Na Caverna da Consultoria: Emílio Pacheco

Na Caverna da Consultoria: Emílio Pacheco

Por Mairon Machado

Poucas vezes tive uma emoção tão grande dentro dessa série de entrevistas com colecionadores, do que nessa feita de conversar com o gaúcho Emílio Pacheco. Além de ser um dos colecionadores mais conhecidos das lojas de Porto Alegre, ou de grupos virtuais de colecionadores, Emílio é um dos meus formadores musicais no quesito gostar de ler sobre música. Afinal, seus textos na extinta International Magazine (IM) mexiam e muito com o imaginário e a curiosidade do jovem Mairon no interior de Pedro Osório, disposto a devorar e conhecer cada vez mais sobre música. Graças a Emílio, tive a oportunidade de me aprofundar na história e na biografia de diversos artistas, nacionais e internacionais. Vamos então a um bate-papo sincero e repleto de conhecimento com mais um grande colecionador.


Estantes de CDs

Olá meu amigo Emílio, como é bom recebê-lo em nosso recanto. Por favor, àqueles que não o conhecem, apresente-se.
Sou Emílio Pacheco, tenho 58 anos, fui bancário por 35 anos, agora aposentado, e sou formado em Jornalismo. Comecei a dar vazão ao meu lado jornalista em 1995, aos 34 anos, quando mandei minhas primeiras colaborações para o saudoso International Magazine. Tive participação no livro 1973, o Ano que Reinventou a MPB, organizado por Célio Albuquerque, e breve pretendo escrever um livro só meu. Ainda não é o momento de anunciar sobre o que será, mas torço para que tudo dê certo.

O que primeiro lhe vem à mente sobre sua ligação com a música?
Diante dessa pergunta, lembro da minha infância, ouvindo Beatles e Jovem Guarda com meus irmãos já adolescentes. Pedi discos de música no meu aniversário de 5 anos e ganhei alguns. No aniversário de 6 eu já quis discos de histórias infantis, deixando um pouco a música de lado. Lembro de uma frase que minha vó disse mais de uma vez: “Agora ele está ouvindo os discos certos para a idade dele!” Mas em novembro de 1971, faltando um mês para completar 11 anos, fui a minha primeira “reunião dançante” e ali o vírus da música voltou para ficar. Foi quando comecei a comprar discos e não parei mais.

O pequeno Emílio ouvindo “Long Tall Sally”

Qual foi por que você comprou seu primeiro disco? Que idade você tinha ao adquiri-lo? Você ainda o tem?
Considero que o primeiro disco que comprei (descontando os que ganhei aos 5 anos) foi o compacto “Menina da Ladeira”, de João Só, já quase com 11 anos. Ainda está aqui em algum lugar, mas hoje tenho a música em CD e continuo achando linda. O primeiro LP foi o do Roberto Carlos de 1971, aquele de “Detalhes”. Esse, não tenho mais. Passei adiante. Mas tenho o CD.

O que você acha que o levou a se tornar um colecionador?
A paixão por música leva a isso. A gente não se contenta em ouvir, a gente quer conhecer tudo, ler a ficha técnica, conhecer as diferentes edições. Percebi que tinha virado colecionador quando quis comprar um LP de David Bowie mesmo sem ter gostado muito. No caso, era o Disco de Ouro, edição brasileira do The World of David Bowie, com gravações de 1967 e 1968. Hoje acho as músicas bem interessantes, mas não virei fã dele por causa daquele estilo inicial.

Coleção diversa de boxes, revistas, LPs e livros

Apresente os números da sua coleção aos nossos leitores
Nunca contei, mas da última vez que fiz uma estimativa pela quantidade de caixas, gavetas, etc, concluí que devia ter uns quatro mil CDs. Talvez já esteja com cinco mil. LPs, não tenho ideia, mas podem ser uns 300 ou mais. Eu não tinha mil LPs ainda quando comecei a comprar CDs, em 1989, e já me desfiz de muita coisa.

Você usa algum dispositivo/site para catalogar seus discos? E como você os organiza?
Não uso nada, infelizmente. Ainda não consegui organizar meus CDs desde que me mudei e isso acaba me prejudicando. Quando quero encontrar algum e não sei onde está, tenho que examinar caixa por caixa, gaveta por gaveta. Ainda pretendo mandar fazer mais estantes e gaveteiros e aí, sim, organizar tudo. Farei como já fiz uma vez há algumas décadas: por estilo. Hard rock, pop, progressivo, MPB, miscelâneas, etc.

Boxes diversos

Quais os álbuns mais raros que você tem?
Um deles é a edição original mono americana do Magical Mystery Tour, dos Beatles, que herdei de um amigo da família. Ele comprou importado na época do lançamento porque não tinha saído no Brasil. Outros podem ser o Por Favor Sucesso do Liverpool (futuro Bixo da Seda) e Viva a Juventude de Renato e Seus Blue Caps (que ilustram a matéria). Esses eu já comprei como raridade, mas por preços bem razoáveis, apenas um pouco acima do valor normal de um LP. É possível que vários outros LPs que eu comprei na época do lançamento sejam hoje considerados raros. E eu tenho discos de vinil muito bem preservados a partir dos anos 80. Dos anos 70 eu não garanto, pois ainda não tinha um bom toca-discos, nem um local ideal para guardar os discos.

Há algum disco que você busca há tempos, mas ainda não achou por um preço justo?
Assim pensando rápido, não lembro de nenhum. Há cerca de um mês que consegui um CD que queria há muito tempo e não pensei que iria encontrar tão fácil e tão barato no Mercado Livre: o bootleg Back to College, de Simon & Garfunkel. Esse eu cheguei a ver numa loja de discos raros, nos anos 90, e não peguei. Mas consegui agora. É um show da dupla em Miami, com ótima qualidade de som, quando eles estavam terminando de gravar o álbum que se tornaria clássico, Bridge Over Troubled Water. A grande curiosidade é que eles cantam a música “Cuba Si, Nixon No”, que acabaria ficando fora do LP. Eles também apresentam a faixa-título, que era inédita e conseguiu arrancar 45 segundos de aplauso da plateia.

A maior pechincha que Emilio já adquiriu (esquerda); Autógrafo de Bowie (direita)

Qual a maior pechincha que você já conseguiu barganhar, e qual o maior diamante que você vendeu as joias da família para poder adquiri-lo?
Eu nem tinha CD player ainda e vi um CD promocional do David Bowie da EMI numa loja de discos raros em Porto Alegre, o EP Bang Bang, que inclusive tinha uma gravação ao vivo inédita. Perguntei o preço e o cara me cobrou valor normal de CD importado. Acho que até hoje é o meu CD individual mais valioso, justamente o primeiro que comprei. Os itens mais caros foram box sets diversos, mas no momento estou dando um tempo nessas extravagâncias.

Caraca, esse compacto hoje vale mais de 100 dólares lá fora!! Quais são os principais artistas que você tem em sua coleção.
Que fique bem claro que meu gosto é bem eclético. Mas os artistas predominantes são Beatles, David Bowie e Pink Floyd, paixões antigas de adolescência. Também tenho as coleções completas de Kiss, Queen e Genesis. Acho que tenho todos de Emerson, Lake & Palmer, também. Do Yes, não tenho certeza. Também tenho tudo dos Bee Gees. De música brasileira, o forte de minha coleção são artistas gaúchos surgidos nos anos 70 e 80: Almôndegas, Kleiton e Kledir, Nei Lisboa, Bebeto Alves, Nélson Coelho de Castro, essa turma toda.

Coleções de ABBA, Asia, Bee Gees e Tim Maia

Qual a maior loucura que você já fez para assistir a um show ou comprar um álbum?
Sem dúvida, encurtar uma viagem aos Estados Unidos de três para duas semanas em 1990, faltando menos de um mês para o embarque (acho que menos de duas semanas), para poder estar de volta ao Brasil a tempo de assistir ao show de David Bowie em São Paulo. Deu certo e consegui vê-lo no Olympia.

Valeu a pena ter cancelado uma semana de EUA para ver Bowie? Como foi o show?

Sim, valeu a pena encurtar a viagem. Foi um show maravilhoso, em local pequeno, que eu vi da sétima fila, ao centro. Já dei todos os detalhes no meu blog.

Qual é o disco que você faz questão de apresentar aos amigos grupo, e qual aquele que você gosta, mas sabe que a galera vai acabar fugindo de sua casa quando você coloca para ouvir?

Faz tempo que não recebo amigos na minha casa para audições musicais. Um disco que eu considero coringa, que dificilmente alguém vai pedir para tirar, é o Breakaway, do Art Garfunkel, obra prima do pop suave dos anos 70. Eu poderia citar muitos outros, mas esse é o primeiro que me ocorre. E um que eu jamais ouço acompanhado é o Never Mind the Bollocks, Here’s the Sex Pistols, que eu adoro, mas reconheço que não é para qualquer um.

Mais boxes, mais livros

Você trabalhou por muito tempo na revista International Magazine (da qual fui leitor assíduo). Como você percebe o processo de atualização e divulgação de informações hoje em dia, principalmente no que se refere ao fim de grandes revistas, tais como a IM, Poeira Zine, Bizz, entre outras.

Na verdade eu era colaborador free-lancer do IM. Legal saber que você lia o jornal. Revistas especializadas de música surgiram numa época em que não existia Internet, de forma que era a maneira que se tinha de se obterem informações. Elas vinham em câmera lenta, mas chegavam. Hoje a gente se informa por aqui mesmo. Eu lembro como fiquei fascinado quando David Bowie fez um show no Japão em 1996 e, no dia seguinte, eu já estava sabendo de tudo, as músicas que ele cantou e tudo o mais. Hoje isso é normal, a gente vê até vídeos ao vivo dos eventos, mas em 96 era uma novidade que me deixou bem impressionado. Então fica difícil para as revistas resistirem. Nem jornal eu compro mais, leio tudo pela Internet. Ainda compro revistas inglesas de música, digamos, por “vínculo afetivo”. Um hábito adquirido que fica difícil abandonar. Lamento pelo fim das revistas, mas não adianta, é o avanço da tecnologia. Hoje é tudo mais instantâneo.

Como você faz para atualizar-se sobre música nos dias de hoje?

Confesso estar bem desatualizado, mas estou tentando correr atrás do prejuízo pela Internet, mesmo. Leio as dicas de meus amigos mais antenados e, recentemente, aderi antes tarde do que nunca ao Spotify. Vou explorando muita coisa por ali, com base em recomendações.

Sá, Rodrix & Guarabira

Quais as principais lojas/sites que você utiliza para ampliar sua coleção?

Saraiva, Cultura, CD Point e os diversos revendedores que anunciam no Mercado Livre. Porto Alegre ainda tem boas lojas de discos raros, mas bem menos do que nos anos 80 e 90. Gosto da Toca do Disco, Boca do Disco, Tamba Discos e Classic Rock.

Como a sua família lida com relação a sua coleção e aos seus discos, e como você se divide para conseguir dar conta de audições, catalogações e garimpo?

Atualmente estou morando sozinho, mas como compro discos desde os 11 anos, lembro de situações diversas. Quando eu morava com meus pais, chegava em casa com LP novo e ia guardá-lo no quarto para só depois cumprimentar minha mãe. Eu não queria que ela visse que eu tinha comprado mais um disco! Nos nove anos em que fui casado, não tive problemas com minha esposa com relação a isso. Hoje ouço muita música no computador, no iPod e no carro. Mas às vezes paro em frente ao equipamento de som para fazer uma audição dedicada, à moda antiga. Principalmente quando é em 5.1, que eu adoro.

Livros e livros

Além de discos, você também é um grande colecionador de livros relacionados à música. O que o leva a colecionar livros, e quais as principais obras que você recomenda aos nossos leitores.

Na minha infância e adolescência eu só lia gibis e revistas de música. Fui aprender a gostar de ler livros praticamente na vida adulta. É que, na adolescência, meu sonho de consumo era o livro A Vida dos Beatles, de Hunter Davies, que estava fora de catálogo. E eu não conseguia encontrá-lo nos sebos. Nesse ínterim, aprendi inglês, que foi uma das melhores coisas que fiz na minha vida. Já com domínio suficiente do idioma, achei o livro do Hunter Davies em inglês, numa edição de bolso, e comprei na hora. Algum tempo depois encontrei uma biografia do Stevie Wonder em inglês e comprei também. Assim, começando por meus ídolos da música, fui criando o hábito de ler biografias e não ficção em geral. Mas eu dependia das livrarias locais para conseguir livros importados e elas não tinham de tudo. Quando achei o The Love You Make, sobre os Beatles, do qual a Manchete já tinha publicado alguns trechos traduzidos, foi uma festa. Depois um lojista me ensinou a fazer importações. Eu pagava 30 dólares só para mandar o dinheiro, mas quando era um livro que eu queria muito, valia a pena. Até que surgiu o cartão de crédito internacional para facilitar a minha vida e, por fim, a Internet. Hoje consigo o que eu quiser de qualquer parte do mundo. O problema passou a ser outro: achar tempo para ler tudo. A lista de títulos “comprados mas ainda não lidos” é enorme. Mas todas as pessoas que gostam de livros vivem essa realidade. É curioso lembrar que houve uma época em que eu lia meus livros preferidos mais de uma vez. Hoje está mais difícil.

Em 2011, descobri o mundo maravilhoso dos audiobooks. Meu iPod passou a ser meu companheiro inseparável. Sempre que estou sozinho caminhando, fazendo uma refeição ou dirigindo, estou ouvindo um audiobook. É uma forma de aproveitar bem o tempo. Aqui no Brasil, infelizmente, saem pouquíssimos audiobooks de meu interesse. Um deles foi a biografia do Tim Maia narrada pelo próprio autor, Nélson Motta, que verdadeiramente “incorpora” Tim ao ler as falas do cantor. Em inglês, Pete Townshend, Paul Stanley, John Fogerty, Carole King, Carly Simon, Phil Collins, entre outros, narraram suas próprias autobiografias. Estou contando os dias para o lançamento da autobiografia de Elton John, em outubro. Ele já narrou o livro “Love is the Cure” e agora vai encarar a história da vida dele.

Audiobooks nacionais

Também aderi ao Kindle, ou seja, e-book. Antigamente eu era resistente a e-books, como a maioria dos amantes de livros. Aquele velho discurso: “Livro a gente tem que pegar na mão, folhear, sentir o cheiro, ver na prateleira…” Até que me mudei e vi a quantidade absurda de livros que tive para transportar e o espaço que ocupam no apartamento. Se for um livro bonito, vistoso, cheio de fotos, o chamado “coffee table book”, aí tudo bem, esse tem que ser em edição física, mesmo. Mas se for um livro com centenas de páginas de puro texto, por que não em Kindle? Dá pra ler no computador ou no e-reader sem ter que carregar um trambolho de um lado para o outro. A gente compra e começa a ler na hora, não precisa esperar a encomenda chegar ou ficar vasculhando as livrarias. E ainda pode escolher o tamanho da letra, o que é ótimo na minha idade. Acho que todas as pessoas que gostam realmente de ler e não apenas de ostentar livros vão acabar cedendo ao e-book, pela praticidade. Mas sem abandonar totalmente o livro físico, claro.

Muita informação ao jornalista Emilio

Ah, faltaram as recomendações. Eu poderia fazer uma lista imensa, mas vou citar apenas alguns: O fabuloso Zé Rodrix, de Toninho Vaz, Infinita Highway, uma carona com os Engenheiros do Hawaii, de Alexandre Lucchese, Contrapontos, uma biografia de Augusto Licks, de Fabrício Mazocco e Silvia Remaso, Ouvindo Estrelas, a autobiografia de Marco Mazzola, Chega de Saudade, de Ruy Castro, Ayrton Patineti dos Anjos, de Márcio Pinheiro e Roger Lerina, os quatro livros da série Então Foi Assim?, de Ruy Godinho, Continental, a Rádio Rebelde de Roberto Marinho, de Lucio Haeser (incluindo um CD com gravações exclusivas), Dias de Luta – o Rock e o Brasil dos Anos 80, de Ricardo Alexandre e, fazendo uma pequena autopromoção, 1973, o Ano que Reinventou a MPB, organizado por Célio Albuquerque. São 50 autores e eu sou um deles. Escrevi sobre o primeiro LP dos Secos e Molhados. Foi relançado, então aproveitem. Dos meus livros preferidos que li em inglês, nem todos foram traduzidos.

Adorei Strange Fascination, de David Buckley (sobre David Bowie), Elton, de Philip Norman (sobre Elton John) e The Love You Make, de Peter Brown e Steven Gaines (sobre os Beatles). Gostei muito também das autobiografias de John Fogerty (do Creedence), Carole King, Burt Bacharach e Phil Collins. A do Phil teve edição em português, mas quem leu reclamou que a tradução não está das melhores. Adoraria recomendar livros que não li ainda, apenas pela expectativa de uma leitura prazerosa, mas aí não vale, né? Que me desculpem Arthur de Faria, Cristiano Bastos e Sérgio Farias, entre outros, mas os livros de vocês estão guardados com carinho, esperando a vez deles.

 

Parte da coleção ligada a David Bowie

Desde 2004, você é o comandante do blog do Emilio. Nele, você nos traz crônicas, pensamentos, e comentários diversos, inclusive sobre música. Como surgiu a ideia do blog, e por favor, aproveite para divulgar o mesmo para nossos leitores.

Em 1997 eu entrei para um grupo de discussão de fãs brasileiros de David Bowie, o Outside. Funcionava por e-mail, mesmo, na base do “responder a todos”. Depois de um certo tempo, já havíamos conversado bastante sobre Bowie e começamos a saber mais das vidas uns dos outros, então diversificamos os assuntos. Escrevíamos sobre tudo. Foi ali que comecei a amadurecer a ideia de fazer um blog, para poder escrever sobre outros assuntos que não apenas música. Na época eu ainda colaborava com o International Magazine, então ali eu tinha uma vitrine para assuntos musicais. Mas queria também publicar crônicas e comentários sobre outros temas, mais ou menos como eu já fazia informalmente no grupo de discussão do Bowie. Finalmente, em 2004, criei o meu blog. No início eu escrevia bastante, praticamente todos os dias. Agora a média está em uma vez por semana, mais ou menos. Já coloquei lá todas as minhas opiniões genéricas sobre a vida e o mundo. Eu diria que a moda dos blogs passou, mas eu vou mantendo o meu, pois sei que tenho alguns leitores fiéis. Poucos, mas tenho. Qualidade e não quantidade. E de qualquer forma o forte do meu blog são os textos de consulta permanente. O que eu escrevo hoje pode ser lido daqui a três ou quatro anos. O endereço é: emiliopacheco.blogspot.com.

Que bandas ou artistas da atualidade você indica para nossos leitores darem uma ouvida e conhecer?

Na verdade eu é que estou precisando de dicas. Pelo Spotify, estou descobrindo bandas e artistas a partir dos anos 90, ou até dos 80, que me escaparam. Ainda não consegui decidir se gosto ou não de Greta Van Fleet, mas prometo ouvir de novo os álbuns da banda. De certa forma, a repercussão em torno deles me lembra a mesma reação que causou o Darkness alguns anos antes, aquele lance de resgatar as influências do bom rock dos anos 70. Tem uma dupla especializada em covers chamada Soundswitch que tem um trabalho bem interessante, eles dão um toque diferenciado às músicas sem alterá-las drasticamente. Os álbuns deles só estão disponíveis nas plataformas digitais, mas vale a pena conferir. Também sou fã da banda Keane, que está anunciando disco novo para 2019, finalmente. Quem gosta de música instrumental tem que ouvir os dois CDs de Tony Babalu da série Live Sessions e também o Mergulho, de Gabriel Martins. O CD/DVD Encontro Marcado, com Flávio Venturini, Sá & Guarabyra e 14 Bis, é uma das coisas mais lindas que já se lançaram em música brasileira. O show Casa Ramil, com todos os músicos da família de Kleiton e Kledir, precisa ser visto. O grupo vocal gaúcho Canto Livre surgiu nos anos 80, mas está mais atuante do que nunca, com nova formação, fazendo shows maravilhosos. Merecia lançar um DVD ao vivo. Um álbum fantástico que saiu em 2018 é o Despertar, do Alan James. Pop de altíssima qualidade para ser ouvido da primeira à última faixa. E mais uma vez, vou me permitir uma pequena promoção pessoal, ainda que parcial: o CD Canções para leitores, lançado em 2016 por Rogério Ratner, merece uma atenção maior. Rogério começou a trabalhar nesse projeto em 2005, musicando poetas gaúchos e depois chamando cantores diversos para participar das gravações. Inclusive ele tem a última gravação de Adriana Marques, a “Cat Milady” da peça “Rádio Esmeralda”, que faleceu em 2009. Eu sou parceiro dele em uma das faixas, mas independente disso eu acho o trabalho muito bonito.

Nomes de relevância na música gaúcha: Kleiton, Kledir, Raul Ellwanger (esquerda) e Jerônimo Jardim (de chapéu)

Quais os dez melhores discos da década de 60?
Agora você está me colocando numa sinuca de bico. Eu vou responder, mas estou certo que minhas escolhas deixarão de fora muitos discos realmente bons. No caso dos anos mais recentes, porque não ouvi todos os que deveria. Serão todas listas bem pessoais, sem pretensão de afirmar que estes sejam incontestavelmente os melhores discos das décadas respectivas. Só posso votar no que conheço e gosto de ouvir.
Década de 60, sem ordem de preferência (a numeração é só para eu não me perder na conta):
1 – Tropicália ou Panis Et Circensis
2 – Mutantes – Mutantes
3 – Help! – The Beatles
4 – Rubber Soul – The Beatles
5 – Revolver – The Beatles
6 – Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band – The Beatles
7 – Pet Sounds – The Beach Boys
8 – Odessey and Oracle – Zombies
9 – The Piper at the Gates of Dawn – Pink Floyd
10 – Bee Gees 1st – Bee Gees

Quais os dez melhores discos da década de 70?
As demais listas, também sem ordem de preferência:
1 – Aladdin Sane – David Bowie
2 – The Rise and Fall os Ziggy Stardust and the Spiders from Mars – David Bowie
3 – Hunky Dory – David Bowie
4 – Dark Side of the Moon – Pink Floyd
5 – Wish You Were Here – Pink Floyd
6 – Destroyer – Kiss
7 – A Night at the Opera – Queen
8 – Sheer Heart Attack – Queen
9 – Never Mind the Bollocks – Sex Pistols
10 – Secos e Molhados – Secos e Molhados

Teve tanto disco bom na década de 70 que acabei deixando de fora Yes, Genesis, Emerson, Lake & Palmer, Elton John, The Who, Almôndegas, Sá, Rodrix e Guarabyra, Rita Lee e muitos outros. E eu adoro todos esses.

Nomes de relevância da música nacional: Ivan Lins, Gerson Conrad e Tavito

Quais os dez melhores discos da década de 80?
1 – Scary Monsters … and Super Creeps – David Bowie
2 – Rio – Duran Duran
3 – Kleiton e Kledir (segundo LP, 1981)
4 — Sinal de Amor – Diana Pequeno
5 – The Seeds of Love – Tears for Fears
6 – Piano Bar – Charly Garcia
7 – Carecas da Jamaica – Nei Lisboa
8 – Thriller – Michael Jackson
9 – Live in Central Park – Simon & Garfunkel
10 – Music From the Elder – Kiss

Quais os dez melhores discos da década de 90?
1 – Superunknown – Soundgarden
2 – Amén – Nei Lisboa
3 – Automatic for the People – REM
4 – Moon Safari – Air
5 – Earthling – David Bowie
6 – Revenge – Kiss
7 – The Ladder – Yes
8 – Keys to Ascension II – Yes
9 – The Other Woman – Renaissance
10 – Tubular Bells II – Mike Oldfield

Nenê, Netinho e Manito (Os Incríveis)

Quais os dez melhores discos dos anos 2000?
1 – Rain – Joe Jackson
2 – The Thorns – The Thorns
3 – Hopes and Fears – Keane
4 – Smile – Brian Wilson
5 – Autorretrato – Kleiton e Kledir
6 – On an Island – David Gilmour
7 – Os The Darma Lóvers – Os The Darma Lóvers
8 – Sonic Boom – Kiss
9 – Velhos Amigos – Grupo Status
10 – Reality – David Bowie

Quais os dez melhores discos da década atual?
1 – Blackstar – David Bowie
2 – Strangeland – Keane
3 – Encontro Marcado – Flávio Venturini, Sá & Guarabyra e 14 Bis
4 – Live at Pompeii – David Gilmour
5 – Stranger to Stranger – Paul Simon
6 – Despertar – Alan James
7 – Signo – Diana Pequeno (gravado em 1990, mas como só saiu em 2016, entra aqui)
8 – Origins Vol. 1 – Ace Frehley
9 – Fly From Here – Return Trip – Yes
10 – Tempo Feiticeiro – Fughetti Luz

Diferentes versões de Goodbye Yellow Brick Road (acima). Discos natalinos (abaixo)

Cite dez discos que você levaria para uma ilha deserta, e o que precisaria ter por lá para desfrutar do momento?
Aqui o critério muda um pouco. Muitas vezes pensei nesse lance de “ilha deserta”. Se eu for levar ao pé da letra, escolherei pelo menos alguns discos bem relaxantes, para combinar com o ambiente. Vejamos:
1 – Look for a Star – Billy Vaughn
2 – The Art of Reiki – Merlin’s Magic
3 – Breakaway – Art Garfunkel
4 – On an Island – David Gilmour (já que estarei numa ilha)
5 – Dark Side of the Moon – Pink Floyd
6 – Sinal de Amor – Diana Pequeno
7 – Bee Gees Greatest – Bee Gees (normalmente não se escolhem coletâneas nessas “listas de melhores”, mas para uma ilha deserta eu levaria essa com certeza)
8 – Relógios de Sol – Nei Lisboa
9 – Low – David Bowie
10 – Forty Licks – Rolling Stones (outra coletânea, para quanto sentisse falta de um som mais pesado)
Acho que eu iria precisar de uma boa barraca, um gerador movido a energia solar e um mini-system.

Indique três discos que mudaram sua vida, e conte um pouco por que de cada um deles.
Tudo aconteceu mais ou menos ao mesmo tempo, no final de 1973. Meu pai ganhou um toca-fitas para colocar no carro e, por conta disso, foi comprar umas fitas pré-gravadas na loja. Uma delas foi Olhando Estrelas, de Billy Vaughn, título em português do álbum Look for a Star. Justamente essa, a faixa-título, eu reconheci como sendo o tema de um programa da Rádio Itaí, de Porto Alegre. Adorei a música, adorei a fita e, ali, descobri meu gosto por música orquestrada. Também nessa época, ouvi o Dark Side of The Moon do Pink Floyd e Aladdin Sane do David Bowie e meu gosto musical se expandiu irreversivelmente.

Mais audiobooks

Conte-nos alguma história engraçada/curiosa envolvendo a compra/venda de um álbum que ocorreu nesse período, ou algum outro fato que lhe venha à mente relacionado com a música.
Não lembro especificamente de nenhuma história curiosa sobre compra ou venda de disco. Mas vou contar outro fato. Em 1976 eu ouvia todas as noites o programa de “Mr. Lee” (o radialista Júlio Fürst), na Rádio Continental de Porto Alegre. A segunda meia-hora do programa era só com músicos gaúchos, a maioria em gravações exclusivas, ao vivo ou feitas no segundo estúdio da rádio. Eu escutava aquelas músicas com um entusiasmo cúmplice e lembro de muitas delas até hoje. Pois nos anos 90, conversando com um colega bancário da área de sistemas, descobri que ele havia tocado flauta em uma daquelas gravações. Já vínhamos trabalhando juntos havia um bom tempo e eu não sabia disso. Eu lembrava até da sequência de notas que ele tocava! Esse colega veio a falecer anos depois. Em minhas pesquisas, acabei descobrindo uma foto dele em jornal, tocando com o grupo. Publiquei no meu blog. Tempos depois, soube que a filha dele estava trabalhando na empresa de outro ex-colega. Avisei para ela da postagem e ela me respondeu: “Tu nunca poderá imaginar a comoção que causou o teu post sobre o pai. Pessoas que não se falavam há uns cinco anos se perdoaram por causa disso!” Pode haver algo mais gratificante? É por situações assim que eu mantenho meu blog no ar.

Qual será o futuro da sua coleção?
Já pensei nisso algumas vezes. Meu filho é um menino especial, ele tem autismo. Não iria aproveitar minha coleção. Os CDs e DVDs preferidos dele ficam pra ele, mas são poucos. Tem todo o resto. Tem gente que se dá ao trabalho de catalogar item por item com preço em dólar, para que os herdeiros saibam o que valem. Isso é bobagem. Ninguém vai ter tempo nem paciência de vender tudo a varejo, a menos que queira virar lojista. Eu talvez faça uma lista dos itens mais valiosos, uns 30 no máximo, e os deixe separados. Mas também já estou amadurecendo a ideia de vender muita coisa em vida. Por que não? Será que, com quase 60 anos, eu preciso de cinco ou mais edições em CD de meus álbuns preferidos? Ou dos discos de vinil que já saíram em CD e eu mantenho apenas pelo valor histórico? Já que alguém vai ganhar dinheiro com eles, por que não eu próprio? Por outro lado, se as vendas me tomassem muito tempo e me roubassem qualidade de vida, valeria a pena? Tudo tem que ser pesado. Com lojista eu só deixaria se pudesse fazer trocas por CDs que realmente me interessassem. Que eu pudesse inclusive encomendar. O que eu não vender em vida, espero que, de alguma forma, reverta em benefício do meu filho.

Alguma coisa mais que gostaria de passar para nossos leitores?
Ter ídolos é muito bom e é normal torcer pelo sucesso deles. Mas essa torcida não pode se tornar doentia. Música não é competição. Se a crítica não gosta do seu ídolo, se alguém falou mal de um disco que você adora, se o seu artista preferido não apareceu numa lista de 100 melhores… dane-se! No tempo do Orkut, tinha gente que perdia um fim de semana inteiro votando em enquetes inexpressivas, para que seu ídolo vencesse. “Vamos lá, não parem de votar, os Beatles estão quase nos alcançando!” “Nos” alcançando? Nós quem, cara pálida? Vamos curtir música numa boa, sem estresse. Outra coisa: hoje em dia temos tantos recursos de áudio e vídeo que é bobagem ficar preocupado porque um artista não aparece na TV ou não toca no rádio. Cada um pode fazer sua própria programação. Não é como nos anos 70, em que a gente tinha que ficar torcendo para ver um clip no Sábado Som ou Transasom (em Porto Alegre). Ou para ouvir uma gravação exclusiva na Continental. Temos tudo ao nosso alcance, a qualquer momento. Como dizia Rita Lee já naquela época, o som nasce para todos.

5 comentários sobre “Na Caverna da Consultoria: Emílio Pacheco

  1. Sensacional!! Ótima entrevista e parabéns pelo lindo acervo!!
    Já estou acompanhando o blog 😀

  2. Emílio. O livro sobre a trajetória do Bread: Sweet Surrender. Busquei pela Amazon e só sairá em setembro/19. Você já o conseguiu! Como? Um abraço!

    1. O meu livro sobre o Bread é a primeiríssima tiragem inglesa em capa dura que logo saiu de catálogo. Em setembro o livro será relançado. Aproveite, pois costuma esgotar logo.

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