Cinco Discos Para Conhecer: Max Cavalera

Cinco Discos Para Conhecer: Max Cavalera

Por Pablo Ribeiro

Massimiliano Antonio “Max” Cavalera, filho de um italiano funcionário do consulado da Itália no Brasil, nasceu em Belo Horizonte em 1969, e junto com seu irmão Igor (um ano mais novo), em 1984 fundou o Sepultura, banda que em cinco anos já era considerada um expoente do Thrash mundial, conseguindo um nível de respeito e admiração que nenhum grupo musical brasileiro havia conseguido ou voltaria a conseguir. Max deixou o grupo em 1996, dando início ao Soulfly, banda que a princípio desagradaria alguns fãs e críticos mas que em pouco tempo provaria seu valor musical, estético e artístico, superando em qualidade, o próprio Sepultura, que após a separação com Cavalera tem soltado álbuns pouco inspirados e de qualidade discutível. Como nem só de Sepultura e Soulfly vive a carreira do mineiro, aqui vai uma lista de cinco álbuns para iniciar-se na carreira do sujeito.


5_NailbombNailbomb – Point Blank [1994]

Durante as gravações de Chaos A.D., o Sepultura estava instalado em Arizona nos EUA, e Max teve contato com Alex Newport, da banda Thrash/Groove Fudge Tunnel. O som resultante da união, lançado em 1994 no álbum Point Blank apesar da evidente influência dos dois envolvidos não estava nem tão perto do material do Sepultura até então, nem tão semelhante do que fazia o Fudge Tunnel. As treze músicas do álbum traziam um material com fortes doses de Metal Industrial, em canções com um clima quase claustrofóbico, mas com uma abordagem lírica e estética evidentemente punk old-school. Tendências que se mostravam também nas letras – e no material gráfico – do material. Além de Max e Alex, (ambos dividindo vocais, guitarras, baixo, samplers e bateria eletrônica) o material ainda traz de participações especiais do guitarrista Dino Cazares do Fear Factory (outro expoente do Metal Industrial) e dos então parceiros de Max no sepultura: seu irmão Igor na bateria e o guitarrista Andreas Kisser. Planejado como projeto de apenas um disco, a banda atraiu tanta atenção e foi tão bem recebida, que acabou gerando um álbum/DVD ao vivo.

Max Cavalera (vocals, guitarras, baixo, samplers), Alex Newport (vocals, guitarras, baixo, samples)

Músicos Convidados

Andreas Kisser (guitarras em 2, 9 e 11)

Igor Cavalera (bateria em 1, 5, 7, 10, 12 e 13)

Dino Cazares (guitarra em 3)

1. Wasting Away

2. Vai Toma No Cú

3. 24 Hour Bullshit

4. Guerrilas

5. Blind And Lost

6. Sum of Your Achievements

7. Cockroaches

8. For Fuck’s Sake

9. World Of Shit

10. Exploitation

11. Religious Cancer

12. Shit Piñata

13. Sick Life


1_RootsSepultura – Roots [1996]

Sexto disco do Sepultura, Roots foi o álbum que fez com que a banda finalmente estourasse no mundo inteiro. Se Chaos A.D., o disco anterior, já trazia várias influências musicais, seu sucessor foi mais fundo nesse quesito, elevando as doses de música brasilera (principalmente na percussão), além de introduzir em doses mais consistentes de World-Music no seu som. Música Indígena (o quarteto chegou a passar um tempo com uma tribo brasileira) e Africana, Música Contemporânea Brasileira, experimentações sonoras com “scratches” e Turntables, entre outras, com participação de músicos como Mike Patton do Faith No More (um do pioneiros da experimentação de vanguarda do Rock/Metal), do soviético D.J. Lethal, (do House Of Pain, grupo que fundia Hip-Hop e Rock ‘n’ Roll e depois do Limp Bizkit, que que ficou famoso ao inverter a ordem desses elementos), Jonathan Davies e David Silveria (Vocalista e Baterista do Korn, um dos maiores expoentes do que convencionou-se chamar de Nu-Metal, posteriormente), Carlinho Brown (percussionista brasileiro fundador do grupo de percussão Timbalada) e da própria tripo de índios brasileiros Xavante, entre outros. Toda essa gama de influências, que a princípio teriam quase nada a ver pelo Thrash/Metal pelo qual a banda havia ficado conhecida, acabou gerando um dos discos mais inovadores, influentes e revolucionários do Rock. Há peso fúria e agressividade de sobra aqui. Tudo enriquecido pela malha das diversas sonoridades que enriquecem o trabalho, tornando-o extremamente consistente e impactante. Roots é uma das mais fortes obras musicais de vanguardas já gravado, levando o patamar do Heavy Metal a um novo nível, levando consigo o nome do Sepultura, que se até aqui já tinha conquistado o seu espaço e provado seu valor, a partir de então passava a ter sua influência no mesmo mesmo nível de sua qualidade musical. O Sepultura chegava ao ápice de sua carreira, tanto em termos de sucesso e reconhecimento, quanto de qualidade musical e criatividade. Infelizmente, depois de Roots, o grupo seguiria direção inversa, e o motivo, como ficou provado com o tempo, estava ligado a um de seus fundadores: O carismático Max.

Max Cavalera (guitarra, vocais), Andreas Kisser (guitarras), Paulo Jr. (baixo), Igor Cavalera (bateria, percussão timabu, djembê)

Participações Especiais:

Ross Robinson (percussão em 4)

David Silveria (percussão em 4)

Carlinhos Brown (vocais, Berimbau, Timbau, Wood Drums, Djembê, Xequerê e Surdo em 4)

Jonathan Davis (vocais em 8)

DJ Lethal (scratch em 8)

Mike Patton (vocais em 8)

1. Roots Bloody Roots

2. Attitude

3. Cut-throat

4. Ratamahatta

5. Breed Apart

6. Straighthate

7. Spit

8. Lookaway

9. Dusted

10. Born Stubborn

11. Jasco

12. Itsári

13. Ambush

14. Endgangered Species

15. Dictatorshit

16. Canyon Jam


2_SoulflySoulfly – Soulfly [1998]

Durante a bem sucedida tour de Roots o Sepultura sofreu um traumático racha interno. De um lado, Max e sua esposa, a empresária Gloria. De outro, os demais três integrantes, chegando a um ponto onde a convivência de todos tornou-se impossível, O vocalista e guitarrista caiu fora, obrigando a banda a encontrar um substituto, deixando seu futuro incerto. Já Max desapareceu por um tempo, até que retornou com novo material em 1998. Chamado de “Soulfly”, a nova banda de Max Cavalera recebeu – no geral – críticas positivas, mas também teve uma boa dose de críticas por parte dos fãs mais radicais do Sepultura. Muitas das reclamações tinha mais a ver com a cabeça-dura e radicalismo cego dos reclamões do que com a sonoridade do disco em si. Muitos acusaram o álbum de ser influenciado pelo Nu-Metal (que estava em franca acenção na época), o que só comprovava a falta de conhecimento e teimosia dos tais “fãs”, já que o próprio Sepultura (principalmente através da cabeça de Max) foi um dos responsáveis pela gênese do gênero, e até hoje é recorrentemente citado como influência – via Chaos A.D. e principalmente o supracitado Roots – de bandas como Korn, Slipknot e dezenas de outras, tanto musical como visualmente. Soulfly, o álbum, leva a um patamar ainda maior os experimentalismos de Roots. Novamente com diversos convidados, o álbum acabou chamando mais atenção – e vendendo mais cópias – que Against, primeiro disco do Sepultura sem contar com Max, um album que, apesar de consistente, não trazia a mesma criatividade que Soulfly, que por sua vez optava por arriscar na diversidade em detrimento de uma receita já consagrada. Ouvindo-se o álbum atentamente, fica claro que Max compôs canções que seguiam evoluindo no estilo começado em Roots. Ainda que não seja necessariamente o disco mais coeso da banda (até mesmo por causa das inúmeras experimentações e por levar o estilo que ainda estava em estado embrionário a um patamar mais mainstream),Soulfly é o disco da banda que traz a maior gama de elementos que fizeram e ainda fariam – em maior ou menor grau – parte da carreira de Max Cavalera.

Max Cavalera (vocal, guitarra), Roy Mayorga (bateria), Jackson Bandeira (guitarra), Marcello D. Rapp (baixo)

1. Eye For An Eye

2. No Hope = No Fear

3. Bleed

4. Tribe

5. Bumba

6. First Commandment

7. Bumbklaatt

8. Soulfly

9. Umbabarauma

10. Quilombo

11. Fire

12. The Song Remains Insane

13. No

14. Prejudice

15. Karmageddon

16. Cangaceiro (bonus track)

17. Ain’t No Feeble Bastard (bonus track)

18. The Possibility Of Life’s Destruction (bonus track)


3_ProphecySoulfly – Profecy [2004]

Conquistando cada vez mais fãs, tanto novos, quanto de sua época no Sepultura, Max chega ao seu quarto disco ultrapassando a barreira da imprensa “especializada”, do metal, não por acaso a mais xiita e limitada (em termos de aceitação de novos sons). Mesmo os críticos e jornalistas de cabeça mais fechada e com o mínimo de boa vontade acabaram por dar o braço a torcer face a qualidade e força de Prophecy. Coeso, pesado e transbordando qualidade, o disco sela o “som Soulfly”, marcando definitivamente a identidade da banda. Tudo aqui se encaixa. Melodias, peso e diversas as diversas influências de Max se juntam eu um álbum que une – até então – o que de melhor o vocalista e guitarrista fez em sua carreira, e é uma obra que define de forma abrangente a carreira do músico. A porradaria abre em grande estilo com a faixa títúlo, e segue em altíssimo nível em todo o álbum. Até o presente momento, Prophecy é o disco que melhor define o som do Soulfly, e é um dos melhores discos de toda a carreira de Max. Essencial!

Max Cavalera (guitarra, vocais), Marc Rizzo (guitarra, guitarra flamenca), Bobby Burns (baixo), Joe Nunez (bateria, percussão), John Watkinson Gray (teclados)

Convidados Especiais

David Ellefson (baixo em 1, 4, 5, 6, e 10)

Ljubomir Dimtrijević (vários instrumentos em 3, 8, e 11)

Meia Noite (percussão)

1. Prophecy

2. Living Sacrifice

3. Execution Style

4. Defeat U

5. Mars

6. I Believe

7. Moses

8. Born Again Anarchist

9. Porrada

10. In the Meantime

11. Soulfly IV

12. Wings


4_Cavalera_ConspiracyCavalera Conspiracy – Blunt Force Trauma [2011]

Ainda antes de fundar o Soulfly, Max sempre encontrava espaço para se meter em outros projetos. Depois que seu irmão Igor deixou – primeiro temporariamente, mas logo depois se tornando um afastamento definitivo – o Sepultura, em 2006, imediatamente começaram a rolar boatos sobre a entrada de Igor no Soulfly, que não aconteceu. Entretanto, os dois Cavalera decidiram se unir em um projeto independente, sintomaticamente chamado de “Cavalera Conspiracy”, que em 2008 lançaria o excelente Inflikted. Max seguiu com o seu Soulfy e Igor com o MixHell, seu projeto de música eletrônica. Aparentemente destinado a ser um projeto de apenas um álbum, a banda acabou por lançar um segundo disco, o fantástico Blunt Force Trauma, em 2011. Com uma sonoridade bem direta, mesclando Thrash metal, e Hardcore (investindo na sonoridade básica de ambos os genêros), a bolacha remete aos temas mais diretos e agressivos da banda que os fez famosos, e é bem melhor do que o Sepultura lançou de 2003 pra cá, provando que a dobradinha Max e Igor sempre foi força motora, a alma e o coração da banda. Se o disco anterior do Cavalera Conspiracy já fundamental, Blunt force Trauma então consegue ser ainda mais forte.

Max Cavalera (guitarra, vocais), Igor Cavalera (bateria, percussão), Marc Rizzo (guitarra), Johnny Chow (baixo)

1. Warlord

2. Torture

3. Lynch Mob

4. Killing Inside

5. Thrasher

6. I Speak Hate

7. Target

8. Genghis Khan

9. Burn Waco

10. Rasputin

11. Blunt Force Trauma

6_Max_ao_Vivo

Max – um dos principais responsáveis pelos gêneros musicais surgidos dentro do metal nos últimos 20 anos (sim, incluindo o Nu-Metal, o Thrashcore e outros Crossovers) – chega aos trinta anos de carreira (e quase duas dezenas de discos de estúdio lançados) seguindo com o seu Soulfly, além do Cavalera Conspiracy, provando que sua influência, qualidade e criatividade transcendem as os parâmetros das bandas em que toca ou tocou. Max é, por si só a força criativa mais poderosa que a música brasileira já produziu. Como diria o próprio Massimiliano: “Saudações do Terceiro Mundo”!

3 comentários sobre “Cinco Discos Para Conhecer: Max Cavalera

  1. O Pablo fez um texto muito coerente se levarmos em consideração o músico em questão. Roots vem sim predominantemente da cabeça de Max Cavalera, portanto talvez seja mesmo o disco que deveria estar aqui, apesar de que não é o disco preferido do Sepultura da fase Max de grande parcela dos fãs. Eu também prefiro o que o Soulfly fez nessa fase mais recente do que seus primeiros discos. Enslaved para mim é um absurdo e acho o Prophecy apenas mediano, mas novamente acho adequado tanto esse quanto o primeiro serem citados aqui. O Nailbomb foi algo que surpreendeu todo mundo na época por ser muito diferente do que estávamos acostumados e muita gente ainda nem tinha ouvido bandas como o Ministry.

  2. Prophecy é o primeiro com Marc Rizzo, e partir desse o Soulfly se tornou mesmo uma banda com direcionamento coeso, ao invés de um projeto solo do Max Cavalera atirando para todos os lados e acertando um alvo aqui ou ali, como foram os três primeiros discos. A química entre ele e o Rizzo é excelente, e acho um desperdício ter deixado o Soulfly de lado para tocar com o irmão. Igor não gosta mais de metal e toca sem tesão, nos discos mas principalmente nos shows, vê o Cavalera Conspiracy como obrigação familiar e nada mais.

    1. Eu também acho que o Igor não gosta mais de tocar metal. Só que é aquela coisa né, os projetos eletrônicos e tal não dão o “sustento”. Não acho que devemos exigir o mesmo Igor de 30 anos atrás, até porque a idade chega para todo mundo, mas se percebe que ele “não está com a alma ali” quando toca com o Cavalera Conspiracy.

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