Cinco Músicas Para Conhecer: Parece, Mas Não É

Cinco Músicas Para Conhecer: Parece, Mas Não É

Por Mairon Machado

Nos últimos tempos, tornou-se comum a brincadeira do reaction, onde se filma uma pessoa tendo reações ao ver um determinado vídeo ou ouvir uma música pela primeira vez. Baseado nessas experiências, o Cinco Músicas Para Conhecer de hoje simula uma espécie de reaction com alguém que irá ouvir as faixas escolhidas, pensando ser uma coisa, mas que na verdade, é outra.


Atomic Rooster – “Gershatzer” [1970]

Como é bom ouvir Emerson Lake & Palmer, que paulada já de cara. Esse órgão do Emerson, o baixão do Lake, e pô, Palmer soltando o braço. Sonzeira fudida hein? Olha essa rufada do Palmer, que espetáculo. Ei, que massa, Emerson demolindo o piano no seu solo. O cara tinha é uma técnica sensacional. Olha esse pulo para os teclados, e a velocidade. E agora vai para a sutileza do piano com uma simplicidade monstra! E essas loucuras assim é puro Emerson. Genial! Baita solo! É da época do Tarkus? Só pode, pela inspiração! Voltou o riff, puro ELP. Que baita música, não conhecia. Ih rapaz, Palmer mandando ver no solo. Cara, como ele toca tanto? Monstro, olhada as rufadas, mão esquerda impecável, e o controle dos bumbos. Baita som. É de qual disco? O que? Não é ELP? É meu caro, isso é Atomic Rooster, um dos grandes power trios da história da música britânica, liderado pelo genial Vincent Crane nos teclados, e que por acaso revelou Carl Palmer ao mundo. Mas aqui, as baquetas estão a cargo do também fenomenal Paul Hammond. Está no excelente e fundamental segundo disco do grupo, Death Walks Behind You (1970), e em várias coletâneas dos ingleses. Para conhecer um pouco mais sobre a banda e a faixa, acesse aqui.


Focus – “House of the King” [1970]

Violão fazendo acordes velozes, e eis que a flauta surge sobre um andamento rápido, linha de baixo complicada e uma bateria marcante.O sorriso toma conta, afinal, é o Jethro Tull quem está tocando. Como Ian Anderson toca bem, certamente isso é da fase Aqualung, uma sobra de Thick as a Brick no máximo. Por que será que nunca foi lançada? Epa, mas e essa virada? A guitarra do Martin Barre não tem esse timbre! Claro meu caro, é Jan Akkerman na guitarra, solando para um dos maiores clássicos do grupo holanês Focus. O flautista em questão é Thijs Van Leer, um dos maiores nomes do instrumento, claro, ao lado de Ian Anderson. “House of the King” é tão Jethro Tull, mas tão Jethro Tull, que certa vez um famoso lojista de Porto Alegre falou que “é a canção que Ian Anderson jamais gravou, mas com certeza deve ter composto”. Exageros a parte, é uma magnífica faixa, que saiu originalmente nas versões americana e inglesa de Focus Play Focus (batizadas de In And Out of Focus), posteriormente em algumas das várias versões de Focus 3, e em diversos lançamentos em compacto, inclusive sendo responsável por manter o Focus na ativa, já que o fracasso de vendas de Focus Play Focus levava para o fim prematuro da banda, mas o sucesso da bolachinha fez com que Jan Akkerman (guitarras) e Thijs Van Leer (teclados, flauta, voz) reformulam-se a banda e seguissem na ativa, para conquistar o mundo no seu lançamento seguinte.


Mandrill – “Mandrill” [1970]

O som começa com uma tecladeira infernal, envolta por percussão rítmica avassaladora. Um naipe de metais entoa o riff da canção, e então surge a guitarra com wah-wah e carregadíssima de efeitos. Impossível não ser a trupe de Carlos Santana. A medida que a canção vai passando, o ritmo frenético da percussão e o solo de órgão só nos comprova cada vez mais que é Santana sim. Claro, a presença de flautas, vibrafones e metais, cria aquela pulga atrás da orelha, ainda mais quando a flauta passa a solar virtuosisticamente. Peraí, vibrafone tomando conta das caixas de som sobre o ritmo avassalador? Isso é Santana? Ah, esse solo avassalador de percussão faz minha pergunta cair por terra, agora tenho certeza que sim, é Santana o que sai das caixas de som. Mas não é minha leitora, meu leitor, você foi redondamente enganado por uma das bandas mais fantásticas da década de 70. Um hepteto do brooklyn com uma boa discografia a ser descoberta. “Mandrill” está no álbum de estreia da banda, auto-intitulado, e em quatro compactos como lado A, tendo cada um no lado B as faixas “Peace And Love” (Espanha, que ilustra a matéria), “Revolucion Sinfonica” (México), “Warning Blues” (Estados Unidos) e “Hang Loose” (Reino Unido).


Styx – “Mademoiselle” [1976]

Um acorde de teclado, baixo marcante, guitarra e bateria juntinhos, uma voz em francês, solo de guitarra com efeitos e uma vocalização aguda e marcante. Opa, é Queen! Mas peraí, quem está cantando? Brian May? Bom, o instrumental é Queen, deve ser o May sim. Pô, isso é Queen, só pode ser Queen. Ouve essas linhas de guitarra, essas vocalizações. Cara, com certeza é Queen. Ah velho, está brincando, isso é Queen sim!! Não meu caro, isso é uma das obras atemporais que o Styx lançou no excepcional Crystal Ball, de 1976, quando o Queen havia acabado de conquistar o mundo. Nunca foi comprovado se o Styx se inspirou no Queen para fazer “Mademoiselle”, mas com certeza, os elementos de vocalizações e efeitos na guitarra que Brian May usou na banda inglesa apareceram em diversas outras faixas da banda antes mesmo do Queen pensar em existir como tal, como “After You Leave Me” (1972) ou “Earl of Roseland” (1973). “Mademoiselle” é um exemplo mais recente na obra do Styx, mas eu poderia ter escolhido vários outros. Trouxe essa faixa do SEXTO disco da banda, e de um belíssimo compacto com a sensacional “Lonely Child” no lado B, para ver se causo uma polêmica por aqui. E também existe um compacto com “Light Up” no lado B.


Greta Van Fleet – “Lover, Leaver” [2018]

Epa, é uma versão nova de “Whole Lotta Love”? Opa, não é nova não, é a original. Deve ser ensaios de gravação né? Mas a letra tá diferente. Eita, o Bonham devia estar gripado esse dia, mas o Plant e o Page estão afiadíssimos. Por que o baixo do Jonesy tá tao baixo? Eita, Plant canta pra caralho nesses agudos hein? Sonzeira. É uma versão inicial de “Whole Lotta Love”? A letra tá bem diferente … Eita, Page e sua Les Paul, baita solo. Bah, os caras tavam flertando com orquestrações antes do Led III, eu sabia!! O que? Isso é um bando de garotos americanos dessa década? Tás de brincadeira!! O Greta Van Fleet é o verdadeiro caso do Ame ou Odeie, muito mais por um preconceito infantil e besta, Tirando a paixão clubística de lado, os caras entregam faixas memoráveis, claro que sugadas diretamente da fonte Zeppeliana, mas com toda uma vitalidade moderna que cai muito bem aos dias atuais. “Lover, Leaver” é um exemplo claro disso. Todas as referências ao Led estão lá, mas o comportamento geral da canção mostra que há muito mais criatividade do que inspiração na obra dos americanos. Está no seu primeiro full lenght, de 2018, e foi lançada no mesmo ano para download no site oficial da banda, através do single que ilustra a postagem.

6 comentários sobre “Cinco Músicas Para Conhecer: Parece, Mas Não É

  1. Gostei bastante da ideia, realmente é algo que ocorre vez por outra mesmo com aquele que se julga um grande “conhecedor” de música, pois na verdade é impossível se conhecer a totalidade de tanta coisa boa que foi produzida desde os anos 60 (no mínimo) até hoje.

    Eu mesmo passei por isso várias vezes, uma delas foi quando o Mairon me apresentou a instrumental “Pitágoras” dos Mutantes (do “Tudo Foi Feito pelo Sol”, para quem não souber), e levei algum tempo para aceitar que não era uma composição do Yes…

    Entrando no espírito da postagem, amplio as escolhas com duas músicas que rapidamente me vêm à mente: “Young Man, Old Soul”, do Spiritual Beggars (do disco “On Fire”), onde 95% dos desavisados vai pensar ser Black Sabbath, e depois ficar quebrando a cabeça para saber de que disco é quando a voz entrar, e “Karelia” (especialmente passada a introdução do mellotron) ou (principalmente) o começo de “The Old Man & The Sea”, ambas do Anekdoten (presentes no disco “Vemod”), onde fica quase impossível não acreditar que são composições do King Crimson em sua fase “elétrica” setentista (eu fui um que não acreditei…).

    Outras duas pegadinhas já bastante conhecidas são colocar “Taurus” do Spirit e fazer alguém acreditar ser uma outra versão de “Starway To Heaven” (coisa onde até processo por plágio já rolou) ou tocar “Bombay Calling” do It’s a Beautiful Day e dizer que é uma versão demo de “Child In Time” (afinal o próprio pessoal do Purple já admitiu ter se “inspirado” nessa música para compor seu próprio clássico…).

    Bela matéria, valeu!

    1. Bah, quantas nos enganamos? Boas histórias, ahuahuahuahau. Foi meio que inspirado nelas que pensei nesse post. OUVE esse Mandrill Micael, tu que gosta de Santana fim de 60, irás curtir!!

  2. Durante anos toda e qualquer música que tinha uma flautinha se tornou Jethro Tull até eu saber que não era. E isso deve acontecer até hj para grande parte do s que ouvem música

    1. Com certeza. Pior que dá de fazer um tópico aqui só de bandas com flautas, todas ótimas e que não são Jethro Tull

  3. Nessa ideia da matéria, lembro das músicas do High ‘n’ Dry do Def Leppard, que talvez excetuando somente a dobradinha Bringin’ On the Heartbreak/Switch 625, remetem muito – e de forma proposital – ao AC/DC

    1. Tem umas do Saxon que lembram muito Van Halen tb. AC/DC temvárias bandas que parecem ela. Agora, o pior é dizerem que “Lugar do Caralho” do Júpiter Maçã é do Raul Seixas. Eu não acho que lembre …

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