Melhores de 2019: Por André Kaminski

Melhores de 2019: Por André Kaminski

Este ano achei os lançamentos muito superiores se comparados ao ano passado. Vejo alguns velhos estilos ressurgindo e algumas bandas e artistas tentando coisas novas. Aliás, este ano foi o período em que aceitei o que deveria ter feito há algum tempo: não dá mais para ficar ansioso pelas velhas e clássicas bandas lançando algo novo. Estes lançamentos serão cada vez mais raros e agora se quiser buscar música nova, vai ter que deixar a preguiça de lado e pesquisar novas bandas. E praticamente todas as bandas e artistas citados nessa matéria estão longe de serem muito conhecidos. A maioria com menos de 15 anos de carreira. Escutei alguns poucos discos de bandas clássicas ou conhecidas, mas pouquíssimos me agradaram em cheio.

Existe também aquela geração mais nova que a crítica divulga e elogia tal como Swans, Big Thief, Tool, Rival Sons e tudo mais. Apesar de gostar de várias delas e estarem nas listas dos críticos, eu estaria mentindo se falasse que seus discos atuais me chamaram a atenção. Quem sabe no decorrer dos anos eu mude de opinião.

Antes de seguir minha lista, quero agradecer aos nossos leitores pelo aumento incrível que tivemos em nosso site principalmente em número de pageviews. Nosso alcance simplesmente dobrou em 2019. Antes, tínhamos uma média entre 14 a 20 mil visualizações mensais em 2018. Este ano estamos com média entre 35 mil a 45 mil visualizações mensais. Após março, em conjunto com a entrada de Daniel Benedetti e Amanda Cipullo, nosso alcance deu o maior salto já visto desde que comecei a fazer parte do site.

Enfim, segue a minha lista. Um ótimo 2020 a todos os nossos leitores e colaboradores da Consultoria do Rock!


Waveshaper – Artifact [synthwave]

Meu primeiro lugar é um disco instrumental de synthwave de sonoridade bem espacial e oitentista. Certeza que o clube dos metaleiros acéfalos vai cassar a minha carteirinha de sócio. Enfim, o que posso dizer é que este foi o disco que mais me surpreendeu nesse ano. Eu adoro esse tipo de som e não imaginava que pudesse ouvir algo tão encantador como o desse disco quase 30 anos depois do final da década de oitenta. Tom Andersson, o sueco autor do projeto, também costuma fazer vários covers de jogos dos anos 80 e 90 utilizando somente os vários sintetizadores diferentes que possui. Inclusive um raríssimo EDP Gnat synthesizer que ele exibe em sua página do facebook. Quem ama a sonoridade sci-fi oitentista e trilhas de jogos e filmes do mesmo período, vai adorar este disco.


The New Roses – Nothing But Wild [hard rock]

Estes alemães também surgiram na década passada com uma sonoridade do hard rock ao estilo Gotthard, Bonfire e Axxis. E este belo disco tem tudo aquilo que gostamos nesse estilo de som: melodias cativantes, guitarras grudentas e uma grande voz na figura do vocalista Timmy Rough. “Heartache” tem uma pegada que lembra a do Scorpions, “The Only Thing” é uma balada daquelas bem Aerosmith. Neste disco porém, os alemães dão também uma pincelada no country norte americano como em “Meet Me Half Way”. São diferentes facetas do hard rock e influências de grandes bandas que resultaram em um disco de alto nível.


Protector – Summon the Hordes [thrash/death]

Diferentemente da trindade do thrash alemão (Kreator, Destruction e Sodom) e mais o Tankard, o Protector sempre ficou à margem e mais restrito a um público local embora também tenha sido contemporânea às outras quatro citadas. Uma das razões pelas quais a banda teve mais dificuldade em se destacar foram as constantes trocas de membros o que dificultou em dar um senso de união ao conjunto. Mas entre indas, vindas, pausas e retomadas, a banda se estabilizou recentemente girando na figura do vocalista Martin Missy e a sonoridade thrash com vocais death da banda lançou este ano o que considero o seu melhor trabalho dentre os sete discos de estúdio deles. Músicas com a cadência e técnica como em “The Celtic Hammer” e o thrash veloz de “Summon the Hordes” demonstram claramente que um disco de metal extremo pode ser variado e manter uma alta qualidade.


The Mystery Lights – Too Much Tension! [psychedelic rock]

Que disco delicioso de se ouvir. Aquela psicodelia bem garageira bem ao estilo dos anos 60 mas com uma produção bem feita deixou a sonoridade simplesmente incrível. A cozinha de baixo e bateria são os pontos de destaque deste álbum que consegue fazer um remelexo mesmo em um estilo não muito acostumado a isso. Para quem gosta de efeitos de pedais de guitarra, são tantos aqui que eu não conseguiria citar todos. A melhor música aqui sem dúvidas é a última canção “Traces” uma espécie de mistura de Rolling Stones com surf music que achei sensacional.


Tandra – Time and Eternity [folk metal]

Esses são produto nacional, lá de Curitiba. Um metal de riffs pesadíssimos mas que ao mesmo tempo encaixam o acordeão e a flauta dando aquele aspecto “alegre” do folk europeu. As temáticas são as clássicas batalhas medievais e pingaiada dos botecos, típicas do estilo mas que tratadas com um bom humor bem brasileiro. Deixo aqui meus elogios em específico aos guitarristas Christopher Knop e Geferson Franco pela excelente parede de riffs de guitarra de grande peso e que nos shows deve soar memorável. Dêem uma passada aqui no sudoeste do Paraná para eu fazer questão de assistir a um show de vocês.


Boo Boo Davis – Tree Man [electric blues]

Mais um grande artista que surgiu com uma idade bastante avançada. Ele é um daqueles últimos bluesistas que cantavam e trabalhavam nas plantações de algodão no delta do Mississipi nos anos 60 e que só conseguiu ser descoberto nos anos 2000. Já com onze discos de estúdio, Boo Boo Davis continua encantando amantes do blues com a sua voz já rouca pelo tempo mas perfeita para esse tipo de faceta mais eletrizada do blues. A gaita de boca também está onipresente em todas as faixas, fazendo jus ao estilo sulista que nunca deixa de nos brindar com ótimos discos.


Anthem – Nucleus [power/heavy metal]

E não é que a clássica banda japonesa Anthem lançou um discos daqueles? Foi o meu disco power metal preferido do ano, batendo inclusive o Blind Guardian. Para quem não sabe, o Anthem surgiu nos anos 80 na mesma época junto ao Loudness e o Earthshaker. Esse é o seu décimo oitavo disco de estúdio. E apesar de conhecer alguns dos anteriores (e considerá-los bons) nenhum chegou a perambular pelas minhas listas de melhores. Mas aqui foi diferente. É o melhor que eu ouvi deles. Me impressiona é como mesmo aos 56 anos, o vocalista Yukio Morikawa soa como se tivesse 25. Não entendo como somente o Loudness ficou mais conhecido, o nível desses caras aqui é o mesmo deles.


The Allman Betts Band – Down to the River [southern rock]

Os filhos de Gregg Allman e Dickey Betts resolveram unir forças e seguir os passos dos pais nesse rock sulista de imensa qualidade. Disco de estreia da dupla, temos aqui aquele rock tipicamente norte-americano com muita melodia e influências do folk cuja similaridade ao The Allman Brothers Band e ao Lynyrd Skynyrd fica evidente. Devon Allman e Duane Betts começaram este projeto com os dois pés direitos.


Derby Motoreta’s Burrito Kachimba – Derby Motoreta’s Burrito Kachimba [psychedelic rock]

Mais uma banda psicodélica com letras em espanhol e sonoridade remetendo a uma mistura de Big Brother & The Holding Company e mais um tanto de rock espacial. Tantas influências parecem uma colcha de retalhos na teoria, mas te digo que o som funciona. Há momentos de um instrumental mais pesado como a última canção “La Piedra de Sharon”, progressivos como “El Salto del Gitano” e de ritmos locais como o andamento de “Grecas”. Ouça e confira uma sonoridade muito diferente daquilo que se normalmente conhece.


Falena – Una Seconda Strana Sensazione [progressive rock]

E para finalizar, um progressivo. Porém, apesar de italiano, os caras optaram muito mais pela flauta e o sintetizador dando ritmos futuristas do que as tradicionais sinfonias das bandas setentistas. Segundo disco de estúdio deles, temos aqui aquela técnica impecável dos italianos ao juntar diferentes ritmos e ainda soando coeso, muito sintetizador para dar aquela camada espacial de sempre e um approach que segue mais pelo heavy prog, principalmente pela tonalidade mais pesada das guitarras. “Il Peso Della Mistura” apresenta esse peso enquanto “Passaggio” é mais singela e lembra momentos mais calmos do Jethro Tull. Foi um disco que ouvi aos 45 minutos do segundo tempo. lançado a menos de um mês e que felizmente tive acesso antes de fechar esta lista.


Surpresa: The Darkness – Easter is Cancelled [hard rock]

Confesso que nunca mais esperei nada do The Darkness após seu primeiro disco e a tentativa da mídia e da gravadora de os emplacarem como o novo Guns. Depois de umas brigas, eles tem se estabilizado desde o início da década que agora acaba e lançaram alguns discos, mas nada muito além de mediano. Com capa polêmica e tudo mais, Easter is Cancelled é um álbum bem bacana de uma banda que viveu um curto período dos louros do sucesso mas que agora se firmou de vez no underground de maneira honesta e com um ótimo disco.


Decepção: Volbeat – Rewind, Replay, Rebound [hard/heavy]

Entre 2005 e 2010, o Volbeat lançou quatro discos ali muito bons. Trabalhos dignos de uma banda que iria galgar um lugar ao sol entre as bandas destaque do período. Porém, os dois últimos discos após este período deram uma esfriada em meu interesse com eles. Aí fui ouvir esse novo e… sei lá. A banda não mudou muito mas acho que ela se apegou à mesma fórmula e agora deu uma cansada. Diferente dos discos anteriores, sinto que faltou um capricho maior por novos ganchos e riffs, me parecendo que quer fazer algo mais palatável para o público maior mas sem o saco e a paciência para trabalhar a fundo nisso. Sei que muita gente gostou mas a mim não desceu. Você pode achar até o disco bom mas… ah vai, eles já fizeram coisa muito, mas muito melhor no passado.


Outros ótimos discos lançados este ano

Stew – People [hard/blues rock]

The Japanese House – Good at Falling [synthpop]

Dooren – The Darkest Days [symphonic metal]

Thank You Scientist – Terraformer [progressive rock]

Fearless – Chronicles of Ancient Wisdom [power metal]

Gygax – High Fantasy [hard rock]

Timo Tolkki’s Avalon – Return to Eden [power metal]

Holy Ghost – Work [synthpop]

Ina Forsman – Been Meaning to Tell You [soul/blues]

Bus – Never Decide [stoner rock]

Celestial Flames – Unholy Essence [power metal]

8 comentários sobre “Melhores de 2019: Por André Kaminski

  1. “Existe também aquela geração mais nova que a crítica divulga e elogia tal como Swans, Big Thief, Tool, Rival Sons e tudo mais.”

    Swans deve ser mais velho que 80% dos escolhidos da lista, e Tool completa 30 anos em 2020.

    1. Assumo o erro quanto ao Swans por desconhecimento, todavia, o Tool só começou a ter alguma fama mais de uma década depois de ser fundado.

      1. Errado, o Aenyma vendeu em sua primeira semana quase 150 mil cópias. Foi vendendo mais com o passar dos anos. O Lateralus (que foi quando realmente ficaram famosos) vendeu mais de 500 mil cópias na primeira semana. Isso lá nos anos 2000.

  2. Sua amostra de discos deve ter sido BEM diferente da minha! caramba, uns nomes aí que não vi nem citado nos lançamentos…alguns me interessaram a ouvir!
    Abraço!

    1. Me concentrei em uma leva um pouco mais “fora” do que normalmente é mais divulgado. Por isso há muitos nomes diferentes. Tem alguns que acho que iria gostar daí.

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