Queen – At The Beeb [1989]
Por Mairon Machado
Em 1973, o Queen era uma banda que estava há dois anos fazendo shows, mas não conseguia emplacar em uma gravadora. Até que surgiu a EMI, e com contrato assinado, a banda conseguiu agendar duas datas na BBC, para participar do programa Radio One. 16 anos depois, o mundo teve conhecimento do que apenas o pessoal que morava na velha ilha da Europa ouviu naquele ano, através do lançamento de At the Beeb, que faz um apanhado das duas apresentações do grupo na rádio.
A primeira apresentação é de 5 de fevereiro de 1973. “My Fairy King” vem em uma versão muito próxima ao estúdio, trazendo as vocalizações agudas de Daltrey, as guitarras dobradas de May, Mercury cantando em falsete e dando uma aula de piano clássico, e o mesmo vale para “Keep Yopurself Alive”, onde as pequenas diferenças em relação a versão de Queen (que foi lançado penas em 13 de julho de 1973) vão para o solo de May, mas muito tímidas, além de uma maior participação vocal de Taylor.
“Doin’ Alright” já apresenta diferenças, seja na letra (algumas frases modificadas) e também na forma de cantar de Mercury, o que é muito legal de ver, já que mostra como a banda estava realmente trabalhando suas canções. Como curiosidade, a segunda parte da letra ficou a cargo de Taylor, bem diferente do esperado. Encerrando a primeira apresentação, uma versão mais enxuta de “Liar”, com seis minutos, mas que detonam as caixas de som, e revelam o Queen flertando com o progressivo. O trecho central, das vocalizações e percussão, mantém a linha do registrado em Queen, mas é feito de forma bem diferente, empregando novas melodias, novos gritos, e também batidas. Que sonzeira. Destaca-se também a importante participação de Deacon aqui.
A segunda apresentação ocorreu em 3 de dezembro de 1973, e já começa detonando com “Ogre Battle”, a única canção de Queen II presente no CD, e que aqui já está bem próxima da versão final. “Great King Rat” e “Modern Times Rock ‘n’ Roll” retornam para Queen, com pequenas alterações em relações ao álbum, principalmente nas linhas vocais, e aqui vem a atração de At the BBC, que é Mercury. Enquanto todos os demais músicos do Queen tentam sempre reproduzir tal e qual o que haviam criado, Mercury permitia-se improvisar, se soltar, tornando as canções não tão amarradas e frias. A única canção que a banda tenta ter um pouco mais de liberdade é a que encerra o CD, “Son and Daughter”, pesadíssima, com mais de sete minutos onde daí sim percebemos que havia sim espaço para todos criarem.
É um disco (lançado em k7, LP e CD) que passa rápido pelas caixas de som, e onde fica a forte sensação de aquela banda novata realmente tinha potência e capacidade para conqusitar o mundo (como realmente aconteceu). Em 1995, o material foi relançado como Queen at the BBC, e em 2016, as duas apresentações voltaram a surgir, agora na compilação On Air, ao lado de mais quatro apresentações da banda na rádio (uma em julho de 1973, duas em 1974 e uma de 1977). Aliás, quem puder ir atrás da versão DELUXE de On Air, vale muito a pena, principalmente pela inclusão de canções da apresentação da banda em São Paulo, no ano de 1981.
Porém, a nostalgia que At the Beeb trouxe à época de seu lançamento, e claro, o pioneirisimo de fazer com que os fãs de um determinado artista pudesse ter em sua casa uma gravação além dos lançamentos oficiais de estúdio, fazem deste disco uma figurinha essencial na coleção do Queen, e que me faz também pensar como os anos 70 e 80 eram muito diferentes no quesito de lançamentos musicais. Afinal, em 16 anos, o Queen havia saído dos subúrbios de Londres, se tornado a maior banda do Reino Unido com grandes sucessos em todas as paradas, e exatamente naquele 1989, já começava a sofrer a triste perda de seu vocalista Freddie Mercury.
Hoje, quando falamos de um álbum de 2006 (há 16 anos atrás), ainda estamos falando de algo que parece que foi lançado ontem, ou mesmo discos mais “recentes” como Death Magnetic (Metallica – 2008), Chinese Democracy (Guns N’ Roses – 2008) ou a estreia do Black Country Communion (2010), uma das grandes bandas deste século, não tiveram o mesmo impacto temporal que todos os lançamentos do Queen nesse período. Fica a reflexão.
Track list
1. My Fairy King
2. Keep Yourself Alive
3. Doin’ Alright
4. Liar
5. Ogre Battle
6. Great King Rat
7. Modern Times Rock ‘N’ Roll
8. Son And Daughter