Discos Que Parece Que Só Eu Gosto: Sonata Arctica – Unia [2007]

Discos Que Parece Que Só Eu Gosto: Sonata Arctica – Unia [2007]

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Por André Kaminski

Lembro-me de quando comprei este disco, já tinha lido algumas resenhas indicando o quanto este álbum havia decepcionado muita gente. E ao ouvi-lo, chego a conclusão que Unia realmente não foi feito pensando nos fãs.

Contextualizando a história da banda com a época, o Sonata Arctica surgiu oficialmente em 1999, porém o embrião que formaria a banda já existia desde 1996 sob o nome “Tricky Means”. Nestes tempos, a banda tocava hard rock e gravou algumas demos. Somente três anos depois que, inspirados pelo Stratovarius, mudaram o direcionamento musical para o power metal e adotaram o nome que o grupo usa até hoje.

Não é exagero dizer que seu álbum de estreia, Ecliptica (1999), alçou a banda do anonimato para o estrelato logo de cara na Finlândia, sua terra de origem. Apesar de se manter nos clichês típicos do power metal finlandês, o grupo primou por uma execução fantástica em seu debut, angariando sua parcela de fãs que os acompanham até hoje. Os discos Silence (2001), Winterheart’s Guild (2003) e Reckoning Night (2004), que vieram a seguir, mantiveram a banda entre as melhores da Finlândia, inclusive muitos achando-os superiores ao Stratovarius. Como a maior parte das formações finlandesas possui um chefão responsável pela maioria das composições, Tony Kakko (vocais e teclados) assume as rédeas desde o início.

Com a ótima repercussão de seus quatro discos anteriores, o grupo estava naquela fase tão comum quando se faz três ou quatro álbuns de um mesmo estilo com sucesso e busca experimentações para mudar de ares. O Sonata Arctica resolveu arriscar e lançouUnia com essa intenção, deixando um pouco a velocidade do power metal de lado para buscar mais influências sinfônicas e mesmo do metal progressivo. Na época, a banda contava com Tony Kakko (vocais, teclados), Jani Liimatainen (guitarras), Henrik Klingenberg (teclados), Marko Paasikoski (baixo) e Tommy Portino (bateria).

Abrindo com “In Black and White”, percebe-se que o grupo opta pelo tempo médio e baixa o tom das guitarras de forma a dar mais peso. Não são criados mais aqueles refrãos marcantes, preferindo mudanças de riffs e de cadência para dar seguimento à música. Parecida com a anterior, mas com uma presença maior de teclados, que tentam emular o Nightwish, “Paid in Full” é outra canção de letra sofrida típica de Tony Kakko, especialista em composições desse naipe.

Após duas faixas medianas, “For the Sake of Revenge” dá uma mudada no panorama com um bom baixo ditando o ritmo e com o teclado acompanhando com efeitos diferentes. A todo momento Henrik muda as configurações de sonoridade do teclado (passa do chorus para o órgão, depois para synth, bells e várias outras). Ótima música, a experimentação obteve um bom resultado. O nível sobe novamente com “It Won’t Fade”, com uma letra enorme que até me deixa dúvidas se Tony Kakko consegue cantar tudo ao vivo sem perder o fôlego (só há uma pausa no meio da canção para um solo de guitarra mediano). Aliás, cantar até os limites do fôlego é uma característica marcante em suas composições.

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Tommy Portimo (bateria), Marko Paasikoski (baixo), Tony Kakko (vocais, teclados), Jani Liimatainen (guitarras) e Henrik Klingenberg (teclados)

“Under Your Tree” é a principal balada do disco. Com uma letra tocante, Tony Kakko canta sobre o amor fraternal de uma amiga morta e as memórias de uma árvore onde costumavam se encontrar. Não há como não tirar o chapéu para Tony em suas baladas: sempre emocionais e com uma interpretação memorável. Seja o disco que for.

“Caleb” é a melhor canção do álbum. Uma história curta sobre uma mãe que ensina seu filho a odiar seu pai, mentindo sobre este. Com algumas variações de velocidade e a aplicação de algumas ideias mais progressivas, a faixa é forte e te deixa atento até o final. “The Vice” já se parece mais com as músicas dos discos antigos, mas sem a mesma qualidade. Praticamente uma sobra do Reckoning Night. Levada no teclado, “My Dream’s But a Drop of Fuel for a Nightmare” tenta fazer uma espécie de ambiente caótico em um pesadelo cheio de animais diferentes. O teclado e as guitarras fazem mudanças rápidas de ritmo dependendo da situação do pesadelo. Novamente, o metal progressivo dá as caras nesta canção.

Seguindo com “The Harvest”, esta é muito melhor do que “The Vice”. Belos riffs por parte de Jani Liimatainen e uma velocidade que lembra muito o excelente Ecliptica. Após um pequeno filler, que é “The Worlds Forgotten, The Words Forbidden” (vocal sintetizado que não me agrada), a banda encerra bem com a pesada “Fly With the Black Swan” e com a sinfônica “Good Enough Is Good Enough”, que dão uma ótima variada na sonoridade dos finlandeses.

Como destaques individuais, cito Tony e seus sempre marcantes vocais, o tecladista Henrik, que aparece sempre em momentos chave com boas intervenções e efeitos especiais de seu instrumento, e o bom baixista Paasikoski: seu instrumento foi bem mixado e está bem audível em todo o disco. Quem foi bastante prejudicado é o baterista Tommy Portimo: é perceptível que abaixaram o volume de sua bateria, tornando-a fraca no álbum inteiro. Mal se houve a caixa e os pratos. Um fato curioso ocorreu com o guitarrista Jani Liimatainen nessa mesma época. Após o lançamento do disco, Jani foi convocado para servir ao exército finlandês. Servir o exército na Finlândia é obrigatório, e como o músico se recusou, foi preso e condenado a mais de um ano de serviços sociais. Como isso atrapalhava a banda e o próprio Jani demonstrava desinteresse em atender as ligações e cumprir os compromissos, o guitarrista deixou o Sonata Arctica, sendo substituído por Elias Viljanen.

Posso dizer que o álbum demora um pouco para engrenar, mas a partir da terceira música já se aprecia melhor o conjunto da obra. Não é um disco recomendado para quem gosta da velocidade do power metal e muitos dos fãs do próprio Sonata Arctica torceram o nariz para este álbum. Considero-o razoável para bom, poderia ser melhor principalmente com relação à mixagem da bateria. Não é o disco que define a banda, mas serviu para os caras experimentarem um pouco e ver como se saíram. Dá para se aproveitar boas coisas aqui.

Tracklist:

1. In Black and White
2. Paid in Full
3. For the Sake of Revenge
4. It Won’t Fade
5. Under Your Tree
6. Caleb
7. The Vice
8. My Dream’s But a Drop of Fuel for a Nightmare
9. The Harvest
10. The Worlds Forgotten, the Words Forbidden
11. Fly With the Black Swan
12. Good Enough Is Good Enough

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