Melhores de Todos os Tempos – Aqueles que Faltaram: por Christiano Almeida

Melhores de Todos os Tempos – Aqueles que Faltaram: por Christiano Almeida
Jethro Tull em 1970: Ian Anderson, Glenn Cornick, John Evan, Martin Barre e Clive Bunker

Por Christiano Almeida

Edição de Diogo Bizotto

Com Alexandre Teixeira Pontes, André Kaminski, Bernardo Brum, Davi Pascale, Fernando Bueno, Flavio Pontes, Mairon Machado, Ronaldo Rodrigues e Ulisses Macedo

Elaborar listas é sempre um desafio. Por outro lado, elas são um meio muito interessante de troca de informações sobre música. Foi pensando nisso que fiz minhas escolhas. Após criar uma seleção imensa de discos que considero importantes, fui reduzindo até chegar aos que indiquei nesta edição. Para isso, estabeleci critérios simples e, claramente, subjetivos: escolhi álbuns dos quais gosto muito, considero merecedores de destaque e que, principalmente, gostaria de recomendar aos leitores e colegas da Consultoria.


Love – Forever Changes (1967)

Christiano: Considero Forever Changes uma obra-prima, figurando lado a lado de discos como Pet Sounds (The Beach Boys, 1966) e Odessey and Oracle (The Zombies, 1968), manifestações perfeitas do que alguns costumam chamar de artesanato pop. Independentemente de títulos, Forever Changes é de uma beleza ímpar. Ainda que comumente classificado como rock psicodélico, os sofisticados arranjos de cordas e as orquestrações são uma constante em todas as faixas, que em sua maioria transbordam uma atmosfera melancólica. Aliás, Arthur Lee imaginava que este seria seu último suspiro artístico, uma vez que, por conta de algum tipo de paranóia, o guitarrista acreditava que estava às vésperas de sua morte. Durante a gravação, a banda se desintegrou. No entanto, essa atmosfera de pessimismo e loucura conseguiu ser condensada em pérolas como “The Red Telephone”, “Alone Again Or” e “Andmoreagain”.

Alexandre: Como já citei em outras oportunidades, os discos da década de 1960 não são muito familiares para mim, conheço o “mainstream do mainstream” e olhe lá. Assim, é sempre muito bom ter a oportunidade de ouvir álbuns indicados pelos catedráticos da Consultoria. Este disco do Love é mais um exemplo desse imenso e impagável aprendizado. Forever Changes me soou, em uma análise rasa, o Flower Power em sua essência, com violões de 12 cordas, vocais harmoniosos e orquestrações “coloridas”. Há poucos solos de guitarra para sublinhar o restante do instrumental, que é bem básico. E os que eu ouvi, como em “Live and Let Live”, não ajudaram a mudar minha impressão. Entendo Forever Changes como um álbum bastante suave e muito legal de se ouvir, no qual as intervenções orquestrais normalmente não apenas somam bastante, mas por vezes assumem protagonismo e se traduzem nos melhores momentos do trabalho, como já no início, em “Alone Again Or”, e seguindo durante todo o álbum. Destaco também o uso de pizzicatos nos violinos em “The Good Humor Man He Sees Everything Like This”. O final apoteótico em “You Set the Scene”, como uma inegável lembrança ao uso dos metais em Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (The Beatles), do mesmo ano, talvez seja o maior exemplo disso. Gostei da dica, ótima escolha!

André: Banda sessentista famosa, mas que ouvi pouco. O pouco que ouvi, porém, foi justamente Forever Changes. Um ótimo trabalho psicodélico, como de tantas outras bandas da época, com um acento mais pop que deixa a audição um tanto mais fácil e digerível. A banda surpreende com “The Daily Planet” (será que foi inspirada pelo Superman?), descrevendo uma vida monótona em Hollywood, e “Maybe the People Would Be the Times or Between Clark and Hilldale”, com qualidade e bom gosto tão grandes quanto o nome da canção (o naipe de metais deu um brilho especial). Entre os integrantes, destaco o baixista Ken Forssi. Suas linhas são grudentas e muito boas, demonstrando belo domínio de seu instrumento. O timbre grave que escolheu para o disco ficou demais. Pena que permaneceu pouco tempo na banda (Arthur Lee a transformou praticamente em seu projeto solo) e, depois do Love, praticamente não conseguiu mais sobreviver da música, falecendo nos anos 1990. Recomendo a todos que vão atrás deste belo registro, ouçam e apreciem um belo rock como merece ser feito.

Bernardo: A obra-prima de Arthur Lee com alguns dos melhores momentos da segunda metade dos anos 1960, antes da moda psicodélica ser substituída pela tendência mais “raiz” de “White Album” (The Beatles, 1968), John Wesley Harding (Bob Dylan, 1967) e American Beauty (Grateful Dead, 1970). Só clássico, especialmente a abertura “Alone Again Or” .

Davi: Disco clássico do movimento psicodélico. Ao contrário do que se pode esperar, não temos milhares de efeitos e centenas de instrumentos. Nesse aspecto, ele é bem minimalista. Contendo uma pequena orquestração e alguns trompetes acentuando as melodias, as músicas trazem arranjos um pouco mais para baixo, um pouco mais sombrios que o esperado. O resultado final, contudo, é muito bom. Os arranjos são muito bem desenvolvidos, e as músicas, em sua maioria, são muito boas. Faixas preferidas: “The Daily Planet”, “Maybe the People Would Be the Times or Between Clark and Hilldale” e a beachboylesca “Live and Let Live”.

Diogo: Entre os discos citados pelo Christiano, este e o do Savatage são os únicos que entraram em listas que preparei para a série. Via de regra, a psicodelia de Forever Changes é muito mais interessante que a dos companheiros californianos do Love, investindo menos em climas viajandões e mais no lustro de arranjos bem compostos e executados. Arthur Lee e Bryan MacLean arquitetaram um forte corpo de canções, que trafegam do folk psicodélico ao pop rock barroco com naturalidade e mostram uma delicadeza muito bem vinda, incluindo violões, metais e cordas. “Alone Again Or”, provável maior clássico do Love, abre o disco de maneira a não deixar dúvidas de que estamos lidando com uma obra diferenciada mesmo em uma época tão prolífica de criatividade. O lado A é especialmente digno de destaque. “A House Is Not a Motel” é outra belíssima canção, que pende um pouco mais para a psicodelia inglesa (juro que ouvi ecos de Moody Blues); “Andmoreagain” também dá show com suas cordas e o belo vocal de Arthur Lee. No lado B, ênfase para “You Set the Scene”, que encerra o disco em alta.

Fernando: O disco já nos ganha com a primeira faixa, “Alone Again Or”, que vai crescendo em de um simples dedilhado até o clímax com orquestrações grandiosas. Lembro que ouvi demais este disco quando o conheci. Não posso falar que quase o furei pois já o conheci na época do mp3, mas peguei minha cópia e lembro-me bem quando, pois foi na loja Amoeba, em Los Angeles. Isso deve ter ocorrido na época do mais recente relançamento, uma vez que o disco estava espalhado por vários lugares diferentes da loja, em locais de destaque. É estranho uma banda chamada Love. Parece muito simples e até clichê. É mais ou menos o que aconteceu com o Kiss alguns anos depois. A diferença é que o Kiss fez tanto sucesso que nem relacionamos mais seu nome ao ato do beijo em si. Já quanto ao Love, ainda não consigo estranhar toda vez que vejo seu nome.

Flavio: Uma boa surpresa. Forever Changes apresenta o som característico da psicodelia dos anos 1960, com predominância de violões (com cordas de aço) misturados com arranjos orquestrais e seus instrumentos, como harpa, violas, violino, violoncelo, trompetes e trombones, entre outros. Boas participações dos membros da banda, especialmente do baixo, muito bem inserido em quase todas as canções, misturado com uma bateria de som bem característico da época. O vocal de Arthur Lee é suave, de bom timbre, sem no entanto ser um grande diferencial ou novidade. Um álbum de fácil assimilação e bom nível, especialmente nas músicas “Alone Again Or” e “Maybe the People Would Be the Times or Between Clark and Hilldale”, sem me mostrar algo tão memorável que justifique sua inserção na série.

Mairon: Símbolo da lisergia norte-americana, Forever Changes é daqueles álbuns que demonstram quão grande era a qualidade de composições nos anos 1960. A começar pelo superclássico “Alone Again Or”, levada pelo dedilhado do violão, o ritmo flamenco e as maravilhosas participações orquestrais, bem como o arrepiante solo de trompete. Tenho certeza de que todos que comentarão este álbum citarão que conhecem essa faixa. O disco sempre me traz à mente Days of Future Passed (The Moody Blues, 1967), acho que por conta dos arranjos de orquestra. Afinal, “Andmoreagain”, “Old Man”, “The Good Humor Man He Sees Everything Like This”, The Red Telephone” e a ótima “You Set the Scene” poderiam ter sido paridas do outro lado do Atlântico, no mesmo ano, mas pelos Moodies. Há um bom trabalho vocal em “Live and Let Live” e “The Daily Planet”. Gosto principalmente do estilo agressivo de Johnny Echols, seja na acidez de “A House Is Not a Motel” ou na sutileza de “Bummer in the Summer”. E como não vibrar com o trompete de “Maybe the People Would Be the Times or Between Clark and Hilldale”? Leonard Cohen, Buffalo Springfield e Velvet Underground bem que poderiam ter dado espaço para esta joinha. 

Ronaldo: Melodias das mais elegantes desfilando pelas quadras da San Francisco sessentista. Uma captura de folk rock casada com o melhor do pop orquestral que se praticava naquelas alturas, com um disco cheio de frescor e composições inspiradas. Além de toda a beleza per se, Forever Changes foi um dos primeiros discos a dar mais dinâmica ao folk, introduzindo pontes instrumentais e composições com espertas variações, o que serviu para consolidar o rock psicodélico não apenas com um novo padrão de sonoridade ou de indumentária visual, mas como um estilo musical autônomo. “The Red Telephone” e “Andmoreagain” são duas preciosidades do fantástico ano de 1967.

Ulisses: Um pop rock orquestral dos bons. Delicado, com arranjos finos que trazem influências diversas, desde o folk e a psicodelia até a música erudita e flamenca. Interessante a presença forte do violão por todo o disco, fazendo um contraponto a guitarra, cordas e metais. “Alone Again Or”, “Live and Let Live” e a épica “You Set the Scene” são as melhores, mas o tracklist inteiro é sólido.


Jethro Tull – Benefit (1970)

Christiano: Benefit está espremido entre dois álbuns de grande importância para o Jethro Tull: Stand Up (1969) e Aqualung (1971). Talvez por isso, costuma ser negligenciado na discografia do grupo. É uma pena, pois considero que é justamente nele que a sonoridade da banda foi moldada. Na verdade, ele registra perfeitamente um momento de transição que moldou o que seria a identidade do Jethro. Por isso mesmo, todos os elementos que fariam o grupo famoso estão perfeitamente esboçados nele: traços de música folk, o flerte inicial com o rock progressivo e algumas nuances de hard rock. Uma característica interessante é o trabalho de guitarra realizado por Martin Barre, que transita com fluência invejável entre arranjos mais acústicos e solos inspiradíssimos, sempre com um timbre cristalino. Um bom exemplo disso é a faixa que abre o disco, “”With You There to Help Me”.

Alexandre: O Jethro Tull é uma grande lacuna no meu gosto musical. Várias pessoas me indicaram a banda, conheci verdadeiros fãs completamente alucinados por Ian Anderson e companhia, e até hoje o grupo não “bateu” comigo. O que há de errado com eles? Nada, é claro, o errado sou eu, muito provavelmente. Assim, sempre é bom fazer uma nova tentativa. De Benefit conhecia algumas músicas. Particularmente, gosto demais de “To Cry You a Song”, cujo riff principal é sensacional. O instrumental do Jethro é impecável. Ótimos músicos, diversos momentos de verdadeira excelência. Martin Barre é um espetacular guitarrista. Além disso, o grupo tem uma cozinha que nunca se mantém no trivial. Também considero bastante o vocal de Anderson, embora haja alguns maneirismos que se repetem um pouco demais, uma questão de estilo. A flauta, marca registrada da banda, é sempre bem tocada, muitas vezes em uníssono com guitarras e/ou teclados, como em “A Time for Everything”. Acabei por destacar “Nothing to Say” nestas poucas audições que fiz para comentar o álbum. O resumo da ópera é que não há nada ou quase nada para dizer contra o grande trabalho que se apresenta. Além disso, trata-se de um grupo que influenciou alguns de meus maiores ídolos, como Steve Harris, do Iron Maiden. Fica a constatação de que eu preciso fazer que não só “Aqualung”, “Cross-Eyed Mary” e “Too Old to Rock ’n’ Roll, Too Young to Die” sejam minhas lembranças mais fixas da banda. A escolha deste álbum é muito acertada.

André: Banda que adoro. É uma pena que este disco tenha ficado de fora. O Tull passou para a fase em que ficou mais conhecido, em que misturava progressivo, folk e hard rock em suas faixas. Apesar de não ser tão conhecido quanto Aqualung ou Thick As a Brick (1972), o fato é que Benefit nos apresenta tudo aquilo pelo qual o grupo ficou conhecido: flautas bacanudas, guitarras descoladas, composições marcantes. “With You There to Help Me” é uma excelente faixa de abertura, com as guitarras distorcidas de Barre, e a folk “Sossity; You’re a Woman” remetendo à música tradicional europeia com violão, flauta, guizos (pandeiro? chocalho?) e órgão em destaque são exemplos de canções excelentes na rica discografia do Tull.

Bernardo: A banda prestes a entrar em sua áurea fase de Aqualung e Thick As a Brick. Ainda não está no nível, mas já dá para sentir a evolução em relação aos anteriores.

Davi: Por alguma razão, nunca me liguei muito no Jethro Tull. Gosto de algumas músicas – como a clássica “Aqualung” –, mas nunca fui fã de carteirinha. Este LP é considerado um clássico do grupo e demonstra a alta qualidade do trabalho dos caras. Misturam instrumentos acústicos com elétricos e fazem um som em que mesclam elementos do hard rock, do progressivo e do folk. “To Cry You a Song”, “Play in Time” e “Nothing to Say” são as que mais gosto de Benefit.

Diogo: O Jethro Tull encaixa-se muito bem naquele caso de banda grande (bem, um dia já foi), com muitas qualidades, mas da qual nunca consegui gostar tanto. Ouvi vários discos, considero Aqualung um belo trabalho, digno do status de clássico, mas nunca fui fisgado de vez. Talvez o fato de eu não morrer de amores pela voz de Ian Anderson colabore, mas creio ser uma questão bem mais geral. Algumas músicas de Benefit, como “With You There to Help Me” e “To Cry You a Song”, soam bem, são boas de ouvir, mas fica a impressão de que falta (ou sobra?) alguma coisa. Fica até difícil comentar algo além disso, pois quando a banda ou o disco são ruins de verdade, a vontade é de enumerar seus defeitos, mas não é esse o caso. O Jethro Tull é uma banda antológica e digna de respeito, mas comigo funciona apenas em doses homeopáticas.

Fernando: Eu adoro o Jethro Tull. Seus discos até o fim dos anos 1970 são irretocáveis. É uma pena que muita gente os rebaixe, classificando-os simplesmente como o “rock com flautas”. É notável como os instrumentos conversam entre si, principalmente quando sabemos que Ian Anderson não era nem um pouco democrático, o que poderia abalar a unidade da banda. De Benefit podemos tirar como clássicos “Son” e “To Cry You a Song”.

Flavio: Benefit apresenta uma mistura de hard rock, folk e rock progressivo. Identifico neste disco a banda já encontrando seu som característico, com a predominância da flauta de Ian Anderson e riffs hard rock de guitarra. Há ótimos momentos, como em “To Cry You a Song” e em “Son”, além da faixa de abertura. Um álbum bem coeso e muito bem tocado, também com ótima presença do teclado de John Evan, que se encaixaria bem na forte edição dedicada a 1970. Ótima lembrança do Christiano.

Mairon: Jethro Tull começando a ficar com cara de Jethro Tull. É um álbum de transição, no qual Ian Anderson finalmente tomou conta da banda, abrindo espaço para criações que se tornariam a base do aclamadíssimo Aqualung, um ano depois. Em comparação com This Was (1968) e Stand Up, “Nothing to Say” e “Play in Time” são faixas que certamente fariam parte deles. Já “A Time for Everything?”, “Alive and Well and Living In”, “Sossity: You’re a Woman”, “Son” e “With You There to Help Me” são as que apresentam maior inovação perante os dois discos anteriores, que é a entrada de John Evan no piano. Isso mudou e muito a cara do Tull, saindo das bases blueseiras para migrar em direção a um lado folk progressivo que virou marca registrada do grupo. Ainda assim, as faixas que mais aprecio são aquelas simples, mas com um charme sessentista muito agradável, presente em “Inside”, na sensacional “To Cry You a Song”, uma das melhores canções dessa fase inicial da banda, e na balada hippie “For Michael Collins, Jeffrey and Me”. Nos Estados Unidos, Benefit saiu com “Teacher” no lugar de “Alive and Well and Living In” e tornou-se um grande sucesso, inclusive sendo responsável por apresentar o grupo em terras brasileiras. Escrevi mais sobre este belo álbum aqui, e sim, havia espaço para ele na edição abrangendo 1970.

Ronaldo: O disco mais introspectivo do Jethro Tull coroa a trajetória ascendente da influente banda inglesa em seus primeiros anos. Entre seus cinco primeiros álbuns, todos, à sua maneira, são singulares. Benefit, o trabalho em questão, mostra tinturas mais interioranas, muitos violões e vocalizações menos intensas que as comumemente associadas a Ian Anderson. Benefit também apresenta o piano e os teclados de John Evan como uma positiva novidade, abandonando quase que totalmente as incursões jazzísticas dos discos anteriores. É um disco de inspiração folk rock com uma abordagem eletrificada, essencialmente a fórmula que consagrou o Jethro Tull.

Ulisses: Apesar da forte (e esperada) presença de flauta e piano, o blues rock de Benefit tem seu peso e energia singular, trazendo o progressivo de forma mais latente em faixas como “With You There to Help Me” e “To Cry You a Song”, e o folk em “For Michael Collins, You and Me” e “Inside”. Um álbum com poucas faixas particularmente inspiradas, mas coeso o suficiente para entreter do começo ao fim.


Paul and Linda McCartney – Ram (1970)

Christiano: Paul Mccartney parece ter assumido um papel determinante nos dois últimos álbuns dos Beatles. Por isso, considero Ram, seu segundo disco em carreira solo, como uma sequência do que ele vinha fazendo ao lado de seus ex-companheiros. Muitos vão considerar essa comparação descabida, mas músicas como “Uncle Albert/Admiral Halsey” e “The Back Seat of My Car” não soariam muito deslocadas em um disco como Abbey Road (1969), por exemplo. Musicalmente, Ram é bastante variado, mostrando que Paul é capaz de buscar inspiração tanto em um rock mais básico (“Smile Away) quanto em arranjos mais elaborados (“Dear Boy”), flertando até mesmo com o country (“Heart of the Country”). Como curiosidade histórica, vale lembrar que é neste disco que surge uma troca de farpas entre Paul e Lennon, visto que o sr. Ono percebeu algumas indiretas em faixas como “Too Many People” e “Dear Boy”. A réplica viria também em forma de música, principalmente em “How Do You Sleep”, que faria parte de Imagine (1971).

Alexandre: Um bom disco de Macca, sem dúvida um dos seus melhores. Teria ficado melhor se ele houvesse incluído o single “Another Day”. É um período meio controverso na carreira de qualquer ex-integrante do Fab Four, uma vez que imagino que todos estivessem se adaptando ao fato de trabalharem solo. Não acho que nenhum álbum solo de qualquer um deles chega perto do que foi feito em conjunto, mas este é um dos melhores. Tecnicamente, Ram é atribuído ao casal McCartney, mas não dá para levar isso à sério, ainda que as (poucas) participações de Linda até sejam legais, diferentes de uma certa japonesa. Neste trabalho são backings, mas acrescentam ao disco. Uma discreta participação, que é o que ela pode e deve fazer. Tenho uma tendência a gostar mais do lado B do que do lado A, mas “Uncle Albert/Admiral Halsey” é uma faixa de destaque, assim como “Dear Boy”. Virando o lado, encontram-se as faixas das quais mais gosto, praticamente todas; “Monkberry Moon Delight” é minha preferida, mas tenho que ao menos destacar a linda “Heart of the Country”, “Long Haired Lady” e “The Back Seat of My Car”, quase o lado inteiro. Acabo não entendendo a escolha de “Ram On” como quase faixa-título, pois é uma das mais fracas em meu conceito. A reprise no lado B tem menos sentido ainda. Band on the Run (Wings, 1973) e Flaming Pie (1997) estão nas edições dedicadas aos seus respectivos anos; desse modo, Ram mereceria um espaço em 1971. Foi muito corretamente lembrado pelo Cristiano e é um dos melhores desta lista.

André: Pouca coisa dos discos solo dos ex-Beatles me chamaram atenção. Os quatro juntos são fantásticos aos meus ouvidos, mas separados nem tanto. E que disquinho chinfrim este do canhoto. Linda cantando então não ajuda nada. Um pop rock sem sal, excetuando as boazinhas “Dear Boy” e “Smile Away”, sendo o restante do disco bem pouco memorável. De boa, “Ram On” lembrou-me vagamente a musiquinha da Ultragaz. Flaming Pie, que apareceu na edição voltada a 1997, é muito superior. Ó o gás!

Bernardo: Da vez em que me meti a desbravar a discografia de sir Paul, achei Ram um dos mais apagados. Gosto bastante, porém, de “Monkberry Moon Delight”.

Davi: Paul McCartney é um dos maiores artistas da história do rock e isso não é por acaso. O rapaz possui uma excelente voz, é um excelente músico e um excelente compositor. Tudo isso já podia ser notado em Ram, o segundo trabalho que realizou após o fim do Fab Four. “Too Many People” abre o disco em altíssimo nível. “3 Legs” mantêm o nível com um violão de pegada meio blues. Existe uma história dando conta que Beatles e Beach Boys disputavam entre si para ver quem fazia o melhor disco. Ao ouvir as vocalizações por trás de “Dear Boy” notamos que ele ainda não havia largado a briga. “Uncle Albert” resgatava a sonoridade beatle, perceptível tanto na melodia quanto na bateria à la Ringo. “Smile Away” traz a alegria do rock de volta, antes da suave e lindíssima “Heart of the Country”. Paul rasga a voz em “Monkberry Moon Delight”, enquanto as guitarras voltam a falar alto em “Long Haired Lady”. Enfim, um grande álbum que somente McCartney seria capaz de fazer.

Diogo: Podem achar que é birra, mas, até hoje, não escutei nada que Paul McCartney tenha produzido em contexto solo e me conquistado de verdade. Ram não é exceção. De jeito maneira dá para dizer que é um disco ruim, mesmo regular, mas há bem pouca coisa que chame minha atenção. É uma pena, mas a herança melódica dos Beatles, tão apoiada na presença de Paul McCartney, aparece bem mais no trabalho de artistas por eles influenciados (os Raspberries são um ótimo exemplo) do que nos álbuns do próprio que ouvi até agora. Fica aquela impressão de que o problema sou eu por não ter a percepção de como um trabalho como este é bom, mas não posso me enganar e muito menos enganar os colegas e leitores. Talvez o contexto da época, após trabalhos de clima mais pesado ao lado dos Beatles, pedisse algo mais descompromissado como Ram, e nesse sentido ele funciona muito bem. Soa como se Paul estivesse se sentindo bem ao gravá-lo, talvez exorcizando alguns demônios e botando pra fora ideias represadas. Talvez, pois não conheço sua história a fundo.

Fernando: Um dos buracos da minha coleção. Cada vez que lembro dele fico com esse pensamento de que estou em dívida com o melhor dos Beatles. Impressionante como ele é capaz de fazer melodias simples e cativantes, como na faixa de abertura, “Too Many People”. Sei que parece algo simplista, mas essa capa (horrível) não teria alguma ligação com a do Pet Sounds?

Flavio: Apesar de gostar mais de Paul junto com seus companheiros de Liverpool, sou fã de carteirinha do multi-instrumentista e dificilmente não apreciarei algum trabalho dele. Ao ouvir Ram com mais atenção, não é diferente. Vocais harmonizados muito bem feitos (“Dear Boy”, “Uncle Albert/Admiral Halsey”, “Monkberry Moon Delight”), um baixo que sempre está bem colocado, com tiradas criativas (“Heart of the Country”), rocks “na veia” (“Smile Away”, “Eat at Home”), composições recheadas de humor e ironia (“Long Haired Lady”, “The Back Seat of My Car”), enfim, composições de altíssimo nível que permeiam o disco todo, que é excelente e foi otimamente resgatado.

Mairon: O disco do retiro de Paul é, para mim, um dos mais fracos de sua carreira. Todo mundo aqui sabe que não sou fã de Beatles, mas sou um admirador do Wings. A carreira solo de Paul tem vários baixos e alguns altos, mas Ram é complicado. Depois que John Lennon lançou Plastic Ono Band (1970) e George Harrison fez o mundo delirar com All Things Must Pass (1970), Billy Shears (ops) deveria ter vergonha de ter gravado algo como este disco. Tudo bem que ele tenha feito sucesso, é um embrião do Wings (“Eat at Home” poderia facilmente estar em Wild Life, de 1971), mas não consigo curti-lo como curto McCartney (1970) ou McCartney II (1980), por exemplo. Ele estava fumando todas no seu período camponês, no qual maconha e ausência de banho eram as regras centrais do casal Paul e Linda, e só pode ter sido em uma viagem “das boas” que uma anomalia como “Uncle Albert/Admiral Halsey” foi concebida. Mas há momentos piores. Salva-se, com esforço, as quase Beatles “Smile Away”, “Too Many People”, “The Back Seat of My Car” e “Dear Boy”. “Monkberry Moon Delight” tinha tudo para ser a melhor faixa do disco, mas fazer Linda inserir seus vocais ainda sem a maturidade de um Band on the Run não ficou legal, infelizmente. Outra em que os vocais de Linda ficaram uma bela bost@ é “Long Haired Lady”, chatinha pacas. A tentativa de soar blues em “3 Legs” é bisonha e desnecessária, enquanto o ukelele da quase faixa-título é para entrar no hall das piores gravações de um beatle. “Heart of the Country”, não fede nem cheira. Enfim… Para se ter na coleção, é um disco que ficaria pegando poeira. Honestamente, jamais entraria na edição voltada a 1970, e, se entrasse, só se fosse no lugar daquela trombose chamada Blue (Joni Mitchell), e achincalharia Ram de boa por lá.

Ronaldo: Em Ram, Paul McCartney apresenta de maneira muito clara ao ouvinte quanto por cento dos Beatles ele representa (sim, era mais que 25%). Seu faro para melodias e seu rock leve, irreverente e cheio de historinhas para contar, já havia virado marca registrada pelo menos cinco anos antes deste lançamento. Voando solo, Paul McCartney impõe com grande tranquilidade o papel de liderança que gerou tantas desavenças no tempo dos Beatles. O disco é cheio de violões espertos, blues e rocks básicos lidos nas melhores cores do pop rock britânico, boas vocalizações e composições cheias de gás. O repertório de Ram (à exceção de uma outra faixa menos interessante) poderia plenamente fazer parte do catálogo do Fab Four, tamanha sintonia entre seu autor e sua antiga banda.

Ulisses: Um álbum bastante descompromissado, com melodias alegres, algumas letras que não fazem muito sentido e uma vibe meio rústica, além da presença de Linda McCartney nos vocais de apoio. Pop legalzinho em faixas como “3 Legs”, “Smile Away” e “Eat at Home”; arranjos mais grandiosos e interessantes em “Uncle Albert/Admiral Halsey” e “The Back Seat of My Car” (não por menos, pois contam com a Orquestra Filarmônica de Nova York). Um disco que não é fraco, ocasionalmente até impressiona, mas não passa disso.


Big Star – #1 Record (1972)

Christiano: É comum considerar #1 Record como um dos primeiros discos a sedimentar o que viria a ser denominado power pop, estilo, de certo modo, calcado na estética de bandas pop/psicodélicas dos anos 1960 e no uso de melodias marcantes. É isso que encontramos neste trabalho: melodias pop memoráveis, guitarras com um pé no hard rock setentista e belos arranjos vocais. É interessante que a maioria das faixas tenha uma dubiedade melódica, oscilando entre momentos de simples alegria contemplativa e uma certa melancolia. Exemplos disso são as belas “The Ballad of El Goodo” e “My Life Is Right”. A história da banda é repleta de frustrações e desencontros, fato que acabou rendendo um belo documentário, Nothing Can Hurt Me (2012), que, aliás, está disponível na Netflix. Além de algumas confluências musicais, esse elemento trágico é mais um fator em comum com outro grupo que trilhava os mesmos caminhos que o Big Star, o Badfinger, outro pilar do power pop.

Alexandre: Mal conhecia a banda, mas bastou ouvir “In the Street” para lembrar de cara da abertura do seriado retrô de TV “That ’70s Show”. A versão original é mais limpa, mais aguda, diferente da que o Cheap Trick gravou nos anos 2000. Essa polidez foi percebida logo na faixa inicial, “Feel”, na qual as guitarras até têm algum drive, mas o arranjo traz metais e pianos, além de backings bem harmoniosos. “The Ballad of El Goodo”, com guitarras limpas e acréscimo de um ligeiro efeito phase, é a tônica do que eu percebi durante boa parte do álbum. Há às vezes guitarras limpas, às vezes violões, que fazem a estrutura dos vocais também bastante harmoniosos, limpos; preciso ser um tanto redundante. A letra de “Thirteen” é a síntese de um pensamento adolescente ainda meio ingênuo, muito bonitas quando encaixadas na canção. O resultado final de #1 Record é um belo pop rock dos anos 1970, acrescido de ligeiros toques country. “Don’t Lie to Me” muda um pouco o cenário, trazendo um rock ‘n’ roll de boa qualidade e incrementado pelos drives das guitarras de Bell e Chilton. É, porém, a única faixa na qual percebi algo mais apimentado. No fim das contas, é invariavelmente bom, afinal, o rock norte-americano dos anos 1970 raramente funciona mal para mim. Não o considero, no entanto, um álbum digno de dar as caras na forte edição dedicada a 1972, embora nela haja alguns nomes meio indiscutíveis com os quais eu tenho certa birra.

André: Cheguei com grandes expectativas, devido às ótimas críticas recebidas que li na internet. Gostei muito das primeiras cinco faixas, mas depois, a música final do lado A e todo o lado B deram uma murchada legal no meu interesse. Aquele pop legal, bem melódico, um tanto sacana surge em canções como “The Ballad of El Goodo” e “Thirteen”, de longe as melhores. Porém, “My Life Is Right” e “Watch the Sunrise” me desanimaram com a falta de um gancho bacana, fundamental nesse tipo de pop rock. Dou crédito pelo começo bem feito, mas, como um todo, esperava um tanto mais.

Bernardo: Tão esquecido quanto influente, o Big Star nasceu literalmente antes do seu tempo, criando, no início da década de 1970, o power pop que explodiria no final dos anos 1980 e início dos 1990. “In the Street” parece muito mais nova do que realmente é. Dá para dizer que bandas como Wilco e Teenage Fanclub só existem por causa do Big Star.

Davi: Belo disco! Definiria a sonoridade encontrada nele como o que ficou conhecido por power pop. Ou seja, linhas vocais bem melódicas, backings repletos de harmonia à la Beatles ou Byrds e guitarras com ótimos riffs, ora com distorção saltando nos alto-falantes, ora com uma sonoridade extremamente clean. Uma banda que eu adoro e que fazia essa brincadeira muito bem era o The Raspberries. Não por acaso, músicas como “In the Street” e “Feel” me remeteram bastante ao antigo grupo de Eric Carmen. As melodias beatle às quais me refiro são perceptíveis em quase todo o álbum, mas aparecem de forma descarada em baladas como “Thirteen” e “Watch the Sunrise”. “Comprá-lo-ei” (Temer, 2017).

Diogo: Esta é uma citação muito bem vinda. O Big Star é uma banda única, sequer inserida em um contexto, mas sim dona de um contexto muito particular. Mesmo evidentemente inspirado em sonoridades sessentistas de grandes artistas com os quais muita gente estava familiarizada, #1 Record soa uns cinco anos à frente de seu tempo. Não à toa, as vendas deste e de seu segundo álbum encalharam e o grupo encerrou atividades em 1974. Precisou o tempo passar para que outros artistas, já na década de 1980, manifestassem o impacto que o Big Star teve em suas vidas. Para aqueles que os descobriram mais tardiamente, ficou uma série de boas canções. As baladas, em especial, são espetaculares. “The Ballad of El Goodo” e “Thirteen”, ambas cantadas por Alex Chilton, são minhas favoritas, mas o vocalista e guitarrista também manda bem demais em “When My Baby’s Beside Me”. O jeitão mais estridente de Chris Bell é parte integral da sonoridade de #1 Record tanto quanto Chilton, e “Feel”, “In the Street” e “Don’t Lie to Me” também são excelentes. O único momento solo do baixista Andy Hummell, “The India Song”, é outra mostra da peculiaridade do Big Star, para o qual o rótulo de “power pop” não faz jus às suas características. Boa lembrança.

Fernando: Não ouvia há muito tempo. Foi legal relembrar o tema de abertura de uma das séries que mais gosto, “That ’70s Show”, que é “In the Street”. O Big Star é focado em melodias e elas são as principais qualidade do trabalho. Engraçado uma banda dar o nome de “Primeiro Álbum” ao seu disco. Isso ao menos mostrava que os caras estavam muito confiantes com o futuro.

Flavio: Exemplo de como um rock mais acessível pode ser bem feito. Sem ser (nem de longe) meu estilo predileto, encontro ótimas execuções de canções bem compostas, com ótimas presenças vocais, tanto líder, com Chris Bell (mais agudo) e Alex Chilton, e também quando há misturas em harmonia, predominantes em quase toda a bolacha. Um disco que passa fácil nos seus 37 minutos, e com a inegável identificação do tema do seriado “That ’70s Show”, originalmente lançada em #1 Record (“In the Street”). Há outras ótimas composições, como a mais pesadinha “Don’t Lie to Me”, “When My Baby’s Beside Me” e a acústica “Try Again”, em um álbum sem falhas, que merecia maior reconhecimento e sucesso comercial na época, muito bem resgatado pelo Christiano.

Mairon: Considero o Big Star uma banda à frente do seu tempo. Eles pegaram as influências do british pop e misturaram com os ácidos da Califórnia, impregnando tudo nesta beleza que é o álbum de estreia. Afinal, vai dizer que a flauta e a melodia instrumental de “The India Song” ou o violão folk de “Watch the Sunrise” não poderiam ter sido paridos pelos gigantes do Verão do Amor? Ou que as vocalizações e linhas de guitarras de “Give Me Another Chance”, “In the Street”, “ST 100/6” e “When My Baby’s Beside Me” não são furtadas da trupe de Liverpool, só que com um “cheirinho” de novidade? Como não sair pulando com os gritos e as guitarras punk de “Don’t Lie to Me”? Ou ficar surpreso com os metais de “Feel”? Aprecie as baladas “The Ballad of El Goodo”, “Thirteen” e “Try Again”, chore com a interpretação dolorida de Chris Bell na linda “My Life Is Right”, mas, principalmente, tenha conhecimento deste disco ao menos uma vez na vida. Único álbum do genial Chris Bell, que sofreu a síndrome dos 27 anos e nos deixou em 1978, mas seu legado ficou imortalizado em um excelente álbum, que poderia sim estar na lista dedicada a 1972. Para ouvir agarradinho na patroa.

Ronaldo: O lado A da estreia do Big Star deveria ser estudado por todas as bandas que desejam fazer um bom pop rock. Uma coleção de canções honestas, de um nível de excelência irretocável em performance, composição, sonoridade, instrumentação e vocalização. Difícil encontrar algo mais equilibrado que este disco em um ano no qual quase tudo foi exagero – seja no rock progressivo, no glam rock, no rock pesado. Quem enxerga tudo maximizado demais para 1972, navega por uma tranquila baía com #1 Record. Há lindos momentos acústicos, belas guitarras e canções simples, marcantes e tão eficientes quanto as dos Beatles, dos Rolling Stones ou do Creedence Clearwater Revival.

Ulisses: A primeira metade do álbum tem, admito, algumas boas canções com belas melodias, como “Feel”, “In the Street” e “Don’t Lie to Me”, com harmonias pop e guitarras pontudas, apresentando uma banda que procurou se aproveitar dos melhores elementos musicais dos anos 1960. Mesmo as baladas “Thirteen” e “The Indian Song” conseguem agradar. A segunda metade, entretanto, é um tanto enfadonha, contendo algumas músicas entediantes.


Alice Cooper – School’s Out (1972)

Christiano: O Alice Cooper – a banda, não a carreira solo do vocalista – tem uma trajetória muito interessante. Começaram como um grupo de fortes tendências psicodélicas e experimentais e, aos poucos, foram se aproximando de um hard rock teatral e mais enérgico. School’s Out, seu quinto álbum, ainda traz alguns resquícios da fase mais experimental. Por isso, é musicalmente mais variado que o clássico Billion Dollar Babies (1973), que mostrou a banda apostando em uma sonoridade mais direta e calcada no hard rock. Para os que conheceram o Alice Cooper por meio de baladas radiofônicas ou mesmo por discos mais pesados, não deixa de ser curioso se deparar com músicas como “My Stars”, “Blue Turk” e “Luney Tune”, todas ainda com um pé em sons psicodélicos e arranjos bastante inventivos, uma marca registrada dos músicos dessa excelente banda.

Alexandre: Um clássico indiscutível, principalmente pela faixa-título, que já justifica sua presença. A música é um atestado da adolescência e sua relação com o ambiente escolar, muito antes de “Another Brick in the Wall”, do Pink Floyd. Há outras faixas interessantes, mas “School’s Out”, a canção, está muito além das demais. Em contraposição, não gosto da segunda música, que apresenta certa crueza, em especial no som de bateria, mas melhora um pouco quando entram as cordas. Depois desanda de novo. Entendo que, na época, Bob Ezrin também estava se desenvolvendo como produtor. A faixa é uma exceção no restante do álbum, que é bem diversificado. Ao mesmo tempo em que posso tentar cometer a ousadia de apontar o que eu entendo não ser um bom exemplo de gravação, posso elogiar e perceber o “dedo” de Ezrin em outras canções, como “The Stars” e “Grande Finale”. Ressalto também o protagonismo do baixista Dennis Dunaway, em faixas como “Gutter Cat vs. The Jets” e “Blue Turk”. Não sou um grande admirador de Cooper, mas vale a citação.

André: Bela lembrança do Christiano. Este é um clássico da tia louca mais querida do rock. A faixa-título é muito foda! O restante do disco apresenta aquele humor sacana típico de qualquer CD cooperiano. Não é pesado como outros trabalhos seus, mas quem precisa disso quando as composições dão conta do recado? Em School’s Out ele pega por aquele lado mais teatral conhecido, e a interpretação soa desgraçadamente ótima. Diverti-me muito reouvindo este disco após um bom tempo longe dele.

Bernardo: Típico caso (frequente na discografia da Tia Alice) de álbum no qual só a canção clássica realmente importa. O restante adorna, mas não chega realmente a somar.

Davi: Um dos grandes clássicos da carreira de Alice Cooper. Realmente é uma pena este álbum ter ficado de fora da série. De hit, acredito que somente a faixa-título. Musicalmente falando, contudo, este LP é perfeito. Desde o conceito em si, até os arranjos extremamente variados que remetem ao lado teatral de seus shows. Além da já citada e icônica “School’s Out”, citaria como destaque “Luney Tune”, “Gutter Cats vs. The Jets” e “Public Animal #9”.

Diogo: Do período mais clássico de Alice Cooper como grupo, considero Love It to Death (1971), Killer (1971) e Billion Dollar Babies como discos um tanto superiores, mas a menção a School’s Out não é nem um pouco absurda, ainda mais considerando a ausência de Alice na série. Quase todas as características que fizeram da banda uma das melhores da primeira metade da década de 1970 estão no álbum. Julgo, apenas, que as composições não estão no mesmo nível daquelas encontradas nos discos citados. Não há algo espetacular como “Ballad of Dwight Fry” ou “Halo of Flies”, mas há a efetividade da faixa-título, que marcou a cultura pop como talvez nenhuma outra canção do grupo. Você pode nunca tê-la ouvido na íntegra, mas certamente já escutou seu refrão no cinema ou na televisão. A faixa-título, inclusive, soa um pouco deslocada em relação ao álbum, que não aposta no hard rock garageiro puro e simples de clássicos como “I’m Eighteen” e “Be My Lover”. Apesar da alma da banda ainda ser muito rueira, há uma certa sofisticação brotando de “Gutter Cat vs. The Jets” (minha provável favorita), “Blue Turk” (com direito a metais e clima de cabaré) e “My Stars” (quem só conhece os maiores hits precisa ouvir isso). Aquele jeitinho meio doente mental que os ouvintes apreciam dá as caras em “Alma Mater”, enquanto “Grande Finale” soa como uma pretensa trilha sonora para alguma aventura hollywoodiana, algo que a banda tentaria a sério pouco tempo depois, com “Man With the Golden Gun” (Muscle of Love, 1973). Como citei acima, não está entre meus favoritaços, mas é um grande disco.

Fernando: Acho que School’s Out é muito festejado pelo fãs, mas muito disso se deve à fantástica faixa-título. O restante não consegue se equiparar ao hino de rebeldia. Fazia um bom tempo que não ouvia o disco e foi legal relembrar outras faixas, como “Gutter Cat vs. The Jets”. Interessante como um artista tão ligado ao rock ‘n’ roll apresenta alguns elementos de jazz para o público, que quase nem se dá conta. A última faixa, “Grand Finale” é um bom exemplo disso.

Flavio: Um álbum consagrado da discografia de Alice Cooper (e sua banda), School’s Out se apoia no sucesso da faixa-título, calcada principalmente na temática lírica “escola/opressão”, que se tornou um clássico super executado até hoje em rádios rock do mundo, sendo realmente o destaque do disco. O restante mostra-se razoavelmente interessante, com algumas músicas fortes e outras nem tanto. Posso destacar “My Stars” (com ótima participação do guitarrista convidado Dick Wagner) e o ótimo baixo de Dennis Dunaway no “rock saloon” “Blue Turk”. Um bom representante de hard rock na série sempre é boa pedida.

Mairon: O disco em formato de classe escolar, que acompanhava ainda uma calcinha de papel – raríssima nos dias de hoje –, tem o maior clássico da carreira de Alice Cooper, que é a faixa-título. Com certeza é uma das melhores faixas dos norte-americanos, com uma baita pegada hard, solos fortes de guitarra – mérito do injustiçado Glen Buxton – e um baita refrão (quando as crianças começam a cantar, então, fica muito massa). Engana-se, porém, quem acha que School’s Out é um disco hard. O álbum é muito bem trabalhado e repleto de surpresas, como o piano de Bob Ezrin na ótima “My Stars”, uma sonzeira do cão que remete aos primeiros discos, com uma certa psicodelia também presente na vinheta maluca “Street Fight”, seguimento de “Gutter Cat vs. the Jets”, com o baixão fazendo a introdução e aquele sintetizador fazendo a ponte na história. O piano de Ezrin também é presença marcante no rock ‘n’ roll de “Public Animal #9”, de cuja fonte Rita Lee certamente bebeu (ops, dessa e de outras fontes da banda, hehehe!!) para fazer algo semelhante com o Tutti Frutti. O melhor do álbum, para mim, é o jazz maravilhoso de “Blue Turk”, com o trombone de Wayne Andre e um arranjo sensacional, e a pancada “Grande Finale”, um belo blues com Ezrin fazendo estripulias com o sintetizador e um empolgante arranjo de metais. Complementam o track list “Luney Tune” e “Alma Mater”, faixas menores de um ótimo disco, certamente um dos grandes da década de 1970, e que sim, poderia ter recebido um lugarzinho na edição abrangendo 1972 no lugar de Harvest (Neil Young), mas acho que não roubaria o lugar do Big Star. Baita lembrança!

Ronaldo: Após seu quinto álbum, Alice Cooper já tinha cátedra em matéria de delinquência no rock, ainda que não seja exatamente um precursor reconhecido de toda a farofada glam. Mesclando acid rock com vários outros estilos musicais (emulando um Frank Zappa de quinta categoria), School’s Out parece gozar da cara do ouvinte, e esse é o grande barato deste disco. Por si só, o rock brabo da faixa-título vale o disco, que se alterna entre bons momentos e outros de pura e frustrada pretensão.

Ulisses: Um rock até mais teatral do que eu imaginava e mais diversificado do que eu esperava. A banda vai, com tranquilidade, do hard rock (“School’s Out”) ao jazz (“Blue Turk”), mostrando ainda algo meio psicodélico (“Alma Mater”) e ópera rock (“My Stars”). Tudo isso em pouco mais de 30 minutos bem amarradinhos – estou impressionado. Também gostei de ouvir o baixo de Dennis Dunaway tão evidenciado na mixagem.


Mercyful Fate – In the Shadows (1993)

Christiano: O disco que marca o retorno do Mercyful Fate, que encerrou atividades após o ótimo Don’t Break the Oak (1984). Uma década mais tarde, as principais características de um dos pilares do heavy metal continuam intactas: excelentes solos e riffs de guitarra, os vocais teatrais do mestre King Diamond, composições elaboradas e, dessa vez ainda mais, a presença de elementos progressivos em faixas longas e nas mudanças de andamentos. Bons exemplos disso são as ótimas “The Old Oak” e “Legend of the Headless Rider”. Se compararmos In the Shadows com seus antecessores, fica claro que a banda conseguiu continuar soando bastante pesada, temática e musicalmente, mesmo que, nesse caso, tenha apostado em músicas menos aceleradas. Assim, considero que gravaram mais um clássico em sua discografia.

Alexandre: Um instrumental bem executado aliado ao indefectível vocal recheado de falsetes de King Diamond. Não gosto dos timbres dele, mas não dá para discutir sua importância para o estilo e sua influência. Preciso também reconhecer que seus vocais conseguem ser reproduzidos ao vivo, e isso não é uma característica comum à maioria dos vocalistas. Não morro de amores pelo álbum, mas consigo enxergar pontos positivos e algumas canções mais interessantes, a começar pela primeira, “Egypt”, que tem um riff bem legal puxado para o hard rock. Há algumas mudanças meio abruptas durante as músicas que soam meio forçadas, como no meio da quase faixa-título “Shadows”. A canção até é interessante, tem bons solos, sendo que o penúltimo deles é bem bonito e muito limpo. Trata-se de outra faixa que acaba se destacando, apesar da mudança citada. A mixagem da bateria me soou um pouco comportada demais para o estilo, mas é até natural que o instrumento não tenha lá seu destaque quando não há um baterista fixo. O som meio “xoxo”, em especial da caixa, não contribui para a agressividade que eu esperava do álbum. A única faixa que tem um belo som de bateria é a bônus, com participação de Lars Ulrich (Metallica). Acaba sendo um álbum no qual destaco o ótimo nível dos guitarristas e seus solos. Esperava um pouco mais da instrumental “Room of the Golden Air”, na qual eles teriam mais espaço, mas o tema não decolou, a despeito de outros ótimos solos. Coloco In the Shadows em um saudável meio termo. Não desagrada, mas não pertence aos meus favoritos desta edição. Ainda assim, apesar de ser um pouco datado para 1993, substituiria cerca de metade dos álbuns presentes na edição voltada àquele ano.

André: Já havia dito que gostava mais do King Diamond solo do que do Mercyful Fate. A banda do dinamarquês, contudo, deu uma crescida legal aos meus ouvidos com o decorrer do tempo. Como de costume, há muita variação de velocidade, temas de terror e/ou ocultistas e mistura de vocal normal e falsete por parte de Diamond. É um bom disco, há outros melhores na discografia da banda, mas creio que agrade legal quem já curte o grupo.

Bernardo: Negócio que a galera tem com a voz de Tom Waits eu tenho com a do King Diamond. Reconheço a qualidade da composição e a técnica assombrosa, mas tenho muita dificuldade me acostumar.

Davi: In the Shadows marcou o retorno do Mercyful Fate. Este é o primeiro álbum deles desde o clássico Don’t Break the Oath. Uma mudança marcante. As letras deixaram de tratar de temas satânicos para se inspirar mais em contos de horror, assim como acontecia na carreira solo de seu vocalista. Musicalmente, o álbum é forte. King Diamond continuou arregaçando nos vocais, usando e abusando de seus característicos falsetes. A dupla Hank Shermann e Michael Denner estava pegando fogo. O repertório é bom e trouxe algumas músicas extremamente cativantes, como “Egypt”, “The Bell Witch”, “Is that You, Melissa” e “The Old Oak”. Ótima lembrança!

Diogo: A primeira coisa a se fazer para avaliar um álbum como In the Shadows é desprender-se do passado. Sim, pois repetir a dose que foi a sequência Melissa (1983) e Don’t Break the Oath é algo praticamente impossível. Mesmo que a qualidade fosse muito próxima, o contexto seria tão diferente que as ideias seriam absorvidas de forma totalmente distinta. Dito isso, In the Shadows é um bom disco, sem a mesma inspiração do passado, mas com várias belas adições ao catálogo do grupo. Mais especificamente, as três primeiras e as duas últimas faixas. “Egypt”, “The Bell Witch” e “Return of the Vampire… 1993” podem não soar tão bem quanto aqueles clássicos compactos do passado, minados de grandes riffs em seus meros quatro ou cinco minutos, como “Evil”, “Curse of the Pharaohs” e “A Dangerous Meeting”, mas empolgam bastante e mostram que, apesar dos excelentes discos que King Diamond vinha lançando em carreira solo, o estilo de Hank Shermann é complementar ao seu e faz falta. Minhas favoritas são “The Old Oak”, mais longa e épica, com grande interação entre Hank e Michael Denner, uma das melhores duplas das seis cordas egressas dos anos 1980, e “Is that You, Melissa”, a mais digna do passado do grupo, que poderia tranquilamente se estender por mais alguns minutos. Esta indicação lembrou-me do seguinte: preciso ouvir melhor os álbuns lançados pelo Mercyful Fate nos anos 1990.

Fernando: Os dois primeiros LPs do Mercyful Fate são tão clássicos e ficaram tão marcados por terem sido os únicos lançamento da banda antes da carreira solo do King Diamond que In the Shadows não tem o reconhecimento merecido. Com o recente show do King Diamond no Brasil, que infelizmente perdi, acabei revisitando boa parte das carreiras dessas duas bandas e fiz questão de ouvi-lo algumas vezes. Lembro que gostei logo de cara na época do lançamento, por conta de “Egypt” e, principalmente, “Is that You, Melissa”. Sem esquecer que tem até participação de Lars Ulrich.

Flavio: Em um caso de amor e ódio, há apaixonados pelo estilo do vocalista King Diamond e outros que detestam. O Mercyful Fate sempre foi muito apoiado em Diamond e o óbvio é se aproximar ou se afastar da banda em razão do estilo vocal. Não gosto do estilo “choraminguento”, “trêmulo”, “apavorante/apavorado”, que se encaixa tão bem na banda. Tentando esquecer os maneirismos vocais de Diamond, encontro em In the Shadows um bom instrumental calcado no heavy metal clássico, com pitadas líricas de terror. Os músicos são ótimos e atuam com boa desenvoltura na bolacha inteira, fazendo inclusive com que ela seja bem uniforme e que não haja pontos fora da curva. Bom para os adeptos de Diamond e seu estilo, que devem ter adorado o “retorno da Melissa”…

Mairon: Belo disco de metal pesado dos dinamarqueses. Impressionante como ouvir os álbuns de King Diamond que entraram na série fez-me gostar das bandas (King Diamond e Mercyful Fate). Antes, não conseguia gostar muito do que ouvia. O trabalho de guitarra de Hank Shermann é louvável, principalmente nas longas “Legend of the Headless Rider” e “The Old Oak”, bem como na instrumental “Room of Golden Air” dividindo os méritos com o também exímio guitarrista Michael Denner. Já os vocais variados de Diamond destacam-se na citada “Legend of the Headless Rider” e em “A Gruesome Time”. Gostei de faixas trabalhadas, como “Egypt”, “Shadows”, “Thirteen Invitations” e me surpreendi com o peso de “The Bell Witch”. Só “Is that You, Melissa” que achei meio comunzinha, mas é uma boa música. Não é um melhor de todos os tempos, mesmo podendo ter entrado no lugar de alguns discos que deram as caras na edição voltada a 1993, mas é uma boa audição.

Ronaldo: Heavy metal tradicional, pesado, forte e direto. Ainda que para a década de 1990 soe um bocado old school, o Mercyful Fate tinha capacidade suficiente para fugir do óbvio do estilo, imprimindo um som cadenciado e variado, com grande interação entre os instrumentos. “Room of Golden Air” (instrumental) exemplifica fortemente essa ideia – a faixa tem inclusão de violões, teclados, efeitos explosivos de guitarra e muitas mudanças de andamento.

Ulisses: Disco que marca a reunião da banda, à exceção do baterista Kim Ruzz, tendo Morten Nielsen em seu lugar (e Lars Ulrich em “Return of the Vampire… 1993”, dependendo da edição). Um álbum competente, em que a dupla de guitarristas Shermann e Denner apresenta os costumeiros riffs e solos de alta qualidade. Entretanto, somente algumas faixas (“Egypt”, “Shadows” e “Is that You, Melissa”) tornaram-se novos clássicos da banda, dentro de um tracklist que não demonstra a mesma inspiração dos indispensáveis Melissa e Don’t Break the Oath, nem o mesmo foco na temática satânica.


Pink Floyd – The Division Bell (1994)

Christiano: Em uma de suas músicas, os Engenheiros do Hawaii, que nunca esconderam sua admiração pelo Floyd, mandam o recado: “Arte pela arte/Pink Floyd sem Roger Waters/forma sem função”. Embora seja um exagero, essa opinião ainda é corrente entre muitos fãs da antiga banda de Waters. The Division Bell mostrou que, mesmo após anos de estrada e uma ruptura conturbada, o Pink Floyd ainda era capaz de criar um disco excepcional, bonito e diferente de tudo que já haviam gravado. As letras longas cederam espaço aos climas oníricos e contemplativos, acompanhados pela voz calma de Gilmour. Algumas influências de New Age são perceptíveis em passagens instrumentais, contribuindo para a criação de uma atmosfera de extrema beleza. Embora seja um disco perfeito do início ao fim, não posso deixar de destacar momentos como “Poles Apart”, “What Do You Want From Me”, “A Great Day for Freedom” e “Lost for Words”.

Alexandre: Uma razoável volta, depois de um álbum (A Momentary Lapse of Reason, de 1987) que não tem lá tantos seguidores. No disco anterior, eles (ele: Gilmour) exageraram nos teclados modernosos, sons de bateria dos anos 1980 e backing vocals. A banda deixou de ser a banda e passou a ser um músico circundado de diversos contratados. Em The Division Bell, eles (com Richard Wright de volta) ensaiam um retorno parcial. “High Hopes” é o único momento do álbum que realmente me emociona. Há outros bons momentos, nenhum singular, que acabam por equilibrar outros não tão favoráveis e contribuem para deixar The Division Bell em um conceito mediano para mim. Gosto das duas faixas instrumentais do início (“Cluster One” e “Marooned”). “What Do You Want From Me” também é uma boa canção, mas é uma versão menos apimentada de “Have a Cigar” (Wish You Were Here, 1975), deixando os riffs da guitarra recheados de Phase 90 gravados em 1975 de lado. Aliás, Gilmour toca lindos solos, como no ínicio de “Coming Back to Life”, mas falta certa presença nas bases. Outra boa canção é “Keep Talking”, com a guitarra tão reconhecida nas frases de The Wall (1979). É uma pena que a canção cantada por Wright tenha tantos elementos eletrônicos. Mesmo trazendo o saxofonista Dick Parry (que participou de “Money” e “Shine On You Crazy Diamond”), é um dos momentos mais fracos. Pior do que essa é a tentativa de emular o U2 no uso de delays nas guitarras de “Take It Back”. Gilmour é muito melhor do que The Edge, não precisava disso. A verdade é que o Pink Floyd foi, desde Dark Side of the Moon (1973), paulatinamente se “supertrampizando”, se “alanparsonizando”, polindo seu som. Uma mudança que se faz mais clara em The Wall e mais ainda em A Momentary Lapse of Reason. O recuo em The Division Bell é bem-vindo, mas não se percebe em todas as faixas. Coloco este álbum entre razoável e bom. Teria espaço na edição abrangendo 1994 e é indicado para os fãs assíduos, afinal, com quase 30 anos de estrada, ouvir uma “High Hopes” é um senhor bônus.

André: Não tem jeito mesmo, insisto mas Gilmour não consegue me agradar sem um Waters para lhe escorar. Com certeza é um disco melhor que A Momentary Lapse of Reason e que seus álbuns solo, mas falta muita coisa para torná-lo grandioso aos meus ouvidos. Não nego, porém, duas faixas excelentes: uma é a espacial “Marooned”, música muito bonita. Já a melhor canção composta por Gilmour em toda sua carreira é “High Hopes”, com um solo de guitarra fantástico, uma progressão embasbacante que te faz ficar cada vez mais interessado na canção, que foi coverizada pela minha banda favorita (uns finlandeses aí). O restante é aquele Floyd suave, vagaroso, até meio soporífero. Quem sabe o disco me fisga melhor quando eu estiver aposentado.

Bernardo: Um fantasma de Pink Floyd como é boa parte da carreira do Pink Floyd pós-Roger Waters. Ainda assim é melhor que aquela sonolência em forma de música chamada The Endless River (2014).

Davi: Segundo álbum do Pink Floyd sem Roger Waters. Ainda que não seja possível compará-lo a clássicos como The Wall, Wish You Were Here e Dark Side of the Moon, é um trabalho bem bacana e bem superior tanto a A Momentary Lapse of Reason quanto a The Final Cut (1983). A ideia de voltarem a trabalhar como banda (Richard Wright é coautor de cinco faixas) fez com que vários elementos retornassem à ativa. The Division Bell é um álbum calmo, com arranjos marcados por backings femininos, teclados com passagens atmosféricas e um lindo trabalho de guitarra de David Gilmour. “What Do You Want From Me”, “Take It Back”, “Lost for Words” e “High Hopes” são perfeitas. O trabalho de guitarra em “Marooned” é lindo. A produção soa um pouco datada, principalmente pelo som de bateria, mas as composições ainda agradam 20 e tantos anos depois.

Diogo: Roger Waters pode ser um grande presunçoso em carreira solo (algo que já vinha manifestando em seus últimos anos com o Floyd), mas era a grande força por trás da banda, guiando seu estilo com suas composições marcantes e mostrando que não há técnica que supere o poder de uma grande canção. Digo isso pois, apesar de David Gilmour ser um instrumentista muito superior a Roger, assim como Richard Wright também era, nunca foi um compositor tão bom quanto. Não à toa, A Momentary Lapse of Reason talvez seja o álbum mais fraco da banda. The Division Bell é muito melhor, inclusive superior a The Final Cut e outros discos lançados nos primórdios do grupo, mas não chega a empolgar tanto assim. Sim, Gilmour está tocando muito bem e apresenta um timbre magnífico, mas falta um pouco de substância a faixas como “What Do You Want From Me”, “Poles Apart”, “Wearing the Inside Out” e “Coming Back to Life”. Todas são boas, mas, sei lá, falta um pouco de impacto. Ou quem sabe mais humanidade, pois o disco às vezes soa meio mecânico em sua aproximação com a tenebrosa New Age. Os dois grandes destaques de The Division Bell, essas sim canções magníficas, dignas daquilo que o grupo fez de melhor, são “Take It Back” (a impressão de eterna progressão potencializado pelo delay na guitarra é inesquecível) e “High Hopes”, com um pouco mais de dramaticidade, que cairia tão bem no restante das faixas. Talvez seja esse o “x” da questão, falta a dramaticidade que tornou tão especiais os álbuns lançados entre Dark Side of the Moon e The Wall. Vejam bem, eu gosto do disco, mas acho que é necessário passar um recado como este.

Fernando: The Division Bell apareceu quando ninguém mais esperava um disco do Pink Floyd. Apesar de gostar muito de A Momentary Lapse of Reason, sei que muita gente o vê como um disco menor e isso poderia ter encerrado a carreira da banda. The Division Bell é praticamente um álbum solo de Gilmour, já que tem a cara e o coração do guitarrista. Basta ouvir seus discos solo e notar as semelhanças. Alguns até dizem que poderia ter sido lançado assim, mas a participação de Rick Wright e Nick Mason impediria algo do tipo. Comento sobre ele em um publicação minha dos primórdios da Consultoria, quando ainda éramos um blog. Com certeza é um disco melhor que o anterior, e foi uma ótima oportunidade de sair de cena em alta – pelo menos até aquele momento.

Flavio: The Division Bell foi minha última escolha na lista que preparei para a edição voltada a 1994. É um belo álbum, que sofre um pouco pelo excesso de duração, típico dos discos lançados na era do CD. É sempre bom reouvir o grupo, principalmente o trabalho de Gilmour (em destaque absoluto). Há momentos típicos da carreira, como “High Hopes” (minha predileta), e belíssimos (“Marooned” e “A Great Day for Freedom”), além de outros que funcionam bem, como o single “Take It Back”. Há, porém, outros muito açucarados como a “soft” “Wearing the Inside Out” e a levíssima levada de “Coming Back to Life”. Gosto de ver o Pink Floyd um pouco mais vigoroso, mas há bons motivos para destacá-lo em The Divison Bell.

Mairon: Como é bom ver este disco na lista. Era uma das minhas escolhas. O Pink Floyd havia ficado quase sete anos sem lançar nada, e quando The Division Bell chegou às lojas, todas as revistas falaram super bem a seu respeito. O vinil azul é um chamativo extra deste belo disco. David Gilmour solta o vozeirão e manda ver naqueles solos carismáticos e envolventes. Adoro o andamento de “Coming Back to Life”, “Lost for Words” e “Poles Apart”, canções suaves com belos solos por Gilmour. Rick Wright tem participação importante na harmonia de “A Great Day for Freedom”. Das instrumentais, “Cluster One” é uma vinheta de introdução ao álbum, que não acrescenta muito, enquanto “Marooned” é tão linda que entraria fácil em um top 10 das melhores faixas que Gilmour já gravou em sua carreira, com um solo realmente belíssimo. E pôxa, como é bom ouvir o saxofone de Dick Parry e a voz de Wright na lindinha e simpática “Wearing the Inside Out”. Os grandes sucessos do disco ficaram por conta de “Keep Talking”, com uma breve fala de Stephen Hawking, “What Do You Want From Me” e “Take It Back”, que geraram videoclipes que rodavam direto na MTV, mas, particularmente, as considero as mais fraquinhas do disco. A principal faixa, porém, que também foi um grande sucesso, é a lindíssima “High Hopes”. Que obra prima que Gilmour deixou imortalizada para a história do Floyd. Linda, fantástica, tocante, emocionante e perfeita!! Uma lástima o Christiano não ter participado da edição dedicada a 1994, pois este grande disco teria entrado, já que votei nele na quinta posição.

Ronaldo: The Division Bell impressiona mais por toda a megaprodução que o envolveu do que exatamente pelo conteúdo musical. Há camadas e mais camadas de teclados e muitas linhas instrumentais sobrepostas, tudo de modo a valorizar um conteúdo musical que não surpreende de fato, especialmente em se tratando de Pink Floyd. Obviamente os precisos solos da guitarra de David Gilmour batem ponto, assim como as bem encaixadas trilhas vocais, mas para uma banda que naquela altura já tinha quase 30 anos de existência, não há nada que deixe de soar como mais do mesmo. Ainda desabona o disco o fato dele ser longo e apostar em ser apenas monocromático.

Ulisses: Este álbum leva muita pedrada por pertencer à fase em que Gilmour dominou a banda, após a saída de Waters. Embora não seja um clássico absoluto como os discos lançados na década de 1970, figura como um ótimo registro da plena capacidade do trio Gilmour/Wright/Mason. Wright, aliás, entrega uma das melhores composições em “Wearing the Inside Out”, com impecável interpretação vocal e uma letra de quebrar o coração (assinada por Anthony Moore), batendo de frente com a queridinha “High Hopes”. Também gosto bastante de “Poles Apart”, “Marooned” e “Lost for Words”. É um álbum espaçoso, melancólico, cheio de sutilezas que provocam arrepios no ouvinte. Tem toda a identidade da banda, mas sua sonoridade não soa deslocada nos anos 1990. Admito que, quando estava conhecendo o catálogo da banda e ouvi-o pela primeira vez, julguei que se tratava de um álbum sonolento. Entretanto, audições posteriores revelaram-se muito mais agradáveis: hoje em dia, o disco me provoca uma sensação de calma e reflexão que é bem-vinda, passando longe de ser um mero barulho de fundo. Boa escolha, Christiano! Comentei na minha própria lista que havia cogitado resgatá-lo, e ainda bem que mais alguém o tem em boa estima.


Tiamat – Wildhoney (1994)

Christiano: No início da década de 1990, algumas bandas de doom e death metal começaram a experimentar novos caminhos, ampliando os horizontes de um estilo até então bastante formatado. Entre esses grupos, talvez o Tiamat tenha sido o mais inovador. Em Wildhoney, os suecos resolveram experimentar novas sonoridades, mergulhando em climas sombrios e etéreos. Era como um encontro inusitado entre Dead Can Dance e Celtic Frost. Ao lado dos vocais guturais, característicos da banda, foram adicionadas vozes limpas, sussurrantes, teclados em abundância e sons da natureza. As guitarras pesadas não foram deixadas de lado, mas usadas em intervenções pontuais, desenhando um ambiente claustrofóbico. O resultado é um disco muito original, que mostrou novos caminhos para o que viria a ser chamado de doom/gothic metal atmosférico, influenciando uma infinidade de outros grupos. É interessante acompanhar os videoclipes produzidos para as ótimas “Gaia”, “Whatever that Hurts” e “Do You Dream of Me?”, que mostram, em imagens, um pouco da atmosfera do disco.

Alexandre: Um disco atmosférico que me lembrou de outro que ouvi para a edição dedicada a 2001 da série: Shadows of the Sun, do Ulver. Este é muito melhor, mas ambos têm algumas semelhanças que não a minha simples lembrança. Ambas eram bandas de metal mais extremo (death/black) enveredando por caminhos diferentes do estilo original, além das suas serem nórdicas, aquela norueguesa, essa sueca. Achei o disco um pouco lento demais e de instrumental entre o razoável e o bom. Reclamo também do estilo vocal, algo que me afasta de qualquer coisa mais extrema no heavy metal. Passa um pouco do limite que consigo suportar, principalmente quando o tom agressivo prevalece. Não é um estilo de voz elogiável, mas em algumas músicas, como “Do You Dream of Me?”, não me incomoda. A se elogiar, os timbres dos solos do guitarrista Magnus Sahlgner, que desenvolve belas harmonias, com alguma rapidez, em músicas como “Gaia” e na própria “Do You Dream of Me?”. A combinação dos teclados e suas intervenções são o que há de melhor no álbum. O início de “Planets” também é bem interessante. O restante me passou um pouco à margem. Não indicaria este trabalho para a série.

André: Gosto muito dessa banda. Um gothic metal variado que às vezes caminha pelo doom e pelo folk. Lindas atmosferas que misturam momentos de tensão, medo, beleza, grandiosidade e limpidez. Minhas faixas favoritas são as duas últimas: a instrumental “Planets” (que lindas atmosferas) e a singela “A Pocket Sized Sun”. Birgit Zacher nunca integrou alguma banda famosa, mas fez participações vocais em discos do Moonspell e do Sentenced (ambas ótimas bandas, também de gothic metal).

Bernardo: Um disco curioso. Apesar do elemento metal, também notei elementos progressivos. Pesquisando na Wikipédia sobre a banda, notei que o disco representou uma mudança de estilo. Não me conquistou, mas parabéns pela ambição.

Davi: Lembro de quando começaram a divulgar essa banda no Brasil. Ouvi uma outra musica por insistência dos colegas, mas nunca me cativaram. O mesmo acontece com Wildhoney. Este álbum ficou marcado por uma mudança sonora, pela qual se afastaram de vez do death metal. Bom, de vez não, porque a letra de “Visionaire” ainda é em cima da temática satanista, mas não há mais toda aquela velocidade dos dois primeiros discos. As passagens arrastadas e soturnas continuaram, constituindo o novo enfoque. Os vocais guturais também continuaram (basta ouvir “The Ar” para constatar). Continuo achando-a, porém, uma banda meio chatinha. O grande destaque, para mim, é o trabalho de guitarra de Magnus Sahlgren.

Diogo: Ouvi este álbum brevemente antes de elaborar minha lista para a edição dedicada a 1994. Lembro de ter gostado dele, mas certamente teria curtido mais caso tivesse escutado-o mais vezes, como fiz desta vez. Difícil pensar em outro disco que combine tão bem elementos extremos e atmosféricos quanto Wildhoney. A essência death/doom permeia o tracklist, com direito a vocais que defino como “semiguturais”, mas as experimentações e uma aproximação com o progressivo também dão o tom e se impõem nos momentos certos, moldando um álbum cativante. Alguns preferem chamar o que ouvem nele de “gothic metal”. Por mim, tudo bem, mas não é exatamente isso que percebo. Chegado no lado mais extremo como sou, destaco “The Ar”, com riffs simples e incisivos. Preciso muito explorar a discografia do Tiamat, mesmo que a qualidade dos outros álbuns não seja tão elevada quanto a deste. Aliás, é impressionante a quantidade de boas bandas que vicejaram na primeira metade dos anos 1990 na Suécia, todas com identidade própria, como Dissection, At the Gates, Hypocrisy, Dismember e Samael, além do próprio Tiamat e muitas outras. Cada uma tinha suas particularidades, ao contrário do que se observa atualmente no heavy metal, com uma infinidade de músicos tentando atingir sonoridades muito parecidas e usando os mesmos recursos.

Fernando: O Christiano já falou sobre o Tiamat e a respeito deste disco aqui na Consultoria. As influências que ele citou (Pink Floyd e King Crimson) fizeram-me ouvir o disco. Gostei, mas nunca mais o escutei. Bom ter a oportunidade de novo.

Flavio: Bom, eu não conhecia nada do Tiamat, apenas ouvira alguma referência como uma banda de death metal, que flutuava em mudanças de estilo. Verifiquei então que Wildhoney é tido como um clássico do metal psicodélico, trazendo um trabalho afastado do estilo original da banda. O disco apresenta uma mistura de um progressivo suave, com tons de psicodelia/new age e alguns elementos de death metal, notadamente o vocal mais gutural e o andamento mais cadenciado, remetendo também ao doom. Embora o vocal não seja tão predominantemente de estilo atonal e gutural (às vezes é até sussurrado), tampouco consigo apreciar, sobrando apenas o instrumental. Nesse ponto, destaco alguns solos de guitarra e violões aqui e ali (“Do You Dream of Me?”), um ou outro andamento menos ortodoxo e só, porque realmente não há nada muito cativante em Wildhoney.

Mairon: Nunca havia ouvido falar desta banda nem do álbum aqui apresentado. Para não causar preconceito, decidi ouvi-lo sem buscar informação alguma, e deixar levar-me pela experiência. Cara, que banda que faz um som estranho. Uma mistura de guitarras distorcidas, violões, muitos sintetizadores, vocais sussurrados, corais e vocais guturais, estranho demais. As músicas são emendadas umas nas outras, formando o que parece ser uma única suíte. Com exceção da vinheta instrumental “Kaleidoscope”, apenas com violão e barulhos de chuva, e da viajante “Planets”, não consigo destacar nada mais no álbum. Foi uma audição tipo pizza de mussarela no rodízio, ou seja, dificilmente eu vá pegar… Para melhor de 1994, jamé…

Ronaldo: Dada a data deste lançamento, compreendo a importância e inovação do disco para o desenvolvimento de uma nova vertente do heavy metal – aquela baseada em ritmos extremamente lentos e com um som tão melódico quanto melancólico e soturno. Contudo, é duro encarar álbuns com tão pouca imaginação. Apenas o lado B do disco traz climas um pouco distintos do apresentado no início do disco, por ter músicas sem bateria e sem guitarras, apontando para uma direção mais progressiva. Se não houver sintonia total do ouvinte com o estilo proposto, a apreciação fica em geral muito prejudicada.

Ulisses: Envolto em uma interminável névoa de melancolia, Wildhoney é considerado um dos grandes clássicos do chamado gothic metal, trazendo guitarras e teclados atmosféricos em uma ambientação etérea que procura mergulhar o ouvinte em passagens contemplativas. O álbum tem belos momentos, de fato, especialmente na faixa “A Pocket Size Sun”. No todo, porém, parece mais um experimento do que algo pensado de forma coesa e concentrada, tendo grande número de composições que não chegam a lugar nenhum, como “The Ar” e “Planets”, além de interlúdios desnecessários em “The 25th Floor” e “Kaleidoscope”. Johan Edlund é um bom guitarrista, mas seu gutural preguiçoso é um elemento negativo dentro das composições, vide “Gaia” (cujo instrumental é ótimo) e “Visionaires”. De qualquer forma, é um álbum que traz elementos interessantes e, por ser representativo dentro de seu estilo e época, sua audição acabou se tornando um pré-requisito entre os ouvintes neófitos do gênero; ainda assim, não me cativou na época em que o escutei e continuo dispensando-o agora, embora julgo que seria uma escolha melhor do que alguns discos ainda mais fracos do que ele na lista dedicada a 1994 (*cof, cof* Melvins e Bruce Dickinson *cof*). Em tempo: gostei das camadas de teclados e sintetizadores; uma Sharon den Adel cantando por cima delas faria milagres.


Savatage – The Wake of Magellan (1997)

Christiano: O Savatage sempre teve uma pegada meio épica, às vezes até progressiva. A primeira manifestação explícita dessa sua faceta talvez tenha sido o ótimo Gutter Ballet (1989). Em The Wake of Magellan, temos um álbum conceitual baseado em duas histórias intercaladas, cujo pano de fundo é a navegação. Musicalmente, considero este o seu disco mais elaborado. Com alguns elementos teatrais, principalmente nas vozes, climas épicos e passagens progressivas. Aliás, além dos arranjos e das partes instrumentais muito criativas, as vozes de Zachary Stevens e Jon Oliva são um destaque à parte. Faixas como “Paragons of Innocence” e “Turns to Me” deixam claro que ambos são extremamente versáteis e criativos. Infelizmente, este foi o último disco com essa formação, sendo seguido pelo derradeiro Poets and Madmen (2001), com Jon assumindo todas as vozes.

Alexandre: Não é uma banda que eu acompanho de perto, mas sempre tive boas lembranças quando os ouvi ou vi. Em 1998, no festival “Monsters of Rock” de São Paulo, deixaram uma ótima impressão. Havia indicado o último álbum deles, Poets and Madmen, para a edição voltada a 2001. Novamente deparo-me com a escolha de um álbum muito bom do grupo. Boas composições em sua maioria, muito bem gravadas, excelentes músicos e vocais, instrumental impecável. O disco começa muito bem, com duas faixas introdutórias: “The Ocean”, recheada de ótimos pianos, e “Welcome”, com aquela grandiloquência particular de bandas como Queen e Meat Loaf. As três músicas que se seguem são ótimas: “Turns to Me” tem ótimos solos, algo constante no álbum todo, aliás; “Morning Sun” tem um belo refrão, um bonito dedilhado de violões e também um solo fantástico em seu fim; “Another Day” traz o vocal de Jon Oliva e novos ótimos solos. Há duas belas instrumentais com importantes participações de teclados e guitarras que complementam bem a obra conceitual. A faixa-título também é excelente. A balada “Anymore” também me agrada. O problema é que o álbum poderia ser um pouco menor, portanto acaba perdendo certo fôlego em algumas faixas pelo meio. A música final, “The Hourglass”, acaba cansando um pouco também. Tivesse duas músicas a menos, ele seria perfeito, no meu entender.  Em minha lista abrangendo 1997, ele quase entrou. Na edição final, o incluiria facilmente no lugar dos Racionais.

André: Banda bem subestimada. Dentro do heavy tradicional com toques “espadinha”, são bem criativos em suas composições. Sem contar os vocais viscerais de Stevens e Oliva, quando o balofo se põe a cantar. E cara, este disco é foda. Peso, energia e um épico heavy tradicional sai de suas caixas. Belíssima lembrança!

Bernardo: Lembro de ter comprado este álbum na maior expectativa, há uns 12 anos ou mais, e ter achado o resultado apenas ok. A coisa toda meio progressiva meio power metal tem lá seus momentos, mas no geral permanece o sentimento morno.

Davi: Bacana ver o Savatage por aqui. Gosto muito deles, especialmente da fase pós-Streets (1991). Mantiveram a pegada que seus fãs esperavam. Ou seja, arranjos elaborados, mantendo o conceito de ópera rock. Backings cheios, guitarras com ótimos riffs, teclados orquestrados. Mais uma vez, Zak Stevens entregou um ótimo trabalho vocal, conforme podemos conferir com clareza em faixas como “Morning Sun”. Os grandes destaques, contudo, ficam por conta de “Turns to Me”, “The Wake of Magellan” e “Another Way” (esta última com o vocal de Jon Oliva). Não o considero um álbum tão forte quanto Handful of Rain (1994) e Edge of Thorns (1993). Ainda assim, trata-se de um bom disco.

Diogo: Citei este disco em minha lista voltada a 1997 em segundo lugar, mas poderia muito bem tê-lo mencionado em primeiro. Escolher o melhor álbum do Savatage em uma discografia bastante equilibrada é tarefa difícil, mas não discordo de quem aponta The Wake of Magellan como seu trabalho mais completo. Trata-se de uma obra conceitual que não sacrifica qualidade musical em prol das letras, criando uma história que se desenrola não apenas nas palavras cantadas por Zak Stevens e Jon Oliva, mas no grandioso instrumental levado a cabo por todo o grupo, lançando mão de temas que se repetem com sapiência e ajudam a construir um clima épico. Aliás, cabe frisar que, apesar de adjetivos como “grandioso” e “épico” poderem significar pomposidade excessiva e desnecessária em se tratando de heavy metal (de quase tudo na realidade), o Savatage sabe trabalhar esses elementos de modo que somem ao resultado. Trata-se de uma pomposidade mais próxima do Queen do que das bandas tidas como prog metal e power metal melódico, manjam? Ao menos para mim, a base de tudo é heavy metal e pronto, sem a necessidade de subclassificações. The Wake of Magellan constitui uma obra nivelada por cima, mas tenho predileção pela apoteótica abertura em três faixas – “The Ocean”, “Welcome” e “Turns to Me” –, a grandiosa música-título (com vocais que lembram os do Gentle Giant), a balada “Anymore”, a instrumental “The Storm” e o belo encerramento com “The Hourglass”.

Fernando: Apesar de saber que a principal produção do Savatage está entre os anos de 1987 e 1993 e que sim, Fight for the Rock (1986) é um disco fraco, o restante de sua discografia sempre esteve em um patamar muito elevado. Tenho um carinho especial por essa época, pois foi quando os vi pela primeira e única vez no festival “Monsters of Rock”, em 1998.

Flavio: Outra banda consagrada no “métier” heavy/prog, o Savatage preenche a lista do Christiano com seu penúltimo disco. Nada no álbum é colocado em exagero, o que aponto como um grande acerto na produção e também nas composições. Os vocais de Zachary Stevens, com timbres um pouco roucos, sem incomodar, acertam também, pois não atuam com despontes exagerados e super agudos, que se não estiverem bem colocados podem estragar uma boa execução vocal. Baixo e bateria bem encaixados suportam as guitarras que também estão no ponto certo. Bons solos, sem fritações extremas, acrescentam adequadamente as bases tipicamente em estilo heavy metal clássico, com momentos mais progressivos. Jon Oliva apresenta teclados bem ajustados, que dão o tom hard/progressivo no homogêneo The Wake of Magellan. Destaco “Turns to Me”, a épica “Underture” e a bela “The Storm”. Não fiquei fã de “Anymore”, mas o disco é bem consistente como um todo. Boa pedida.

Mairon: Lembro que ouvi o Savatage pela primeira vez lá por 2011, quando recebemos um CD para resenhar – acho que da gravadora Hellion – e o Diogo me disse que eu iria gostar. Ele acabou ficando com um do Europe e eu fiquei com aquela pequena bombinha, que não me agradou e acabei passando adiante anos depois (ou perdi nas tantas mudanças que fiz, não lembro mesmo). Este álbum é bem diferente daquele, e, assim como os demais que não conhecia desta lista, ouvi-o sem buscar referência alguma na internet, para realmente ser surpreendido. Bom, pelo que constatei, trata-se de um álbum conceitual, cuja história não consegui compreender bem (tem alguma coisa a ver com a vida, mas não peguei a moral no geral). É um disco razoável, com momentos interessantes e outros decepcionantes, mas confesso que achei melhor que Edge of Thorns (o tal disco que recebemos). Não consigo destacar algo positivo além de trechos específicos de “Turns to Me” (quando a música fica amena, levada por piano ou violão), “Overture” e “Underture”, mas, principalmente, que Al Pitrelli é um belo guitarrista. O solo dele em “The Storm” é fantástico, nessa que é a melhor do disco. Em “Another Way” também é muito legal, e ainda trouxe um “K” de “Kashmir”. Posso estar totalmente errado, mas é o que me veio à mente. Bah, a voz em “Paragons of Innocence” lembrou muito Alice Cooper. Até a pomposa “The Hourglass” não soa de todo ruim, fazendo algo no qual o Dream Theater se especializaria pouco tempo depois, nessa mistura de peso, falsas orquestrações e clima operístico. Teve muito disco ruim na edição abrangendo 1997. Sendo assim, seria uma alegria imensa ver The Wake of Magellan no lugar de coisas como Buena Vista Social Club ou Racionais MC’s, mas não é um melhor de todos os tempos…

Ronaldo: The Wake of Magellan vem com uma proposta interessante de ópera rock conceitual (a banda já tinha outros lançamentos nessa direção) para o heavy metal dos norte-americanos do Savatage. O que há de mais bacana é poder temperar seu competente heavy metal com teclados, violões e outros instrumentos orquestrais. Também se destaca a alternância entre vocais rasgados e outros bastante melódicos. O maior mérito do Savatage neste disco é pegar emprestado passagens de diversas facetas do rock pesado – thrash metal, doom metal, prog metal e até mesmo do hard rock –, combinando-as em um ótimo acabamento sonoro.

Ulisses: Já fiz força para gostar da banda, mas não consegui. Se minha memória não falha, ela não figurou em nenhuma edição da série, apesar de alguns votos dos participantes, mas é sempre recomendada nas rodinhas de heavy metal norte-americano, destacando especialmente Hall of the Mountain King (1987). Penúltimo álbum da banda, Magellan é uma ópera rock com mais daquela mistura do típico heavy metal norte-americano com o progressivo que a banda desenvolveu em sua carreira. Tem poucas composições fortes, apesar de usar seus elementos sempre a favor da narrativa, mas a audição ainda consegue ser decente, especialmente com a dupla Chris Caffery e Al Pitrelli (que daria uma passadinha no Megadeth em seguida) nas guitarras.


Richard Hawley – Lowedges (2003)

Christiano: No Brasil, Richard Hawley é praticamente desconhecido. Uma pena, dada a qualidade do seu trabalho. Lowedges é seu segundo disco, uma obra-prima construída no rastro de gente como Scott Walker e Roy Orbison. São canções calmas, tristonhas, acompanhadas pelo vocal grave e melancólico de Hawley. Os arranjos são sutis e enxutos. Não temos, porém, um artista que apenas tenta reviver o passado. Talvez por seu envolvimento com a cena indie rock (Elbow, Arctic Monkeys, Pulp), a estética sombria e melancólica de Scott Walker tenha sido atualizada para uma linguagem mais atual, criando um estilo muito peculiar. Vale a pena destacar as belas “On the Ledge”, “The Only Road” e “Motorcycle Song”.

Alexandre: Um disco muito lento, com algum acento country e inegáveis belas harmonias. Apesar de não ser um álbum de grande duração, levando em conta o ano em que foi lançado (como vários do período de consolidação do formato CD), me cansou um pouco. A voz grave de Richard até lembra outros artistas que habitaram de forma constante a série, especialmente Nick Cave. Gosto mais da voz de Richard, no entanto. Entre as belas harmonias, destaco “You Don’t Miss Your Water (Till Your River Runs Dry)”. A bonita instrumental “Danny” dá uma diversificada, pois faz a gente descansar um pouco do vocal grave de Hawley, e também posso citá-la como um ponto favorável. Lowedges essencialmente parece-me bastante melancólico, expressando bastante sofrimento, “dor de cotovelo” mesmo. No conjunto desta lista, é um dos que menos me chamaram atenção, pois de certa forma é meio óbvio dentro de seu estilo. Além disso, é cansativo, pela pura totalidade de canções mais lentas. Ainda assim, provavelmente teria lugar na edição abrangendo 2003, pois toda a década em si é muito inconstante em termos musicais para mim . E há um disco do Sleep naquela edição que é de doer…

André: Não conhecia o sujeito. O instrumental é legalzinho, mas achei o vocal grave de Howley mais ou menos para quem se presta a tocar pop rock. Parece que instrumental e vocal não se bicam. Possui, porém, o mérito de ser diferenciado dentro do estilo.

Bernardo: Também sou um grande admirador de “chamber pop/baroque pop” e devo dizer que esse cara foi uma baita revelação para mim, já tendo tocado no Pulp e colaborado com a nata do rock inglês recente. Introspectivo, sóbrio e comovente na medida certa. Certamente ouvirei outras vezes.

Davi: Disco bem feitinho, bem produzido, mas que nitidamente não é minha cara. Lowedges é um trabalho bem melancólico, bem low-key, tanto na construção dos arranjos quanto nas linhas vocais. Os arranjos são bem cuidados, com bastante slide, pedal steel, baixo acústico… Bem tocado, linha vocal correta, mas achei o repertório chatinho. A única música que me chamou atenção e que achei super bonita é “Run for Me”. Achei o resto monótono, mas foi interessante de conhecer.

Diogo: Nunca havia ouvido falar nem do autor nem da obra. O rótulo “chamber pop” a ele dado soa adequado. Músicas de muito bom gosto e arranjos enxutos, transitando na totalidade pelas baladas, que não pecam nem pelo excesso de açúcar nem pela pieguice. A voz grave de Richard confunde-se muitas vezes com o próprio baixo; especialmente em “Only Road”, parece até haver certa sobreposição de frequências, mas essa é apenas minha impressão. “You Don’t Miss Your Water”, original do cantor norte-americano William Bell, que conheci através do The Byrds, foi uma bela escolha para ser coverizada, uma vez que adaptou-se perfeitamente ao restante do tracklist sem sacrificar melodias. Ao lado de “Run for Me”, constitui o fino de Lowedges, mas todo o álbum permite-se escutar com muita tranquilidade.

Fernando: Não sei de onde o Christiano tirou esse cara. Nunca havia sequer lido seu nome. Cantor e compositor clássico que emprega outros instrumentos (além do violão) apenas para preencher buracos nas músicas. Só eu achei “Oh My Love” floydiana? Fase do The Division Bell, que apareceu lá em cima. Em uma lista só de acertos, imaginei que este seria o disco que eu teria que depreciar, mas não deu. Christiano acertou em todas as escolhas.

Flavio: O mais novo da lista, mas que parece um dos mais velhos. Em estilo retrô total, com uso de violões e canções açucaradas, combinadas com o vocal rouco e de pouca extensão de Richard, talvez tenha sido o que menos curti nesta seleção. As guitarras limpas, acompanhadas de uma monótona e arrastada “base de churrascaria” realmente “saem do nada e vão para lugar nenhum”. Deste não destaco nada. Que o Christiano me desculpe.

Mairon: Mais um disco (e artista) do qual nunca havia ouvido falar. De Lowedges sai um som suave, no qual o vozeirão de Hawley é a atração principal, na linha de Johnny Cash, mas com canções muito leves e simpáticas. Gostei de ouvi-lo e destaco “The Only Road”, com um bonito dedilhado de violão e um baixão acústico que me lembrou “Walk on the Wild Side”, a delicadeza de “You Don’t Miss Your Water (Till Your River Runs Dry)” e a emocionante instrumental “Danny”, com mais um bonito dedilhado de violão. Para se ouvir em um dia no qual se queira ficar só, Seria legal ter visto este álbum na edição voltada a 2003, teria dado um sabor diferente para aquela lista.

Ronaldo: Há um grande risco quando um disco se apoia em um conjunto muito pequeno de características. Uma das situações mais frequentes é achar que um álbum funcionará sendo integralmente composto por baladas ou músicas lentas. Apesar do vozeirão de Richard Hawley e uma produção bastante caprichada, chega em um ponto em que o trovador não consegue mais falar dos mesmos assuntos sem se repetir. Há belos momentos no disco, como “The Motorcycle Song”, “I’m on the Nights” e a linda instrumental “Danny”, mas o trabalho não soa bem como um todo.

Ulisses: Melancólico e introspectivo, este Hawley traz pouco de novo ou impressionante dentro de seu estilo, mesmo apresentando um álbum bem produzido e que conta com boa diversidade de instrumentos. Mas há algumas jóias, é verdade: “Run For Me”, “You Don’t Miss Your Water (Till Your River Runs Dry)” e especialmente a divina “The Only Road” são belíssimas. O restante do tracklist não faz feio, mas fica parecendo música de fundo perante os destaques já citados – para os fãs desse jeitão de trovador melancólico, ainda vale a conferida. Também me chamou atenção o fato de que Hawley é um excelente letrista.

68 comentários sobre “Melhores de Todos os Tempos – Aqueles que Faltaram: por Christiano Almeida

    1. Gostei muito de todos os comentários.
      Acho muito interessante que as críticas destacam coisas que nem eu mesmo tinha percebido nos discos que indiquei.

    1. Pensei a mesma coisa quando recebi os teus comentários. Achei que estava meio fora da casinha, mas o fato é que eu sinto nesse disco muita aproximação com a psicodelia inglesa.

  1. A treta que o Christiano cita entre Paul e John, no álbum Ram, é bem destacada no livro do Paul que comentei há dois dias

    1. “Sei que parece algo simplista, mas essa capa (horrível) não teria alguma ligação com a do Pet Sounds?” A capa é uma homenagem ao John Lennon, não aos Beach Boys …

  2. Grande surpresa o fato de The Division Bell dar as caras aqui nesta lista do Chris, afinal de contas adoro o Pink Floyd e gosto de quase toda sua discografia.
    Melhor disco da banda sem Roger Waters, David Gilmour fez muito bem seu papel de novo líder do maior gigante do prog rock em todos os tempos.
    Como este disco fez falta na lista de 1994!

  3. Ola,
    Excelente artigo, e os comentários são bons tbm , parece que o pessoal gosta mesmo de Rock clássico / puro.
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    1. Coisa feia vocês comparando o genial e divertidíssimo Alice Cooper ao mala-mor Frank Zappa. Deus está vendo, viu? Depois não digam que não avisei…

      1. hahahahahaha! é só na coisa de tentar ser engraçadão! musicalmente, a titia não tinha substância pra igualar o Zappa, que concordo, tem lá suas chatices. Eu o prefiro mil vezes sendo instrumental.

        1. “Musicalmente, a titia não tinha substancia pra igualar o Zappa”.

          Mais uma vez, Papai do Céu está observando tudo… Não se esqueçam!

  4. Achei que o Christiano, por ser o criador da série Notorious, iria trazer um punhado de eletrônicos para a lista. Mas não colocou se quer UM disco dos anos 80 … #chatiado

    1. Também achei que colocaria um monte. Fiz uma lista e fui cortando. Depois percebi que não entrou nada dos anos 80. Vai entender…

  5. “De boa, “Ram On” lembrou-me vagamente a musiquinha da Ultragaz.”
    Agora vou lembrar disso toda vez que escutar o disco!

  6. Alexandre, de fato, esse disco do Tiamat tem um climão bem parecido com o “Shadows of the Sun”, só que foi feito 20 anos antes.

    1. O que é um inegável mérito, além do álbum em si também ser melhor que esse sucessor.

      Alexandre

    1. Sim, gravou. Ficou boa. Mais pesada, mas bem tocada. Faz tempo. Na fase da Tarja ainda (aquela belezinha), mas quem cantava essa era o Marco Hietala (baixista).

      1. Se foi o Marco que cantou, o melhor mesmo é passar bem longe disso aí. Que desperdício ter boas cantoras e permitir que esse cara avacalhe com as músicas.

        1. Tá aí o The Who que não nos deixa mentir (o Townshed cantando perto do Daltrey era uma puta sacanagem) kkk…que venham as pedras!

          1. Por mais fraco que seja, o cara ainda atura o Towshend de bom grado. Há uma certa visceralidade naquela voz estranha dele. Já o Marco Hietala é caso de passar de faixa em poucos segundos.

  7. “ara uma banda que naquela altura já tinha quase 30 anos de existência, não há nada que deixe de soar como mais do mesmo.”

    Impressionante como tem bandas que hoje, com 30 anos, se quer tem metade de uma criatividade gigante como o Pink Floyd já tinha em 94 …

  8. “só eu achei “Oh My Love” floydiana? Fase do The Division Bell, que apareceu lá em cima”

    Acho que sim, Bueno

  9. Destaco também o uso de pizzicatos nos violinos em “The Good Humor Man He Sees Everything Like This”.

    Adivinhar que o cara tá solando com uma Fender Stratocaster eu até consigo, mas detectar pizzicato em violino, olha, só nascendo de novo pra eu conseguir ter essa percepção.

    1. Cara, honestamente, acho mais fácil identificar um pizzicato que saber se é Fender Strato ou qualquer outra Strato

      1. Sem dúvida é mais fácil ouvir os pizzicatos. Se você consegue identificar os single-coils das Fenders, vai tirar de letra o uso da técnica específica nos instrumentos eruditos de cordas…

        1. Tb acho mais fácil identificar pizzicatos do que diferenças entre guitarras. Essa técnica de pizzicato em muito frequente em trilhas sonoras de desenhos animados e filmes infantis, para dar uma clima de surpresa ou até mesmo de algo desengonçado.

          1. Perfeita a citação dos exemplos. Consultoria do Rock é cultura!

            Alexandre

  10. …antes da moda psicodélica ser substituída pela tendência mais “raiz” de “White Album” (The Beatles, 1968), John Wesley Harding (Bob Dylan, 1967) e American Beauty (Grateful Dead, 1970).

    E, por que não, de “Sweetheart of the Rodeo” (The Byrds), “Buffalo Springfield Again” (Buffalo Springfield) e “Music from Big Pink” (The Band), entre outros.

  11. O piano de Ezrin também é presença marcante no rock ‘n’ roll de “Public Animal #9”, de cuja fonte Rita Lee certamente bebeu (ops, dessa e de outras fontes da banda, hehehe!!) para fazer algo semelhante com o Tutti Frutti.

    Explane melhor, por favor.

        1. O guitarrista do Alice Cooper pegou a Rita Lee na turnê da banda por aqui … E depois, se não me engano, ela foi para os US um tempo com ele (não lembro qual dos guitarras foi, mas acho que o Buxton)

          1. Não foi o guitarrista. Foi um cara da equipe. Se chamava Andy Mills. Deu uns pega nela e o Arnaldo ficou enciumado, mesmo que o casamento dos dois já tivesse ido pro vinagre… Eles estavam separados, mas ele ainda gostava dela. O Arnaldo tb esteve no show da tia Alice em Sampa, mas não sei se ele era fã ou se foi pra ver como era o show…
            O Andy Mills depois produziu o Fruto Proibido do Tutti-Frutti. Provavelmente, a influência é daí…

          2. Ó o que eu estou dizendo: já surgiram inconsistências. Há muita história na música baseada em rumores que acaba ganhando uma dimensão muito maior do que deveria, e várias vezes isso não corresponde à realidade. Pessoal distorce uma coisa aqui, outra acolá, passam adiante, pessoal repete, dali a pouco viram “verdades”.

          3. Independente, o fato é que a Tia Rita andou provando linguiça importada …

          4. Foi o Andy Mills mesmo. A Rita comenta dele na autobiografia dela. Quem foi pro EUA com um musico da banda foi a prima do Arnaldo Baptista, a Claudia, que hoje atende pelo nome de Monja Cohen.

          5. Perfeito Davi. Eu que errei mesmo. Mas o caso é como eu disse, Rita provou da fruta

        2. Acho que a Rita Lee tb arrematou uma parte do equipamento de palco da banda. Já li isso algumas vezes.

  12. “What Do You Want From Me” também é uma boa canção, mas é uma versão menos apimentada de “Have a Cigar”

    Nunca havia me dado conta da semelhança, mas agora ela me parece óbvia. E bota menos apimentada nisso, ainda mais que “Have a Cigar” é minha provável preferida de “Wish You Were Here”.

    Pior do que essa é a tentativa de emular o U2 no uso de delays nas guitarras de “Take It Back”

    Também não havia me dado conta disso, há mesmo um quê U2 nessa canção em razão das guitarras. Nesse caso, porém, eu gosto muito do resultado, como deixei claro.

    1. Difícil separar a melhor do Wish You Were Here. Tarefa digna de uma escolha de Sofia.
      A semelhança sem pimenta atende pelo nome de um efeito de guitarras: O indefectível Phase 90.

      Alexandre

  13. Lembro que ouvi o Savatage pela primeira vez lá por 2011, quando recebemos um CD para resenhar – acho que da gravadora Hellion – e o Diogo me disse que eu iria gostar.

    Rapaz, eu disse isso? Nossa, hoje em dia isso nem passaria pela minha cabeça.

    1. Inclusive disse: “vou ficar com o Europe pq tenho certeza que vc vai curtir esse disco mais do que esse do Europe”

  14. Ronaldo, se houver interesse, experimenta dar uma ouvida no “Hall of the Mountain King” ou no “Gutter Ballet” uma hora dessas, de repente podem te agradar.

    1. Olá Diogo! eu já ouvi algumas coisas do Savatage e sempre me soou bem. A música “Hall of the Mountain King” acho foda! um heavy metal super trabalho e empolgante! mas o disco todo ainda não conheço.

      1. Então você já está ligado, maravilha. É uma baita música mesmo, épica sem ser maçante. O riff de guitarra de abertura é muito marcante, meio diferente do estilo mais batido. Não sei como expressar bem pois não conheço a terminologia, mas é, por exemplo, como o riff de “The Number of the Beast”, que sai daquele staccato mais comum, entende?

        1. Eu tb não sei o nome ao certo da técnica de palhetada neste caso, mas sei perfeitamente do que vc tá falando!

  15. Achei que ficou boa a lista do Christiano, principalmente pela lembrança ao Savatage, Jethro Tull e ao Alice Cooper.

    Até me surpreendi em ver Wake of Magellan, não achava que o Christiano gostava dessa banda.

  16. Mais uma vez agradeço a oportunidade de participar da série e aprender por aqui, além de rever alguns álbuns cuja memória já andava meio desfavorecida. Uma bela lista do Christiano,também destaco os discos do Savatage e do Jethro.

    Saudações à todos, até o fim deste mês.

    Alexandre

  17. Na minha opinião, o disco mais completo da Tia Alice é o Raise Your Fist And Yell da fase “farofa” dos anos 80. É o disco mais heavy da discografia do Alice Cooper.

  18. O Forever Changes é um grande disco, mas na minha opinião é um pouco superestimado. O disco abre com uma das melhores músicas dessa época; a segunda e terceira mantêm a qualidade lá em cima, mas penso que a segunda metade do álbum é mais “comum”. Boas músicas, mas não são dignas de todo o alarde que é feito. Mas recomendo muito o Forever Changes. Fiquei com Alone Again Or na cabeça por meses…

  19. O que é engraçado nesse álbum do Paul é justamente ele esculhambando o Lennon e a Yoko. Mas essa briga era apenas temporária, porque durante o famoso “final de semana perdido” do John, eles voltaram a ter contatos e até fizeram uma jam juntos, se não me engano, até com o Keith Moon. Dizem até que Paul foi responsável pela reconciliação do Lennon e da chatérrima da Yoko. Não dá pra entender o McCartney, ele se emputeceu tanto com a aporrinhação da Yoko, quebrou o pau com o John por culpa dela, e no fim ajuda a reatar os dois. Que beleza….

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