Discografias Comentadas: Dark Avenger

Discografias Comentadas: Dark Avenger

Por Leonardo Castro

Formado no início dos anos 90 no Distrito Federal, o Dark Avenger despontou como uma das maiores promessas do heavy metal brasileiro. Em uma época onde o grunge o e rock alternativo dominavam as rádios voltadas para o rock, a banda lançou uma demo, Choose Your Side… Heaven or Hell que soava como um oásis para os fãs do heavy metal clássico de bandas como Manowar, de onde veio a inspiração para o nome da banda, Metal Church e Iron Maiden. Além dos riffs classudos e solos inspirados, o principal destaque da banda sempre foi o vocalista Mário Linhares, dono de uma voz potente e forte, capaz de atingir tons extremamente agudos. Entretanto, apesar de todo o potencial, a carreira do grupo sempre foi bastante instável, com diversas mudanças de formação e períodos de inatividade.


folder-front26Dark Avenger [1995]

Lançado em 1995, o disco de estreia do Dark Avenger já demonstrava todo o potencial do grupo. Com forte influência de gigantes como Iron Maiden, Judas Priest, Manowar e dos brasileiros do Viper, mas com um toque quase thrash em algumas canções, a banda candanga foi capaz de compor músicas fortes, com riffs inspirados, solos com classe e os vocais excepcionais do jovem Mário Linhares, que já se destacava como um dos melhores vocalistas do estilo do Brasil. “Armageddon” abre o álbum com um andamento cadenciado, clima épico na medida certa e excelente uso dos teclados, sem exageros. A produção está longe da perfeição, mas não compromete a audição do disco em momento algum. A faixa seguinte, “Die Mermaid“, viria a se tornar uma das favoritas dos fãs, é mais acelerada, com um riff que beira o thrash metal, e uma performance espetacular de Mário Linhares. A influência maideniana dá as caras em “Who Dares To Care“, que tem um riff típico da donzela de ferro, e também caiu no gosto dos fãs. Outros destaques são: “Green Blood”, que tem um grande refrão; “Rebellion“, que tem agudos que chegam a lembrar o saudoso Midnight, vocalista do Crimson Glory; e “Madelayne”, onde o trabalho de guitarras de Leonel Valdez e Osiris di Castro brilha. Em resumo, uma excelente estreia que fincou o nome do Dark Avenger entre os grandes do metal brasileiro. Vale ainda ressaltar que o disco foi relançado no ano 2000 com uma faixa-bônus, a excelente “Morgana”, que faria parte do disco seguinte da banda.


dark-avenger-tales-of-avalon-the-terror-20120602095803Tales Of Avalon – The Terror [2001]

Seis anos após o lançamento do primeiro álbum, o Dark Avenger retornava com um trabalho ainda mais ousado. Tales Of Avalon – The Terror, é um álbum conceitual, com letras escritas pelo vocalista Mário Linhares e livremente baseadas no universo das lendas do Rei Arthur. Apesar das diversas mudanças na formação da banda, o núcleo criativo da mesma não foi alterado neste lançamento, sendo composto pelo já citado vocalista, o guitarrista Leonel Valdez e o tecladista Rafael Galvão. Sendo assim, as músicas de Tales Of Avalon – The Terror seguem o mesmo estilo do álbum anterior, tendo apenas uma dose ainda maior de melodias e atmosferas épicas, que combinam perfeitamente com o tema do disco. As duas primeiras músicas, “Tales Of Avalon” e “Golden Eagles” deixam esta tendência bem explicita, e lembram bastante o primeiro disco do Crimson Glory. Mais uma vez, vale ressaltar o excepcional trabalho de guitarras e a inacreditável voz de Mário Linhares, ainda mais madura, potente e variada neste disco. As composições são todas de altíssimo nível, e é até difícil escolher os destaques do disco. Contudo, é impossível não citar a pegada a la Judas Priest de “Class Myrddin” e a belíssima semi-balada “Galavwch”. Outro destaque absoluto é “Morgana“, música que apresentou a banda a muita gente, e que é dona de um riff espetacular, de um clima épico e de mais uma performance sensacional de Mário Linhares. No geral, Tales Of Avalon pode não ter a velocidade e a agressividade do seu antecessor, mas compensa com composições mais elaboradas e marcantes, fazendo deste mais um item obrigatório para fãs de heavy metal clássico.


64466_dark_avenger_x_dark_yearsX Dark Years [2003]

Lançado para comemorar os 10 anos de atividade da banda, X Dark Years é um EP com duas regravações de músicas antigas da banda, duas faixas inéditas e, em algumas versões, um cover para “Dark Avenger“, clássico do primeiro disco do Manowar que batiza a banda. A nova versão de “Dark Avenger”, do primeiro disco da banda, é excelente e supera a original. A nova gravação e produção evidenciam as qualidades da faixa, como o trabalho de guitarras e o sempre ótimo vocal de Mário Linhares. Outra faixa que supera as expectativas é a nova versão de “Caladvwch“, intitulada “Symphonic Caladvwch”. Conduzida ao violão e com uma orquestra ao fundo, a balada se tornou ainda mais bonita, e a interpretação de Mário Linhares ficou ainda mais forte. Já entre as faixas inéditas, temos a épica “Uther Hell”, mais cadenciada e pesada, e que seria regravada 10 anos depois no disco Tales Of Terror – The Lament, e a arrasa quarteirão “Unleash Hell“, uma das melhores músicas da banda, que só é encontrada neste EP. Por fim, há o cover do Manowar, que mantém a estrutura e o arranjo da versão original, e mais uma vez o vocal de Mário Linhares se destaca.


dark-avenger_tales-of-avalon-the-lament-500x500Tales Of Terror – The Lament [2013]

Depois de dez longos anos de inatividade, o Dark Avenger retomou as atividades, convocou o produtor Tito Falaschi, gravou a tão esperada continuação para seu segundo disco e ainda enviou o material para ser mixado e masterizado pelo renomado Michael Wagener, que já assinou a produção de discos de bandas como Skid Row, Accept, Dokken e mixou No More Tears, de Ozzy Osbourne e Master Of Puppets, do Metallica. Com tanto tempo de espera e talentos envolvidos na gravação e produção do álbum, a expectativa para seu lançamento era enorme. E Tales Of Avalon – The Lament não decepciona. A produção é excelente, e as composições fortes e marcantes. O vocal de Mário Linhares, sempre um destaque nos discos do Dark Avenger, está mais grave e contido, mas continua a causar arrepios, com interpretações perfeitas. A abertura com “From Father To Son” é excepcional, e a música tem um riff e levada perfeitos para a banda, pesados, fortes e épicos. Contudo, o disco mostra uma banda mais atualizada, e essas influências mais modernas podem ser ouvidas em “Doomsday Night”. Outros destaques são a emotiva “The Knight On The Hill”, que tem um refrão espetacular; a rápida “Sicorax Scream“; e a épica e sensacional “The Thousand Ones“, onde Mário Linhares dá um show de interpretação. Resumindo, Tales Of Terror – The Lament, mostra um Dark Avenger em grande forma, em sintonia com seu passado e mirando para o futuro.

Em 2015 foi lançado o registro Alive in the Dark, gravado no Led Slay, São Paulo na noite de 21 de dezembro de 2013. Ainda levariam mais 2 anos para sair o quarto disco da banda, o ousado e conceitual The Beloved Bones.


The Beloved Bones [2017] (Por Thiago Reis)

Com Mario Linhares idealizando um solilóquio entre a razão e a emoção, temos a tônica das letras do disco, algo  presente em 10 em cada 10 seres humanos, em diferentes complexidades, e que torna o álbum “familiar” para os fãs. De cara, a faixa-título traz o RACIONAL irrompendo do âmago da psique humana, a fim de esbravejar um sermão contra o EMOCIONAL, que mostra um comportamento cada vez mais impulsivo. A presença de violinos torna a audição ainda mais curiosa, levando ao peso, melodias marcantes, técnica e agressividade, e um Linhares  que faz um ótimo trabalho nos vocais, interpretando a RAZÃO e a EMOCÃO. A negação e teimosia do EMOCIONAL entram em seu ápice durante “Smile Back at Me”, com um ótimo trabalho de guitarras, riffs criativos e solos que se encaixam perfeitamente com a música. Temos também a poderosa e visceral “King for a Moment”, com a falta de responsabilidade do EMOCIONAL em lidar com os problemas. Passamos pelo prog/thrash metal de “This Loathsome Carcass”, as pesadíssimas e agressivas “Parasite”  e  “Breaking Up, Again”, com o duelo cada vez mais acirrado, onde encontramos o RACIONAL exigindo que o EMOCIONAL abandone sua visão egoísta, enquanto o EMOCIONAL pede que o RACIONAL resolva os problemas sozinho, criando o estopim para mais e mais conflitos do EU. Então, a história muda em “Empowerment”, com o EMOCIONAL decidindo mudar seu comportamento, contando com o apoio da RAZÃO, criando esforços colaborativos para um bem maior do EU, evidenciado em “Nihil Mind” com riffs pesados e envolventes, assim como “Purple Letter”. Por fim, “Sola Mors Liberat” e seu clima soturno e belo, evidencia a esperança de um renascimento para o EU, finalizando com “When Shadow Falls”, mostrando de maneira mais do que evidente a reconciliação entre o EMOCIONAL e o RACIONAL. O grande destaque são as fabulosas interpretações por parte de Mario Linhares, que consegue transferir ao ouvinte toda a situação perturbadora que uma mente com problemas em balancear a razão e a emoção passam.

Se estivesse vivo, amanhã Mario iria completar 51 anos. Infelizmente ele faleceu em 22 de dezembro de 2017, ao não resistir a procedimentos cardíacos de emergência e a um edema pulmonar, quando ele e a banda se preparavam para estrear o show oriundo do disco. Uma das maiores vozes do metal nacional nos deixou um legado de grandes canções e grandes discos, que estão aí para serem descobertos por todas as gerações de admiradores do estilo.

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