Discografias Comentadas: Motörhead [Parte I]

Discografias Comentadas: Motörhead [Parte I]

Por Daniel Benedetti

“We are Motörhead and we play rock ‘n’ roll”.

Esta era a frase com que o líder do Motörhead, “Lemmy”, costumava abrir os seus shows. Se você ama Rock ‘n’ Roll e nunca ouviu falar do Motörhead, você precisa procurar uma orientação melhor. Verdadeira instituição do gênero, este artigo, dividido em 3 partes, vai passear por todos os álbuns de estúdio do grupo além, de maneira resumida, contextualizar cada um de seus lançamentos. Necessário frisar, evidentemente, que as opiniões sobre músicas e álbuns refletem exclusivamente a percepção deste autor.

Ian “Lemmy” Kilmister foi o baixista/vocalista do grupo e, durante toda sua existência, a alma da banda. A história de ambos se confundem e a partir dela que se começará.

Em maio de 1975, Lemmy foi demitido do Hawkwind, após ser preso no Canadá por posse de drogas. Sem grandes perspectivas, ele decide formar um novo grupo, o Motörhead, cujo nome foi inspirado em sua última composição para o Hawkwind. Segundo o próprio Lemmy, ele queria que sua música fosse “rápida e viciante, assim como o MC5”.

Com o guitarrista Larry Wallis e o baterista Lucas Fox, o Motörhead foi contratado pela United Artists e em setembro de 1975 começou as gravações para seu primeiro álbum. Durante este processo de gravação, Fox se revelaria o homem errado para a função, sendo substituído por Phil “Philthy Animal” Taylor, o qual terminaria o disco.

Entretanto, o resultado final da obra desagradou a gravadora United Artists que se recusou a lançar o álbum (trata-se de On Parole, nome sob o qual o disco foi lançado, em 1979). Na sequência, imaginando que uma dupla de guitarristas seria o ideal para o conjunto, ‘Fast’ Eddie Clarke foi recrutado o que culminou com a quase imediata saída de Wallis. Desta forma, como um “Power Trio”, a clássica formação Kilmister/Clarke/Taylor foi reunida.

Com quase nenhum reconhecimento e há poucos minutos de perder Taylor e Clarke, Lemmy conseguiu uma chance de dois dias no Escape Studios, com o produtor Speedy Keen, após uma apresentação no Marquee Club, em Londres, com Ted Carroll, da Chiswick Records. Na oportunidade conquistada, em vez de um single, a banda registrou 11 faixas em 2 dias. Carroll deu-lhes mais alguns dias no Olympic Studios para terminarem os vocais e a banda completou 13 faixas para lançamento de um novo álbum. Primeiramente, a Chiswick lançou o single “Motorhead”, em junho, seguido, então, pelo primeiro álbum da banda. O trabalho artístico da capa apresentava um War-Pig, o rosto com presas que se tornaria um ícone da banda, criado pelo artista Joe Petagno, o qual havia trabalhado com Storm Thorgerson, da Hipgnosis. A mascote do grupo seria batizada como Snaggletooth.


Motörhead [1977]

Lançado em 21 de agosto de 1977, pela Chiswick Records e sob produção de Speedy Keen, Motörhead demonstra uma banda sedenta de sucesso. A abertura, “Motörhead”, já apresenta o característico som do grupo: rápido, simples e pesado com o baixo de Lemmy já presente nos primeiros segundos, em um Rockabilly (com doses extras de peso e de velocidade). “Vibrator” segue na mesma linha da primeira canção enquanto “Lost Johnny” é menos veloz, mais cadenciada e mais pesada, com o baixo de Lemmy mais evidente e um ótimo solo do guitarrista ‘Fast’ Clarke. “Iron Horse – Born To Lose” é um Hard Rock pesadão e bem lento, contando com um solo muito bom da guitarra de Clarke. “White Line Fever” se apresenta como um Blues Metal de primeira qualidade, com destaque para a bateria de ‘Philty Animal’. “Keep Us on the Road” é um Rock mais suave (para os padrões do disco), com um riff bem malemolente, assim como também a ótima “The Watcher”, seguindo este mesmo padrão. Para fechar o álbum, uma versão selvagem para o clássico do Blues, “Train Kept A-Rollin’”. Motörhead teve sua faixa-título lançada como single, sem causar maiores impactos. O disco atingiu a 43ª posição da principal parada britânica e supera a casa de 60 mil cópias vendidas no Reino Unido. Em suma, Motörhead mostra o grupo em busca de uma identidade musical, mas já apresentando um direcionamento com bastante personalidade.


A banda fez uma turnê pelo Reino Unido, em suporte ao Hawkwind, em junho, e depois do final de julho começou a turnê Beyond the Threshold of Pain com o The Count Bishops. Em agosto, Tony Secunda assumiu a gerência da banda, e sua atitude tornou-se tão instável que, em março de 1978, Clarke e Taylor se mandaram e passaram a se apresentarem como ‘The Muggers’, com Speedy Keen e Billy Rath.

Em julho de 1978, a banda voltou para a gerência de Douglas Smith, que conseguiu um contrato para um único single com a Bronze Records. O resultado, “Louie Louie”, foi lançado em setembro daquele ano, alcançando a 68ª posição na parada britânica daquela natureza.

A banda fez uma turnê no Reino Unido para promover o single, gravando para o programa John Peel in session, da BBC Radio 1, em 18 de setembro (essas faixas foram mais tarde lançadas no álbum BBC Live & In-Session, de 2005), e apareceu, pela primeira vez, no famoso programa Top of the Pops, da BBC Television, em 25 de outubro. A Chiswick capitalizou esse novo nível de sucesso ao reeditar o álbum de estreia Motörhead, em vinil branco, através da EMI Records. O sucesso do single levou a banda a estender seu contrato com a Bronze Records, e colocou-a de volta ao estúdio para gravar um novo álbum, desta vez com o produtor Jimmy Miller, no Roundhouse Studios.


Overkill [1979]

Lançado em 24 de março de 1979, através do selo Bronze Records, Overkill é um monólito da música pesada. Produzido por Jimmy Miller (Traffic, The Rolling Stones), o disco é considerado, por parte dos fãs, o melhor trabalho do grupo. A bateria frenética de Phil Taylor e o baixo de Lemmy introduzem a clássica “Overkill”, um verdadeiro hino da banda, em toda sua ferocidade. Destaque-se, também, o trabalho do guitarrista ‘Fast’ Eddie Clarke e os vocais agonizantes de Kilmister. “Stay Clean”, outra canção emblemática, traz um riff um pouco mais cadenciado, num estilo bem rock clássico, mas com o peso que naturalmente o Motörhead impõe a sua sonoridade. A paulada “(I Won’t) Pay Your Price” é seguida por “I’ll Be Your Sister”, outro Rock com a dosagem de peso exata implantada pela seção rítmica. “Capricorn” é outro petardo que apresenta a criatividade de Taylor nas baquetas em uma música com sonoridade sufocante. Outra faixa tradicional do conjunto é “No Class”, perfeita para definir o que é a banda: música direta, sem invenções e com um ótimo ritmo. Pesada e intensa, com a cadência correta, assim é “Damage Case”, contando com um riff excelente e o refrão é excepcional. “Tear Ya Down” possui um riff que remete ao Rock cinquentista, embora com mais poder e vigor. “Metropolis” possui um clima mais sombrio, em ótima atuação vocal de Lemmy, enquanto “Limb From Limb” é um Hard Rock fenomenal, calcado em um riff Bluesy e solos ferozes de Clarke. “Overkill” e “No Class” foram os singles lançados para promoção do disco, conquistando a 39ª e 61ª colocações na parada britânica desta natureza, respectivamente. Já o álbum atingiu a 24ª posição da parada britânica, suplantando a casa de 60 mil cópias vendidas no Reino Unido. Overkill é um dos álbuns mais influentes da história da música mais pesada (está aí o Thrash Metal norte-americano como prova), tanto que a revista alemã Rock Hard o colocou no 340º lugar de sua lista The 500 Greatest Rock & Metal Albums of All Time, de 2005; enquanto a revista britânica Kerrang! trouxe o disco em 46º lugar de sua lista 100 Greatest Heavy Metal Albums of All Time, de 1989.


A turnê ‘Overkill’, pelo Reino Unido, começou em 23 de março de 1979, antes do lançamento do single “No Class” (em junho), que possuía a faixa “Like a Nightmare” no lado B.

A tour Overkill

Durante julho e agosto, com exceção de uma pausa para aparecer no Reading Festival, a banda estava trabalhando em seu próximo álbum, Bomber.


Bomber [1979]

Jimmy Miller retorna ao Roundhouse Studios e ao Olympic Studios, ambos em Londres, para produzir a gravação de Bomber, o qual foi lançado pela Bronze Records em 27 de outubro de 1979. A banda reclamou que não teve tempo para trabalhar as faixas durante seus shows (o que ocorrera em Overkill), além do produtor Jimmy Miller se encontrar totalmente errático, em um ponto de desaparecer completamente do estúdio e ser encontrado adormecido ao volante de seu carro, supostamente cada vez mais sob a influência de heroína. Mesmo assim, Bomber é um dos discos mais amados pelos fãs. Abre o trabalho “Dead Men Tell No Tales”, canção em que é possível sentir a identidade musical do Motörhead. Um riff pesado, direto, embora um pouco mais cadenciado para os padrões da banda. A bateria de Phil Taylor está insana e o baixo de Lemmy dá as cartas. A intensidade do álbum continua pesada na sua segunda canção, “Lawman”, na qual, outra vez, o Motörhead aposta em um ritmo mais cadenciado, mas sem abrir mão de seu peso característico. Outro bom trabalho de Taylor na bateria e os vocais agressivos de Lemmy se casam perfeitamente com o instrumental. Em “Sweet Revenge”, o andamento fica ainda mais lento, embora o peso continue muito presente. O caminhar ‘arrastado’ da canção dá maior destaque ao trabalho de Taylor na bateria enquanto aparece outro inspirado solo da guitarra de Eddie Clarke. Já na quarta faixa do disco, “Sharpshooter”, o conjunto apresenta uma música bastante direta e rápida, capitaneada por um riff muito veloz e um baixo, por parte de Lemmy, bem presente. Em “Poison”, o destaque total é da guitarra de ‘Fast’ Eddie Clarke, brilhando tanto nos solos quanto na base. A marcante introdução de “Stone Dead Forever”, ao baixo de Lemmy Kilmister, é uma das mais conhecidas dentro da discografia do grupo. A canção apresenta um riff simples, mas tão bom quanto contagiante, o ritmo é rápido e intenso; o refrão também se destaca. A música ainda contém um dos melhores solos da guitarra de ‘Fast’ Eddie Clarke. A guitarra está ainda mais pesada em “All The Aces”, abusando de solos que simplesmente ‘cortam’ a canção. Já em “Step Down”, o som se apresenta com uma pegada mais Bluesy, com os vocais feitos pelo próprio Clarke. “Talking Head” é rápida, pesada e muita intensa, bem como a derradeira “Bomber”, contando com a dose corretíssima de peso e transpirando inspiração. A faixa-título foi o único single retirado do disco e conquistou a 34ª posição da principal parada britânica desta natureza. Bomber ficou com a ótima 12ª colocação da parada britânica de discos, superando 60 mil cópias vendidas no país. Bomber é um dos melhores trabalhos do Motörhead e, se não está no mesmo patamar de Overkill, encontra-se em um nível extremamente próximo.


O palco dos shows, nesta fase, contou com um equipamento de iluminação em forma de bombardeiro. Durante a turnê ‘Bomber’, a United Artists reuniu fitas gravadas durante as sessões no Rockfield Studios, do período entre 1975 e 1976, e as lançou como um álbum, On Parole.


On Parole [1979]

Oportunisticamente, a United Artists viu o sucesso do Motörhead e resolveu soltar aquele primeiro material gravado pela banda, ainda com Larry Wallis na guitarra, como um álbum, no final de 1979 (8 de dezembro), e, aquilo que anteriormente não servia, passou a ser útil. As faixas são quase as mesmas que constituíram a estreia oficial do conjunto, Motörhead, mas ainda mais cruas e menos trabalhadas, além da produção deixar a desejar (Fritz Fryer substituiu Dave Edmunds na função). Em geral, faltava a Larry Wallis a agressividade que sobraria em ‘Fast’ Eddie Clark. Quanto às músicas inéditas, “On Parole”, canção de Wallis, é um Rock ‘n’ Roll de base cinquentista, bem como a divertida “City Kids” (também de Wallis), mas ambas sem a pegada do Motörhead. O cover para “Leaving Here”, clássico da Motown, é interessante, com um ritmo mais acelerado. “Folls” é outra música de Wallis, com um jeitão de Rolling Stones e vocais do próprio Wallis (que também canta em “Vibrator”). “Lost Johnny” ainda conta com o baterista original, Lucas Fox, em ação. On Parole atingiu a 65ª posição da principal da parada britânica de discos, mas evidencia ainda uma banda em processo de autoconhecimento, com algumas faixas até intrigantes, mas afastadas da ferocidade que consagraria o conjunto.


Em 8 de maio de 1980, enquanto a banda estava em turnê na Europa, a Bronze Records lançou o EP Ao Vivo, The Golden Years, que vendeu melhor que qualquer um de seus lançamentos anteriores, alcançando o oitavo lugar na parada britânica. A banda, no entanto, preferia o título ‘Flying Tonight’, em referência ao equipamento de iluminação de ‘Bomber’.

Durante os meses de agosto e de setembro de 1980, a banda esteve no Jackson’s Studios, em Rickmansworth, gravando com o produtor Vic Maile. O single “Ace of Spades” foi lançado em 27 de outubro daquele ano, como uma prévia do álbum que surgiria logo depois.


Ace of Spades [1980]

Com uma capa com a banda posando no melhor estilo ‘Velho Oeste’, o disco foi gravado entre 4 de agosto e 15 de setembro de 1980, no Jackson’s Studios, em Rickmansworth, no Reino Unido, sob a produção de Vic Maile (que havia trabalhado com Jimi Hendrix e The Who, por exemplo). Ace of Spades é o marco definitivo de sucesso do Motörhead. O álbum foi lançado em 8 de novembro de 1980, com 12 faixas arrebatadoras. O hino ‘proto-thrash’, “Ace of Spades”, abre o disco em uma das mais brilhantes composições do Motörhead, com o baixo de Lemmy dando um peso absurdo à faixa e ‘Fast’ destroçando nos solos de guitarra. “Love Me Like a Reptile” mantém o pé no acelerador, contando com um riff de guitarra inspirado e ótimos vocais de Kilmister. “Shoot You in the Back” é um pouco menos veloz, mas o peso continua insano, graças ao ótimo riff principal. “Live to Win” traz o baixo de Lemmy ainda mais proeminente, em uma canção que contém um certo balanço em sua intensidade e, novamente, solos arrasadores de Clarke. A deliciosa “Fast and Loose” é praticamente um ‘Blues Metal’, com atuação preciosa de Lemmy nos vocais e um refrão bem legal. O lado A é encerrado pela homenagem “(We Are) The Road Crew”, que celebra os roadies do grupo (e a fase em que Lemmy foi roadie de Jimi Hendrix e da banda The Nice). “Fire, Fire” é uma verdadeira paulada, rápida e furiosa, com Taylor fazendo jus ao apelido ‘Animal’ na bateria. “Jailbait” é mais lenta, mas possui peso e intensidade nas doses precisas, em uma típica construção do Motörhead, com ótimos vocais de Lemmy. O riff inicial de “Dance” é incrível, em uma faixa que faz a fusão do peso do grupo a uma aura rockabilly, de modo cirúrgico. Com pouco mais de 1 minuto e meio, “Bite the Bullet” é uma canção que vai sem rodeios ao ponto, com a sonoridade esperada de uma música assim. Contando com um riff espetacular, a clássica “The Chase Is Better Than the Catch” é um Hard Blues Rock de primeiríssima linha, mas com o inegável DNA do Motörhead, constituindo-se em uma das melhores faixas de toda a discografia do conjunto. Mais uma porrada encerra o disco, “The Hammer”, outra música que antecipa o nascimento do Thrash Metal, com Taylor furioso na bateria. O single “Ace of Spades”, lançado pouco tempo antes do álbum, atingiu o 15º lugar na parada britânica e acabou vendendo bem. O álbum Ace of Spades alcançou a excelente 4ª colocação da principal parada britânica, o ápice entre discos de estúdio da banda, além de bater a casa das 100 mil cópias vendidas no Reino Unido. Além disso, o reconhecimento de sua importância e influência é pleno entre a crítica especializada, com o trabalho sendo listado no livro 1001 Albums You Must Hear Before You Die. Ace of Spades é um dos melhores álbuns de Rock de todos os tempos.


A Bronze Records comemorou o status de ‘disco de ouro’ de Ace of Spades ao lançar uma edição limitada do álbum em vinil dourado. O Motörhead fez uma aparição no popular programa de TV, Top of the Pops, em novembro daquele ano com “Ace of Spades”, e entre 22 de outubro e 29 de novembro a banda estava em sua turnê ‘Ace Up Your Sleeve’, no Reino Unido, com o apoio dos grupos Girlschool e Vardis.

Para coincidir com o lançamento de Ace of Spades, a Big Beat, que havia herdado o catálogo da Chiswick Records, reuniu quatro faixas não utilizadas nas sessões do Escape Studios em 1977 (para o álbum Motörhead) e as lançou como o EP Beer Drinkers and Hell Raisers, que alcançou a 43ª posição na parada britânica em novembro de 1980.

A banda teve mais sucessos em 1981. O lançamento do EP St. Valentine’s Day Massacre, em colaboração com o Girlschool, que alcançou a 5ª posição na parada britânica de singles em fevereiro; bem como a versão ao vivo da faixa “Motorhead”, que chegou ao sexto lugar da mesma parada em julho.

A canção ao vivo foi retirada de No Sleep ‘to Hammersmith, o extraordinário álbum ao vivo lançado pelo grupo em 27 de junho de 1981 e que alcançou o primeiro lugar na parada de álbuns do Reino Unido em junho. As gravações foram feitas em março de 1981, quando a banda estava em turnê pela Europa, e, na última semana do mês, o grupo realizou a turnê ‘Short Sharp, Pain in the Neck’, no Reino Unido.

De abril a julho, a banda fez uma turnê pela América do Norte, pela primeira vez, como convidados da ‘Blizzard of Ozz’, uma encarnação da banda de Ozzy Osbourne, mas ainda conseguiu aparecer novamente no Top of the Pops, em 9 de julho, para promover o single ao vivo “Motorhead”. A banda começou uma turnê europeia em 20 de novembro, apoiada pelo Tank, e, após a mesma, Clarke produziu o álbum de estreia do Tank, Filth Hounds of Hades, no Ramport Studios, em dezembro e janeiro do ano seguinte.

Entre 26 e 28 de janeiro de 1982, a banda começou a gravar seu novo álbum, produzido no Ramport Studios, antes de se mudar para o Morgan Studios.


Iron Fist [1982]

Gravado entre 26 e 28 de janeiro e durante todo o mês de fevereiro de 1982, no Ramport Studios e no Morgan Studios, Iron Fist seria o último disco com a formação clássica da banda Kilmiste-Clarke-Taylor. ‘Fast’ Eddie Clarke produziria o trabalho, com Will Reid Dick cuidando da parte de engenharia. A Bronze Records lançou o álbum mundialmente, com a Mercury cuidando da emissão na América do Norte, em 17 de abril daquele ano. Vic Maile, o qual produziu Ace of Spades, retornaria para Iron Fist, mas, após poucas gravações e algumas divergências, acabou deixando o projeto, com Clarke assumindo o posto. A faixa-título, “Iron Fist”, é sensacional, com toda a fúria do Motörhead expressada em um riff incrível e um refrão inacreditavelmente empolgante. Os solos de guitarra de Clarke são brutais. “Heart of Stone” mantém o pé no acelerador, com o baixo de Lemmy bastante proeminente e a bateria frenética de Taylor ditando o ritmo. “I’m the Doctor” traz a ótima competência do grupo em fundir Rockabilly com o peso do Metal e vocais diferentes de Lemmy. “Go to Hell” é metal até o osso, contando com um dos riffs mais pesados de toda a discografia do grupo, lembrando mesmo até bandas da NWOBHM. “Loser” já é um pouco mais cadenciada, embora mantenha o peso, com relevância para as grandes abordagens da guitarra de Clarke. “Sex & Outrage” é daquelas clássicas faixas do Motörhead, curta, veloz e insanamente agressiva. “America” abre o lado B com um Hard Blues Rock de alta competência, com um riff quase ‘zeppeliano’ e vocais iluminados de Lemmy. “Shut It Down” é mais uma pancada certeira do disco, com groove acentuado e guitarras muito afiadas. O baixo de Lemmy volta a dar as cartas em “Speedfreak” em mais uma canção veloz e pesada em que o destaque é a seção rítmica. Já em “(Don’t Let ‘Em) Grind Ya Down”, o conjunto desacelera, com um riff principal muito bom e extremamente agressivo, assim como o refrão e um dos melhores solos de Clarke. “(Don’t Need) Religion” é muito Rock ‘n’ Roll, cadenciada e furiosa, com vocais criativos de Lemmy e bom trabalho das guitarras. “Bang to Rights” encerra o álbum com peso e velocidade, em mais uma música curtinha e que vai certeira ao ponto. O single “Iron Fist” foi bem e atingiu o 29º lugar da principal parada britânica desta natureza, enquanto “Go to Hell” acabou não repercutindo. O álbum Iron Fist manteve o sucesso do grupo, alcançando a 6ª posição da principal parada britânica de discos e beliscando, pela primeira vez, a correspondente norte-americana, a Billboard 200, mesmo com a modestíssima 174ª colocação. Em termos de vendas, Iron Fist novamente superou a casa de 60 mil cópias vendidas no Reino Unido. Em suma, mesmo possuindo uma produção extremamente linear, a qualidade de suas composições faz de Iron Fist um álbum essencial dentro da discografia do Motörhead, ocupando a prateleira de cima dentro de seus trabalhos.


A formação continuou na turnê ‘Iron Fist UK’, entre 17 de março e 12 de abril, e durante a primeira turnê da banda na América do Norte de 12 de maio até o último compromisso de Clarke, no New York Palladium, em 14 de maio de 1982. A gota d’água das tensões entre Lemmy e Clarke teve como consequência sua saída da banda durante a gravação do EP Stand By Your Man, uma versão cover do clássico de Tammy Wynette, em colaboração com Wendy O. Williams and the Plasmatics. Clarke sentiu que a música comprometia os princípios da banda, recusando-se a tocar na gravação e se demitindo, posteriormente formando sua própria banda, a Fastway.

Lemmy e Taylor fizeram numerosos telefonemas para encontrar um guitarrista, incluindo um para Brian Robertson, anteriormente no Thin Lizzy, que estava gravando um álbum solo no Canadá. Ele concordou em ajudar e completar a turnê. Robertson assinou um contrato de um álbum, resultando em Another Perfect Day, de 1983, e os dois singles, “Shine” e “I Got Mine”.


Another Perfect Day [1983]

Another Perfect Day foi gravado no Olympic Studios e no Eel Pie Studios, ambos em Londres (Inglaterra), entre os meses de fevereiro e de março de 1983. A produção ficou a cargo de Tony Platt e o disco foi lançado pela Bronze Records em 4 de junho daquele ano. Brian Robertson chegou ao grupo e, como se verá, deixou sua marca. “Back at the Funny Farm” até começa com Taylor espancando a bateria e o baixo indomável de Lemmy, mas a abordagem das guitarras de Robertson remetem imediatamente à sonoridade do Thin Lizzy, embora, o peso e velocidade sejam muito Motörhead. “Shine” dá uma amenizada no peso, apostando em uma sonoridade um pouco mais malemolente, com vocais até (um pouco) mais suaves de Lemmy, em uma construção diferente para os padrões da banda. “Dancing on Your Grave” possui uma musicalidade bem oitentista, flertando com o Hard Rock da época, mesmo com o DNA do Motörhead se fazendo presente. A guitarra de Robertson nesta música é incrível. “Rock It” possui um ritmo acelerado, sendo uma faixa com uma pegada Rockabilly, mas com uma referência Hard, inclusive com passagens mais amenas, deveras interessantes, durante os solos de guitarra de Robertson. “One Track Mind” é uma canção bem diferente para o Motörhead da época, com uma cadência na qual o conjunto não apostava em trabalhos anteriores, mas, mesmo assim, revela-se uma música fascinante, com ótima atuação de Lemmy (tanto nos vocais quanto no baixo) e Robertson preciso nas seis cordas. O lado B é aberto com a faixa-título, “Another Perfect Day”, a qual continua com o aspecto Hard Rock, mas com mais intensidade e rapidez, enquanto a guitarra de Robertson faz misérias! “Marching Off to War” é uma música mais com a cara do Motörhead, bem pesada e veloz, com muita intensidade e vocais agressivos de Lemmy. “I Got Mine” possui uma cara mais setentista, embora a identidade musical do grupo esteja impressa na canção, com relevância para a guitarra de Robertson. “Tales of Glory” é aquela música rápida e pesada do Motörhead, que flerta com o Rock cinquentista, com um sabor muito especial. “Die You Bastard!” encerra o trabalho com uma musicalidade mais padrão do grupo, com muito peso e velocidade, de maneira muito intensa e a guitarra de Robertson quebrando tudo! “Shine” e “I Got Mine” foram lançadas como singles, com elas atingindo, respectivamente, a 59ª e a 46ª posições da principal parada britânica desta natureza. Com uma parte do público torcendo o nariz para o resultado final, Another Perfect Day vendeu menos que seus antecessores e atingiu a 20ª colocação da principal parada de álbuns do Reino Unido, beliscando a humilde 153ª da correspondente norte-americana. No entanto, entende-se que Another Perfect Day é um trabalho diferente dentro da discografia do Motörhead, mas que é extremamente subestimado, pois seu nível de qualidade é bem elevado.


Desta maneira, encerra-se a primeira parte da Discografia Comentada do Motörhead, reiterando-se o convite para o leitor acompanhar a segunda parte que será publicada em breve.

8 comentários sobre “Discografias Comentadas: Motörhead [Parte I]

  1. Até que enfim a discografia do Motorhead comentada aqui na Consultoria do Rock. Fiquei deveras estupefato ao ver uma das minhas bandas favoritas ter seus sete primeiros discos analisados. A Step Down do Bomber é a minha música favorita da banda, acho incrível os licks e o solo de Eddie nessa música. E o primeiro disco da banda de 1977 é injustiçado a beça. Sempre gostei muito da versão deles para Beer Drinkers and Hell Raisers do ZZ Top. Só vou adicionar algumas informações: The Watcher, Lost Johnny e a famosa Motorhead foram gravadas pelo Hawkwind ainda com Lemmy na banda.

  2. Até que enfim a discografia do Motorhead comentada aqui na Consultoria do Rock. Fiquei deveras estupefato ao ver uma das minhas bandas favoritas ter seus sete primeiros discos analisados. A Step Down do Bomber é a minha música favorita da banda, acho incrível os licks e o solo de Eddie nessa música. E o primeiro disco da banda de 1977 é injustiçado a beça. Sempre gostei muito da versão deles para Beer Drinkers and Hell Raisers do ZZ Top. Só vou adicionar algumas informações: The Watcher, Lost Johnny e a famosa Motorhead foram gravadas pelo Hawkwind ainda com Lemmy na banda.

    1. É verdade, em meio a tanta pesquisa e informações, acabei nem me lembrando de mencionar sobre as canções da época do Lemmy no Hawkind. Muito obrigado pela informação. Ainda tem mais 2 partes com o restante da discografia. Saudações!

    2. É verdade, em meio a tanta pesquisa e informações, acabei nem me lembrando de mencionar sobre as canções da época do Lemmy no Hawkind. Muito obrigado pela complementação. A segunda parte da discografia sairá em breve. Saudações.

      1. Gosto muito do álbum “Rock’n’Roll” ali tem Eat The Rich um dos rockões mais legais da banda. E Boogieman na qual o Lemmy também toca um dos solos de guitarra da música. O March Or Die pra mim não cheira nem fede mas não o considero um disco ruim. Já o Bastards é bem abaixo da média e o penúltimo álbum da banda com o Wurzel. Na minha opinião o Bastards é o disco menos inspirado da fase Wurzel.

  3. A melhor formação do Motorhead foi sem sombra de dúvida com os saudosos Phil “Animal” Taylor na bateria e “Fast” Eddie Clarke na guitarra. Gosto muito do injustiçado Another Perfect Day, um álbum muito bem tocado e com ótimos solos de guitarra. O Orgasmatron já com a banda como um quarteto nos anos 80 é muito bom. Até o “1916” o Motorhead soava legal. Depois disso a banda deu decaída na qualidade sonora e a partir do Sacrifice eles começaram a usar uma afinação mais grave no som da guitarra o que na minha opinião foi bom e ao mesmo tempo soava estranho para o Motorhead. Não estou dizendo que o Sacrifice é um álbum ruim, pelo contrário. Mas já não era mais a mesma coisa e depois disso a banda caiu na repetição e no seu último álbum de estúdio Bad Magic já se percebia os sinais do tempo. Entre o também saudoso Wurzel e o mediano Phil Campbell sou mais o Wurzel. Ele sabia solar melhor, mesmo abusando muito do wah wah como aquele medíocre do Kirk Hammet. Eu odeio pedal wah wah aquilo é recurso que guitarristas limitados usam.

      1. Hendrix sabia usar na hora certa mas fazer o que o Kirk Hammet faz já é sinal da falta de criatividade para solar, ele exagera demais no uso do pedal. Isso é uma opinião minha, agora se você acha bacana esse efeito tudo bem, cada um com seu gosto.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.