Discografias Comentadas: Garotos Podres

Discografias Comentadas: Garotos Podres

Por Micael Machado

Formado em 1982 na cidade de Mauá, que é uma das cidades que compõem a região do Grande ABC em São Paulo, o Garotos Podres conseguiu, ao longo destes trinta anos, o status de uma das maiores e mais importantes bandas de punk rock do Brasil. Com seu núcleo girando em torno do vocalista Mao, do guitarrista Mauro e do baixista Sukata (tendo por muitos anos Português na bateria), em apenas cinco discos de estúdio lançados (mais dois ao vivo, uma coletânea e um split), a banda marcou seu nome na história da música no país com suas canções empolgantes e letras ácidas, com letras críticas e inteligentes, e toques de um humor mordaz em muitas oportunidades. 

Confira agora as obras deste importante e histórico grupo paulistano!


Mais Podres do que Nunca [1985]

Onze músicas em pouco mais de vinte minutos foram o suficiente para criar um dos maiores clássicos do punk rock nacional. O que era para ser uma simples fita demo acabou sendo lançado em vinil pelo selo Rocker, e se tornou um dos pilares do movimento no Brasil, chegando à marca de 50.000 cópias vendidas, um recorde de vendagem de discos independentes na época do lançamento.

Músicas como “Vou Fazer Cocô“, “Anarquia Oi“, “Eu Não Sei o que Quero” e “Papai-Noel Velho Batuta” são cultuadas até hoje pelos fãs do estilo, e com toda a razão. As letras com críticas inteligentes e bem definidas ao sistema capitalista, ao governo e ao modo de vida da época (não pior que o de hoje) continuam atuais mesmo passados quase trinta anos.

A faixa “Johnny” teve sua execução pública proibida pela censura na época, e as músicas “Papai-Noel Filho da Puta” e “Maldita Polícia” tiveram letras e títulos alterados pela banda para evitar o mesmo destino (a primeira virou a citada “Papai-Noel Velho Batuta”, e a segunda saiu como “Maldita Preguiça”). Em 1987, o selo Lup-Som fez uma nova versão, com uma capa diferente e o nome de Pisando na M…, e as futuras edições em CD trouxeram uma faixa bônus chamada “Meu Bem”. O grupo também participou com duas faixas deste disco para a pioneira coletânea Ataque Sonoro, lançada no mesmo ano pelo selo Ataque Frontal. Mais Podres do que Nunca é um disco essencial, e lançado logo na estreia do grupo!


Pior que Antes [1988]

Apesar do título, tudo melhorou neste segundo disco dos paulistanos (agora pela gravadora Continental): a produção, as letras (sempre críticas e conscientes) e até mesmo as composições, que conseguiram superar as quase perfeitas músicas do disco anterior.

Eu Não Gosto do Governo“, “Proletários”, “Suburbio Operario“, a divertida “Batman” (cuja letra mais uma vez foi censurada), “Garoto Podre” e “Escolas” (violenta crítica ao sistema educacional brasileiro, ainda válida mesmo nos dias de hoje) ajudam a formar um dos melhores discos de punk rock que já ouvi na vida, sem dever nada às bandas “gringas” do estilo.

Estas e as quatro faixas restantes despejam as acusações de Mao ao governo, ao sistema de trabalho no Brasil (que escraviza o trabalhador ao invés de lhe dar condições dignas de vida – a letra de “Caminhando Para o Nada” acusa: “Você entrega o seu tempo, seu orgulho, seu sentimento, sua força de trabalho, tudo em troca de salário”), à educação nas escolas e na própria família (vide a letra de “Não Questione”), aos “piratas do século XX que querem nos saquear” (como cita a letra de “Yankees Go Home”) e até a religião (na citada “Não Questione”). Revolta inteligente e contundente + punk rock básico mas muito bem tocado e arranjado = clássico absoluto! Sem discussões!


Canções para Ninar [1993]

A curta (e furiosa) “Oi Tudo Bem?” abre aquele que, para mim, é o último grande disco do Garotos Podres, desta vez lançado pelo selo Radical Records.

Fernandinho Veadinho” (que, segundo a letra, é uma história fictícia, mas trata do ex-presidente Fernando Collor, usando a tradicional crítica ácida de Mao, e que rendeu ameaça de processo ao grupo), “Saddam Hussein Is Rock ´N´ Roll”, a divertida “Verme“, “Mordomia” e “Rock de Subúrbio” (que ganhou um clipe, o primeiro da banda) caberiam em qualquer um dos discos anteriores, além de terem uma produção ainda melhor.

A excelente “Aos Fuzilados da C.S.N.” traz toques de ska, estilo que antes estava distante da proposta do grupo, e trata da morte de trabalhadoras nesta usina durante uma greve em 1988, em um confronto ocorrido entre funcionários do local e a polícia. “Censura Idiota” e “Surfista de Pinico” completam um excelente disco, embora um pouco abaixo dos dois primeiros. O álbum ainda gerou um EP chamado Mordomia EP, editado na França pelo selo One by One (com a faixa título e “Aos Fuzilados da C.S.N”), além de ter sido em sua turnê que o grupo gravou seu primeiro disco ao vivo oficial, Rock de Subúrbio – Live, lançado originalmente em 1995 pelo selo português Fast’n’Loud.


Com a Corda Toda [1997]

Depois de quatro anos sem um novo lançamento, o grupo soltou pela Paradoxx Music este que é, para mim, o registro mais fraco de sua carreira, além de marcar a despedida do baterista Português.

Os toques Ska e a divertida letra de “O Mundo Não Para De Girar!” são os melhores momentos do álbum, ao lado da hilária “Boris Yeltsin“, cantada em um “russo que não existe” por Mao.

Pela primeira vez, o Garotos Podres registrava covers em seus discos, gravando logo duas de uma só vez: a excelente “Skinhead Girl”, da banda jamaicana de reggae Symarip, e a infantil “Expulsos do Bar”, da banda de punk rock portuguesa Mata-Ratos (outra música com muita influência de ska).

Com a Corda Toda ainda possui quatro regravações para músicas dos dois primeiros discos, além de mais toques de Ska em “Apresento Mi Amigo!” e “O Que Eu Vou Ser Quando Crescer?” (com uma das melhores letras do álbum, ao lado de “Zé Ninguém“), e da pior música da carreira dos paulistanos, a infantil e ridícula “Mancha“, que, apesar de uma letra de causar vergonha aos fãs dos discos anteriores (e que em nada lembra as críticas inteligentíssimas presentes nestes), virou presença obrigatória nos shows. 

Pouco mais de trinta e cinco minutos que trazem alguma diversão, mas bem menos do que antes. No mesmo ano, o selo português Fast’n’Loud lançou Arriba! Arriba!, interessante compilação com músicas de estúdio já lançadas antes, duas músicas registradas ao vivo em São Paulo e três faixas gravadas ao vivo na Alemanha durante uma turnê de 1995. Em 2001 saiu Live In Rio, segundo álbum ao vivo do Garotos Podres, editado pela própria banda e gravado no bar Ballroom (que, como diz o nome do play, fica no Rio de Janeiro) em outubro de 2000, o qual é o primeiro trabalho com o baterista “Capitão Caverna” Nunes.


Garotozil De Podrezepam [2003]

Produzido de forma totalmente independente e distribuído pela própria banda, o mais recente disco de estúdio do Garotos Podres superou em todos os aspectos o fraco registro anterior.

Desde o título, passando por músicas como “Serviço Militar“, “Ditador” e a versão para “A Internacional” (famoso hino internacionalista escrita em 1871 por Eugène Pottier, membro da Comuna de Paris, o primeiro governo operário da história), e chegando à retomada das letras críticas e inteligentes na maioria das canções (vide, além das citadas, “O Ocidente é Um Acidente” e “Ainda Vamos Tocar Bossa-Nova“), o álbum representa uma retomada de rumo para o grupo, de volta a seu lugar no pódio do punk rock nacional.

“Agente Secreto”, “Sou Um Fracasso-Maníaco”, “Tô De Saco Cheio” e “Nasci Pra Ser Selvagem” (versão para “Born To Be Wild”, do Steppenwolf) trazem mais uma vez elementos de ska à música da banda, e o grupo ainda registrou uma cover para “O Adventista”, que é uma versão para  “I Believe”, do Buzzcocks, escrita e gravada originalmente pelo saudoso Camisa de Vênus. A única bola fora do disco (mais liricamente do que em termos musicais) é a ridícula e infantil “Vomitaram No Trem”, que seguia na cola do “sucesso” de “A Mancha” (do disco anterior), e também se tornou obrigatória no repertório dos shows (vá entender!).

Mauro, Mao, Sukata e Capitão Caverna

Em 2006, saiu pelo selo Anticorpos o disco Garotos Podres & Albert Fish Split, com cinco músicas dos paulistanos (três ao vivo gravadas no Festival Demo Sul em 2003) e sete dos portugueses, além de vídeos das duas bandas. Em 2008, Mauro deixou o grupo, sendo substituído por Cacá, e em 2010 Mao superou um sério problema de saúde. O Garotos Podres continua na estrada, infelizmente sem previsão de lançar um novo disco (um DVD foi gravado em 2011 em show especial no Hangar 110 em São Paulo, mas ainda permanece inédito), mas sendo sempre garantia de um show energético e divertido ! Oi, Oi, Oi!

2 comentários sobre “Discografias Comentadas: Garotos Podres

  1. Se não me engano o Mao é hoje professor da USP, ou então tem bastante participação na vida acadêmica. Faz parte de uma revista que de vez em quando leio, Mouro.

    Eudes Baima

  2. O Mao do Garotos Podres enlouqueceu de vez. Se tornou uma pessoa amargurada e extremamente arrogante. O imbecil todo o santo dia posta murais incitando os fãs a vaiarem os verdadeiros Garotos Podres nos shows da banda. A banda gravou um excelente disco com o novo vocalista, o Gildo Constantino enquanto o Mao gravou um péssimo álbum com sua nova bandinha “O Satânico Doutor Mao”. Decadência total. É também um grandessíssimo hipócrita. O Mao como todos sabem, é comunista roxo! Só que o gordão nasceu em berço de ouro. O papai dele era capitão da PM, e o Mao e a irmã dele herdarammuuuuuuuuuuuuuito dinheiro do pai dele. Ser comunista assim é uma maravilha.

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