Datas Especiais: 30 Anos de Counterparts

Datas Especiais: 30 Anos de Counterparts

Por Micael Machado

O álbum Signals, de 1982, marcou uma mudança de direcionamento musical para o trio canadense Rush (formado desde 1974 por Geddy Lee no baixo, teclados e voz, Alex Lifeson nas guitarras e Neil Peart na bateria e percussão), com o acréscimo cada vez maior de teclados e sintetizadores às composições do grupo. Esta tendência teve um crescendo exponencial durante os álbuns seguintes, durando até 1989 com o lançamento de Presto. Durante este período, os fãs da fase setentista da banda meio que se afastaram do trio, ao mesmo tempo que muitos outros se viram atraídos pela sonoridade mais acessível que estes registros apresentavam.

Assim como boa parte de seus admiradores, quem também estava descontente com o excesso de teclados no som do Rush era Lifeson, que viu seu papel na música dos canadenses perder espaço para os sons eletrônicos de seu colega. A gravadora Atlantic, que havia adquirido o “passe” do grupo junto à Mercury alguns anos antes, também estava cobrando uma explicação pela redução nos números de vendas, o que ajudou a dar força aos argumentos de Alex, que desejava um “retorno ao básico” no som do grupo. Roll The Bones, de 1991, foi uma espécie de “ensaio” para isto, com uma sensível diminuição das teclas em relação aos discos anteriores. Mas a volta à uma sonoridade mais direcionada ao formato “baixo/guitarra/bateria” se daria de vez com Counterparts, que completou ontem, 19 de outubro, trinta anos.

Lee, Peart e Lifeson em foto promocional da época de Counterparts

 

Gravado entre abril e junho de 1993, com produção de Peter Collins (que já havia trabalhado com o grupo anteriormente, e que aqui teve como assistente o depois renomado Kevin Shirley), o disco abre com o baterista Neil Peart fazendo uma contagem, para então sua bateria explodir na introdução de “Animate”, faixa que traz na letra o conceito do título do registro (algo como o “oposto que nos completa”), e que mostra em seu arranjo que esta história de deixar os teclados totalmente de lado não era bem assim, embora aqui eles fiquem mais ao fundo, sem se expor muito aos holofotes! Marcada por um brilhante trabalho de Lee e Peart, além de um belo solo de Lifeson, a canção rapidamente ganhou a aprovação dos fãs (mesmo aqueles mais antigos), bem como a faixa seguinte, “Stick It Out”, uma das coisas mais pesadas que o Rush já gravou, e que ganhou um vídeo de divulgação, da mesma forma que “Nodoby’s Hero“, que fala de pessoas comuns que praticam atos rotineiros, mas que acabam sendo marcantes na vida de quem convive com elas. Como há insinuações de que um dos personagens do texto teria morrido de AIDS, logo surgiram rumores de que Neil (autor da imensa maioria das letras do trio) estaria contaminado pelo vírus, algo que se provou apenas boataria com o passar do tempo.

“Cut To The Chase“, apesar de pouco lembrada pelos fãs e pela própria banda (sendo que acredito que ela nunca tenha sido executada ao vivo), é uma das minhas favoritas do disco, assim como “Double Agent” e “Cold Fire”, duas composições que, até onde sei, só foram incluídas nos set lists da turnê de divulgação do álbum (onde a primeira contava com vocais pré-gravados onde a voz de Lee apresenta alguns efeitos que a tornam grave e distorcida). Quem não teve a mesma oportunidade foram “Alien Shore” e “The Speed of Love”, duas músicas mais melódicas, mas que não chegam a se configurar em baladas (sendo a segunda um pouco longa e repetitiva demais, em um dos poucos pontos baixos do play).

“Between Sun & Moon” retoma a parceria do trio com o poeta Pye Dubois, que já havia colaborado nas letras do grupo em anos anteriores. O belo poema de Pye foi combinado com uma agradável composição, que acabou ficando meio esquecida na memória dos fãs com o passar do tempo. Algo que já não aconteceu com a magnífica instrumental “Leave That Thing Alone”, espécie de continuação de “Where’s My Thing?”, do álbum anterior, e que volta e meia era interpretada no shows do grupo, como ficou registrado no DVD Rush In Rio. “Leave That Thing Alone” chegou a ser indicada ao grammy na categoria “Best Rock Instrumental Performance”, mas perdeu para “Marooned”, do Pink Floyd.

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Parte do encarte de Counterparts

Encerrando com a cadenciada “Everyday Glory” (outra de fraca lembrança junto aos seguidores dos canadenses, apesar do belo refrão), Counterparts se tornou o álbum do Rush a alcançar a mais alta colocação na parada dos Estados Unidos na carreira do trio, chegando à segunda colocação da Billboard (o primeiro lugar ficou para Vs, do Pearl Jam), sendo certificado como disco de ouro nos EUA e disco de platina no Canadá, e é, em minha opinião, o melhor trabalho do grupo desde o citado Signals, não tendo sido superado pelos discos que vieram depois na discografia dos canadenses.

A turnê de promoção foi muito bem recebida, sendo que um dos shows (ocorrido no Palace, em Auburn Hills, Michigan, em 22 de março de 1994) seria transmitido pela televisão, sendo facilmente encontrado no youtube hoje em dia. Este mesmo registro ganhou posteriormente uma edição em DVD (bootleg), lançada no Brasil pela gravadora USA Records, da qual recomendo que os apreciadores do grupo se afastem, devido à baixa qualidade tanto de imagem quanto de áudio, bem como a diversas falhas na hora de “montar” o menu do mesmo, alem da edição deplorável de algumas partes do show, como a exclusão das falas de Lee entre as músicas. Algo que a banda nunca aprovaria, em uma falta de respeito e preocupação com os fãs do Rush que os canadenses certamente não tiveram quando lançaram Counterparts, este sim, totalmente recomendável.

Rush-Counterparts-Trasera
Contracapa da versão em CD

 

“My counterpart – my foolish heart; a man must learn to gently dominate”

Track List:

1. Animate

2. Stick It Out

3. Cut to the Chase

4. Nobody’s Hero

5. Between Sun and Moon

6. Alien Shore

7. The Speed of Love

8. Double Agent

9. Leave That Thing Alone

10. Cold Fire

11. Everyday Glory

3 comentários sobre “Datas Especiais: 30 Anos de Counterparts

  1. Fui convertido ao Rushologismo (minha religião até hoje) em 1993, mais ou menos na época de lançamento desse disco. Obviamente, minha catequese começou com os discos antigos, sobretudo o “Antigo Testamento” da banda, entre 1974 e 1980. Confesso que demorei a começar a gostar do Counterparts, mas hoje reconheço que é um dos grandes discos da banda. Simplesmente não tem uma música chata/ruim/desnecessária. Tenho um bootleg gravado em algum lugar dos Estados Unidos em 1994 que tem Cold Fire e Cut to the Chase ao vivo, mas acho que não foram executadas em todos os shows da tour. Sou um dos raros felizardos que possui a hoje rara e inflacionada cópia nacional em LP dessa maravilha e acho que ainda é um dos discos mais relevantes dos anos 90, apesar de ter tipo pouca atenção da mídia especializada e até mesmo dos fãs da banda.

  2. “Counterparts” foi uma grata surpresa depois do apenas regular “Roll the Bones” (nada contra o disco, mas ele não é muito memorável – e esse é um adjetivo que se aplica bem ao Rush). Lembro-me que o clip de “Stick it Out” rolava bastante na MTV na época, e foi a porta de entrada para o disco – ao ouvir a música pela primeira vez fiquei pensando quando tinha sido a última vez que tinha ouvido guitarras tão pesadas numa introdução de música do Rush anteriormente, e acho que a primeira que me veio na cabeça foi “Bastille Day”. Fiquei curioso com a edição em vinil que o Silvio Costa mencionou; tenho a primeira edição nacional em CD com o fundo da caixa (o fundo do CD tray) em azul, nunca vi nenhum outro igual! Pena que depois deste, o Rush gravou apenas quatro discos de estúdio, mas na minha opinião são bons álbuns, e pessoalmente gosto muito de “Clockwork Angels” e “Test for Echo”, com “Snakes & Arrows” vindo em seguida – acho que só no “Vapor Trails” original (o remixado é melhor) a banda escorregou nesse final de carreira.

  3. Sílvio, eu também tenho o vini nacional da época. Foi o primeiro disco do Rush que comprei quase no lançamento, em 93. Hoje, infelizmente, qualquer vinil desse começo da década de 90 está sobre valorizado, o que é uma pena para quem não conseguiu comprar na época…

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