Richie Ramone – Live To Tell [2023]

Richie Ramone – Live To Tell [2023]

Por Micael Machado

O baterista Richard Reinhardt adotou o nome artístico de Richie Ramone quando juntou-se aos Ramones em 1983, permanecendo na banda até 1987, e gravando três discos que estão, na minha opinião, dentre os melhores trabalhos da discografia dos “brothers” nova-iorquinos, além de ter sido o primeiro baterista do grupo a compor, fazer backing vocals e até cantar as partes principais em algumas demos e B-Sides do quarteto. Sua saída do conjunto nunca foi bem explicada até hoje, assim como não se tem muita informação do que ele fez da vida entre largar as baquetas dos Ramones e assumir uma carreira solo como cantor e baterista com o lançamento de Entitled, em 2013 (ainda que ele participe em algumas faixas de …Ya Know?, o segundo lançamento póstumo de Joey Ramone). Desde então, Richie vem excursionando constantemente, tendo várias passagens pelo Brasil, inclusive uma primeira apresentação em Porto Alegre, cidade onde moro, em novembro de 2023, na qual tive a chance de trocar algumas palavras com o músico, autografar alguns itens dos Ramones, e adquirir o vinil de seu terceiro trabalho como artista solo, intitulado Live To Tell, sobre o qual gostaria de tratar neste texto.

Produzido pelo próprio Richie Ramone, e lançado pela gravadora Outro Records com edições em CD e em vinil (preto e transparente, esta limitada a 250 cópias), o disco conta, além de Richie nos vocais e bateria, com sua fiel escudeira Clare Misstake no baixo e backing vocals (a qual já havia participado do disco anterior), além das guitarras de Marc Diamond (que só não participa do remix de “The Last Time”, faixa que já havia aparecido em um Flexi-disc da revista norte-americana New Noise em 2018), Ronnie Simmons (que não participa de três músicas) e dos teclados de Paul Roessler, além da participação especial do guitarrista Ben Reagan na citada “The Last Time”.

Parte do encarte da versão em CD de Live To Tell

Se em seu segundo disco, Cellophane, de 2016, Richie aproximava a sonoridade de suas músicas do proto-punk garageiro de Detroit nos anos de 1969 ou 1970 (mais notadamente, do estilo adotado por bandas como Stooges ou MC5 naqueles tempos), neste novo registro o baterista parece “voltar às origens”, e resgata muito do estilo de seus tempos de Ramones em suas novas composições. As velozes “Suffocate” (que ganhou um vídeo oficial de divulgação) e “Who Stole My Wig” (cujo título e letra parecem uma grande tiração de sarro com a “lenda” – “lenda”? kkkk! – do uso de uma peruca por parte de Marky Ramone, o antecessor – e sucessor – de Richie nos Ramones) remontam às faixas mais hardcore gravadas pelos “brothers” naquela época, enquanto “Not Afraid” (composta pelo guitarrista Marc Diamond) e “When The Night”, apenas de um pouco mais leves, ainda são rápidas o suficiente para agradar aos saudosos fãs da antiga banda do baterista. “Master Plan” se aproxima mais do poppy-punk que o grupo praticou nos tempos com CJ no baixo, mas tem um pianinho que remete a algumas faixas dos três registros com Richie na bateria, e, se “Find Our Place” é um pouco mais lenta que o normal da banda, mas ainda soa como uma composição dos Ramones, a faixa título precisaria só de alguns poucos ajustes para se encaixar perfeitamente no track list de um disco como Too Tough To Die, a estreia de Richie com seu antigo grupo.

As cadenciadas “Old Ways” e “Other Things” parecem sobras do disco anterior, e a baladaça “I Sit Alone (Yeah Yeah)”, com começo ao piano e um clima bem tristonho, tem uma frase que parece remeter ao antigo grupo de Richie (“Eu não acredito em milagres, porque sou só um tolo, e me sento aqui sozinho agora, com o meu tempo acabando”). Fechando o repertório do disco, há uma sombria versão para “Cry Little Sister”, música tema do filme de 1987 “Os Garotos Perdidos” (“The Lost Boys”, no original), cover esta que já havia aparecido na trilha sonora do filme “Protege Moi”, e saído como “lado B” do compacto promocional para “Not Afraid”, lançado como prévia do disco completo também em 2023.

Contracapa da versão em vinil de Live To Tell

Como cantor, Richie não obtém um destaque tão grande assim. Sua voz soa bem mais “desgastada” que em seus tempos de Ramones, mas se adapta bem ao estilo de suas novas músicas, além de seus vocais serem muito bem complementados pelos backings de Clare, que manda muito bem no baixo, assim como seus companheiros das seis cordas. Live To Tell não é o disco que vai mudar sua vida, mas, certamente, vai lhe garantir quase quarenta minutos de boas audições e muita diversão! Se tiver oportunidade, vale conferir!

Well my life is kinda crazy, and I´m not replaceable. I live to tell another day!

Track List:

1. Live To Tell
2. When The Night
3. Who Stole My Wig
4. Old Ways
5 Find Our Place
6. I Sit Alone (Yeah Yeah)
7. Not Afraid
8. Cry Little Sister
9. Suffocate
10. Other Things
11. Master Plan
12. The Last Time (Remix)

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