Cinco Discos Para Conhecer: Everybody Plays Dylan

Cinco Discos Para Conhecer: Everybody Plays Dylan

Por Marcello Zapelini

Recentemente, Cat Power anunciou o lançamento de um álbum ao vivo intitulado Cat Power Sings Dylan: At the Royal Albert Hall, em que ela recria o famoso concerto da turnê de 1966 em que um sujeito da plateia grita “Judas” para Dylan durante o set elétrico com a The Band. Isso me fez despertou a atenção para o fato de que mr. Robert Allen Zimmermann já foi regravado por milhares de artistas diferentes, e vários destes dedicaram álbuns inteiros à obra do bardo de Minnesota. Algumas versões são inclusive consideradas superiores às originais (como esquecer que o próprio Bob adotou o arranjo de Hendrix para “All Along the Watchtower”?), atestando a qualidade das composições.

Bob já compôs mais de 600 músicas, e de acordo com a Wikipedia mais de 600 artistas já regravaram cerca de 300 dessas composições. Mas, desde o começo da carreira, ele se acostumou a ser regravado por outros artistas; afinal, “Blowin’ in the Wind” fez sucesso nas vozes de Peter, Paul & Mary antes que na do próprio autor! O Fairport Convention fez grande sucesso com “Si Tu Dois Partir”, uma versão em francês (!) para “If You Gotta Go, Go Now”, “Mr. Tambourine Man” estourou com The Byrds, Manfred Mann teve um dos seus maiores sucessos com “Quinn The Eskimo”… E já em 1965, a cantora folk Odetta (que Dylan sempre citou como uma das suas maiores influências) lançava um álbum inteiramente dedicado às canções de Bob: Odetta Sings Dylan. Em 1968, Joan Baez lançou Any Day Now com o mesmo propósito. Outros álbuns se seguiram ao longo dos anos, fazendo com que a categoria “tributo a Bob Dylan” tenha dezenas de entradas.

Este “Cinco Discos para Conhecer” é dedicado aos tributos a Bob Dylan, e os álbuns escolhidos seguiram alguns critérios:

a) meu gosto pessoal, seja pelo artista em si, seja pelas músicas escolhidas;

b) são álbuns especificamente gravados como tais, e não antologias (isso deixou Garcia Plays Dylan, do Jerry Garcia, Postcards of the Hanging, do Grateful Dead e a sensacional coletânea The Byrds Play Dylan de fora da lista final);

c) foram gravados por um artista ou banda específicos, não por diferentes artistas.

Os discos são apresentados sem nenhuma ordenação de preferência.


The Hollies – Sings Dylan [1969]

Cronologicamente, o disco mais antigo que escolhi para esta seção. Lançado em 1969, quando da saída de Graham Nash (que criticou muito a decisão de gravar o álbum, e saiu antes das sessões), este álbum traz Allan Clarke (vocais e harmônica), Tony Hicks (vocais e guitarra) e o resto da turma (Bernie Calvert no baixo, Terry Sylvester no vocal e guitarra e o excelente – e subestimado – Bobby Elliott na bateria) em doze composições que se alternam entre o pouco conhecido na época (como “When the Ship Comes In”) e o já estabelecido (como “Blowin’ in the Wind”, que aqui ganhou um arranjo de metais e cordas um pouco pomposo para uma música tão simples e direta). The Hollies regravaram Dylan dentro de seu estilo, com muitos backing vocals e um instrumental leve, mas seguro. Foi um movimento que não foi muito bem compreendido na época (e até fortemente criticado), mas que rendeu à banda um terceiro lugar na parada britânica. O destaque absoluto do álbum é o vocalista Allan Clarke, cujo desempenho é uniformemente bom em todas as músicas, em especial na ótima versão para “I’ll Be Your Baby Tonight”. “This Wheel’s on Fire” soa surpreendentemente pesada para uma banda que sempre ficou mais conhecida pelas baladinhas, e mostra o talento de Elliott, que também dá um show à parte na introdução de “Quit Your Low Down Ways”. “I Shall be Released” é outro destaque vocal para Clarke, que consegue, ao mesmo tempo, ser fiel ao original e imprimir seu próprio estilo em sua interpretação das músicas, e traz um solo de Tony Hicks, um guitarrista que sempre se destacou pelo seu estilo econômico. “The Times They Are A-Changin’” soa como um grupo de amigos cantando numa festinha ou acampamento, mas aposto que eu e você não temos amigos tão afinados. “My Back Pages” traz Clarke tentando imitar o vocal original de Bob, e o resultado não é tão bom; quando Hicks e Sylvester se juntam a ele, a coisa melhora, mas a versão é prejudicada pelo arranjo meio Las Vegas de Lew Warburton; “Mighty Quinn” encerra o LP original, e a gravação dos Hollies, na minha opinião, é superior à bem-sucedida do Manfred Mann. Tony Hicks toca banjo na música, que mais uma vez traz um arranjo de metais – embora desta vez tenha combinado com o clima alegre da música. Algumas músicas escolhidas para este disco já tinham sido regravadas pelos Byrds, o que permite uma comparação entre as duas bandas – especialmente porque ambas davam muito destaque para as harmonias vocais; se Roger McGuinn é considerado um dos melhores intérpretes de Dylan, é possível afirmar que Clarke não perde muito para o americano, e a versão para “Just Like a Woman” não faria feio nos álbuns pós-Sweetheart of the Rodeo dos Byrds. O CD atualmente disponível traz várias faixas-bônus, apenas duas relacionadas ao projeto: uma versão alternativa para “Blowin’ in the Wind” com participação comprovada de Graham Nash (que admitidamente não gostou da experiência), e uma “The Times They Are A’Changin’” supostamente ao vivo. As demais são músicas do próprio grupo, também supostamente ao vivo, mas que soam como versões de estúdio com plateia adicionada, como fica nítido na ótima “King Midas in Reverse”. Mais de 50 anos depois deste disco, The Hollies continuam na estrada, com Tony Hicks e Bobby Elliott liderando um bravo grupo de veteranos, e recentemente Allan Clarke, que esteve afastado da música, lançou um bom álbum solo. Mas nenhum deles revisitou Bob Dylan novamente.

Allan Clarke (vocais, harmônica), Bernard Calvert (baixo, piano, órgão, teclados), Tony Hicks (vocais, guitarras, banjo), Terry Sylvester (vocais, guitarras), Bobby Elliott (bateria, percussão), Graham Nash (vocais, violões, guitarras em “Blowin’ In The Wind” não-creditado)

  1. When The Ship Comes In
  2. I’ll Be Your Baby Tonight
  3. I Want You
  4. This Wheel’s On Fire
  5. I Shall Be Released
  6. Blowin’ In The Wind
  7. Quit Your Low Down Ways
  8.  Just Like A Woman
  9. The Times They Are A-Changin’
  10. All I Really Want To Do
  11. My Back Pages
  12. Mighty Quinn

Bryan Ferry – Dylanesque [2007]

O vocalista do Roxy Music já tinha regravado o bardo antes, inclusive em sua estreia como artista solo em 1973. Neste álbum de 2007 ele recria dez composições originais de Bob e a antiga “Baby Let Me Follow You Down”, que fora regravada pelo próprio Dylan em seu primeiro álbum. Contando com uma ótima banda de apoio, que inclui Chris Spedding na guitarra, Guy Pratt no baixo, Andy Newmark na bateria e Paul Carrack no órgão, bem como com as participações especiais de Robin Trower e Brian Eno, Ferry torna suas as músicas que escolheu, imprimindo seu toque pessoal em um repertório que traz algumas escolhas óbvias como “Knockin’ on Heaven’s Door” e “All Along the Watchtower”, e surpreende ao trazer de volta “Gates of Eden” e “Just Like Tom Thumb’s Blues”, composições menos conhecidas (mas não menos interessantes). “Make You Feel My Love”, do ótimo “Time Out of Mind”, tem um arranjo semelhante ao original, baseado no piano, e ganha destaque pela interpretação emocionada de Bryan, que deixa a (boa) versão de Adele no chinelo. Por outro lado, a maravilhosa “Simple Twist of Fate”, minha música favorita no melhor álbum de Bob Dylan (“Blood on the Tracks”), embora tenha recebido uma versão interessante, perde para a definitiva do Concrete Blonde (Johnette Napolitano está simplesmente arrepiante nessa). “Knockin’ on Heaven’s Door”, felizmente, evitou o arranjo reggae (ridículo, por sinal) que Clapton fez para a música (adotado pelo próprio Dylan em “At Budokan”), e aqui se saiu muito bem, ainda uma balada, mas com um ritmo menos fúnebre do que se encontra no original gravado para a trilha sonora de “Pat Garrett & Billy The Kid”. Já a versão para “Positively Fourth Street”, transformada em balada, ficou sensacional, com uma interpretação contida nos vocais e um arranjo baseado no piano, com direito a um solo de harmônica do próprio Ferry. Por fim, arrisco dizer que a versão de “All Along the Watchtower” só perde para a de Hendrix (mas essa, convenhamos, é covardia!). Por fim, quero destacar “Gates of Eden”; em “Bringing it All Back Home”, Bob canta acompanhado apenas pelo violão, aqui Bryan conta com o apoio de sua banda, e mantém o andamento hipnótico do original – e aproveita boa parte do seu alcance vocal para uma interpretação definitiva, abrilhantada pelos vocais femininos durante o solo de harmônica. O saldo final de “Dylanesque” é extremamente positivo: Bryan Ferry está totalmente à vontade interpretando as composições de Bob Dylan, e sua voz madura combina bastante com as melodias e arranjos. O disco, com pouco mais de 42 minutos, é um tanto enxuto, e eu particularmente teria adorado ouvir o vocalista do Roxy Music cantando “Lay Lady Lay” ou “Forever Young”, dentre outras que penso que fechariam bem com seu estilo.

Byan Ferry (vocais, harmônica, órgão), Robin Trower (violões), Chris Spedding (guitarras), Oliver Thompson (guitarras), Mick Green (guitarras), Leo Abrahams (guitarras), Guy Pratt (baixo), Zev Katz (baixo), Andy Newmark (bateria), Bobby Irwin (bateria), Anthony Pleeth (violoncelo), Brian Eno (programações), Isaac Ferry (programações), Paul Carrack (órgão), Frank Ricotti (percussão), Colin Good (piano), Jon Thorne (viola), Gavyn Wright (violino), Jackie Shave (violino), Lucy Wilkins (violino), Anna McDonald (Backing Vocals), Joy Malcolm (Backing Vocals), Me’sha Bryan (Backing Vocals), Michelle John (Backing Vocals), Sarah Brown (Backing Vocals), Sharon White (Backing Vocals), Tara McDonald (Backing Vocals)

  1. Just Like Tom Thumb’s Blues
  2. Simple Twist Of Fate
  3. Make You Feel My Love
  4. The Times They Are A-Changin’
  5. All I Really Wanna Do
  6. Knockin’ On Heaven’s Door
  7. Positively 4th Street
  8. If Not For You
  9. Baby Let Me Follow You Down
  10. Gates Of Eden
  11. All Along The Watchtower

Mountain – Masters of War [2007]

O disco mais inesperado dentre todos os que selecionei para a seção, já que o Mountain nunca se destacou muito por fazer versões para músicas de outros artistas (ainda que tenha algumas, óbvio). Este acabou sendo o último álbum de estúdio da banda americana, lançado em 2007, aqui formada por Leslie West e Corky Laing, membros originais, e Richie Scarlet no baixo, que acompanhava Leslie em sua carreira solo. O álbum conta com alguns convidados especiais: Ozzy Osbourne canta com Leslie na versão pesada e blueseira de “Masters of War” que abre os trabalhos, e Warren Haynes (The Allman Brothers Band, Gov’t Mule) aparece na guitarra e vocais em “Serve Somebody” e “The Times They Are A’Changin’”, transformada em uma bela balada blues. As músicas de Bob Dylan nunca soaram tão pesadas quanto neste disco, pois Leslie West e Corky Laing não tiram o pé na maior parte do tempo, tornando este um dos tributos mais pessoais dessa lista. O repertório mistura algumas músicas “comuns” neste tipo de empreitada com outras nem tanto. Dentre o que poderíamos chamar de “arroz de festa”, “Blowin’ in the Wind” aparece duas vezes, numa “heavy” e numa “acoustic version”. “Highway 61 Revisited”, “Mr. Tambourine Man” e “Like a Rolling Stone”, além da já citada “The Times…” são outras músicas mais comuns neste tipo de álbum, mas “Seven Days” (tocada por Dylan na Rolling Thunder Revue e “doada” a Ronnie Wood), “Serve Somebody” (na verdade, “You Gotta Serve Somebody”) e “Heart of Mine” são composições que a maioria não esperava. Destaques, há muitos: Leslie West está cantando muito bem, especialmente na introdução de “Blowin’ in the Wind (Heavy Version)”, acompanhado pelo violão, e essa versão em especial é excepcional, fazendo que mesmo quem não liga muito para a música em si (como eu) acabe curtindo bastante. “Everything is Broken” (de Oh Mercy, de 1989) é outra música que ganhou muito com a recriação do grupo. “Heart of Mine” (de Shot of Love), recriada como um blues acústico, ficou muito bonita, e é um dos poucos momentos do álbum em que o peso não prepondera. “Subterranean Homesick Blues” também ganhou peso, numa versão mais cadenciada – acho que ninguém conseguiria cantar tão rápido quanto Bob! Em compensação, Dylan não conseguiria tocar o que o grande Leslie toca aqui. “Mr. Tambourine Man” também está bem diferente, com um andamento semelhante à versão dos Byrds, mas com peso extra na guitarra de Leslie. Por outro lado, “Highway 61”, tocada praticamente só na guitarra e na bateria, ficou quase irreconhecível; Johnny Winter mostrou no final dos anos 60 como regravá-la, e sua versão pode ser considerada definitiva. “Like a Rolling Stone” foi outro equívoco. Corky Laing gravou-a praticamente a solo, cantando e acompanhando-se na bateria – um movimento arriscado que tornou quase insuportável esta que é uma das mais belas composições de Dylan. Provavelmente a pior cover dentre todas as apresentadas nos álbuns discutidos aqui. O Mountain sobreviveu até 2010, e hoje circula numa versão liderada por Corky Laing, fazendo shows menores. Leslie West teve que amputar uma das pernas por conta da diabetes, e faleceu em 2020. Masters of War não é exatamente a “chave de ouro” que fechou a carreira da banda, mas é um bom disco-tributo, que traz regravações que adaptam os originais ao estilo de uma das bandas pioneiras do heavy metal. Merece uma conferida, especialmente se você for fã de Leslie West e sua turma!

Leslie West (guitarras, vocais), Kenny Aaronson (baixo), Richie Scarlet (baixo), Corky Laing (bateria),Brian Mitchell (piano, órgão, acordeão), Todd Wolfe (guitarras), Ozzy Osbourne (vocais em 1), Warren Haynes (guitarras em 2)

  1. Masters Of War
  2. Serve Somebody
  3. Blowin’ In The Wind [Heavy]
  4. Everything Is Broken
  5. Highway 61 Revisited
  6. This Heart Of Mine
  7. Subterranean Homesick Blues
  8. The Times Are A-changin’
  9. Seven Days
  10. Mr. Tambourine Man
  11. Like A Rolling Stone
  12. Blowin’ In The Wind [Acoustic]

The Charlie Daniels Band – Off the Grid: Doin’ it Dylan [2014]

Charlie Daniels (que estava com 78 anos quando este disco saiu em 2014) era uma lenda da música de Nashville, e tocou com Bob Dylan em Nashville Skyline, Self Portrait e New Morning, entre 1969 e 1970 (na maioria das vezes, ele atuou como baixista, embora tenha créditos também como guitarrista). Este álbum, penúltimo gravado por Daniels (que faleceu em 2020), confere um sabor country às músicas de Bob, algo que não lhe era estranho, e o líder – e nome – da banda se encarrega do violino, bandolim e violões, além do vocal principal. As dez músicas selecionadas cobrem um período de 16 anos, entre The Freewheelin’ Bob Dylan (1963) e Slow Train Coming (1979), mas apenas “Gotta Serve Somebody”, desse último, e “Tangled Up in Blue” (de Blood on the Tracks, de 1975) datam dos anos 70. Aliás, “Tangled Up in Blue” abre o disco numa versão absurdamente boa, comparável em qualidade somente às gravações ao vivo de Jerry Garcia nos seus shows solo. “Times They Are A’Changin’” e “I’ll Be Your Baby Tonight” são apresentadas em versões alegres e animadas, muito interessantes, mostrando o quanto Charlie Daniels e seus músicos estavam se divertindo com o projeto. Já “Gotta Serve Somebody” ganha diferenças significativas em relação à original e soa até meio sombria, com direito a ótimos solos dos guitarristas Bruce Brown (que aliás, dá um show à parte na harmônica em várias músicas) e Chris Wormer. Apesar da idade, a voz de Daniels é forte e clara, e ele canta muito bem “I Shall Be Released”, não deixando saudade do falsete de Richard Manuel. “Country Pie” é a única música regravada para o projeto que teve participação de Daniels na versão original, pois veio de “Nashville Skyline”. A versão original é uma das músicas mais curtas que Bob gravou em sua carreira, e aqui ganhou mais de 40 segundos, mas fora isso, a versão deste álbum é bem fiel à original, embora destaque os vários solistas, e não só a guitarra: além do violino de Charlie, o pianista Shannon Wickline e os guitarristas Brown e Wormer também ganham a chance de brilhar. “Mr. Tambourine Man” coloca em primeiro plano o violino, numa versão mais próxima da clássica recriação do The Byrds, enquanto “A Hard Rain’s A-Gonna Fall” é cantada com raiva nos vocais, dando uma nova vida à velha composição. O disco se encerra com “Just Like a Woman” e “Quinn The Eskimo”, com destaque para a última composição, que tem seu ritmo acelerado e evoca a imagem de uma turma de cowboys dançando com suas garotas num saloon esfumaçado. “Off the Grid” é uma bela homenagem de um grande músico a outro, e comprova a versatilidade das composições de Dylan, que se adaptam a essa releitura mais country da mesma maneira que ao peso do Mountain. Mesmo quem não goste de country music passará bons momentos ouvindo este álbum, um destaque na longa carreira da Charlie Daniels Band (mais de quarenta discos lançados de 1970 até a morte do líder).

Charlie Daniels (vocais, fiddle, violões, mandolin), Chris Wormer (Violão de 12 cordas, violão, slide guitar, vocais), Bruce Brown (banjo, dobro, violões, harmônica, mandolin, vocais), Charlie Hayward (baixo acústico), Pat McDonald (congras, baterias, percussão), Shannon Wickline (piano), Casey Wood (Harmonium)

  1. Tangled Up in Blue
  2. Times They Are A-Changin’
  3. I’ll Be Your Baby Tonight
  4. Gotta Serve Somebody
  5. I Shall Be Released
  6. Country Pie
  7. Mr. Tambourine Man
  8. A Hard Rain’s a-Gonna Fall
  9. Just Like a Woman
  10. Quinn the Eskimo (The Mighty Quinn)

Chrissie Hynde – Standing in the Doorway [2021]

O álbum mais recente (2021) dentre todos os que selecionei traz a vocalista do The Pretenders pagando uma dívida com um de seus artistas favoritos; confesso que esperava um disco assim desde que ela cantou (muito bem) “I Shall Be Released” no concerto em homenagem aos 30 anos de carreira de Bob, em 1991. Trata-se apenas do terceiro disco-solo de Chrissie Hynde, e indubitavelmente uma das melhores coisas que ela fez em sua carreira. Acompanhada por apenas dois músicos (os produtores James Walbourne e Tchad Blake), a cantora escolheu um repertório bem variado, começando com “In the Summertime”, do subestimado Shot of Love (como aliás são os discos da “trilogia cristã”, que já discuti em artigo no Consultoria). Aliás, “Every Grain of Sand”, uma das poucas músicas elogiadas pela crítica neste disco também comparece em bela versão que encerra o disco. “You’re a Big Girl Now” soa um tanto estranha na voz de uma mulher, mas o charme de Chrissie dissipa essa estranheza: é impressionante como aos 70 anos sua voz ainda soa como aos 30, quando os primeiros discos dos Pretenders foram lançados. A lindíssima “Standing in the Doorway” é um capítulo à parte. Gravada por Dylan no seu excelente Time Out of Mind, a música parece ter sido escrita para ser cantada por Chrissie, que interpreta a música com uma fragilidade incomum. É interessante que ela regravou três músicas de “Infidels”, disco que completou 40 anos neste ano de 2023: “Sweetheart Like You” – em que o arranjo esparso fez sentir falta das guitarras de Mark Knopfler e Mick Taylor na versão original –, “Don’t Fall Apart on me Tonight” (em que James Walbourne se junta a Chrissie no refrão, cantando em harmonia) e o outtake “Blind Willie McTell”; esta última pouco se desvia do arranjo original, deixando para a própria Chrissie injetar alguma diferença, e de fato a moça está cantando muito aqui. “Love Minus Zero/No Limit” também não está muito diferente da versão original, e mais uma vez é a interpretação da cantora que faz a diferença. Por fim, destaco “Tomorrow is a Long Time”, que apareceu pela primeira vez no “Greatest Hits vol. II” de Dylan em gravação ao vivo de 1963, e que aqui também comparece em versão bem fiel à original. “Standing in the Doorway” é um álbum maduro, de uma cantora madura que, a essa altura de sua carreira, sabe que não precisa provar nada para ninguém, e já deixou sua marca na história do rock. Chrissie Hynde, neste álbum, é uma grande cantora interpretando ótimas composições, e injetando sua personalidade nelas: desde que conheci o disco, não consegui ouvir “Standing in the Doorway” no Time Out of Mind sem lembrar dela.

Chrissie Hynde (vocais, gutiarras), James Walbourne (piano, teclados, violões, guitarras, mandolin, vocais), Tchad Blake (percussão, teclados)

  1. In The Summertime
  2. You’re A Big Girl Now
  3. Standing In The Doorway
  4. Sweetheart Like You
  5. Blind Willie McTell
  6. Love Minus Zero/No Limit
  7. Don’t Fall Apart On Me Tonight
  8. Tomorrow Is A Long Time
  9. Every Grain Of Sand

Bonus track: Tá Tudo Mudado: Zé Ramalho canta Bob Dylan (2008)

Não sou fã de Zé Ramalho e, aliás, não dou muita atenção para a música brasileira em geral. Mas devo admitir que este álbum ficou interessante, a começar pela capa (com Zé imitando o jovem Bob do clip de “Subterranean Homesick Blues”) e pela escolha do repertório (“Wigwam”? “Man Gave Names to All the Animals”? “Tombstone Blues”? Quem teria pensado nessas músicas?), mas, sobretudo, por recriar em português várias das letras originais – e algumas tiradas são ótimas, como aludir a Jackson do Pandeiro na versão para “Mr. Tambourine Man”. “If Not For You”, entretanto, foi gravada em inglês, mas com um ritmo nordestino para ninguém ficar em dúvida de quem está no comando da festa. A voz de Zé Ramalho combinou perfeitamente com as músicas, e isso contribuiu para que decidisse incluir este disco aqui. Mas suspeito que os fãs do velho Zé (dentre os quais não me incluo) tenham gostado mais do álbum do que os do ainda mais velho Bob (e estou entre eles!). Vale o registro, especialmente pela criatividade que transborda do álbum.

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