e o ponto inicial da banda tinham surgido quase 10 anos antes disso com Winter compondo uma música que já tinha todos os elementos do que viria a ser o This Winter Machine. A música em questão é a faixa título do álbum de estreia The Man Who Never Was (2017). Chamaram a atenção quando a revista Prog Magazine colocou uma de suas músicas em um daqueles CDs promocionais que acompanham a revista depois de terem feito uma boa participação abrindo para o Magnum (uma banda que está devendo aparecer por aqui).

Para o segundo disco a primeira mudança de formação. Saem o guitarrista Gary Jevon e o baterista Marcus Murray. Entram dois guitarristas, Graham Garbett e Scott Owens e o baterista Andy Milner e se tornam um sexteto junto de Al Winter nos vocais, Mark Numan no teclado e Peter Priestly no baixo. A Tower of Clocks de 2019 mantém a qualidade do disco anterior, mas fica evidente que nível técnico aumentou bastante. O álbum lançado num sistema de crowdfunding muito parecido com o que seus ídolos do Marillion já haviam feito anteriormente (para saber mais sobre isso leiam o texto nesse link aqui).

O “chefe” Al Winter

Segundo a banda o conceito de Kites começou antes mesmo de A Tower of Clocks ser lançado e a prova disso é que você consegue ver uma pipa voando atrás da torre na capa do segundo álbum. Mostra que a banda está sempre pensando no futuro já que após o lançamento do primeiro disco uma das músicas da turnê já era uma nova que iria entrar só no segundo álbum.

Porém nesse meio tempo Al Winter começou a ter problemas com os outros membros da banda. Scott Owens tinha acabado de abandonar a banda ele não conseguia ter todo mundo junto nas sessões de ensaio e composição para o próximo álbum. Frustrado ele resolve que o certo era trocar todo mundo. Assim ele recruta novos parceiros musicais enquanto os outros saem todos junto e formam a banda Ghost of the Machine. Uma decisão estranha já que se o problema era eles não conseguirem estarem juntos para tocar, como estariam juntos para esse novo grupo. Temos que lembrar que essa era a época do auge da COVID-19 e as questões causadas pelo lockdowns e distanciamento social causados pela pandemia também atrapalharam todo o processo. Decidem dividir as músicas de acordo com quem tinha trazido as ideias e cada um partiu para o seu lado. O Ghost of the Machine lançou seu até então único e bom álbum em 2022 chamado Scissorgames, que tem nota mais alta que qualquer disco do This Winter Machine na classificação feita pelos colaboradores e leitores do famoso site Progarchives.

“Le Jour D’avant” abre o disco com uma bela sequência ao piano que logo ganha a companhia de um violão dando um clima bucólico para essa abertura. Curioso que a nova formação não trazia um tecladista fixo e acabou usando várias pessoas que gravaram faixas diferentes. Em “The Storm (Part I)” a calmaria se acaba e um pouco de peso é adicionado. Al Winter varia bastante a tonalidade de sua voz e no refrão ele entrega seu melhor trabalho vocal atingindo notas bem altas. No solo a participação do guitarrista do Wishbone Ash, Mark Abrahams, se faz presente. A parte 2 de The Storm inicia de forma mais contida, mas o instrumental potente volta logo depois. “Limited” é uma viagem sonora na linha de bandas de jazz-rock ou de fusion sem muitas tecnicalidades e, por ser curta acaba sendo quase uma introdução para a faixa seguinte “Pleasure & Purpose”. Essa sim a faixa mais forte do álbum. Muita melodia, muita emoção na interpretação de Winter e um solo matador de guitarra de Simon D’Vali, um dos estreantes na nova formação – agora também com Dave Close no baixo, Dom Bennison na outra guitarra e Alan Wilson na bateria.

O This Winter Machine segue seu álbum com mais uma faixa forte e com grande refrão, “This Heart’s Alive”. “Whirlpool” é mais uma faixa curta que serve como uma vinheta, mas dessa vez um riff de guitarra que poderia estar nas melhores composição do Dream Theater. Em “Broken” o tecladista Mark Numan que gravou o álbum de estreia faz uma boa participação. A música é uma balada que vai crescendo, com climas e camadas sendo adicionada até seu clímax. Em “Sometimes” o vocalista Peter Jones, que faz parte da formação atual do Camel, faz uma participação muito interessante com uma bonita faixa que traz um pouco de leveza depois da densa faixa anterior. Um dueto entre guitarra e teclado abre a última faixa do disco, exatamente a faixa título, a mais longa do disco com seus pouco mais de sete minutos. O conceito da música é que como pipas a pessoa pode ascender cada vez mais, mas sempre é possível deixar a vida ao vento e ver onde vai dar.

Apesar das mudanças radicais de formação o This Winter Machine consegue manter a ideia de seu som, mesmo que uma coisa ou outra sempre seja adicionada aqui e ali. O mais interessante é o quanto o disco melhora a cada vez que volto à ele. Li em uma resenha que a ideia era manter a assinatura do som ser tem medo de tentar coisas novas e eu acredito que eles estão fazendo isso com perfeição. Seu mais recente disco, recém-lançado, continua com essa ideia, mesmo com novas mudanças de formação, e as novas audições certamente me farão captar as sutilezas que não peguei na primeira audição.

Um comentário em “This Winter Machine – Kites [2021]

  1. O rock progressivo (ou progressista) é um som que ainda estou aprendendo a curtir e conhecendo melhor, iniciando principalmente com “medalhões” tais como, Genesis (apenas fase Peter Gabriel), King Crimson, Camel (Mirage já é um dos meus discos favoritos em todos os tempos) e Gentle Giant (ok, não vou citar na lista nomes como Pink Floyd e Rush, bandas favoritas, mas que entram na discussão “progressivo ou não?”). Diante do belo texto, a gente fica curioso para pesquisar o trabalho do This Winter Machine o que farei ainda hoje, inclusive. Parabéns pelo texto e por nos apresentar mais uma banda (por certo muitos aqui já conhecem). Depois de ouvir o conjunto (expressãozinha dos 80s, não?) comento contigo, Fernando. Abraço!

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