Matérias mais acessadas da história do Consultoria do Rock: Agosto de 2011

Matérias mais acessadas da história do Consultoria do Rock: Agosto de 2011
Durante os meses de janeiro e fevereiro, o blog estará de férias, por isto estaremos publicando novamente as matérias mais acessadas a cada mês nestes dois anos de Consultoria do Rock, sempre às terças, quintas e sábados. Chegamos ao mês de agosto de 2011.

Em agosto de 2011 foram publicadas trinta e cinco matérias, sendo a mais acessada até o final de 2012 esta, por Fernando Bueno (a qual, aliás, é a segunda matéria mais acessada da história do Consultoria do Rock):

Discografias Comentadas: Guns N’ Roses

Por Fernando Bueno
Hoje em dia o Guns N’ Roses é encarado por muitos como uma banda cover de luxo. Nesses últimos anos, suas turnês, se é que podemos chamá-las assim, são marcadas por incertezas quanto ao cumprimento de datas, cancelamentos, multas por atrasos exagerados e muita confusão. Claro que confusão é o que mais aconteceu mesmo nos anos de ouro do grupo. Axl Rose é conhecido mundialmente como encrenqueiro, e mesmo no Brasil já tivemos alguns chiliques históricos, como o episódio no qual uma cadeira foi arremessada contra jornalistas em 1991, na cidade de São Paulo.
Formação recente do Guns N’ Roses
Além dos problemas citados o GNR também carrega desconfiança no aspecto musical. Seus três ótimos guitarristas atuais são vistos com receio pelos fãs antigos que não enxergam em nenhum deles um ícone como Slash. O fato de possuir apenas um músico da formação original, o próprio Axl Rose, também não ajuda muito. Outro problema muito importante é a óbvia perda da capacidade vocal sofrida pelo líder. Quando comecei a ouvir a banda, lembro de ter ficado surpreso ao ouvir a sua voz natural, muito grave, totalmente diferente do seu estilo ao cantar. Imaginava o quanto Axl deveria forçar a garganta para cantar daquele jeito. Isso talvez explique um pouco o prejuízo vocal sofrido ao longo dos anos. Também não podemos esquecer que os excessos de longa data um dia seriam sentidos.
Formação clássica
Comecei o texto apontando todos os defeitos atuais do Guns N’ Roses para demonstrar quanto a imagem da banda está arranhada se compararmos com o final dos anos 80 e início dos anos 90, época de enorme sucesso, quando o grupo dominava o mundo da música. Basta lembrar-se da histórica turnê com o Metallica, que também estava em seu auge mercadológico com o lançamento de Metallica (1991). Mesmo com o quarteto no topo, o Guns N’ Roses foi o headliner da turnê, que tinha ainda o Faith No More.
Muitas bandas dos anos 70 fizeram a máxima “sexo, drogas e rock and roll” ser reconhecida. Mas o Guns N’ Roses é uma das que melhor fez tudo isso valer com enorme autoridade. Para conhecer mais detalhes a respeito da trajetória do grupo, confira nosso podcast a respeito do grupo, publicado algumas semanas atrás. Aliás, por que não ouvi-lo durante a leitura desta discografia comentada?
Appetite For Destruction [1987]
Fico imaginando quantas bandas em todo o mundo sonham em lançar um primeiro disco. Muita gente deposita todas as suas esperanças em canções que compuseram durante toda a juventude e acham que estão aptos a gravá-las. Muitas vezes a falta de experiência e a pouca grana faz com esses discos resultem em fracassos. É claro que não foi o que aconteceu aqui. Muito pelo contrário, já que Appetite For Desctruction vendeu mais de 25 milhões de cópias. Mesmo sendo relacionado às bandas de glam metal que estavam em ascensão na época, o GNR se destacava devido à urgência que emanava de seu som. Parecia que seus integrantes constituíam um bando de fugitivos, encontrados na rua e colocados dentro de um estúdio. Eles eram mais sujos e agressivos do que as outras bandas. Normalmente comentamos sobre os destaques dos discos, porém, são tantas músicas boas juntas que posso dizer que apenas “Anything Goes” é fraca. O nível das canções é muito alto, mas é claro que algumas tiveram mais destaque que outras, como as super conhecidas “Sweet Child O’ Mine” e “Paradise City”, que tocavam à exaustão nas rádios. O refrão de “Paradise City” é inconfundível. Interessante que muita gente diz que o riff principal de “Sweet Child O’ Mine” não é nada mais do que uma sequência de notas usada em exercícios de guitarra. Pode até ser, mas esse exercício tornou-se uma das linhas mais conhecidas de todos os tempos. Aliás, o trabalho das guitarras no álbum é fantástico, rico em excelentes bases e riffs executados por Izzy Stradlin, o principal compositor até então, temperados com os solos inspiradíssimos de Slash. “Welcome to the Jungle” e “Nightrain” são clássicos que exemplificam muito a urgência e agressividade citadas anteriormente. “It’s So Easy” é cantada por Axl em um tom mais grave, o que me fazia pensar que era outra pessoa que tomava o microfone na faixa quando comprei o álbum. Por se tratar de uma banda “de rua” os temas como drogas e violência não poderiam ser deixados de fora. Muitas dessas músicas falam sobre isso, em especial de drogas, como em “Mr. Brownstone”. O sucesso de Appetite For Destruction deu à banda a chance de tocar na edição de 1988 do então maior festival de rock do mundo, o Monsters of Rock, junto a Kiss e Iron Maiden. “Rocket Queen” é uma das minhas preferidas. No começo de minha vida musical eu costumava usar essa faixa para rebater os amigos que insistiam em dizer que o baixo não faz diferença nenhuma na música. Considero esse o principal disco da segunda metade dos anos 80. Ele foi o responsável pelo interesse de muitos pelo rock, e mudou a forma de como o gênero era encarado até então, abrindo caminho para que muitas outras bandas estourassem. Foi o segundo disco que comprei na minha vida.
G N’ R Lies [1988]
Com a banda atraindo cada vez mais atenção e sem ter um novo disco completo para ser lançado, sua gravadora, a fim de aproveitar mercadologicamente essa exposição, pegou o material de um EP, que havia sido gravado em 1986, Live ?!*@ Like a Suicide, e acrescentou quatro músicas que foram gravadas na forma acústica. O EP serviu para que a gravadora fizesse um teste em estúdio com os novatos, que na época era apenas uma banda de clubes. Teoricamente, trata-se da gravação de uma apresentação em um desses clubes. Porém, algum tempo depois, Axl Rose revelou que as músicas nada mais eram que a gravação de uma demo com a platéia em overdub. São quatro músicas, sendo dois bons covers “Nice Boys” (Rose Tattoo) e “Mama Kin” (Aerosmith); e duas músicas autorais: “Reckless Life” e “Move to the City”, essa última composta ainda nos tempos do Hollywood Rose, antiga banda que, juntamente com o L.A. Guns, foi o embrião do Guns N’ Roses. No lado B estão as quatro faixas acústicas: “You’re Crazy”, que já havia sido gravada em Appetite For Destruction, aqui mais lenta e adaptada aos violões; “One in a Million”, com uma tímida guitarra distorcida no acompanhamento, e “Used to Love Her”, que foi escrita, segundo o próprio Rose, para sua cachorrinha. Não poderia deixar de citar o megassucesso “Patience”, música que embalou muitos e muitos bailinhos na época. O assobio no início da canção é uma das melodias mais reconhecidas dentre aquelas que utilizam desse tipo de som. Sempre achei que Lies foi muito importante para a banda pois essas músicas mais sossegadas diluíram um pouco a sonoridade agressiva do primeiro disco, fazendo com que a imagem de “banda mais perigosa do mundo” fosse deixada um pouco para trás. Isso se deve, principalmente, pelo fato de “Patience” ter caído no gosto das mulheres. Claro que isso ajudou a afastar os marmanjos que não gostam muito de dividir as bandas de rock com as garotas. Inclusive, já escrevi um artigo na Consultoria do Rock a respeito desse assunto. Para lê-lo, clique aqui.
Use Your Illusion I [1991]
Não conheço na história alguma outra situação na qual uma banda tenha lançado dois álbuns de músicas autorais e inéditas simultaneamente. Por isso, é praticamente impossível comentar esse disco sem fazer uma comparação com a parte II. Podemos avaliar esses lançamentos de duas maneiras diferentes: uma evolução musical do grupo com arranjos e construções mais elaborados, ou uma clara demonstração de megalomania, principalmente por parte de Axl Rose. Muitos já disseram que o enorme sucesso do grupo com o primeiro álbum e também com o G N’ R Lies afetou a percepção de realidade do grupo. Axl Rose sentia que poderia se tornar um astro nos patamares de Freddie Mercury e Elton Jonh. Mesmo assim, no meu modo de ver, esse projeto ambicioso tocado pela banda foi muito bem executado, e o Guns N’ Roses cresceu de maneira sustentável. O grupo continuou registrando músicas agressivas, mas acrescentou outras facetas à sua sonoridade. Use Your Illusion I é mais hard rock que o segundo e traz maior participação de Izzy Stradlin, justificando em parte os motivos para que o guitarrista tivesse deixado a banda logo após a gravação dos álbuns. Músicas como “Right Next Door to Hell”, “Perfect Crime”, “Bad Obsession” e “Double Talkin’ Jive” são ótimos exemplo do que digo. “Dust n’ Bones” e “You Ain’t the First” têm claras influências de Aerosmith, enquanto “The Garden” traz um jeitão de rock sulista norte-americano. O que dizer da versão para “Live and Let Die” do grande Paul McCartney? Muitos odiaram, mas será que isso se deu porque a releitura ficou ruim mesmo ou devido ao pensamento de alguns puristas, que acham que uma banda como o GNR não pode profanar hinos sagrados? Os maiores sucessos de Use Your Illusion I foram “Don’t Cry” e “November Rain”. A primeira conseguiu captar a atenção de todos aqueles que já gostavam de “Patience”, enquanto a segunda é um ótimo exemplo da evolução e do acréscimo de novos elementos na música do Guns N’ Roses. O videoclipe é um clássico, e até hoje lembro-me da primeira vez que foi exibido no programa Fantástico. Só o fato de uma música de mais de nove minutos ter um clipe sendo exibido por completo em um programa desse porte mostra o quanto a banda era respeitada na época. Outra longa faixa é “Coma”, dotada de altos e baixos. Para completar: em 1990, o baterista Steven Adler havia deixado o grupo, dando lugar a Matt Sorum, ex-The Cult.
Use Your Illusion II [1991]
Use Your Illusion II é mais equilibrado que o primeiro, possuindo mais músicas de alto nível, apesar de contar com a horrível “My World” e a irregular “Locomotive”, que tem uma empolgante introdução de bateria, mas que não mantém a mesma energia ao longo de seus quase nove minutos. Confesso que hoje em dia não posso nem mais ouvir o cover para “Knocking on Heaven’s Door” (Bob Dylan) de tanto que ela era executada logo após o lançamento, mas se analisarmos bem, o grupo fez um bom trabalho. A versão alternativa de “Don’t Cry” poderia ser chamada de versão desnecessária, afinal, se alguém quer ouvi-la, é melhor escutar a do primeiro volume. Diz a lenda que Axl estava tão inspirado, que, à medida que a cantava, mais e mais palavras vinham à sua mente, por isso o grupo acabou registrando uma nova versão com letra distinta. “Get in the Ring” é outra muito criticada, principalmente por ser uma resposta, até certo ponto infantil, a alguns críticos musicais que ousaram fazer resenhas negativas a respeito do grupo. Axl Rose sentiu-se perseguido e quis soltar essa divertida provocação. Fora isso, só temos coisas boas. A sequência inicial com “Civil War”, “14 Years” e “Yesterdays” é para ouvir sem parar. Apesar da saturação radiofônica de “You Could Be Mine”, presente na trilha sonora do filme “O Exterminador do Futuro II”, ninguém pode dizer que não se trata de um clássico. A calma e triste “So Fine” é ótima para se ouvir sozinho, de preferência com uma bebida na mão. “Pretty Tied Up”, com seus muitos backing vocals, resgata o hard rock presente no primeiro volume. E o que dizer de “Estranged”, minha favorita do grupo? Muitas variações de andamento em mais uma música de longa duração, dando até um certo ar de rock progressivo para a faixa. As melodias criadas por Slash são fantásticas, fato que inclusive motivou um agradecimento especial no encarte do disco pelas “matadoras melodias de guitarra”. Muito do sucesso dos dois volumes de Use Your Illusion se deve ao fato de diversas músicas já terem sido executadas ao vivo antes mesmo de seus lançamentos. Para a gravação dos álbuns, outro componente foi acrescentado ao line-up, o tecladista Dizzy Reed, que continua com Axl até hoje.
“The Spaghetti Incident?” [1993]
Quando soube que o Guns N’ Roses lançaria um disco de covers, esperei versões para Rolling Stones e Aerosmith, mas surpreendentemente nenhuma música desses grupos foi incluída. Também esperava que a banda escolhesse covers na linha das músicas que entraram nos dois discos anteriores, mas o sexteto preferiu coisas mais diretas. Com a saída de Izzy Stradlin, Gilby Clarke assumiu a guitarra base na turnê para Use Your Illusion, e também se faz presente neste disco. Foram poucos os singles retirados de “The Spaghetti Incident?”, e apenas duas canções tocaram nas rádios. A escolha do track list foi muito abrangente, já que temos de Nazareth a The Misfits, de The New York Dolls a várias bandas mais punk e proto-punk. “Since I Don’t Have You” (The Skyliners), que abre o disco, foi a mais tocada nas rádios e fez um relativo sucesso. O trabalho vocal de Axl é muito bom, demonstrando uma potência vocal que faz falta hoje em dia. Interessante e surpreendente é notar o desprendimento do egocêntrico Axl Rose, que deixou Duff McKagan gravar alguns vocais principais em algumas músicas. Outra que tocou muito foi “Ain’t It Fun” (The Dead Boys). Slash também divide os vocais em uma faixa, o medley de “Buick Makane” e “Big Dumb Sex”, de T. Rex e Soundgarden, respectivamente. “Hair of the Dog” do já citado Nazareth teve uma boa releitura. No finalzinho dela ainda é executado o riff de “Day Tripper” dos Beatles, fechando em grande estilo. Para não ficar longe de polêmicas, foi incluída, meio escondida, uma música de Charles Manson, “Look at Your Game, Girl“. Para quem não o conhece, Manson foi o assassino de Sharon Tate, esposa do cineasta Roman Polanski, junto a outras pessoas que encontravam-se na mansão do casal no dia do acontecimento. Charles foi o cabeça de uma seita religiosa que, entre muitas maluquices, dizia que os Beatles estavam mandando mensagens para eles por meio do famoso “álbum branco”. Inclusive, foi escrito “Helter Skelter” com o sangue das vítimas na parede da mansão, nome do primeiro heavy metal da história, registrado pelos rapazes de Liverpool. Sua inclusão não foi vista com bons olhos pela crítica musical, soando como uma simples provocação a fim de gerar controvésia. Entretanto, a música possui um certo charme. Destaque para uma frase encontrada no encarte do disco: “a great song can be found anywhere. Do yourself a favor and go find the originals” (“uma grande canção pode ser encontrada em qualquer lugar. Faça um favor a você mesmo e procure as originais”). Uma ótima iniciativa com o intuito de incentivar os mais preguiçosos e acomodados.
Chinese Democracy [2008]
Quinze anos se passaram com diversos boatos, músicas vazando, expectativas em excesso, mudanças de formação e muita grana sendo gasta. Esse foi o panorama das gravações desse álbum. O fato é que lá pelos idos de 2005 e 2006 o GNR já havia virado motivo de chacota e ninguém mais acreditava que o disco sairia. Mas quando ninguém mais esperava, eis que enfim foi lançado Chinese Democracy, título que já era conhecido havia muito tempo. Após a audição, as opiniões foram unânimes e a decepção foi geral. Isso se deve mais à enorme expectativa que foi gerada pela longa demora do que pela qualidade do disco em si. Só percebeu isso quem deu mais chances ao álbum e não ficou com a primeira impressão. Não considero esse disco melhor que nenhum anterior, mas talvez o coloque à frente de “The Spaghetti Incident?”. Quando escrevi, no início desta discografia comentada, que a voz de Axl Rose já não era mais a mesma, me referia às apresentações ao vivo, afinal, em Chinese Democracy ela está ótima. O estúdio é milagroso mesmo! Aliás, isso lembra que sua produção beira o exagero, com várias camadas distintas e o enorme acréscimo de pequenos detalhes. Tudo isso justifica o número de componentes da banda hoje em dia: oito músicos, Axl, um baixista, um baterista, três guitarristas e dois tecladistas. Uma multidão, porém necessária para executar todos os detalhes ao vivo. Você pode encontrar mais informações a respeito de Chinese Democracy, e até mesmo alguma polêmica, nessa resenha aqui.
Segundo algumas fontes, o grupo encontra-se em estúdio gravando um novo disco. Em se tratando de Guns N’ Roses, essa informação nunca pode ser levada tão a sério, e mesmo que seja verdade, não é garantia de que teremos um novo álbum em um futuro próximo. O que se espera é que Axl e cia. façam o melhor trabalho possível, e que nós, fãs, ao menos tenhamos mais material de qualidade para apreciar. Lembrando que o Guns N’ Roses será uma das atrações da quarta edição do festival Rock in Rio, tocando no dia 2 de outubro.

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