Uma introdução ao rock progressivo brasileiro – Parte 2

Uma introdução ao rock progressivo brasileiro – Parte 2

Por Diego Camargo

Hoje dou continuidade à matéria que iniciei no dia 30 de Janeiro (leia AQUI). Esse guia tem como objetivo ‘batizar’ o leitor no que se refere ao Rock Progressivo feito no Brasil!

Nessa parte trago mais 5 discos que ao meu ver são essenciais se você está interessado no Prog BR.

Boa leitura!

O símbolo mais famoso ligado ao Rock Progressivo Brasileiro


Mutantes – Tudo Foi Feito Pelo Sol [1974]

Os Mutantes dispensa apresentações já que foi uma banda seminal para o Rock Brasileiro e tem reconhecimento mundial de seus feitos no fim dos anos 60.

O grupo sempre seguiu o caminho da Psicodelia com uma bela pitada de humor em suas letras, as coisas começariam a mudar no início dos anos 70, porém.

Em 1972, a relação entre Arnaldo Baptista (teclados) e Rita Lee (vocais) – casados na época – chegou ao fim, o tópico é complexo e a história nunca foi realmente contada com todos os pingos que os ‘is’ mereciam, mas é fato de que a mudança de som que a banda vinha praticando era um fator decisivo, também, para a derrocada do casamento.

Assim que Rita Lee deixou a banda, o agora quarteto, se enfurnou em um sítio para compor e o resultado foi o magnífico O A E O Z. Na época a gravadora do grupo vetou o disco e o engavetou dizendo que o mesmo não era comercial. Só em 1992 o disco viu a luz do dia, 19 anos depois de sua gravação.

Depois do disco recusado pela gravadora a banda basicamente se desfez: Arnaldo Baptista foi tentar uma carreira solo (e gravou o estupendo Loki, em 1974), o baixista Liminha se enveredou no ramo de produção e o baterista Dinho saiu do ramo musical por muitos anos.

O guitarrista Sergio Dias decidiu então que a história dos Mutantes não estava terminada e chamou um trio de respeito para completar a banda: Túlio Mourão (teclados), Antônio Pedro (baixo) e Rui Motta (bateria). O quarteto então começou a ensaiar o que seria o disco mais Progressivo do grupo, Tudo Foi Feito Pelo Sol, lançado pela Som Livre em 1974.

O disco embarca de carona no som Sinfônico do Yes mas tem pitadas de Hard Rock e traz as letras bicho-grilo, que são a marca de todo som Prog feito nos anos 70 no Brasil.

A banda ainda teve um último disco antes de entrar em estado de hibernação, Ao Vivo de 1976 (que apesar de ter sido gravado ao vivo é composto completamente por material inédito), e se dissolveu em 1978. Como curiosidade, existem muitos bootlegs pela web com um monte de material inédito desse período (1976/1978), que nunca teve chegou a ser gravado em versões de estúdio.

Em 2006 a banda original (sem Rita Lee) fez um retorno triunfante, mas concentrando-se apenas no material Psicodélico (1968/1972). Eles lançaram 2 discos de estúdio e um ao vivo desde então.

Em 2013, o quarteto que gravou Tudo Foi Feito Pelo Sol se reuniu novamente e fez alguns shows especiais pelo Brasil onde eles tocavam o disco na íntegra. Todos os shows estavam lotados, mostrando o quanto esse disco ganhou a devida popularidade e respeito com o passar dos anos!

Destaque: Tudo Foi Feito Pelo Sol”

 

A Barca Do Sol – Pirata [1979]

A Barca Do Sol era uma banda completamente diferente dentro do cenário Brasileiro. Existiram diversas bandas que baseavamo sem som no Folk (sub-gênero conhecido como Progressive Folk, ou Folk Prog), mas nenhuma banda chegou perto da sofisticação d’A Barca Do Sol com sua mistura entre o erudito e a MPB. O som da banda vinha recheado de flautas, violões, violoncelo e todos os tipos de instrumentos acústicos tradicionais brasileiros possíveis, tais como o cavaquinho e o berimbau, só pra citar alguns.

É fato comum entre os fãs de Rock Progressivo que os dois primeiros discos do grupo são clássicos: o auto-intitulado (de 1974) e, especialmente, Durante O Verão [1976]. Mas na minha opinião o disco que casa perfeitamente o som de câmara com a MPB e Folk é o terceiro e pouco falado Pirata.

Neste álbum toda a musicalidade do grupo vem recheada de ‘brasilidades’ como melodias de flauta ritmadas por berimbau ou o Prog mesclado com cavaquinho e percussão típica de samba. Estranha combinação? Sim! Mas também empolgante, original e necessário!

Após esse terceiro disco o grupo encerrou suas atividades e muitos músicos que fizeram parte da formação da banda (como Jaques Morelenbaum, Nando Carneiro e Ritchie), seguiram carreiras bem sucedidas dentro da música Brasileira.

Destaque: Tereza Boca Do Rio

 

Marco Antonio Araujo – Lucas [1984]

Marco Antonio Araújo era um músico ímpar dentro do cenário Prog tupiniquim. Além de andar na contramão da música popular e fazer Prog no estilo Sinfônico em plena década de 80, MAA (como é popularmente conhecido) também se diferenciava de outros guitarristas pelo fato de tocar única e exclusivamente violão, e violão de cordas de aço ainda por cima, não o famoso ‘violão de nylon’, tão popular na MPB e no Brasil.

MAA começou sua discografia de forma audaciosa quando em 1980 lançou de forma independente o disco Influências. Na verdade, todos os 4 álbums do músico foram lançados de forma independente através da sua própria produtora, a Strawberry Fields.

Tanto em Influências quanto em Quando A Sorte Te Solta Um Cisne Na Noite [1982] é possível notar suas influências e uma clara paixão por Pink Floyd. Já o terceiro disco traz o músico imerson num clima clássico (ele era membro da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais) e junto à um trio grava o disco Entre Um Silêncio E Outro [1983].

Mas é em Lucas (nome do segundo filho de MAA) que esse exímio violonista chega à perfeição sonora. O disco é um exemplo de como fazer Rock Progressivo instrumental sem ser chato e “Lembranças” é a cereja no topo de um bolo mais do que delicioso!

Nascido em Minas Gerais Marco Antonio Araujo morreu aos 36 anos no dia 6 de Janeiro de 1986 devido à um subito e inesperado aneurisma cerebral. MAA morreu em um momento de sua carreira em que ele fazia shows no Brasil todo e a revista Veja lhe premiava como o melhor instrumentista do país. Perda irreparável não somente para o Prog Brasileiro mas para a música nacional num todo.

Destaque: Lembranças”

 

Trem do Futuro [1995]

O Trem Do Futuro tem estrada e se não é o nome mais prolífico do Prog Br (e que outra banda é por estas terras?) é definitivamente um nome importante dos anos 90, gravando um disco de maneira independente e com muita dificuldade em pleno início do Plano Real!

O grupo foi formado no Ceará, um estado localizado na região nordeste do Brasil no longínquo ano de 1981. É fato que ser uma banda de Rock Progressivo no nordeste do Brasil não é fácil já que não é a primeira música que pensamos quando ouvimos a frase ‘banda do Ceará’. A região é muito mais conhecida por sua música de raíz e por ritmos populares. Esse fato pesou tanto na história do Trem do Futuro que a banda levou nada mais nada menos que 14 anos para lançar seu primeiro álbum!

O auto-intitulado disco de estreia da banda foi lançado originalmente pelo selo Progressive Rock Worldwide e eu tenho orgulho de dizer que o meu selo, Progshine Records, relançou o disco do grupo pela primeira vez em formato digital. Jabá, eu sei, mas não me envergonho em fazer comercial pois acredito que a banda merece!

É verdade que em qualidade de gravação Trem do Futuro [1995] deixa um pouco a desejar, mas em matéria de composição o disco é de primeira!

O Trem do Futuro ainda lançou 2 outros discos: O Tempo [2007] e Tr3s [2015] e continua na ativa fazendo shows periódicos pela região nordeste do Brasil.

Destaque: “Vagão I/Réquiem Da Louca

 

Violeta de Outono – Volume 7 [2007]

Sim, eu sei o que você está pensando nesse exato momento: “Como assim, não é o primeiro disco da banda que está na lista?” Não meu amigo, não é!

Explico: Concordo que o disco de estreia do grupo paulista, de 1987, é um marco e um clássico do Rock Brasileiro, mas aquele primeiro disco é pura psicodelia, não há nada de Rock Progressivo naquele disco. A verdade é que o Violeta de Outono só se tornou um grupo Progressivo quando da mudança de formação em 2005 e a entrada do baixista Gabriel Costa e principalmente do tecladista Fernando Cardoso. Se antes a banda se embebedava nas cores pintadas por Syd Barret com a entrada dos novos membros eles passaram a beber o chá das 5 da pastoral cidade inglesa de Canterbury e passou a ouvir mais e mais bandas como o Caravan.

Em 2005 a banda lançou o disco Ilhas e esse é o primeiro passo dessa nova fase, mas se nesse disco o resultado é fraco e confuso, no disco seguinte, Volume 7, o grupo se encontrou e gravou o melhor disco deles até o momento!

Vejam bem, desde 2007 o Violeta já lançou outros 2 discos (Espectro [2012] e Spaces [2016]), e todos os dois são absolutamente fantásticos. Mas Volume 7 tem um algo a mais que faz com que o ouvinte seja transportado pra um mundo bem particular, o mundo das Violetas, e vale apena embarcar nessa viagem sóbria!

Destaque: “Além do Sol”

 

Achou falta de algum disco na lista? Não se preocupe, ainda temos a última parte do guia que será publicada no dia 1º de março. Até lá!

13 comentários sobre “Uma introdução ao rock progressivo brasileiro – Parte 2

  1. Na terceira parte pode entrar o Quaterna Réquiem; Poços e Nuvens; Apocalypse; Eloy Fritsch e mais um monte de gente talentosa por aí 😉

  2. Bastante surpreendente, principalmente pela inclusão do Pirata e do Lucas. Do Marco Antonio Araujo, eu amo de paixão o Entre Um Silêncio e Outro e o Quando A Sorte Te Traz Um Cisne Na Noite, e colocaria o Influências no lugar. Mas o Lucas é um belo disco.

    O Tudo Foi Feito Pelo (Topographic Oceans) Sol é fundamental. Do Violeta de Outono não tenho como fazer a avaliação, e muito bem indicada o Trem do Futuro, abrindo expectativas para que o Octophera pinte por aqui.

    1. Mairon, eu imaginei que o Marcus e o Pirata não seriam escolhas óbvias, mas acredito que eles são os mais representativos dessas duas bandas, bom, pelo menos na minha opinião.

      Já o Violeta, você TEM que ouvir os últimos 3 discos da banda: Volume 7, Espectro e Spaces. São obrigatórios e como o Ronaldo disse no outro comentário, o Violeta é o maior nome Prog br pós 2000.

  3. Qualquer um desses trabalhos recentes do Violeta de Outono mereceria estar nessa lista. Para mim, a banda é o grande nome do prog brasileiro pós-2000. Dos últimos trabalhos, o álbum Espectro (2012) é o meu favorito.
    Abraço,

    1. Ronaldo, concordo com você. O Espectro estálado a lado do Volume 7 pra mim. Só acabei escolhendo o Volume 7 porque acho que ele está só um tiquinho acima do Espectro.

      O Spaces é outro disco que é fabuloso, inclusive ouvi muito pouco ele e esse teu comentário me fez querer ouvir ele de novo, vou botar pra rodar agora mesmo 🙂

    2. Ainda tem também o UFO Planante, do Invisible Opera of Tibet, que é um projeto paralelo e que não foge muito da proposta do Violeta, um baita de um disco também, mas mais viagem, mais jam session do que o Violeta.

  4. Em seu primeiro disco, ‘Corra o Risco’ (1978), Olívia Byington gravou composições d’A Barca do Sol acompanhada pela própria banda. Vale muito a pena.

  5. Gente, o grupo Uakti, mineiro como o Marco Antônio Araújo, gravou um disco chamado Mapa, em cujas informações constava que o título (Mapa) era uma homenagem ao seu conterrâneo e ex corregedoria da sinfônica da MG. Incluía no meio o sobrenome Pena.
    Procede ou era um homônimo?

  6. A propósito, o Uakti é relativamente inclassificável como pertencente a algum gênero musical, mas eu arriscaria dizer que músicas como Alnitak não estariam tão longe dos propósitos e objetivos do post, que, aliás, é excelente!

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