Cinco Discos para Conhecer – Mel Collins

Cinco Discos para Conhecer – Mel Collins

Por Ronaldo Rodrigues

Melvyn Desmond Collins, cuja alcunha artística é Mel Collins, é um saxofonista/flautista britânico bastante reconhecido no panorama do rock dos anos 70. O instrumento principal de trabalho de Mel Collins – o sax – nome teve altos e baixos na história do rock. Nos anos 50 era um instrumento que rivaliza em importância com a guitarra e o piano, mas foi perdendo terreno ao longo dos anos 60. No fim dos anos 60, contudo, a revalorização do blues e do r&b dos EUA na Inglaterra ajudou a revitalizar o interesse pelo instrumento e o rock progressivo nascente na mesma época ofereceu um novo leque de possibilidades para todos os instrumentos. O ecletismo da nova década também manteve um lugar relevante para instrumentos de sopro no geral, e até um subestilo voltado para instrumentos de sopro prosperou – o brass rock. Mel Collins foi talvez um dos mais proeminentes exemplos de músico que se beneficiou destes movimentos todos e preencheu muito bem o espaço disponível. Com uma carreira longa e ainda ativa, Collins coleciona participação em importantes formações em grupos progressivos e de blues-rock. Discos e mais discos de muita qualidade e relevância, dos quais destacamos 5 exemplos.


King Crimson – Lizard [1970]

O King Crimson, apesar de ter 3 formações diferentes em 3 discos, lançados em um curto espaço de tempo, era um impressionante combo de musicalidade e insanidade. Mel Collins foi parte do receituário ousado de Robert Fripp em dois desses trabalhos citados, permanecendo na banda até o início de 1972, após o lançamento de Islands. Lizard já abre com uma das mais impactantes músicas de toda a carreira da banda – “Circus”, na qual Collins aplica notas sinistras no tema principal da música e faz um solo muito melódico sobre uma melancólica e apaziguante base de mellotron. Em “Indoor Games” temos múltiplas linhas de sax introduzindo a música e colaborando com seu clima inusitado. Collins ataca na flauta nos momentos mais cacofônicos de “Happy Family” e na lindeza de “Lady of the Dancing Water”, onde nos brinda com o alcance de sua técnica. Na faixa título do álbum, Collins tem grande destaque, tocando sax e flautas em meio a vários outros instrumentos de sopro. Vale ressaltar também que Collins fez participações em álbuns posteriores do King Crimson, mesmo não fazendo mais parte da formação da banda, como nos álbuns da fase 73-75.

  1. Cirkus (Including ‘Entry of the Chameleons’)
  2. Indoor Games
  3. Happy Family
  4. Lady of the Dancing Water
  5. Lizard

Alexis Korner & Peter Thorup – Snape [1972]

Mel Collins é o responsável pela primeira nota que se ouvi ao girar esse delicioso álbum de blues-rock/rock n’ roll. Aqui temos um som mais raíz, rememorando o blues americano ou os primórdios do rock n’ roll temperado com a assinatura típica dos 70s. Collins sola solto e faiscante na faixa de abertura – “Gospel Ship” – usando o sax barítono. Alexis Korner já era uma lenda na época, por ter sido um dos pioneiros do blues britânico. Nos anos 70, tentou montar um novo grupo chamado Snape, em parceria com Peter Thorup, mas a iniciativa não durou muito. Outros dois ex-membros do King Crimson faziam parte da empreitada – Boz Burell (baixo, futuro Bad Company) e Ian Wallace (bateria), o que mostra que músicos de grupos progressivos dessa época não estavam bitolados em único estilo. Collins estava em um período “freelancer” e topou a empreitada de virar músico de estúdio, desempenhando com competência seu papel. Dessa lista, este seja o disco em que mais escutamos Collins solar, o que é um grande prazer auditivo. “Lo and Behold” é um dos grandes momentos de Collins no disco.

  1. Gospel Ship
  2. One Scotch, One Bourbon, One Beer
  3. Sweet Sympathy
  4. Rock Me
  5. Don’t Change on Me
  6. You Got the Power (To Turn Me On)
  7. Lo and Behold
  8. Country Shoes

Graham Bell – Graham Bell [1972]

Graham Bell era um ótimo vocalista que estava tentando a sorte no concorrido cenário britânico do rock do fim dos anos 60, tendo iniciado com o grupo psicodélico Skip Bifferty. Depois gravou algum material como o duo Bell + Arc, mas decidiu tentar a sorte solo, lançando um primeiro disco em 1972, que infelizmente naufragou. Qualidades não lhe faltavam – bom repertório e uma banda de apoio mais do que respeitável, contando com gente como o já citado Ian Wallace, o nosso destacado Collins e Nick Evans (ex-Soft Machine). O disco embarca em uma linha rock/soul, mais ou menos seguindo o caminho aberto por Joe Cocker em sua fase Mad Dogs and Englishmen. Aqui vemos o saxofone de Mel Collins fazendo parte de um azeitado naipe de metais, que enriquece belamente a voz rouca de Graham Bell. Há solos instrumentais em profusão, arranjos muito ricos e uma ótima participação de Collins como membro de time.

  1. Before You Can Be a Man
  2. The Thrill Is Gone
  3. After Midnight
  4. Down in the City
  5. Watch the River Flow
  6. Too Many People
  7. How Long Will It Last
  8. The Whole Town Wants You Hung
  9. The Man With Ageless Eyes
  10. So Black and So Blue

Humble Pie – Thunderbox [1974]

O Humble Pie dispensa grande apresentações, mas nessa época eles estavam cada vez mais eletrificados e seguindo a ideia fixa de Steve Mariott de soar como uma banda de black music. Então, backing vocais, teclados e instrumentos de sopro foram acrescentados com essa intenção. Collins tava lá, nesse caso, cuidando de todos os instrumentos de sopro (exceto gaita). Os arranjos são relativamente discretos, como em “I Can’t Stand the Rain” mas mostram que Collins sabia se virar bem em qualquer tipo de som. Apesar de não mostrar um Humble Pie tão inspirado quanto antes, é um disco muito honesto de rock n’ roll e outros condimentos do qual Collins fez parte.

  1. Thunderbox
  2. Groovin’ With Jesus
  3. I Can’t Stand the Rain
  4. Anna (Go to Him)
  5. No Way
  6. Rally With Ali
  7. Don’t Worry, Be Happy
  8. Ninety-Nine Pounds
  9. Every Single Day
  10. No Money Down
  11. Drift Away
  12. Oh La-De-Da

Camel – Rain Dances [1977]

Collins se juntou ao Camel durante a tour de Moonmadness, um disco de bastante sucesso lançado pelo Camel em 1976. Andy Latimer, guitarrista e líder da banda, queria levar o Camel para um lado mais fusion mirando uma tendência de mercado, já que o som de grupos instrumentais como Return to Forever e Weather Report tinha bom apelo comercial mesmo em um contexto desfavorável (punk e disco music já batiam nas portas). Nesse intento, incluir um instrumento de sopro como o sax, fazia bastante sentido. Collins fez um bom papel de fazer o som do Camel transitar entre o lado mais sinfônico e o lado mais jazzista, adicionando ainda um tempero pop. O disco todo tem ótimos solos de Collins voando sobre as bases de teclados de Peter Bardens, como em “First Light”, “Metrognome” e seu ótimo duelo com a guitarra, na bela flauta de “Tell Me” ou no emotivo tema da faixa título “Rain Dances”.

  1. First Light
  2. Metrognome
  3. Tell Me
  4. Highways of the Sun
  5. Unevensong
  6. One of These Days I’ll Get an Early Night
  7. Elke
  8. Skylines
  9. Rain Dances

2 comentários sobre “Cinco Discos para Conhecer – Mel Collins

  1. Não conheço o disco do Graham Bell, não consigo me lembrar se algum dia cheguei sequer a ouvir falar do caboclo. Mas os demais são todos discaços! Muito legal ter recuperado o disco do Camel, uma banda meio subestimada que deixou uma discografia muito inspirada, pelo menos até o “A Live Record”, do qual ele participa apenas numa parte do álbum. Não sei se você cogitou e depois deixou de fora, mas gostaria de lembrar o ótimo “In Flight”, duplo ao vivo do Alvin Lee & Co. lançado em 1974 que traz o Mel Collins e o Ian Wallace.

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