Discos que Parece que Só Eu Gosto: U2 – Pop

Discos que Parece que Só Eu Gosto: U2 – Pop

Por Mairon Machado

Hoje é uma data especial para mim. Há exatamente quinze anos, no dia 3 de março de 1997, era lançado Pop, o nono álbum de estúdio do U2 e um dos mais polêmicos de sua carreira. Por que este artigo não está incluído como mais um da série “Datas Especiais”? Simples: Pop é um disco que a maioria dos fãs do U2 e a mídia em geral não gostam, dessa maneira, esse especial está sendo apresentado através da seção “Discos que Parece que Só Eu Gosto”, ao mesmo tempo em que celebro os quinze anos do álbum que fez com que eu voltasse meus olhos e ouvidos para a carreira dos irlandeses.

Para a maioria dos fãs e da crítica especializada, o U2 possui quatro diferentes fases, divididas sempre em três álbuns de estúdio. A primeira fase compreende os três primeiros, que são Boy (1980), October (1981) e War (1983), quando o grupo pregava canções de manifesto através de um rock simples, mas moderno para a época. Depois, veio a fase áurea, que gerou os clássicos The Unforgettable Fire (1984), The Joshua Tree (1987) e Rattle and Hum (1988). Foi com eles que o U2 transformou-se na maior banda da Irlanda e em uma das maiores do mundo. Nada podia superar o rock feito pelo grupo, gerando clássicos como um chef de cozinha gera pratos fantásticos. Os irlandeses Adam Clayton (baixo), The Edge (guitarra, teclados e vocais), Larry Mullen Jr. (bateria) e o hiperultrafamoso Bono Vox (vocais) estavam no topo do mundo. Bastava seguir fazendo canções naquele estilo que de lá eles nunca sairiam.

The Edge, Adam Clayton, Bono e Larry Mullen Jr.

Porém, em 1991, o quarteto resolveu abandonar seu passado e decidiu ingressar em um novo mundo: o mundo da eletrônica. Primeiro veio Achtung Baby, que chocou pela (ainda pequena) presença de sintetizadores e batidas do gênero. Essas pequenas mudanças quase levaram o U2 ao seu fim. Se The Edge e Bono estavam alucinados com as experimentações com sintetizadores, samplers e outras sonoridades do gênero, Clayon e Larry preferiam manter o básico que havia levado o grupo ao sucesso.

A vontade de The Edge e Bono prevaleceu e o grupo partiu para a gigantesca turnê “Zoo TV”. Nela, o contato com o eletrônico começou a crescer ainda mais, assim como Bono passou a assumir um papel de destaque, tal qual um ator em frente ao grupo, realizando interpretações e encenações que por vezes chocavam, já que aquilo não era comum nos shows do U2. Efeitos visuais e um enorme telão acompanharam a turnê, que foi um verdadeiro sucesso.

Bono Vox.

No meio da turnê, o segundo disco “eletrônico” foi lançado, em 1993. Batizado como Zooropa, o álbum foi inicialmente planejado como um EP, mas acabou saindo no formato full-lenght, com quase uma hora de duração e fincando o pé ainda mais nas sonoridades eletrônicas. Canções como “Lemon” e “Numb” chocaram até mesmo os fãs de Achtung Baby, principalmente pela enorme quantidade de samplers e experimentações eletrônicas que o grupo estava aplicando. As vendas caíram, mas eles não estavam nem aí. A trilogia eletrônica precisava ser concluída.

Compacto de “Theme From Mission: Impossible”.

Como estavam com o currículo um pouco manchado, o quarteto resolveu mudar temporariamente de nome, e escondidos sob o pseudônimo de Passengers, contando ainda com a produção e a colaboração do músico Brian Eno, lançaram-se em um projeto que culminou no álbum Original Soundtracks 1, lançado em 1995, que conta com a participação especial do cantor Luciano Pavarotti na canção “Miss Sarajevo”, que foi um dos singles mais vendidos daquele ano. Ainda em 1995, Clayton e Mullen gravaram “Theme from Mission: Impossible” (tema do filme “Missão Impossível”), de forma totalmente eletrônica, e receberam o Grammy de Melhor Performance Pop Instrumental.

Com a reputação um pouco recuperada, o U2 viu que finalmente podia concluir a trilogia com seu próprio nome e começou a compor as canções do seu nono disco. A ideia era ampliar ainda mais ainda mais as experimentações, juntando agora o chamado alternative rock, alternative metal, techno, dance e funk. Para isso, passaram a estudar e trabalhar em cima de loops, samplers, programações e sequenciadores.

Mas a tarefa não era das mais fáceis, e o tempo de composição e gravação do novo CD foi longo. Além disso, a falta de um contato maior com esse novo mundo da eletrônica fez com que diversos produtores participassem do mesmo, com destaque para Steve Osborne, que foi o responsável pela inclusão de novas ideias e influências vindas da disco music e do techno pop dentro do som do U2, e também Howie B, que inclusive chegou a levar o quarteto para casas noturnas e clubes onde a dance music era o som principal.

Adam Clayton na turnê de Pop.

As primeiras composições surgiram ainda na época de Zooropa, constituindo material que ficou de fora do mesmo. O grupo as trabalhou, e no final, chegou na versão definitiva, sendo elas “If You Wear That Velvet Dress”, “Wake Up Dead Man”, “Last Night on Earth” e “If God Will Send His Angels”. Da época do Passengers vieram “MoFo” e “Staring at the Sun”. Experimentar ainda mais com loops de fitas, samplers e outros apetrechos eletrônicos. Na cidade, o grupo permaneceu durante três meses, gerando entre 30 e 40 canções.

Logo no início das gravações, Mullen começou a sofrer com um problema nas costas, sendo operado em novembro de 1995 e ficando temporariamente afastado dos trabalhos. Isso facilitou ainda mais as experimentações de The Edge e Bono, que puderam aprender sobre sintetizadores e como usar samplers em pleno palco.

Três semanas depois, Mullen voltou ao estúdio, mas, ainda sofria por causa da cirurgia. Somente em fevereiro de 1996 os trabalhos começaram novamente. O primeiro passo foi entender e procurar como encaixar o material que os produtores Howie B, Flood e Nellee Hooper haviam preparado, sendo muitos deles remixagens e samplers de material gravado pelo grupo entre setembro e outubro de 1995.

Porém, Hooper deixou a produção em maio de 1996, pois começou a trabalhar na trilha do filme “Romeo + Juliet” (1996), e isso mudou radicalmente as sessões de gravação. Uma das principais modificações foi que os próprios membros do U2 passaram a fazer seus samplers, principalmente Mullen.

O processo de gravação durou todo o ano de 1996. A previsão era lançar o novo disco exatamente no Natal de 1996, mas um pequeno problema na conclusão das canções acabou atrasando seu lançamento. Outro problema foi a escolha do nome. Vários foram sugeridos, entre eles: “Discola”, “Miami”, “Mi@mi”, “Novelty Act”, “Super City Man”, “YOU2” e “Godzilla”. No final, Pop foi o escolhido. O mais interessante é que Pop foi concluído um dia antes de seu lançamento, com Bono adicionando as vozes no refrão da canção “Last Night on Earth”.

The Edge.

A frase que simboliza esse período de construção do álbum foi proferida por Flood:

“Nós tínhamos três diferentes mixagens de ‘MoFo’, e durante a mixagem final, eu editei uma versão final de “MoFo”, que nada mais era do que uma mistura das três mixagens anteriores. Isso foi um longo processo de experimentação, e que durou alguns meses”. Segundo The Edge: “Isso [o processo de composição] era simplesmente insano, e a pressa por lançar o disco fez com que atravessássemos um período conturbado tentando mixar tudo o que tínhamos, finalizar a gravação e ainda agendar com os empresários sobre a turnê que iria começar em abril”.

Assim, no dia 3 de março de 1997, chegava às lojas Pop, o mais ousado e mais criticado disco da carreira do U2. Tido por 99,999999999999% das pessoas como o pior disco do grupo, quando de seu lançamento Pop foi massacrado pela maioria da imprensa, que chamava o grupo pelo nome do disco, dando um certo toque de repúdio, repugnância e ódio perante o som que o U2 estava fazendo. De fato, se os fãs do grupo na década de 80 não estavam satisfeitos com Achtung Baby e tampouco com Zooropa, Pop era a pior coisa que o grupo poderia ter feito.

Na verdade, nem mídia nem fãs entenderam o que era Pop. Na verdade, Pop é um desabafo contra o consumismo e o domínio dos Estados Unidos no comércio mundial, usando justamente de sonoridades americanas para provocar e criticar aquele país. Segundo Bono:

“O que queremos demonstrar com Pop é o lixo que está a cultura popular, mas somos incompreendidos por parte da mídia e até por grande parte de nosso público. Não é um evento de luzes. É uma crítica à americanização do mundo. A ideia de democracia nos Estados Unidos não significa liberdade de expressão, e sim, uma variedade de representação, onde todos somos obrigados a comprar os mesmos plásticos coloridos, como que ‘comprar’ fosse mais importante do que ‘saber’, e muito acima do que ‘sentir'”.

Fora a crítica aos americanos, havia quatro anos que o U2 estava fora da mídia, e quando apareceu de novo, foi com o clipe de uma das canções do novo álbum, no caso “Discothèque“. The Edge e Bono cantando face a face, quase encostando os narizes um do outro, guitarra brilhante, closes excessivos na genitália de Bono e uma dança para lá de ridícula, imitando claramente o Village People, porém usando fantasias ainda piores que o do famoso grupo que gravou “Y.M.C.A.” (mais um símbolo popular americano), com The Edge trajando a pior de todas, soaram como um desacato ao rock. Além disso, diversos veículos de imprensa declararam que o quarteto havia assumido uma homossexualidade que até então era enrustida.

O videoclipe passou a rodar de hora em hora em tudo quanto era emissora que transmitisse algo relacionado à música, principalmente na MTV, e acabou de uma forma ou de outra, como que uma lavagem cerebral, entrando na mente dos viventes da década de 90, principalmente os adolescentes, que sequer sabiam (ou muito pouco conheciam) da existência de clássicos como “Sunday Bloddy Sunday”, “Where the Streets Have No Name”, “Bullet the Blue Sky” ou “Bad”.

Quando Pop saiu, a massa jovem, hipnotizada e como que lobotomizada pelo clipe de “Discothèque” foi direto às lojas, e por isso as vendas foram muito boas nos primeiros dias. Apesar de ter sido classificado como pop, o álbum está longe de sê-lo. Na verdade, definir o que está registrado no álbum é complicado, pois a mistura de ritmos e a variação lenta que o disco demonstra de uma canção para a outra, saindo de um clima de batidas insanas para um triste e arrastado andamento final, tornam a assimilação direta um fator quase impossível.

Capa do single original para “Discothèque”.

Pop só poderia começar com essa canção. Barulhos eletrônicos abrem “Discothèque”, com o violão destorcido e ainda com efeitos de sintetizadores por cima de suas notas, puxando o riff principal. Bono passa a cantar com vozes sobrepostas para Mullen comandar o ritmo de uma música frenética, quadrada mas muito agitada, com eletrônicos sobrepostos às guitarras e ao baixo, carregado de efeitos. Barulhos diversos surgem entre a maçaroca sonora que o U2 construiu para a abertura, com Bono carregando de efeitos sua voz.

A faixa alterna entre esses momentos eletrônicos e outros mais viajantes, como o dedilhado de The Edge, mas sempre, sempre o riff principal do baixo, repleto de distorção, repetindo-se infinitamente ao fundo. Nem em Zooropa ou em Achtung Baby encontramos algo tão eletrônico e complicado de se descrever, o que já chama a atenção e torna Pop um disco diferente.

Os momentos de The Joshua Tree e The Unforgettable Fire aparecem em “Do You Feel Loved”, com um riff de guitarra bem oitentista, acompanhado por uma bateria extremamente anos 90. O baixo de Clayton ganha espaço e Bono canta dessa vez sem efeitos. Não temos tantos elementos eletrônicos nessa canção, que, de forma geral, é uma sequência do trabalho proposto pelo grupo nessa fase, com destaque para o sensual refrão que entoa o nome da canção.

Capa do single para “MoFo”.

A bateria eletrônica surge de forma sincronizada e ensurdecedora, apresentando uma das principais  e melhores músicas de Pop, chamada “MoFo“. Aqui, o U2 extrapola o limite das experimentações eletrônicas, com a guitarra de The Edge mais do que nunca carregada de efeitos, parecendo uma serra elétrica. Entre o baixo conturbado de Clayton e as batidas incansáveis de Mullen, Bono canta emotivamente, lamentando a perda de sua mãe, e o ritmo vai tomando conta do local onde você está apreciando o CD. É muito efeito sonoro para pouca percepção inicial, e à medida que ouvimos “MoFo” mais e mais vezes, percebemos as diversas camadas de ritmos e batidas utilizadas, assim como os diversos efeitos de guitarra e baixo que fazem a cama delirante para os vocais de Bono, deixando apenas para sua parte central o momento de relaxamento, com o baixo de Clayton fazendo notas que se repetem cronometradamente, que vão crescendo entre as viagens da guitarra, voltando então para seu ritmo inicial. Se viesse após “Discothèque”, seria uma excelente sequência, principalmente pelo abuso de elementos eletrônicos e sintetizadores. É impossível não relatar o que Bono declarou na época sobre essa música:

“‘MoFo’ é o principal motivo de eu sair de casa para tocar. Esta canção é animal, e eu sinto que minha vida inteira está dentro dela”. Precisa dizer mais?

Capa do single para “If God Will Send His Angels”.

A bela balada “If God Will Send His Angels” surge com a voz de Bono acompanhada por efeitos e acordes de violão, implorando por uma ajuda divina. Percussão e sintetizadores são adicionados aos poucos, enquanto Bono canta emotivamente, chegando ao refrão para ser cantado a plenos pulmões. The Edge puxa então o riff principal e Bono passa a usar vozes sobrepostas, enquanto Clayton e Mullen fazem uma cadência lenta, oitentista pacas. Depois de algumas estrofes, o refrão é repetido e surge a vez do baixo ser o centro das atenções, com Bono continuando de forma lenta, com vocalizações sobrepostas, voltando para o refrão e encerrando a faixa.

Capa original do single para “Staring at the Sun”.

A clássica “Staring at the Sun”, com seu riff de guitarra acompanhado por violões, muda o andamento de Pop, sendo sua música mais acessível, e, por sinal, uma das que menos gosto no CD. O refrão, com a guitarra em um timbre muito agudo, não me agrada, mas devo ser um dos poucos a não apreciá-la, já que “Staring at the Sun” foi a mais executada na época do lançamento. Para os saudosistas do início da carreira da banda, o solo de The Edge é um dos principais momentos para relembrar o material registrado em BoyOctober e War. É aqui que o disco muda completamente.

Capa do single para “Last Night on Earth”.

Uma guitarra com um riff pesado abre “Last Night on Earth”, porém, em seguida, sintetizadores, baixo sintetizado e bateria eletrônica retornam aos ritmos dançantes que estávamos acostumados até antes de “Staring at the Sun”, mas com um tom mais para baixo e não tão agitado como no início do CD. Piano, baixo, sintetizadores e bateria eletrônica comandam a canção, que possui um poderoso refrão, preparado para levantar plateias ao redor do mundo.

Os elementos eletrônicos também podem ser ouvidos em “Gone“. O riff de guitarra inicial surge cortando o cérebro do ouvinte ao meio, enquanto o andamento de baixo e bateria leva a música a suavemente acompanhar Bono. Essa é mais uma que lembra os tempos de The Unforgettable Fire, com a óbvia exceção da parafernália eletrônica. A presença do piano, sintetizadores e efeitos na guitarra marcam “Gone”, estabelecendo uma onda de viagem e exploração musical que deve ser curtida e absorvida aos poucos, lembrando muito o krautrock, sendo seu encerramento, com a guitarra eletrônica delirando junto aos vocais de Bono, um dos principais momentos de Pop, além de seu forte refrão.

Mais krautrock surge em “Miami”, sendo a bateria responsável por abri-la, trazendo a voz de Bono, e, com todo o perdão aos admiradores de krautrock, lembrando o álbum Tago Mago (1971), do Can. Bono canta entre as batidas eletrônicas de Mullen, que são o único instrumento da faixa durante dois minutos, até a entrada triunfal da guitarra, fazendo a melodia que acompanha a bateria. A partir de então, baixo, bateria e sintetizadores executam um andamento quadrado que não consegue me agradar, encerrando com vocalizações sobre um ritmo sempre igual. Certamente trata-se da pior música de Pop, facilmente pulável. Não à toa, foi eleita pela revista Q Magazine, em 2005, como uma das dez piores músicas de todos os tempos já gravadas por um artista famoso.

O talk box de The Edge executa o tema de “The Playboy Mansion”, o registro com mais críticas aos Estados Unidos em todo o álbum. Coca Cola, Michael Jackson, O.J. Simpson, talk shows e vários outros símbolos da mídia norte-americana são atacados sem piedade nessa sensual canção que poderia facilmente estar em Achtung Baby, com Bono cantando de forma limpa e clara. A presença de eletrônicos nessa canção limita-se apenas aos sintetizadores. No geral, é uma faixa bem construída sobre a levada do violão, a marcação competente de baixo e bateria e as intervenções do talk box. Acessível para os fãs antigos e não tão desprezível para os admiradores dessa terceira fase do U2, com destaque para o belo arranjo de vozes em seu encerramento.

If You Wear That Velvet Dress” surge através dos sintetizadores de Marius De Vries e de um dedilhado de violão, enquanto um resmungo acompanha a melodia do violão. Bono fala sussurradamente, aumentando gradativamente o volume de sua voz, enquanto sintetizadores, violão e batidas no chimbal criam uma viajante cama sonora ao fundo. A entrada do baixo leva ao refrão, com a participação de vocais femininos, chegando então no solo singelo de The Edge, com notas muito suaves, tornando o clima viajante ainda mais palpável. A segunda parte da letra é cantada sobre o mesmo ritmo, mas com presença maior de sintetizadores.

Capa do single para “Please”.

Baixo, bateria e guitarra abrem “Please”, uma espécie de pop sessentista misturado com eletrônicos, bem depressivo, onde Bono volta a utilizar efeitos em sua voz. A música possui um bonito crescendo que chega ao refrão, no qual o nome da mesma é entoado com devoção por Bono, pedindo “por favor” pelo fim das brigas eternas entre Irlanda e Irlanda do Norte. A sequência é repetida, com muitos sintetizadores se juntando ao andamento complicado da bateria e às poucas participações de guitarra e baixo, chegando novamente ao refrão, seguido por um momento com vocalizações, em que a guitarra de The Edge comanda um riff utilizando-se do wah-wah, voltando então ao refrão e concluindo a canção.

Pop encerra-se com a mais diferente e triste música entre todas as do disco, “Wake Up Dead Man“, que surge com o violão acompanhando o vocal de forma lenta, com o cantor pedindo para que Jesus volte à Terra e o salve dos males do mundo. A guitarra aparece no refrão, no qual Bono entoa o nome da faixa entre vocalizações, após a primeira estrofe. Na segunda estrofe, violão e voz a mantém, mas com intervenções da guitarra, voltando então para o refrão, dessa vez acompanhado por bateria, baixo e guitarra. A terceira estrofe é cantada de forma mais rápida, voltando ao refrão, também mais agitado. Finalmente, na quarta estrofe, bateria, baixo e violão fazem o ritmo que leva à repetição do refrão pela última vez, dessa vez com The Edge rasgando a guitarra ao fundo, e dando indícios do futuro do U2, como ficou comprovado em 2000, através do álbum All That You Can’t Leave Behind, em uma volta ao rock oitentista, mas com algum tempero eletrônico.

O mini-pôster do encarte (acima) e detalhes do encarte e do CD Pop.

No Japão, foi lançada a faixa-bônus “Holy Joe” (Guilty Mix), que segue a linha eletrônica, com Bono cantando de forma mais despojada, por vezes lembrando o estilo de Robert Plant em carreira solo. Já na Malásia, “Wake Up Dead Man” foi censurada, sendo a frase “fucked (up)” banida da versão final do CD. Um destaque a mais vai para o belo encarte original, em papel laminado, que se abria em diversas partes, formando um mini-pôster com cada um dos rostos dos integrantes, que formam a capa do álbum.

Embora Pop tenha alcançado no seu lançamento a primeira posição em 35 países (entre eles Estados Unidos e Reino Unido), recebendo platina dois meses depois de chegar às lojas, as vendas decaíram bastante logo no mês seguinte. O disco recebeu ouro na Finlândia, Holanda e Polônia (mais de 30 mil cópias vendidas), Platina na Austrália, Áustria, França e Suíça (100 mil), platina no Reino Unido (300 mil), platina nos Estados Unidos (1 milhão) e platina tripla no Canadá (300 mil). Mesmo assim, trata-se do maior fracasso comercial da história do U2 (!), pois, em se tratando de vendas, ganha apenas dos dois primeiros.

Capa da segunda versão do single para “Discothèque”.

Um fato interessante sobre Pop são os singles lançados, gerando versões diferentes para diversas músicas. No total, seis singles foram lançados internacionalmente. O primeiro foi “Discothèque”, no dia 3 de fevereiro de 1997, alcançando a primeira posição nas paradas da maioria dos países europeus, incluindo o Reino Unido, onde foi o terceiro número 1 da história do U2. Além disso, foi o último single do grupo a figurar entre os dez mais nos Estados Unidos. Além de “Discothèque”, a bolachinha traz “Holy Joe” e diversas remixagens para a faixa principal.

Capa da segunda versão do single de “Staring at the Sun”.

O segundo single foi “Staring at the Sun”, lançado em 15 de abril de 1997, chegando entre as 40 mais nos Estados Unidos e atingindo a terceira posição no Reino Unido. O single saiu no formato K7, contendo também “North and South of the River”, que já havia saído em um single do cantor Christy Moore, em 1995, e em dois lançamentos em CD, sendo o primeiro deles com as duas citadas mais uma canção dos Passengers chamada “Your Blue Room”, e o segundo com três diferentes mixagens para a faixa principal, mais “North and South of the River”.

O terceiro single foi “Last Night on Earth”, lançado em 14 de julho de 1997, que não se saiu bem comercialmente, atingindo a modesta décima posição no Reino Unido, e não ficando nem entre as cinquenta mais nos Estados Unidos. No formato K7, o single saiu com uma versão diferente para a música, trazendo “Pop Muzik” no lado B. Já em CD, saíram dois formatos diferentes: o primeiro traz as duas citadas mais um cover para “Happiness Is a Warm Gun” (The Beatles) e a segunda com uma mixagem alternativa para a faixa-título, “Pop Muzik”, uma mixagem alternativa para a canção dos Beatles e uma mixagem alternativa para “Numb”.

O quarto single foi “Please”, lançado em 20 de outubro de 1997, que não alcançou nenhuma posição de destaque. No formato K7, o single contou com uma versão diferente para a faixa-título e mais uma nova mixagem para “Dirty Day” (de Zooropa). No formato CD, constam as duas do formato K7, mais uma mixagem diferente para “Dirty Day” e “I’m Not Your Baby”.

O quinto single foi “If God Will Send His Angels”, que também não conseguiu uma boa colocação. Lançado em 8 de dezembro de 1997, o CD traz como lados B as faixas “Slow Dancing”, “Two Shots of Happy, One Shot of Sad” e uma versão ao vivo em Sarajevo (Bósnia) para “Sunday Bloody Sunday”, trazendo no lado A uma versão diferente para a faixa-título. Já no formato K7, constam a versão single de “If God Will Send His Angels” e uma nova versão para “MoFo”.

O EP da turnê “PopMart”.

“MoFo” também foi o último single de Pop, lançado na mesma data de “If God Will Send His Angels”, sem alcançar sequer as 100 mais. No formato CD, o single saiu com duas versões alternativas para a faixa-título e mais uma mixagem para “If God Will Send His Angels”, enquanto que no formato de 12 polegadas o single conta cinco diferentes mixagens para a música.

Em 8 de setembro de 1997, foi lançado Please: Popheart Live EP, apresentando quatro canções gravadas durante a turnê de promoção do álbum, batizada de “PopMart”: “Please”, “Where the Streets Have No Name”, “With or Without You” e “Staring at the Sun”. Os singles e o EP são, hoje em dia, grandes raridades. Outro resquício da “PopMart” foi o CD Hasta La Vista Baby!, lançado em 2000 exclusivamente para o fã-clube do grupo, trazendo quatorze das 25 músicas apresentadas em um show na cidade do México.

Imagem do gigantesco palco da PopMart, com o arco dourado, o limão e a azeitona espetada.

A turnê “PopMart” foi um espetáculo à parte. De 25 de abril de 1997 até 21 de março de 1998, ela compreendeu 93 shows em cinco diferentes continentes, incluindo a primeira visita ao Brasil, com duas apresentações em São Paulo, no estádio Morumbi, realizadas em 30 e 31 de janeiro de 1998, e uma apresentação no Rio de Janeiro, no autódromo Nelson Piquet, no dia 28 de janeiro.

Além do Brasil, a turnê passou por Estados Unidos, Canadá, Holanda, Bélgica, Alemanha, Suécia, Noruega, Dinamarca, Noruega, Finlândia, Polônia, República Tchecha, Áustria, Inglaterra, Irlanda do Norte, Irlanda, Escócia, França, Espanha, Portugal, Itália, Bósnia e Herzegovina (o primeiro show de uma banda de rock naquele país após a Guerra nos Bálcãs), Grécia, Israel (onde Bono foi vaiado por pedir a libertação de Mordechai Vanunu, um homem que revelou segredos nucleares dos israelenses e estava preso no país), México (onde foi filmado o DVD Pop Mart: Live from Mexico City, lançado em 1998), Argentina, Chile, Austrália, Japão e África do Sul, totalizando quatro milhões de espectadores.

Um pouco mais do belo palco da PopMart…

Além da música, o que mais atraía na “PopMart” era o gigantesco palco, que possuia 55,2 metros de largura por 21,6 metros de comprimento. Nele, constava um enorme arco dourado, semelhante ao que forma a letra “M” da rede de fast-food McDonald’s, com quase 30 metros de altura, um telão de 51 metros de altura por 16 metros de comprimento (equivalente a um prédio de cinco andares), pesando pouco mais de 30 toneladas, e ainda um enorme limão espelhado com 12 metros de diâmetro, de onde o grupo saía durante a segunda parte do show, complementado por uma azeitona gigante enfiada em um palito também de proporções gigantescas. No telão, imagens mostravam o poder do consumismo e do apelo às compras, criticando fortemente a propaganda e outros artefatos promocionais para consumo. Essa era justamente a ideia do CD, que precisava ser ampliada na tour.

Outros números da PopMart impressionam: o palco consumia 1 milhão de watts, o que era suficiente para alimentar uma cidade de 10 mil pessoas durante uma semana. Para transportar todo o material eram necessários 75 caminhões que carregavam 69 contêineres com mais de 1,2 mil toneladas de equipamento. Além disso, o U2 contratava 400 funcionários locais para auxiliar os 265 integrantes oficiais da equipe de palco. Por fim, 40 computadores (um absurdo na época) eram responsáveis por controlar as projeções de imagens no telão, assim como o vôo do limão e outros efeitos especiais.

Outro destaque era a vestimenta de cada integrante (com Clayton como principal atração, tendo o rosto encoberto por uma máscara cirúrgica, touca/capacete, macacão-abóbora e com um baixo verde limão muito chamativo) e a performance teatral de Bono. O grupo também subia no palco  por uma plataforma de 30 metros, como ocorre nas grandes lutas de boxe, atravessando a plateia.

…e a sátira ao U2 e à “PopMart” do ponto de vista da série The Simpsons (acima); Bono e Homer Simpson (abaixo).

A turnê acabou recebendo uma homenagem no episódio de número 200 do seriado The Simpsons, intitulado “Thrash of the Titans” (no Brasil, “Empate de Titãs”), que foi ao ar em abril de 1998. Inclusive, os quatro membros do U2 participaram dublando seus personagens, que fizeram uma apresentação na cidade de Springfield, onde vive a família Simpson.

Como ocorreu atraso para o lançamento de Pop, houve também atraso nos ensaios da turnê. Os primeiros shows (realizados nos Estados Unidos) tiveram alguns problemas. A estreia em Las Vegas pode ser considerada um fiasco. A voz de Bono falhou com quinze minutos de apresentação, houveram alguns momentos de fraca reação da plateia (talvez embasbacada pelo choque visual) e o próprio Bono pediu desculpas para o público pela péssima apresentação daquela noite, perguntando: “Vocês ainda nos amam depois dessa porcaria?”. Pior foi na apresentação em Katowice (Polônia), quando o grupo ficou trancado dentro do limão.

Mesmo assim, o enorme telão de LED, com uma imagem cristalina exibindo milhares de efeitos e imagens diferentes, e claro, as inovações tecnológicas de palco (para a época), enchiam os olhos da plateia, mas não da crítica, que reagiu mornamente à turnê.

Pôster de divulgação da “PopMart”, retratando as roupas usadas por cada integrante do U2.

Encerrada a “PopMart”, que deu mais prejuízo do que lucro em função do alto custo de manutenção dos equipamentos de som e luz, apesar de The Edge afirmar que que não, o quarteto acabou expressando sua insatisfação com o resultado final.  Para se ter ideia dos gastos, somente a apresentação em Sarajevo deu um prejuízo de 860 mil dólares, devido a uma manifestação local no dia do show. Apenas o arco dourado e o globo espelhado que ficava dentro do limão custaram 1,6 milhão de dólares, com o telão de LED, na época o maior do mundo, custando 6 milhões. Por dia, o U2 gastou 214 mil dólares com a equipe. No geral, a banda gastou mais de 180 milhões de dólares na turnê e recebeu um pouco mais do que isso como cachê (o valor estimado de faturamento, apesar de nunca confirmado oficialmente, foi de 195 milhões de dólares).

Isso acabou refletindo nos diversos rearranjos para as canções de Pop que acabaram entrando na coletânea The Best of 1990-2000 (lançada em novembro de 2002). Esses novos arranjos foram feitos para “Discothèque”, “If God Will Send His Angels”, “Staring at the Sun”, “Last Night on Earth”, “Gone” e “Please”.

O grupo também abandonou os elementos eletrônicos, voltando para o rock simples através de All That You Can’t Leave Behind (2000), e aos poucos, as faixas de Pop foram sendo abandonadas, até sumirem de vez dos set lists, que hoje vive novamente o auge de sua carreira com o sucesso de No Line on the Horizon (2009) e a incrível “360° Tour”.

O consumismo retratado no enorme telão da PopMart.

Voltando para o aniversariante do dia, como disse The Edge à revista Propaganda:

“É difícil definir o que é Pop, porque há muitos estilos dentro dele”.

Já Bono deu a melhor de todas as definições:

“Ele começa como uma tremenda festa e termina em um triste funeral”.

É essa variação que o fez tão menosprezado após seu lançamento, mas hoje, passados quinze anos, fãs do U2 e do rock em geral estão ouvindo novamente esse grande álbum com outros ouvidos, e certamente, daqui a quinze anos, Pop estará facilmente na lista dos melhores discos dos irlandeses, o que, para mim, é fato há alguns anos, perdendo apenas para Zooropa e para o inatingível War.

Acredito que assim como foi com Low (lançado por David Bowie em 1977), o nono CD do U2 está virando aos poucos o disco cult do grupo, e vários são os seguidores que, através de blogs ou sites de relacionamento, vêm demonstrando carinho por suas músicas. Sou mais um que tenta expressar um pouco dos imensos valores de uma obra única dos irlandenses, e parabenizar os quinze anos de uma fantástica miscigenação de sons chamada Pop.

Tracklist:

1. Discothèque
2. Do You Feel Loved
3. Mofo
4. If God Will Send His Angels
5. Staring at the Sun
6. Last Night on Earth
7. Gone
8. Miami
9. The Playboy Mansion
10. If You Wear That Velvet Dress
11. Please
12. Wake Up Dead Man

13 comentários sobre “Discos que Parece que Só Eu Gosto: U2 – Pop

  1. CAra tô contigo. Adoro este disco. Alías, foi o meu 1º disco do U2, antes eu ouvia de "rabo de orelha", mas ganhei este dsico no meu aniversário de 1997 e escutei com o maior dos preconceitos, mas o disco me venceu!
    Nada me lembrava o U2 antigo e eu gosto(sempre gostei), de bandas que mandam o pasado se fuder as vezes, afinal isso é algo necessário não é mesmo?

    òtimo texto que encerra uma da smais injustiçadas fases dessa grande banda. Parabéns.

  2. Obrigado pelo apoio Tiago, hehehe. Eu acho Wake Up Dead Man a música mais bonita que o U2 gravou, beeeem a frente de clássicos como Bad ou With or Without You. Joguem as pedras …

    1. Amo esse álbum do U2. Foi o primeiro que tive e eu mesma quem comprei. Tudo isso no mesmo ano de lançamento, em 1997.

      1. Legal Wilma. Bem vinda ao site e muito bom saber que mais alguém ama essa obra. Disco impecável, concorda? Para mim, a melhor canção de Pop é “Please”, e para você? Abraços

        1. Muitíssimo obrigada pelas boas vindas ao seu lindo site. Esse disco realmente é impecável, e a que eu mais gosto é Discothèque. Abraços.

          1. Excelente música. Desfrute do site, e nos ajude a construí-lo, ou seja, fique à vontade para sugerir matérias, comentar e colaborar. Aqui é o espaço para compartilharmos nossa paixão pela música. Abraços e obrigado novamente.

  3. Longe de mim considerar "Pop" um álbu ruim. Diversas canções são boas, caso de "Discothèque", "If God Will Send His Angels", "Staring at the Sun" e especialmente "Gone". Na verdade, hoje em dia até o considero um álbum melhor que "Zooropa", apesar deste contar com minha favorita do grupo, "Stay (Faraway, So Close)". Apesar disso, nessa fase noventista, o melhor, com sobras, é "Achtung Baby", esse sim um disco muito bom, recheado de músicas interessantes e inspiradas, algumas excelentes. Acima de tudo, composições belas.

    Apesar de não ter nada contra experimentações, devo confessar que ouvir "All That You Can't Leave Behind" deve ter sido um grande alívio quando o álbum saiu. Esse sim é um discaço, que botou o U2 de volta nos eixos.

    Quanto à temática de "Pop" e de sua turnê, bem… Se a banda pretendia exercitar seu espírito crítico, o fez de uma maneira muito infeliz, dado quão dispendiosa era a produção de palco e toda a parafernália que envolvia levar o show aos quatro cantos do mundo…

  4. Eu discordo quanto a tematica ter sido uma maneira infeliz. Na verdade, o U2 confiou demais no taco, mas mostrou de alguma forma, que o marketing estava realmente acima de tudo naquela epoca, e fez um show que consumia a musica, consumia a banda, deixando apenas a imagem como chamariz (quantos foram aos shows por causa do telão???)

    Lemon é uma das melhores coisas que já ouvi na vida, mas a melhor é BAD

  5. O U2 acabou com The Joshua Tree.
    Esses chupacabras messiânicos que estão aí poderiam ficar com suas ONGs e sair de vez do mundo da música.
    Tudo gravado depois de Joshua Tree pode ser considerado ruim sob qualquer aspecto. Rattle and Hum tem raríssimos bons momentos, mas é fraquísiimo no geral.

  6. Eu tbn ouvi o pop com o maior dos preconceitos tenho todos do u2 e deixei o pop pir último devido às críticas e os blá bla blas,mas olha que ele me convenceu adoro os primeiros trabalhos do u2 mas o que toca meu corpo e alma é o acthung baby então não tenho problemas com a sonoridade do pop ele tem momentos ótimos como gone wake up dead Men if god will send his Angels a voz com que o bono coloca em if you were your vevelt dress é do outro mundo…contudo tenho que enfatizar uma coisa é muito fácil vc pensar assim time que tá ganhando não se mexe e simplesmente cruzar os braços e deixar rolar como acdc que vc ouve a primeira música e escuta outra depois de uns 30 anos e ainda é a mesma música tem gente que vai falar oh mas eles não se venderam e coisa e tal se que uma hora se torna enjoativo que é o caso de motorhead Ramones acdc o u2 é inovador e único eles não são cuzoes aliás eles são sacudos pra mudar a sonoridade de uma forma tão inesperada mas sem perder a qualidade ou o jeitinho u2 de tocar tem que ter muita confiança pra fazer uma coisa assim o que faz a minha admiração por eles aumentar ainda mais.

    1. Falou e disse Renato. Muito obrigado por suas sábias palavras, e tomara que mais pessoas abram a mente para esse baita disco.

  7. Você fez uma ótima análise desse ótimo álbum, junto de Joshua Tree e Zooropa é o que mais gosto de ouvir. É um álbum que envelheceu muito bem. A impressão que tenho é a banda ter tentado emular na trilogia aquela fase final do Joy Division, a transição para o New Order e o New Order que conhecemos hoje (bandas que influenciaram o U2 lá no inicio de carreira). Minha música favorita é Mofo.

    1. Legal que você curtiu Fábio. Retornos como o teu são sempre um grande plus para nós. Concordo com você, e vou além, acho que dos discos pós-Joshua Tree, Pop é o que melhor se encaixar nas audições de hoje. Abração e em tempo, minha favorita ainda é “please”, apesar de “mofo” ser sensacional!

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