Datas Especiais: 30 anos de Killers e Maiden Japan (Iron Maiden)

Datas Especiais: 30 anos de Killers e Maiden Japan (Iron Maiden)
Dave Murray, Paul Di’Anno, Adrian Smith, Clive Burr e Steve Harris

Por Pablo Ribeiro
Trinta anos atrás a Donzela de Ferro lançava o segundo (e último) full-lenght com seu primeiro vocalista oficial: Paul Di’Anno. Gravado entre novembro de 1980 e janeiro de 1981, Killers foi lançado no dia 2 de fevereiro de 1981 no Reino Unido, com 10 faixas. O mercado norte-americano só viu o lançamento doméstico do disco quatro meses depois, em 6 de junho de 1981, incluindo uma canção extra: “Twilight Zone”. 

Curiosamente, todas as músicas, com exceção de “Murders in the Rue Morgue” e “Prodigal Son”, foram escritas ainda na época do primeiro álbum da banda, o também seminal Iron Maiden, embora tenham sido profissionalmente registradas somente nas sessões para Killers – com exceção de “Wrathchild”, que, em uma versão um pouco diferente, havia sido gravada para a coletânea Metal For Muthas, lançada em 1980.

Women in Uniform

Ainda antes do disco, em outubro de 1980, a Donzela soltou o single para “Women in Uniform”, cover da banda glam australiana Skyhooks, originalmente editda dois anos antes. No lado B, uma inédita de Harris, “Invasion”, e uma versão ao vivo de “Phantom of the Opera” gravada ao vivo no Marquee Club de Londres, no mesmo ano. Detalhe para a capa da bolachinha: O monstrengo/mascote Eddie agarrado em duas moças de olhar apaixonado, enquanto a “dama de ferro” Margareth Thatcher (primeira-ministra britânica na época) espreita em uma viela logo à frente, munida de uma metranca de respeito, devidamente fardada com uma improvável vestimenta militar – com direito à quepe, inclusive. Nenhuma das faixas do single foi incluída originalmente em Killers, mas foram acrescentadas a um CD bônus das edições especiais duplas do Iron Maiden, lançadas em 1995.

Quatro meses depois da prévia com o single supracitado, e com o novo guitarrista Adrian Smith no lugar de Dennis Stratton,  chegou às lojas britânicas o petardo completo: Killers. Na capa, um Eddie com um semblante muito mais cínico que no primeiro disco segura uma machadinha ensanguentada tendo como pano de fundo uma Londres decadente. Uma vítima ainda agonizante (Thatcher?) usa de suas últimas forças para puxar a camiseta do mascote. A edição original em LP do álbum, e reedições do mesmo formato, traziam na contracapa uma foto de toda a banda ao vivo, e miniaturas individuais de cada um dos responsáveis pelo disco e suas respectivas funções. A saber: Paul Di’Anno nos vocais, o “chefão” Steve Harris no baixo, Dave Murray e o novato Adrian Smith nas guitarras, e Clive Burr na bateria. Já as edições em CD contavam apenas com um fundo azul escuro, com o nome das faixas e sua respectiva duração em branco. A imagem da contracapa do LP original, no entanto, passou a ser parte interna do encarte. Em 1998, juntamente com a maior parte do catálogo da donzela, Killers foi novamente relançado, com as 11 faixas da versão original norte-americana, sem CD bônus, e com sua contracapa contando com um fundo predominantemente vermelho, com uma foto da banda e as informações impressas em preto. Essa edição conta ainda com vídeos multimídia para “Wrathchild” e “Killers”. Essa é a edição que ainda se encontra em catálogo no mercado. 

Killers
O track list de Killers é praticamente uma aula fundamental de NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal), com uma dose de atitude punk que diferenciava o Maiden daquela época das demais bandas do estilo. “The Ides of March” é a primeira faixa: uma introdução instrumental curta, mas muito eficiente. A influência de Thin Lizzy nas guitarras gêmeas é evidente. Além de dar uma ideia do que vem pela frente, está emendada naquela que é, para muitos (incluindo eu), a melhor musica da era Di’Anno no Maiden: “Wrathchild”. Uma palavra para definir a música? CLÁSSICO (assim, em letras maiúsculas mesmo)! “Wrathchild” se tornou presença garantida na maioria das turnês da banda desde então, recebendo, inclusive, uma versão com os vocais de Bruce Dickinson. Essa variante na verdade não tem nada de muito revolucionária, pelo contrário, uma vez que o instrumental da versão de 1981 está intacto. Apenas a voz de Di’anno foi limada, dando lugar aos vocais de Dickinson. Essa pseudo-regravação foi lançada em um single promocional, em 1999, e na coletânea/game Ed Hunter, do mesmo ano. A versão original é um verdadeiro hino, não só do hard/heavy, mas da música pesada em geral. Curiosamente, apesar de ser uma música fortíssima, “Wrathchild” foi lançada em single apenas como lado B de “Twilight Zone”… Vai entender.
O disco segue com “Murders in the Rue Morgue”, com sua letra baseada na obra de Edgar Allan Poe. Outra pedrada do Maiden, rápida, pesada e com uma dose de referências a filmes de terror, presentes nos primórdios da banda, que foram perdendo força a cada lançamento. Há uma versão ao vivo dessa música gravada em 12 de outubro de 1984 no Hammersmith Odeon de Londres. Essa faixa pode ser encontrada no labo B do single ao vivo para “Sanctuary”, editado em 1985. Novamente, a versão original presente em Killers é superior. “Another Life” é a próxima do track list. Outra pedrada que não deixa a peteca cair. Logo depois temos mais uma instrumental, “Genghis Khan”, seguida de outra baita música: “Innocent Exile”. Apesar de não constituir um hit, nem ser um dos standards que mereceram ser tocados ao vivo em grande parte das turnês, é outra tremenda música, figurando muitas vezes entre as prediletas dos iniciados em Iron Maiden.
Edição dupla remasterizada de Killers
Mais um clássico vem em seguida. A música que dá nome ao disco começa com uma introdução de baixo que (também) já ficou na história… É daquelas canções das quais bastam alguns segundos de audição para se perceber que se trata de um torpedo sonoro digno dos melhores momentos da Donzela. Vira e mexe retorna ao set list das apresentações dos caras. Em seguida – na versão original inglesa – temos a balada (sim, balada!) do disco. “Prodigal Son” é outra puta música. Se nao traz o peso e agressividade das canções até aqui, sua letra encontra paridade com as mesmas. Di’Anno assume a persona de um homem atormentado, arrependido por ter se envolvido com algo que não podia controlar… Resta a ele apenas as súplicas de ajuda à Lâmia (espécie de mulher-demônio devoradora de crianças, mito na Grécia antiga). A junção música/letra aqui é de arrepiar (milhões de anos luz de uma “Wasting Love”, por exemplo). A penúltima canção do disco é “Purgatory”, mais um clássico instantâneo, com uma pegada claramente punk, licks de guitarra ágeis e eficientes, e refrão melódico. Di’Anno dá um show nessa. Fechando o disco temos “Drifter”, onde baixo e guitarras dialogam de maneira ímpar. 
Contracapa original de Killers
Killers é um disco indispensável do início ao fim, e um retrato perfeito de uma época na qual o Iron Maiden detinha uma urgência e uma agressividade ímpares. Detalhes que acabaram ou se perdendo no tempo, ou sendo substituídos por outras nuances musicais e líricas no decorrer da história da Donzela.
Track list:
1. The Ides of March
2. Wrathchild
3. Murders in the Rue Morgue
4. Another Life
5. Genghis Khan
6. Innocent Exile
7. Killers
8. Twilight Zone [presente na edição original norte-americana e em subsequentes edições remasterizadas para todo o mundo]
9. Prodigal Son
10. Purgatory
11. Drifter
Maiden Japan
Ainda em 1981, mais precisamente em agosto (apenas dois meses após o lançamento doméstico de Killers na América do Norte), a Donzela de Ferro jogou mais um torpedo sonoro no mundo do rock ‘n’ roll: O EP ao vivo Maiden Japan. Com um título inspirado no clássico ao vivo Made in Japan, do Deep Purple, gravado e lançado em 1972, o EP foi editado em duas versões diferentes: Uma standard, para o mercado japonês, com quatro faixas, em LP de 45 rotações, e uma outra, com cinco faixas, lançada originalmente na América do Norte, Austrália, Nova Zelândia, Argentina e Brasil. As músicas foram gravadas em 23 de maio de 1981, no Kosei Nenkin Hall, em Nagoya, Japão. A príncípio, a banda resistiu ao lançamento, mas a pressão do mercado japonês era muito grande, e a gravadora EMI acabou lançando o EP. Maiden Japan é uma poderosa demonstração dos shows do grupo à época. Tanto a qualidade do registro quanto a performance dos músicos é soberba.
Edição venezuelana de Maiden Japan

Quanto à arte gráfica, a capa trazia uma ilustração do mascote Eddie empunhando uma Katana (sabre típico japonês), em uma ameaçadora posição de ataque, contra um fundo avermelhado, iluminado por spots do show da banda. Curiosamente, na Venezuela o disco trazia uma capa diferente, com o monstrengo Eddie segurando uma cabeça decepada. Na contracapa, uma foto grande do quinteto juntamente com Eddie, e logo abaixo mais quatro fotos da banda ao vivo, e uma dedicatória aos fãs, onde a banda agradece à todos os “headbangers”, “earthdogs” e “metal merchants” de todo o mundo por fazer da primeira turnê mundial dos caras um sucesso. Com canções como essas, não poderia ser diferente!

Originalmente lançado apenas em EP de 12″, Maiden Japan nunca foi editado em CD como um lançamento independente, mas quando da reedição de Killers de 1995, Maiden Japan foi incluído em um CD bônus, juntamente com “Woman in Uniform”, “Invasion” e a versão ao vivo de “Phantom of the Opera”. Mas atenção: Somente a reedição lançada pela gravadora Castle conta com as faixas do EP; a edição lançada pela EMI contém apenas os lados B de Killers, com Maiden Japan sendo inexplicavelmente limado.
Para os apreciadores de bootlegs, vale a pena uma garimpada nas duas edições de Maiden Japan (volumes 1 e 2) da gravadora Tarantura. Enquanto o segundo volume traz o show do EP oficial na íntegra (29 faixas), o primeiro volume traz o show do dia anterior (sim, foram duas datas em Nagoya!), com 27 faixas. Esses shows capturam com fidelidade a energia e e a garra do Iron Maiden ao vivo, em seus primeiros anos. 
Maiden Japan, apesar de curto, assim como Killers é obrigatório!

Track list:

1. Running Free
2. Remember Tomorrow
3. Wrathchild [somente nas edições para a América do Norte, Austrália, Nova Zelândia, Argentina e Brasil]
4. Killers
5. Innocent Exile
Contracapa de Maiden Japan

10 comentários sobre “Datas Especiais: 30 anos de Killers e Maiden Japan (Iron Maiden)

  1. Lembro que Killers foi um dos primeiros discos do Iron que ouvi. "Purgatory", "Prodigal Son", "Another Life" e "Gengis Khan" se tornaram logo de cara algumas das minhas favoritas da Donzela, e lá permanecem até hoje. É muito difícil escolher entre este e o primeiro, pois os dois são excelentes, mas acredito que razões sentimentais me façam preferir o Killers dentre os discos com DiAnno.

    Já o Maiden Japan conheci bem depois, já totalmente caído de amores pela Donzela de Ferro. Acho um EP bem legal, mas existem bootlegs com DiAnno que são melhores que ele, até por terem mais músicas e aquela atmosfera de "show completo" que falta neste EP.

    Aliás, alguém sabe mais sobre a sempre polêmica lenda de que o Maiden Japan na verdade teria sido gravado em estúdio, com o barulho das palmas do público japonês acrescido posteriormente? Sempre ouvi isso, mas nunca tive confirmação…

    Parabéns pelo belo texto, Pablo. Eu ia lendo a resenha do Killers e recordando meus primeiros passos no romance com a Donzela, tantos anos atrás. Muito legal!

  2. Sou suspeitíssimo pra falar de "Killers". Apesar de concordar com o fato de que Bruce Dickinson é o vocalista definitivo do Iron Maiden e de que sua entrada foi extremamente salutar e foi essencial para elevar o grupo a um patamar superior, meu álbum favorito é "Killers". Di'Anno era perfeito para a sonoridade praticada na época, e sua agressividade encontrava par em um track list cheio de fúria. Quando o adquiri, aí por 2000, escutei-o até a exaustão, repetidas e repetidas vezes. O mais positivo é que, hoje em dia, o enxergo como melhor ainda. Quando a música mais fraca de um disco é uma ótima pedrada como "Another Life", não tem como ser diferente… Sem dúvida trata-se de um dos meus discos preferidos em todos os tempos.

  3. Demorei para gostar desse álbum, mas agora acho um TOP da carreira do Maiden. Um marco para a banda e para o Heavy Metal em si. Me pergunto como estaria o Maiden se Dianno continuasse na banda…
    Grande matéria sobre um dos álbuns mais importantes da história.
    abrasss

    1. Acho q ficaria muito foda,não gosto do Dickinson, agora fica a pergunta, como ficaria The Number Of The Beast com o vocal do Di’anno??

      1. Uma pergunta difícil… Mas pra mim, sem a entrada do Dickinson, o Iron não chegaria onde chegou e está até hoje: no pódio!

  4. Em resposta ao Micael, Maiden Japan foi realmente gravado ao vivo, em Nagoya. Recebeu uma "lapidada" posterior em estúdio, mas foi efetivamente gravado ao vivo. Micael, dá uma catada no bootleg "Maiden Japan Volume 2" da Tarantula Records (muito fácil de achar na net). Ele contem o show COMPLETO dessa noite. É gravado da audiência, mas o som é muito bom, e dá pra sacar que Maiden Japan é realmente ao vivo!

    Pablo.

  5. Na verdade Wratchild foi lançada com Twilight Zone no compacto de 7" no que eles chamaram de "Double A-Side Single". Ou seja, na pratica não escolherem um deles como lado A. As pessoas acabaram elegendo Twilight Zone como Lado A porque essa música não fazia parte do album (na Inglaterra), então a graça do single era essa.

  6. Não preciso dizer o quanto sou fça de Dianno, para mim o verdadeiro vocalista do Iron (mesmo com Dickinson sendo o carismatico). Killers, Iron Maiden e Maiden Japan são aulas de NWOBHM com punk rock, como o Pablo bem destacou.

    Como curiosidade, sempre achei q a versão oriiginal do Killers contava com Sanctuary (e só no Brasil ela não tinha saido). Alguem pode me confirmar essa informação.

    Parabens pela estreia, Pablo, e um churasco te aguarda em breve aqui em PoA

  7. O que dizer,da instrumental,GENGHIS KHAN??O traabalho,de bateria,do grande Clive Burr,é simplesmente,extraordinário.Grande disco!!A produção,de primeira,do Martin birtch,também,ajudou a fazer de killers,um clássico absoluto

  8. Respeito quem prefere a curta fase da banda com Paul Di’Anno, pois pra mim o Iron Maiden só começaria a fazer sentido no ano seguinte, quando um tal de Bruce Dickinson assumiu o lugar do “punk bêbado e drogado” nos microfones e o grupo gravou aquele que foi eleito “o melhor disco inglês dos últimos 60 anos” e que pra mim não é o melhor disco do IM nem a pau, posto que fica com o insuperável Powerslave (1984).

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