Melhores de 2011: por Vinícius Moretti

Melhores de 2011: por Vinícius Moretti
Journey ao vivo, com o vocalista Arnel Pineda em primeiro plano



Nesta primeira semana de janeiro, de segunda a sexta, diversos colaboradores da Consultoria do Rock estarão apresentando listas com suas preferências particulares envolvendo os novos álbuns de estúdio lançados em 2011. Cada redator tem a oportunidade de elaborar sua listagem conforme seus próprios critérios, escolhendo dez álbuns de destaque, além de uma surpresa e uma decepção (não necessariamente precisam ser discos). Conforme o desejo de cada um, existe também a possibilidade de incluir outros itens à seleção, como listas complementares, enriquecendo o processo e apresentando sugestões relacionadas ao ano que acabou de se encerrar. Como culminância do processo, no sábado, os dez álbuns mais citados serão compilados e receberão comentários de todos os colaboradores, não importando o teor das opiniões.

Por Vinícius Moretti
Não sou daqueles que acha que a música acabou nos anos 60 ou 70. Definitivamente, essas décadas não são as minhas preferidas, apesar de gostar de várias bandas nascidas e até enterradas na época. Ao meu ver a música vive um ótimo momento no pós-2000, apesar de toda a porcaria que é produzida. Como sempre, há coisas boas e ruins sendo colocadas no mercado e cabe a cada um vasculhar, ouvir e abrir a cabeça, pois com certeza achará muita coisa boa sendo feita no século XXI. Não sou muito chegado em listas, porque as acho em sua grande maioria injustas, e também não escutei tudo o que gostaria com relação a lançamentos desse ano, mas tentei fazer o meu melhor. Eis meus escolhidos.
Álbuns do ano
Journey – Eclipse
Muito difícil comentar sobre um álbum tão bom quanto este. Muitos torceram o nariz para a sonoridade mais crua e direta do disco, colocando os teclados, que em vários outros álbuns ditaram o ritmo das composições da banda, mais de lado. Mas quem conhece o Journey sabe que as guitarras sempre foram parte essencial no grupo e nesse disco Neal Schon não mede o peso de suas seis cordas e desce a lenha em todas as músicas, fazendo com que o disco seja em certas partes até obscuro (para os padrões da banda, é claro). Esse peso, aliado a composições de extrema qualidade e bom gosto, montam um álbum excepcional do início ao fim, que prende o ouvinte em cada faixa e o faz querer escutá-lo de novo e de novo. Arnel Pineda também aparece muito mais solto do que na sua estreia, e mostra que não é um mero cover de Steve Perry. Destaques óbvios para “Edge Of The Moment” e “Resonate”, executadas ainda antes do lançamento do disco na turnê que inclusive incluiu o Brasil pela primeira vez na rota da banda. Também se encontram aqui faixas mais tradicionais, que certamente agradam aos mais puritanos, como “City Of Hope” e “Anything Is Possible”.

Mr. Big – What If…
Em uma época na qual bandas estão se reunindo novamente com suas formações clássicas, o Mr. Big foi mais uma a embarcar na empreitada. Apesar de ser fã de carteirinha do Richie Kotzen e dos discos dele com a banda, é inegável que Paul Gilbert é e sempre será o preferido da maioria dos fãs. Sua volta rendeu um disco maravilhoso, que em nada deixa a desejar perante os primeiros e ao último, Actual Size, do já distante 2001 (como estamos velhos…). É incrível o poder de faixas como “Undertow”, “American Beauty”, “Stranger In My Life” e “Once Upon A Time”. Tudo é muito bem feito e nenhuma faixa fica devendo em qualidade. A banda está aí para mostrar que ainda é possível fazer hard rock com qualidade sendo moderno e ao mesmo tempo não deixando as raízes de lado.
Machine Head – Unto the Locust
Não era um grande conhecedor da carreira do Machine Head até a época dos shows dos caras ocorridos no Brasil em 2011. Conhecia somente algumas músicas soltas e alguns covers. Contudo, na iminência de sua apresentação em Porto Alegre, corri atrás de tudo e ouvi muito bem os trabalhos da banda e me deparei com essa pérola. O disco é totalmente coeso, todas as faixas são absurdamente acima de qualquer nível e a sua audição é um convite a querer bater cabeça e entrar em rodas punks. É difícil destacar alguma música em um disco como esse, mas a faixa-título, “Darkness Within” e “I Am Hell (Sonata in C#)” chamam a atenção logo de cara, apesar de serem bastante complexas. E ainda saíram versões com excelentes covers para “The Sentinel”, do Judas Priest, e “Witch Hunt”, do Rush. Essencial.
And So I Watch You From Afar – Gangs
O post-rock vem sendo um dos meus gêneros preferidos nos últimos tempos. Ele é também um dos mais prolíficos em bandas e em diversidade. Ano após ano nascem novos grupos e projetos dentro do estilo, todos bastante díspares, já que post-rock é muito mais um rótulo do que um gênero em si. Fiquei muito em dúvida se esse disco entraria como surpresa ou não, mas decidi colocá-lo aqui mesmo. Bastante superior ao primeiro álbum autointitulado, Gangs esbanja energia em toda sua audição. Apesar de ser instrumental (com alguns coros em certas partes) as músicas são extremamente viciantes e grudentas, tudo é muito bem executado e produzido. Indico fortemente a quem não conhece nada do gênero, impossível não gostar de um disco como esse.
Red Hot Chili Peppers – I’m With You
Assistindo à apresentação da banda no Rock In Rio 2011, vi meu interesse no Red Hot Chili Peppers ser renovado e redescobri o fã que havia enterrado dentro de mim. Corri logo atrás do último lançamento da banda, e ele ficou no repeat por vários dias seguidos na minha lista. Não esperem aquele som clássico dos anos 80 e início dos anos 90 pelo qual a banda foi galgada entre as grandes do rock. Em I’m With You as tendências pop foram aprimoradas, e, a meu ver, a escolha de Josh Klinghoffer para substituir o egresso John Frusciante foi mais do que acertada. Seu estilo se assemelha ao de Frusciante, mas trouxe algo diferente à banda, que provavelmente influenciou todos os outros membros e injetou um novo gás no grupo, que pode ser ouvido em faixas como “Monarchy of Roses”, “Factory Of Faith”, “The Adventures of Rain Dance Maggie” e “Goodbye Hooray”, pra não citar quase todas.  
Foo Fighters – Wasting Light
Sempre achei Dave Grohl um ótimo músico, apesar de seu passado mais do que negro em uma das piores bandas que a música já produziu. Seus projetos paralelos e participações sempre me agradaram, mas esse passado me afastava do Foo Fighters, mesmo eu sabendo que o som da banda em praticamente nada se parecia com o Nirvana. Entretanto, assistindo ao videoclipe para “Walk”, tive que me render. Impossível não ser cativado por uma faixa dessas – onde a letra ainda por cima caiu como uma luva para o que eu estava vivendo. Entretanto, não somente essa música é excelente, como todo o disco, sendo difícil apontar algum momento baixo. “Rope”, “Dear Rosemary”, “These Days” e “I Should Have Known” e a supracitada são alguns dos destaques imediatos de um disco que me fez perder a má vontade com a banda. Ainda bem.
Iced Earth – Dystopia
John Schaffer ficou a ver navios mais uma vez quando Matthew Barlow resolveu abandonar a banda pela segunda vez a fim de seguir projetos pessoais. Para o seu lugar foi recrutado o quase desconhecido Stu Block, do Into Eternity. Escolha acertada, diga-se de passagem, visto que ele se encaixou perfeitamente na sonoridade da banda e do disco, apesar de certa forçação de barra para que o vocal soasse como Barlow. Schaffer se afastou um pouco das composições mais épicas e voltou a apostar em músicas mais diretas como fazia na década de 90, agradando em cheio os fãs que torciam o nariz para os álbuns mais recentes da banda. A faixa-título, “Anthem”, “Days of Rage” e “End Of Innocence” não deixam dúvidas de que ainda há muita lenha a ser queimada e que a carreira da banda pode sim seguir sem Matthew Barlow.
Sixx:A.M. – This Is Gonna Hurt
Na primeira vez que escutei esse disco ele não me chamou muito a atenção; achei-o bem aquém do excelente debut da banda. Deixei-o de lado por um bom tempo e só voltei a escutá-lo recentemente – e que favor eu me fiz! O álbum esbanja um hard rock moderno, daqueles que empolgam mesmo. E não é pra menos, a qualidade de Nikki Sixx já é conhecida há tempos, DJ Ashba está mostrando seu talento também no Guns N’ Roses, e James Michael se mostra muito mais do que um bom produtor, mas um exímio vocalista também. Ainda continuo preferindo o primeiro a este, mas é inegável a qualidade de faixas como “Lies Of The Beatiful People”, “Oh My God” e “Goodbye My Friends”.
Pain – You Only Live Twice
Peter Tägtgren é há tempos um dos meus artistas favoritos. É um músico completo, multi-instrumentista e produtor, conhecido do público principalmente por causa do Hypocrisy. Porém, é no Pain onde seu talento aflora por completo e ele mostra toda sua versatilidade em músicas rotuladas como metal industrial, mas que vão muito além disso. Batidas eletrônicas, teclados, riffs repetitivos e grudentos e letras sarcásticas pra lá de bem feitas conduzem o ouvinte em toda a carreira da banda, e não seria diferente nesse último álbum. Os destaques ficam por conta de “The Great Pretender”, “Dirty Woman”, “Leave Me Alone” e “Crawling Thru Bitterness”.
Richie Kotzen – 24 Hours

O talento desse músico é inegável. Além de ser um dos melhores guitarristas de sua geração, Richie Kotzen possui uma voz poderosa, de dar inveja a muito vocalista por aí. Nesse álbum ele continua com o seu som mais voltado ao pop, mas com doses a mais de funk e soul em suas composições. Nâo o achei tão bom quando seu antecessor, mas ele não faz feio e mantém o nível de uma carreira que já dura mais de 20 anos. Músicas como “OMG (What’s Your Name?)”, “Stop Me”, “Twist Of Fate” e a baladinha certeira “Love Is Blind” (que conta com Jerry Cantrell do Alice In Chains nos backing vocals) mostram todo o bom gosto e qualidade de um artista excepcional que infelizmente não é tão conhecido do grande público.

Menções honrosas:

Pain Of Salvation – Road Salt Two
Anthrax – Worship Music
Whitesnake – Forevermore
Black Country Comunion – 2
Take That – Progressed
Nightwish – Imaginaerum
Russian Circles – Empros
Devin Townsend Project – Deconstruction
Mooncake – Lagrange Points
Ten – Stormwarning
Megadeth – Th1rt3en

A surpresa
Powder! Go Away – Laika Still Wants Go Home
Poucas informações consegui achar sobre essa banda, que encontrei vasculhando blogs sobre post-rock. É um grupo de Moscou, formado aparentemente por músicos muito jovens. Todas as músicas do disco e de um EP anterior estão disponíveis para download na página da banda no site Last.fm. Fiquei totalmente de boca aberta ao escutar esse álbum: a fluidez, as composições e a produção, a conexão de uma faixa com a outra e até mesmo os títulos das músicas são de uma qualidade realmente surpreendente e chamam muito a atenção. Totalmente instrumental, a audição é deveras aprazível e o tempo passa voando. O repeat é inevitável. Destaque para as faixas “Mushroom’s Radiation Can’t Make You Ugly And Ill, But Thoughtful.”, “13.125 Miles Exploded By Lights.”, “Laika Still Wants Go Home.” e “Einstein Is So Sad On The Pictures Because He Wanted To Work A Lighthouse Keeper. Lighthouses Are So Lone On The Pictures Because Einstein Is Dead.”. Permita-se surpreender.
A decepção
Toby Hitchcock – Mercury’s Down
Provavelmente minha expectativa estava muito elevada com relação a esse álbum. Sabendo da capacidade de Toby como vocalista, esperava um álbum no mínimo bom vindo dele. Mas esse disco mostra o quanto Toby é dependente de Jim Peterik na parte das composições ou o quanto a escolha dos músicos para acompanhá-los foi errônea. Um AOR bem genérico, com poucos momentos realmente dignos, um disco de mediano pra fraco. O único destaque é a boa “This Is The Moment”, e só.
As músicas do ano

Steve Lee – Forever Eternally
Journey – Edge Of The Moment
And So I Watch You From Afar – Search:Party:Animal
powder! go away – 13.125 Miles Exploded By Lights.
Take That – When We Were Young
Sixx:AM – Goodbye My Friends
Machine Head – Locust
Foo Fighters – Walk
Mr. Big – Undertow
Tempestt – Endless Hunger

2 comentários sobre “Melhores de 2011: por Vinícius Moretti

  1. Bem legal e diferente essa sua lista Moretti. Mas tenho que deixar registrado aqui que não entendo essa aversão que muitos têm do Nirvana. Também não quero que os comentários acabem indo para essa discussão, mas gostaria de deixar registrado isso.

  2. Também fiquei decepcionado com "Mercury's Down". Ficou latente que, apesar do enorme talento vocal, Toby precisa ter alguém a seu lado para escrever material para que ele possa exercer seus elevadíssimos vôos vocais. um novo álbum do Pride of Lions nesse ano viria bem a calhar…

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