Discografias Comentadas: Ratt

Discografias Comentadas: Ratt
Por Leonardo Castro

Uma das mais bem sucedidas bandas de hard rock dos anos 80, o Ratt teve um início de carreira meteórico, passando rapidamente dos bares paras as arenas lotadas e discos de ouro. Contudo, como muitas bandas do estilo, os anos 90 foiram um período difícil, com poucos lançamentos e muitas mudanças de formação. Ainda assim, a banda continuou na ativa e em 2010 lançou um dos melhores discos de sua carreira. Nesta discografia comentada iremos analisar todos os lançamentos da banda, com seus altos e baixos:

Ratt (EP) [1983]

O EP de estreia da banda mostra um som cru e pesado, além de uma produção nada rebuscada. Entretanto, a energia que transborda das músicas é impressionante, misturando o peso e os solos de guitarra do Judas Priest com a pegada mais animada e festiva do Van Halen ou do Aerosmith. Todas as músicas se destacam, mas é impossível não citar “You Think You’re Tough”, que ganharia um clipe hilário anos depois, quando o disco foi relançado pela Atlantic, e o cover de “Walkin the Dog”, gravada anteriormente pelo Aerosmith.
Out of the Cellar [1984]

O primeiro full lenght da banda explodiu nas paradas principalmente devido a uma música: “Round and Round”, que ganhou um clipe bastante exibido na recém-nascida MTV e se tornou obrigatória não apenas nos shows da banda, mas em qualquer coletânea do estilo. Mas isso nem de longe significa que o restante do álbum seja ruim. Pelo contrário, Out of the Cellar é um dos melhores discos de hard rock/heavy metal lançados nos Estados Unidos, mesclando perfeitamente o melhor dos dois estilos. Enquanto “Lack of Communication” e “The Morning After” evocam o estilo do Judas Priest e outras bandas européias, “Back For More” e “Scene of the Crime” têm a malícia e groove típicos do hard rock californiano. Item obrigatório para quem curte esses estilos.
Invasion of Your Privacy [1985]

O sucessor de Out of the Cellar manteve a banda em alta. Apesar de ter uma produção um pouco mais polida, a fórmula das músicas continuava a mesma, assim como a qualidade geral do trabalho. Riffs espetaculares como os de “You’re in Love” e “Never Use Love” demonstravam todo o talento do joven Warren DeMartini, que acabaria se tornando um dos melhores guitarristas de sua geração. Além disso, há o groove de “Lay It Down”, os refrões de “Got Me On The Line” e “You Should Know By Now” e diversos outros destaques ao longo do disco. Tudo embalado pela voz característica de Stephen Pearcy, que apesar de não ser um vocalista extremamente técnico, tem um timbre perfeito para o som criado pela banda.
 
Dancing Undercover [1986]

Depois de dois discos espetaculares, onde misturaram o melhor do hard rock com o heavy metal, o Ratt deixou um pouco do peso de lado em Dancing Undercover, investindo no lado mais pop e comercial do estilo. Mesmo assim, ótimas músicas podem ser encontradas no disco, como a rápida e pesada “Body Talk”, a pegajosa “Dance” e a topicamente Ratt ‘n’ Roll “It Doesn’t Matter”. Outra pérola escondida neste disco é a faixa que o encerra, “Enough Is Enough”, que poderia ter tido mais destaque na carreira da banda. No geral, Dancing Undercover é um disco que não decepciona, mas não alcança a qualidade de seus dois (três, considerando o EP) antecessores.
Reach For the Sky [1988]

Se no disco anterior o Ratt havia amansado um pouco seu som, neste o estilo clássico da banda deu as caras novamente. Por ser mais direto e agressivo, a gravadora até pediu para que a banda gravasse algo mais comercial para lançar como single após o fim das gravações, e assim nasceu “Way Cool Jr”, a música mais conhecida do disco. Entretanto, músicas como “Don’t Bite the Hand That Feeds”, “Chain Reaction” e “I Want a Woman” representam melhor o espírito do disco, mais próximo do som de Out of the Cellar e Invasion of Your Privacy.
Detonator [1990]

Após o fracasso em obter um hit no disco anterior, a gravadora Atlantic decidiu intervir no Ratt. A primeira atitude foi escalar o hitmaker Desmond Child para trabalhar com a banda, na esperança que ele pudesse repetir o sucesso obtido com Bon Jovi e Aerosmith. O resultado foi um disco mais acessível, mas totalmente compatível com a sonoridade da banda, semelhante ao que o Mötley Crüe fez no disco Dr. Feelgood, que os catapultou ao estrelato até fora do cenário hard rock/heavy metal. Entretanto, as similaridades com estes grupos terminam por aqui. Apesar da qualidade das músicas, o disco não obteve o resultado esperado em vendas, não conseguindo entrar no topo das paradas e frustrando a gravadora e a banda, que decidiu se separar ao fim da turnê (que contou com a participação de Michael Schenker nas guirarras, devido à internação do guirarrista Robbin Crosby para tratar seu vício em heroína). Mesmo assim, a qualidade de músicas como “Loving You Is a Dirty Job”, “Hard Times” e “Top Secret” é inegável, assim como a da melhor balada escrita pela banda, “One Step Away”.
 
Collage [1997]

Após sete anos, o Ratt retomou as atividades, sem o guitarrista Robbin Crosby, ainda com problemas de saúde, e o baixista Juan Croucier, substituído por Robbie Crane. Entretanto, ao invés de lançar material inédito com essa formação, a banda optou por lançar uma coletânea de músicas raras e inéditas. O resultado, Collage, foi irregular. Enquanto “Dr. Rock” e a versão original de “Top Secret” seguem a cartilha do Ratt ‘n’ roll, outras músicas soam mais setentistas e até bluesy. Há ainda uma versão dançante de “Loving You”. Definitivamente, este não é o melhor disco para conhecer a banda, mas há alguns bons momentos nele.
 
 
Ratt [1999]

Não confunda este com o EP homônimo, lançado em 1983. Depois de retomar as atividades e lançar a coletanêa de out-takes e músicas antigas inéditas, o Ratt finalmente lançava um disco completo com a nova formação, com o quarteto Stephen Pearcy, Warren DeMartini, Bobby Blotzer e o novato Robbie Crane. A ausência de um segundo guitarrista influenciou bastante o som da banda neste lançamento, visto que os tradicionais duetos de guitarra simplesmente inexistem. A sonoridade também é bastante diferente do material clássico da banda, com mais influência de blues e do hard rock setentista, com um toque mais minimalista nos arranjos e riffs. Ainda assim, é um disco pesado e até mais agressivo que os últimos discos da banda.
Infestation [2010]

Onze anos depois do lançamento de seu último disco, o Ratt voltou a ser um quinteto com o retorno do vocalista Stephen Pearcy, ausente de 2000 a 2007, e a entrada do guitarrista Carlos Cavazo, ex-Quiet Riot. O resultado, Infestation, foi um dos melhores discos da banda. Unindo o som tradicional dos dois primeiros discos com uma produção pesada e moderna, o Ratt compôs um dos melhores discos de hard rock dos últimos anos. Desde a abertura, com “Eat Me Up Alive” ao encerramento com “Don’t Let Go”, tudo soa 100% Ratt ‘n’ roll. Riffs pesados e contagiantes, excelentes vocais de Pearcy, cozinha precisa e solos marcantes… Tudo que se espera de um disco de hard rock pode ser encontado em Infestation. Destaque para o single “Best of Me”, a viciante “A Little Too Much” e a pesada “Lost Weekend”, todas dignas de estarem em um disco da banda.

11 comentários sobre “Discografias Comentadas: Ratt

  1. O Ratt pra mim não é uma das melhores, mas A MELHOR banda de hard rock surgida nos anos 80. Em sua primeira fase, de "Sweet Cheater", que abre o EP "Ratt" (1983), até "Nobody Rides For Free", música à época inédita, que fecha a coletânea "Ratt & Roll 81-91" (1991), a banda foi absoluta. Mesmo que os próprios membros do grupo tenham restrições a alguns álbuns e atitudes, em especial a "Detonator" e à união com Desmond Child, todos os discos são recheados de material muito bom.

    Discordo a respeito de uma possível investida pop em "Dancing Undercover" e uma espécie de retorno com "Reach For the Sky". Creio que as mudanças no primeiro são sensíveis, e sequer se manifestam em todo track list. "RFTS" sempre me soou mais norte-americano, como se as influências de bandas setentistas de hard rock tivessem sido ressaltadas, inclusive em "Way Cool Jr.", que tem um quê de Aerosmith.

    O Leonardo citou "One Step Away" como a melhor balada criada pela banda… uma coisa que sempre é fonte de críticas para quem não curte o hard oitentista é a quantidade de baladas nos álbuns. Pois contra o Ratt esse argumento não serve: em toda sua carreira, o Ratt registrou tantas baladas quanto alguns grupos costumam colocar em apenas um disco, vide Aerosmith e Def Leppard.

  2. Diogo, o Ratt normalmente só tinha realmente 1 balada por disco, mas em geral, nao curto as baladas deles. A primeira a se destacar, para mim, foi "One Step Away", que apesar de ser uma musica mais lenta, nao soa como as tipicas "power ballads" das bandas de hard rock dos anos 80.

    A producao do Dancing Undercover é menos agressiva que a dos dois primeiros, mas ainda assim há momentos bem pesados no disco, como "Body Talk". Mas gosto mais do RFTS, acho mais direto e similar aos dois primeiros.

    Mas um disco extremamente injustiçado é o Detonador. Num mundo mais justo, esse disco seria o "Pyromania" ou o "Dr. Feelgood" do Ratt, mas infelizmente ele não explodiu, e até por causa disso a banda acabou entrando em um hiato.

    Agora, o que mais me irrita é ver esses "real tr00 headbangers from hell", que tem fitas demo de bandas cult do interior da Polonia não reconhecerem a qualidade e o peso do primeiro EP e pelo menos dos 2 primeiros discos da banda, que estao repletos de heavy metal da melhor qualidade!

    1. O EP de estréia do Ratt é maravilhoso! A produção é crua, mas o essencial está ali que são os riffs e os solos de guitarra de Warren Demartini e Robbin Crosby. Sobre esses real TrOO headbangers from hell”, já vi muitos deles que ridicularizam as bandas “farofas”, mas curtem lixos como Matanza e Zumbis do Espaço. Aí o sujeito tá sendo hipócrita. Diz que glam dos anos 80 “é lixo” mas curto bandas e artistas medíocres e insignificantes.

  3. Quando tinha uma balada por disco!!! Para mim, dentro do track list dos quatro primeiros lançamentos (incluindo o EP) só existe uma balada típica, que é "One Step Closer".

    Também acho o "Detonator" injustiçado. Se um álbum como aquele tivesse saído uns dois ou três anos antes talvez o resultado tivesse sido melhor. "Shame Shame Shame" é excelente, super bem trabalhada pelo Warren.

    Você tocou em um ponto que eu havia pensado mas não acabei manifestando antes, mas através de outro ponto de vista: o quanto um grupo como o Ratt não obteve/obtém uma credibilidade maior devido a seu sucesso. Enquanto você citou o caso da turma do heavy metal, eu cito aqueles que cavocam as bandas mais obscuras dos anos 70, muitas vezes com apenas um disco lançado, que hoje em dia são alçadas à categoria de cult, de injustiçadas, quando no fundo não faziam cócegas nos pés dos baluartes do hard rock setentista. Enquanto isso, um grupo como o Ratt, repleto de músicos excelentes, que conseguiu manter a dignidade dentro de uma gravadora grande, lançou álbuns consistentes (para dizer o mínimo), não recebe esse reconhecimento.

    Pra completar: QUE BAQUE foi ouvir "Infestation"! Pra atazanar os vizinhos e sair socando a parede, fantástico! Uma pena que parece que esse álbum vai ficar como filho único dessa reunião…

  4. Caras…é tudo questão de gosto….
    tem gente que não curte o som Hard dos anos 80….
    Acho que vcs deveriam ficar mais bravo com a turma do NÃO OUVI e NÃO GOSTEI…
    Não conheço Ratt não…. tenho impressão que não irei gostar… pois eles participam de uma escola que eu não aprecio muito… mas não posso dizer nada até ouvir….
    O Badlands por exemplo eu ouvi e adorei…
    Abraços

  5. Fabio, não é nem por gostar ou não. Existe uma porção de coisas que eu não curto mas admito que são portadoras de qualidade inquestionável. O que irrita é o desprezo puro baseado em opiniões pré-concebidas, sem ao menos oferecer uma chance.

    Quanto à sonoridade, adianto que o Ratt é bem mais heavy metal que o Badlands. É um produto dos anos 80, enquanto o Badlands tem uma pegada muito mais setentista, apesar de Jake E. Lee poder soar bastante metal quando bem entender. Aliás, Jake já foi parte do Ratt nos primórdios, quando o grupo se chamava Mickey Ratt. Posteriormente ele foi substituído por Warren DeMartini.

  6. Pois é Diogo…
    O que joga contra essas bandas é o visual… eu mesmo sempre tive muito preconceito contra as mesmas devido ao laque, plumas e paetes…hehhehe… mas no fim das contas é bobagem…. o que importa é se o som te passa emoção… no mais o que é bom e ruim varia muito de época pra época… e tem muito de Hype por aí…a indústria musical normalmente precisa destruir algo pra lançar as novas tendências…talvez por isso toda essa onda de bandas glam metal passou a ser considerada como lixo musical…assim como os progressivos e hardeiros antes do punk..e por aí vai….dai as pessoas ficam com essas idéias na cabeça…todos nós somos de uma forma ou outra influenciados…mas com a possibilidade que temos hj de conseguir ouvir toda música que desperte curiosidade muitos preconceitos caem por terra…
    Abraços

    1. Os anos 80 foram uma época mágica. E o Glam Metal foi a melhor coisa que surgiu no rock. Nessa época os guitarristas não tinham vergonha de serem virtuosos e de criarem solos de guitarra técnicos. Depois veio aquele lixo grunge mal tocado por músicos depressivos e medíocres como o Kurt Cobain que não sabia nem afinar a guitarra. É uma época que infelizmente não volta mais. E o Ratt nessa época não tinha pra ninguém.

  7. Curto desde Black Metal/Grindcore/Thrash/Hard/Rock….
    Como Cazuza disse não existe música certa ou errada existe música boa…
    Da lhe RATT na cabeça,puta banda destruidora,sem mais comentários banda duca…..

  8. É ridículo esses “true metal” que odeiam os “posers” e o glam dos anos 80, mas curtem aquele merda de hardcore e punk rock. É muita cara de pau nego esculhambar o glam dos anos 80 e curtir esse lixo chamado punk rock. Pra mim os thrashers e os punks são tudo farinha do mesmo saco. Pior que punk rock só o grunge mesmo.

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