Humberto Gessinger + Biquini Cavadão (Santo André, 11 de agosto de 2017)

Humberto Gessinger + Biquini Cavadão (Santo André, 11 de agosto de 2017)

Por Davi Pascale 

Na última sexta-feira, a cidade de Santo Andre recebeu dois grandes representantes dos anos 80 em um show que ficará na memória por muito tempo. Com casa cheia, mas não lotada, os artistas esbanjaram energia e entregaram um show caprichado aos seus fiéis seguidores. 

Para os amantes do BRock, a noite foi mais do que especial. Humberto Gessinger, o eterno líder do Engenheiros do Hawaii, e o grupo carioca Biquini Cavadão, trouxeram seus shows completos para o ABC, mais precisamente ao tradicional Clube Atletico Aramaçan. Local que ficou marcado por receber vários desses nomes quando ainda estavam no auge do sucesso. Mesmo não tendo mais o destaque que tiveram outrora na grande mídia, os fãs parecem não terem se esquecido deles. Fato que ficou comprovado durante os shows dessa última sexta. 

O primeiro à subir ao palco foi o gaúcho Humberto Gessinger. Com um atraso de 15 minutos, o músico abriu a noite com o clássico “A Revolta dos Dândis”. De cara, emendou. “Nessa primeira parte, interpretaremos o segundo disco de uma banda que gosto muito, o Engenheiros do Hawaii”, brincou arrancando risos da plateia. “Depois, tocaremos mais algumas músicas passando por diferentes fases da minha carreira. Espero que gostem da rota que traçamos para vocês. Tenham todos uma ótima viagem”. 

Essa é a melhor palavra para definir a experiência. Por alguns minutos, voltamos no tempo e relembramos de sons que marcaram nossa juventude. O público cantava junto todas as frases de clássicos como “Infinita Highway”, “Refrão de Bolero”, “Terra de Gigantes” e “Filmes de Guerra, Canções de Amor”. Multi-instrumentista, Gessinger passa pelo baixo, guitarra, violão, gaita e arcodeon na apresentação. Tudo com enorme segurança, embora seja no baixo onde realmente se destaque.

Como havia interpretado um LP clássico na integra, a segunda parte do setlist focou a fase final do Engenheiros e seu recém lançado compacto Desde Aquele Dia. Músicas como “Eu Que Não Amo Você”, “Surfando Karmas & DNA”, “Dom Quixote”, “Alexandria”, “Olhos Abertos” e “Vida Real” levantaram os presentes, assim como os hits “Somos Quem Podemos Ser” e “Era Um Garoto Que Como Eu, Amava os Beatles e os Rolling Stones”. A que mais me empolgou, contudo, foi “Exercito de Um Homem Só”, lado B de seu cultuado LP O Papa é Pop (1990). Após quase 100 minutos de show, Gessinger se despediu do palco ao som de “Pra Ser Sincero”, mais uma cantada aos pulmões pelos presentes. Apresentação impecável e memorável.

Já era perto da 1:00h quando o grupo de Bruno Gouveia entrou em ação. “Soltos Pelo Ar”, de seu recém-lançado As Voltas Que o Mundo Dá, foi a escolhida para abrir seu novo show. Bruno mantinha sua animação costumeira. Apresenta uma energia fora do comum. Sai cantando no meio do público, se pendura nas torres do palco, pula sem parar. “Fizemos muitos shows memoráveis aqui no Aramaçan. Tenho certeza que hoje será mais um deles”. O hit “Zé Ninguém” e o clássico de Jorge Benjor “Chove Chuva” vieram na sequencia animando os fãs. Nas primeiras músicas, o som estava embolado, mas depois foi se ajustando.

Os músicos fizeram uma apresentação redonda. A banda está afiadinha, pouquíssimos e sutis deslizes na execução. Mesclando grandes sucessos como “Janaína”, “Vento Ventania” e “Tédio”, com canções de seu novo álbum, souberam criar um roteiro que agradasse os presentes. Uma parte muito bacana foi um set acústico que incluíram no meio de apresentação. “Sempre acreditamos que não deve haver muita distância entre artista e público. Por isso, criamos esse momento”. Nessa parte, sons como “Vou Te Levar”, “Quanto Tempo Demora Um Mês” e “Meu Reino” se fizeram presente.

A noite se encerrou ao som de “Timidez” e “Impossível”, muito pedidas pelo público local. Antes dessas, Bruno declarou: “Quem quiser uma lembrancinha do show, temos uma banquinha ali atrás onde vocês podem comprar camisetas, CD, DVD, copinhos, enfim… E, claro, quem comprar, terei o maior prazer em autografar no final do show. Depois de 15 minutos do fim, estarei daquele lado palco para receber vocês”. Promessa cumprida. O músico voltou para receber o público, onde recebeu todos com muita simpatia e paciência para fotos e autógrafos. Obviamente, aproveitei a ocasião para assinar um CD com o músico.

Embora seja uma cena muito popular, o BRock não é uma unanimidade entre os roqueiros de nosso país. A galera mais antiga costuma ter um preconceito grande com essa cena. Para quem curte, contudo, a noite foi mais do que especial. Voltem mais vezes!

Setlist Humberto Gessinger:

  • A Revolta dos Dândis Pt 1
  • Infinita Highway / Até o Fim
  • Quem Tem Pressa Não Se Interessa
  • Vozes / Terra de Gigantes
  • Desde Aquele Dia
  • Além Dos Outdoors / Guardas da Fronteira
  • Refrão de Bolero / Piano Bar
  • Filmes de Guerra, Canções de Amor
  • Eu Que Não Amo Você
  • Alexandria
  • Surfando Karmas & DNA
  • Olhos Abertos
  • Somos Quem Podemos Ser
  • Pose (Anos 90)
  • 3X4
  • Dom Quixote
  • O Exército De Um Homem Só
  • Era Um Garoto Que Como Eu, Ama os Beatles e os Rolling Stones
  • Faz Parte (Bis)
  • Vida Real (Bis)
  • Pra Ser Sincero (Bis)

Setlist Biquini Cavadão:

  • Soltos Pelo Ar
  • Zé Ninguém
  • Chove Chuva
  • Um Rio Sempre Beija O Mar
  • Janaína
  • Roda Gigante
  • Dani / Uma Brasileira
  • No Mundo Da Lua
  • No Mesmo Lugar
  • Múmias
  • Arco-Íris
  • Vento Ventania
  • Entre Beijos e Mais Beijos (Acústico)
  • Vou Te Levar Comigo (Acústico)
  • Quanto Tempo Demora Um Mês (Acústico)
  • Meu Reino (Acústico)
  • Quando Eu te Encontrar (Acústico)
  • Carta Aos Missionários
  • Camila
  • Tédio
  • Você Marcou (Bis)
  • Timidez (Bis)
  • Impossível (Bis)

10 comentários sobre “Humberto Gessinger + Biquini Cavadão (Santo André, 11 de agosto de 2017)

  1. Não curto os Engenheiros mas respeito eles, porque sempre foram autênticos e nunca seguiram moda e sempre foram espontâneos. Nunca fizeram músicas só pra tocar no rádio ou gravar discos comerciais para agradar ao mainstream.Os detratores dos Engenheiros eram aqueles músicos frustados da revista Bizz, que tinham como banda favorita….The Smiths. Aí é hipocrisia, fala mal dos Engenheiros mas ouve m…..!

    1. Discordo. A revista Bizz tinha jornalista que analisavam a obra dos Engenheiros de forma isenta, como Alex Antunes, que fez uma crítica elogiosa ao disco Várias Variáveis. Andre Forastieri sempre citava o Engenheiros como banda que não apelava aos modismos, mantendo sua identidade, o que conferia dignidade a sua carreira. Em relação ao The Smiths, nao se pode desconsiderar sua relevância, que inclui, para o bem ou para o mal, sua influência no rock nacional na década de 80.

  2. O Carlos Eduardo Miranda a lenda, certa feita contou que os Engenheiros não faziam parte da turma do rock gaúcho. Porque enquanto as outras bandas daquela época queriam saber de putaria, cachaça, maconha e outras doideiras os Engenheiros viviam o mundo deles. Tanto que o próprio Gessinger definiu a banda para o jornalista Miranda: “Miranda, Engenheiros é assistir sessão da tarde tomando café com leite, é gostar mais do Van Halen com o Sammy Hagar do que com o David Lee Roth e mais do Pink Floyd com Roger Waters do que com o Syd Barret”. No que ele concluiu: “Aí eu entendi, finalmente. E vi que eles não estavam errados. Estavam apenas se comunicando com o Brasil, com um público que precisava de uma letra toda enfeitada para sonhar e viver. Exatamente o que toda a geração do rock brasileiro tinha feito até então.”

  3. Já assisti ao Gessinger várias vezes ao vivo, sempre aqui no RS, local onde ele é tratado como ídolo máximo, quase uma unanimidade entre os que apreciam o rock dos anos 80. O Biquini nunca vi ao vivo, mas curti muitas de suas músicas nas décadas de 80 e 90. Legal ver que os artistas “do passado” ainda estão por aí atraindo público, muitas vezes em apresentações conjuntas como esta (lembro de ver Gessinger e Nando Reis na mesma noite há poucos meses aqui em Porto Alegre). Ainda que a maioria do público seja de saudosistas da época de ouro do BRock, mesmo assim os shows de artistas como estes são, quase sempre, sinônimo de diversão garantida e um sorriso estampado no público! Agora, precisava o segundo show ter começado tão tarde? Sorte ser sexta feira, mas, mesmo assim, não poderiam ajustar esse horário?

    1. O Humberto eu tinha assistido quando ele ainda usava o nome de Engenheiros do Hawaii. Assisti a gravação do 10.000 Destinos. O Biquini Cavadão nunca tinha assistido também, mas me deu a impressão que a maior parte estava lá pelo Humberto mesmo. Bastante gente com camiseta dele. E a galera sabia todas as letras de cor. O Biquini agitou nos hits… Mas fizeram um show bacana também!

      Os shows no Aramaçan sempre começam tarde. Não sei por qual razão. Já assisti lá o show de 30 anos da Legião, o Lulu Santos e o Malta (todos começaram entre 00:30h e 01:00h). O pior de aguentar foi o da Legiao que os caras venderam mais ingresso do que cabia e o ar da casa é fraco. Quando lota, aquilo vira uma sauna. Um monte de gente desmaiou porque baixou a pressão. Estava um inferno aquilo… Lugar com horário bom e estrutura legal aqui na região de Santo Andre e São Caetano é o Sesc Santo Andre, o Teatro Santos Dummont e o Teatro Paulo Machado. Pior que o único lugar que tem capacidade para publico grande aqui é o Aramaçan mesmo… Então vamos que vamos. Mês que vem estarei lá assistindo o Capital Inicial. Vamos ver como vai ser…

      1. Assisti recentemente o Capital e está fora de forma. Só conseguem agitar a galera quando tocam músicas do Renato Russo e perolas do punk, como o The Chash. Humberto faz um show bem equilibrado e que mantém o pique até o fim. O Biquíni é esforçado e o Bruno é carismático, o que resulta em um bom show.

        1. Que pena! Assisti o Capital Inicial no fim dos anos 90, assim que o Dinho voltou pra banda, ainda com o Loro Jones na guitarra e foi showzaço. Bem rock n roll. No dia, gostei muito da performance do Dinho. Estava cantando super bem e com uma puta presença de palco.
          O show que vai vir pra cá é em cima desse acústico que eles gravaram em Nova Iorque. Esperava que o show estivesse redondo, já que não é a primeira vez que se aventuram no formato…

          1. O melhor show do capital que assisti foi nos idos de 1990, quando lançou um disco que tentava emular o Black Album do Metallica e tinha como vocalista o Murilo, que é bem melhor que o Dinho, Loro Jones mandava bem nas guitarras e os irmãos Lemos seguravam bem na cozinha. Depois, com o retorno do Dinho, estabeleceram um pop rock bem temperado, mas longe dos seus melhores momentos.

          2. Lembro dessa fase. O disco se chama Rua 47. Tenho ele. É bom. Eles lançaram um disco ao vivo com essa formação também, mas o registro era meia boca. No Atrás dos Olhos (o disco que marcou a volta do Dinho) ainda tinham uns sons bem pesadinhos (como Hotel Jean Genet, Estranha e Linda, etc). Depois do acústico, focaram mais no lado comercial embora tenham feito uma exceção no Aborto Elétrico e no Saturno…Agora, em se tratando de voz, gosto mais do Dinho mesmo.

          3. Nesse cd tem também Assim Assado do Secos e Molhados, que ficou bem legal. Outra mais pesada que merece destaque é Maria Antonieta, do cd Gigante.

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