Cinco Discos Para Conhecer: O Underground do Rock Sessentista

Cinco Discos Para Conhecer: O Underground do Rock Sessentista

Por André Kaminski

Eu sei, o título é pretensioso visto que o underground sessentista é muito mais do que os cinco discos que estou mostrando nesta matéria. Mas não consegui encontrar outro título que melhor representasse este conjunto de trabalhos tão bons e em geral obscuros dos anos 60. Sabemos que o mundo da música nem sempre pode dar visibilidade a todos as bandas de qualidade nas várias décadas que se passaram, mas cá estamos nós para resgatar alguns discos que foram lançados, caíram na obscuridade e agora são revisitados pelos escavadores da música. Coisa que nós, frequentemente, tentamos fazer de tempos em tempos. Recomende mais algumas bandas e discos obscuros nos comentários abaixo!


The Sorrows – Take a Heart [1965]

Uma mistura de rock ‘n’ roll clássico mas com um jeitão garageiro é o que você encontrará neste disco. O The Sorrows lançou um punhado de músicas em formato de singles em que depois uniram em um álbum de estúdio que é este Take a Heart do qual apresento. Várias músicas curtas feitas para serem tocadas naqueles bailes da época em que destaco os remeleixos stop and go em “Baby” e “Teenage Letter” (com ótimos solos de gaita) além de algumas com uma pegada mais soturna tal como a faixa-título “Take a Heart” em que apenas o baixo de Packham fica um tempão em destaque e com vocais quase sussurrados. A única que destoa seja “No, No, No, No” com a participação especial do… Pato Donald. Mas tirando esta faixa, o disco todo é um belo apanhado rock ‘n’ roll do final dos anos 50 e início dos 60.

Lineup: Don Maughn (vocais), Wez Price (guitarra), Pip Whitcher (guitarra), Philip Packham (baixo) e Bruce Finley (bateria).

Tracklist

  1. Baby
  2. No, No, No, No
  3. Take a Heart
  4. She’s Got the Action
  5. How Love Used to Be
  6. Teenage Letter
  7. I Don’t Wanna Be Free
  8. Don’t Sing No Sad Songs for Me
  9. Cara-lin
  10. We Should Get Along Fine
  11. Come With Me
  12. Let Me In

The Remains – The Remains [1966]

Já aqui temos uma mistura daquele rock mais direto típico do The Rolling Stones e do The Kinks com alguns elementos remanescentes do rock mais “malemolente” do início dos anos 60. Com a alma garageira até a raiz, os americanos do The Remains só duraram este disco no qual conseguiram, inclusive, uma vaga como banda de abertura dos Beatles por algumas semanas na sua derradeira tour de 1966. Lamentavelmente, logo no mesmo ano de lançamento deste disco e desta turnê com o Fab Four, a banda se dissolveu. “Don’t Look Back”, “Why Do I Cry” e “Thank You” são canções que me levam a crer que esta banda poderia se tornar muito grande. Tinham groove, tinham um bom vocalista, o visual correto, só tinham como “defeito” não ter aquele sotaque britânico fundamental para entrarem na mesma patota da conhecida invasão inglesa sessentista. Eles retornaram em 1998 e hoje tocam em lugares pequenos nos Estados Unidos sem terem lançado nenhum disco novo desde então. Um ótimo registro, ao qual vejo que foi esquecido por muitos lá na década de 60.

Lineup: Barry Tashian (vocais, guitarra), Vern Miller (baixo), Bill Briggs (teclados) e Chip Damiani (bateria).

Tracklist

  1. Heart
  2. Lonely Weekend
  3. Don’t Look Back
  4. Why Do I Cry?
  5. Diddy Wah Diddy
  6. You Got a Hard Time Coming
  7. Once Before
  8. Thank You
  9. Time of Day
  10. Say You’re Sorry

The Serpent Power – The Serpent Power [1967]

Um belo rock psicodélico, também misturado com estruturas do rock clássico, que passou batido por muita gente. Os vocais do casal David Meltzer e Tina Meltzer (ambos já falecidos) me fizeram lembrar diretamente de Jefferson Airplane. O baixo pulsa forte e a guitarra leva tanto por melodias mais rockers como “Don’t You Listen to Her” e “Open House”, até aquele clima mais introspectivo como em “Gently, Gently” e “Forget”. O disco tem todo aquele clima meio ripongo e bicho grilo que se não agrada alguns, nem de longe é algo incomum nas bandas psicodélicas daquele período. “Endless Tunnel” é um deleite para quem gosta de órgão hammond e música indiana. Infelizmente, quando estavam ensaiando para o segundo disco, meia banda simplesmente abandonou o barco deixando o casal Meltzer praticamente sozinho devido as vendas decepcionantes deste álbum. A banda acabou em 1968. Em 2007 surgiu o “segundo álbum” chamado Ourobouros com algumas sobras do período de 1967. Com a já citada morte do casal, é uma banda que, tristemente, só ficará conhecida mesmo pelos escavadores de discos perdidos. Coisa que adoramos fazer neste site.

Lineup: David Meltzer (vocais, guitarra, gaita de boca), Tina Meltzer (vocais), Denny Ellis (guitarra), David Stenson (baixo), John Payne (teclado), Jean-Paul Pickens (banjo) e Clark Coolidge (bateria).

Tracklist

  1. Don’t You Listen to Her
  2. Gently, Gently
  3. Open House
  4. Flying Away
  5. Nobody Blues
  6. Up and Down
  7. Sky Baby
  8. Forget
  9. Dope Again
  10. Endless Tunnel

Young Flowers – Blomsterpistolen [1968]

Confesso que o início da primeira faixa com aqueles sons dissonantes de theremin, comuns do gênero noise, me fizeram torcer um pouco a boca. Mas o que dura apenas um minuto logo cai para um hard/blues/psicodélico da melhor qualidade que estes dinamarqueses tem a oferecer. Ao ouvi-los, as principais referências que tive foram Jimi Hendrix Experience e Big Brother & The Holding Company. Ou seja, espere espaços para todos os instrumentos se destacarem em algum momento do disco. Há letras em inglês e dinamarquês, da qual minhas favoritas são “Down Along the Cove” otimamente blueseira e “April 68”, do qual os escandinavos demonstram seus amores pelo estilo hendrixeano de tocar guitarra. Esta banda foi uma grata surpresa a meu ver, é inacreditável que eles ficaram em apenas dois discos de estúdio.

Lineup: Peter Ingemann (vocais, baixo), Peer Frost (guitarra), Ken Gudman (bateria).

Tracklist

  1. Ouverture / Take Warning, Stk.1
  2. The Moment Life Appeared, Stk.2
  3. 25 Øre
  4. Oppe I Træet, Stk.3
  5. To You, Stk.4
  6. Down Along the Cove, Stk.5
  7. April ’68

High Tide – Sea Shanties [1969]

Da lista, talvez a mais conhecida. O High Tide foi uma banda britânica que apostou no psicodélico (que estava em seu auge na época) já com grande influência do prog e possivelmente devido a forte concorrência entre tantas outras do estilo, acabou passando despercebida. Lançou apenas dois discos quando estava ativa e depois alguns discos com sobras de estúdio no final dos anos 80. Há o diferencial de usarem o violoncelo e o violino como instrumentos integrais de sua sonoridade. Dentre seus integrantes está Simon House que depois viria ser o tecladista do Hawkwind. Sea Shanties é um festival de sonzeiras progs e psicodélicas que logo depois liderariam o rock na década seguinte. As canções que destaco são a instrumental “Death Warmed Up” em que longos solos de guitarra e violino principalmente dão aquela atmosfera enérgica mas ao mesmo tempo técnica e “Missing Out” em que a banda já meio que demonstra um peso que poderíamos considerar como um protótipo de heavy metal, um som meio na linha Cream e Atomic Rooster. O mundo é mesmo um lugar injusto. E o High Tide é um exemplo.

Lineup: Tony Hill (vocais, guitarra e violão), Peter Pavli (baixo), Simon House (órgão Hammond, violino), Roger Hadden (bateria).

Tracklist

  1. Futilist’s Lament
  2. Death Warmed Up
  3. Pushed, But Not Forgotten
  4. Walking Down Their Outlook
  5. Missing Out
  6. Nowhere

10 comentários sobre “Cinco Discos Para Conhecer: O Underground do Rock Sessentista

  1. Dessa seleção, só conhecia o disco do High Tide, que comprei anos atrás em CD da Repertoire Records por recomendação de um amigo, e gostei bastante. Vou atrás dos demais!

    1. Pensei na possibilidade do The Sonics, mas como a banda acabou servindo de influência para outros artistas no futuro, preferi as outras desta edição por serem ainda mais undergrounds. As outras duas eu não conheço, mas dei uma breve pesquisada aqui e como gosto muito desse período, pretendo dar uma checada.

  2. Falem também sobre o The Shadows of Knight que era uma espécie de Yardbirds americanos, com ainda mais fúria e sujo. E fora aquelas coletâneas Nuggets(teve três volumes me parece) só com o melhor do som de garagem americano dos anos 60, selecionadas pelo Lenny Kaye guitarrista da Patty Smith.

  3. Ótima seleção! conheço os 3 últimos da lista e recomendo muito tb. Serpent Power faz bastante tempo que não ouço. Abraço!

  4. Das coisas mais instrutivas que li ultimamente. Bandas de quem nunca ouvi falar e bandas de quem só ouvi falar…

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