Pink Floyd: desvendando “The Wall”

Pink Floyd: desvendando “The Wall”

Por Mairon e Micael Machado
The Wall é um dos mais famosos discos do Pink Floyd. Passados mais de 30 anos de seu lançamento, ele continua a atrair e cultivar uma enorme legião de fãs, bem como alguns detratores. Criado quase que totalmente por Roger Waters, baixista e vocalista do grupo, é um disco conceitual, embora seu conceito não seja facilmente assimilado nas primeiras audições.
Basicamente, envolve um rock star chamado Pink, o qual, devido ao uso de drogas e aos traumas pelo qual passou em sua vida, acaba criando um “muro” em seu cérebro que o isola do mundo real à sua volta. Mas na verdade, a estória vai um pouco além disso.
Animals: de sua turnê, surgiu The Wall
Antes de falarmos sobre o conceito do álbum, vamos discutir um pouco a respeito período musical vivido pelo Pink Floyd na época. Animals (1977), o disco anterior do grupo, foi o primeiro a ter apenas um compositor escrevendo a maioria de suas músicas, no caso, o próprio Waters, já que nos discos anteriores o trabalho de composição era dividido entre Waters, o guitarrista/vocalista David Gilmour e o tecladista/vocalista Rick Wright. Nick Mason (bateria) dificilmente participava do processo de composição.
Pois em Animals Waters assumiu a dianteira, e teve a participação de Gilmour como parceiro apenas na canção “Dogs”. Todo o resto do disco, baseado na obra A Revolução dos Bichos, de George Orwell, foi escrito e cantado pelo baixista, que cada vez mais assumia o papel de líder da banda, causando desgosto aos demais membros.
Durante a turnê para o álbum, a unidade do grupo foi se desfazendo. Problemas entre os músicos e entre a banda e seu management (o grupo descobriu que estava praticamente falido devido a investimentos financeiros equivocados feitos por seus empresários) quase levaram o grupo à dissolução. Mas o contrato com a poderosa EMI exigia ao menos mais um disco. Sendo assim, ao final da turnê, o Pink Floyd se separou, e, embora desejando que fosse em definitivo, os integrantes sabiam que as questões financeiras e o compromisso com a EMI os fariam retornar em breve.
Nesse período, Wright lançou Wet Dream (1978) e Gilmour lançou David Gilmour (1978). Os dois álbuns solo não atingiram nenhum sucesso comercial, e então, quando os membros novamente se reuniram, tanto Gilmour quanto Wright não possuiam composições suficientes para apresentar visando o novo disco, já que haviam gastado os cartuchos nos álbuns citados. Assim, tiveram de aceitar o que Waters havia feito, com Gilmour ainda conseguindo colocar duas canções que ficaram de fora de seu disco no meio do processo. 
Rick Wright, Roger Waters, David Gilmour e Nick Mason durante a “The Wall Tour”
No período em que a banda esteve afastada, Waters havia composto o embrião de dois discos conceituais diferentes, o qual apresentou aos outros membros. A ideia rejeitada se tornou posteriormente um álbum solo de Waters, The Pros and Cons of Hitch Hicking (1984), e a escolhida pelos demais foi transformada em The Wall.

Segundo Waters, o estopim para a composição do disco veio durante a turnê para Animals, intitulada de “In the Flesh Tour”. Nela, Waters percebeu que o público que estava lotando os estádios onde a banda passara a se apresentar, era composto por poucos fãs da música que iria ser tocada. A maioria dos presentes estava ali pelo evento em si, pela cerveja e pela festa, não importando quem ou o que estivesse sendo apresentado no palco.

O final da década de 70 já mostrava que a música pop em geral havia se tornado um negócio, onde a comunicação entre artista e público já não mais existia. Os shows se tornavam um masoquismo da plateia, onde as pessoas pagavam para serem pisoteadas, amassadas e inclusive mortas, como aconteceu no show do The Who em 3 de dezembro de 1979, na cidade de Cincinnati, onde 11 fãs foram pisoteados até a morte, tudo para uma espécie de ditador tocando canções em cima do palco.

A frustração de Waters com isso cresceu a tal ponto que, durante um show em Montreal, Canadá, ele cuspiu em um fã da primeira fila, o qual estava mais interessado em causar tumulto e provocar quem estava a seu lado do que em participar do show. Waters percebeu a criação de um “muro” separando os artistas no palco de seu público lá embaixo, muro este provocado pela imensidão do estádio, pelo alienamento da multidão e pelo ego dos próprios músicos, mais interessados em seus problemas pessoais do que em seus fãs.

Visão geral do palco da “The Wall Tour” durante intervalo

Tudo isso serviu como inspiração para a criação de uma história maior do que um simples disco musical. Na concepção de Waters, a obra seria dividida entre o disco, um show ao vivo e um filme. Embora seja possível compreender o conceito apenas ouvindo o que foi gravado em estúdio, a experiência de ouvir o disco, assistir ao filme e presenciar o concerto (sendo que essa última parte infelizmente foi possível para poucos, já que apenas 29 shows foram efetivamente realizados) nos dá uma noção melhor e mais completa da história.

Embora a estória no disco e no filme se desenrole de forma levemente diferente, neste texto vamos seguir a ordem do disco, explicando o enredo através das canções contidas nos sulcos do vinil duplo lançado em 1979, e usando as ilustrações do filme e dos shows em determinadas passagens em particular.

The Wall começa com a voz de Waters proferindo a frase “... we came in?“, que será complementada ao final do disco pela frase “Is not here were … “, formando assim a expressão “Não é aqui que nós entramos“, além da melodia de “Outside the Wall”, a última música do álbum, dando uma ideia de que tudo é circular e cíclico, e que mesmo um momento ruim pode ser transformado em um outro bom, ou de que nada dura eternamente e sempre pode se repetir, além de que o muro que será construído com o passar do LP é justamente um muro circular, uma “bolha de tijolos” onde o personagem Pink ficará preso.

Máscaras originais usadas na “The Wall Tour”

Então, começa “In the Flesh?”, e a estória em si. Musicalmente, é um grande rock de arena, mais pesado e próximo do hard rock setentista. O ponto de interrogação do título tem grande significado. Lembremos que “In the Flesh” foi a turnê do álbum Animals, e nesta canção, somos apresentados à banda de Pink (que pode ser entendida como o próprio Pink Floyd), que inicia o seu show. Mas a letra nos mostra que algo não está correto (“Há algo iludindo você? Não era isto o que você esperava ouvir?“). Nos shows de promoção do disco, esta impressão era explicitada, pois quem estava no palco era uma banda “substituta”, com seus membros escondidos por trás das máscaras dos membros originais do Pink Floyd. Parecia o grupo original, mas não era.  Já no filme, a banda se apresenta com uniformes nazistas, com Pink como seu líder, algo que até então não ocorria (supõe-se) com esta famosa banda. Mas como o grupo se tornou nazista?

As explicações começam na canção seguinte, “The Thin Ice”, que começa com um choro de bebê, provavelmente o nascimento de Pink. Mas, apesar do amor de sua mãe e de seu pai, o mundo de Pink está prestes a mudar, e a realidade é nada mais do que  alguém patinando em um lago coberto com uma fina camada de gelo, prestes a se romper.

O diretor de “Another Brick in the Wall (part 2) (show)”
Esta realidade começa a mudar na canção seguinte, “Another Brick in the Wall (part I)”. Com a mesma melodia da conhecida “Part 2”, apenas mais lenta, a primeira parte narra que o pai de Pink “se foi através do oceano deixando apenas uma memória“, indo lutar na segunda guerra e abandonando a família, deixando para Pink apenas uma foto no álbum de família. Este é o primeiro tijolo colocado no muro que acabaria por isolar o personagem central do resto do mundo, mas não o único.

O diretor moendo as crianças

A ironicamente intitulada “The Happiest Days of Our Lives” e a famosa “Another Brick in the Wall (part II)” (o primeiro single de sucesso do Floyd após a saída do guitarrista e fundador do grupo, Syd Barrett, no ano de 1968!) adicionam mais tijolos ao muro, através de um sistema de ensino repressor, com professores que não se preocupam em educar as crianças, mas sim, deixá-las iguais e incapazes de pensar. Este conceito é bem explorado no filme, onde as crianças caem em gigantes moedores de carne, que transformam todas em massas iguais de carne moída, sem distinção ou identidade.

“Mother”

Sem o pai e com problemas na escola, Pink ainda sofre em casa com uma mãe superprotetora. Isso é mostrado em “Mother”, uma das mais belas baladas do Pink Floyd e do rock mundial, onde a mãe de Pink é retratada como alguém para quem ele sempre será um bebê, q que “não o deixará voar, mas pode deixá-lo cantar” (e quantas mães não são assim ainda hoje?). Então, a mãe de Pink torna-se mais um tijolo para o muro.

O lado B do vinil abre com outra linda canção,  “Goodbye Blue Sky”, que retrata a infância de Pink (e de muitos ingleses) no pós-guerra. “As chamas há muito se foram, mas a dor ainda permanece“, diz a letra, mostrando que a guerra pode ter acabado, mas as cicatrizes que ela deixou não se apagaram ainda. E uma infância infeliz é mais que suficiente para adicionar outro tijolo ao muro. A música é belíssima, tristemente levada ao violão por Gilmour e com uma das melhores melodias vocais da carreira do grupo.

As famosas flores sexuais de “Empty Spaces”

“Empty Spaces” nos mostra Pink com o muro ainda incompleto, mas ele não está disposto a derrubar o que já construiu, e  anda à procura de algo para preencher os espaços vazios que ainda restam. Nos shows, esta canção era completada por “What Shall We Do Now”, que ficou de fora do LP por causa da duração do mesmo, e expandia o conceito da busca de Pink por “tijolos” para preencher o muro em sua mente.

No filme, antes dessa canção, Pink, supostamente em turnê nos Estados Unidos, tenta ligar para sua esposa na Inglaterra, mas a telefonista informa que é uma voz masculina quem está atendendo ao telefone, e ficamos sabendo que Pink está sendo traído pela esposa. Este é mais um tijolo no muro que não fica explícito, mas será citado mais adiante na canção “Don’t Leave Me Now”.

A groupie de Pink

“Young Lust”, uma das poucas músicas com a contribuição de Gilmour a entrar no vinil, nos mostra Pink já como líder de sua banda, chegando a uma cidade atrás de “diversão”. “Eu preciso de uma garota safada. Quem quer mostrar o lugar a este estranho?“, diz a letra. Mas as groupies não lhe trazem satisfação e complemento, sendo apenas relacionamentos passageiros que servem como mais tijolos a serem colocados no muro. Musicalmente, a faixa também está mais próxima do hard rock que do progressivo, e, segundo Waters, é apenas uma nova versão de “The Nile Song”, gravada pelo grupo na trilha sonora do filme More (1969), embora não seja assim tão semelhante nas primeiras audições.

O porco de Animals também esteve presente na turnê para The Wall

“One of My Turns” nos mostra Pink em um quarto de hotel com uma groupie. Mas enquanto a garota está fascinada pelo tamanho do quarto e pela coleção de guitarras do astro, ele está alheio, pensando no fracasso de seu relacionamento (“Dia após dia, o amor se torna cinza“, ou seja, vai acabando). A melodia é lenta até dar uma mudança que a torna agitada e pesada. É neste ponto que Pink, deprimido pelo fim do seu casamento e influenciado pelas drogas, fala para a garota buscar seu machado favorito. A garota se assusta e foge, e Pink, completamente chapado, lamenta o rompimento com a esposa (que, através do filme, sabemos que o traiu) na próxima canção, a já citada “Don’t Leave Me Now”, levada por efeitos de teclado até desembocar em um belo solo de guitarra. O fim de seu casamento é mais um tijolo que Pink coloca no muro.

Assim, em “Another Brick in the Wall (part III)”, Pink se revolta contra a vida. “Eu não preciso de braços em torno de mim, não preciso de drogas para me acalmar, não acho que precise de nada mais”, diz a letra. Com esta decisão, Pink completa o muro, e se isola do mundo em “Goodbye Cruel World”, uma triste vinheta onde Pink se despede do mundo e se isola dentro do muro, encerrando o primeiro disco.

Pink, preparando-se para entrar no muro (filme)

O segundo disco abre com “Hey You”, e Pink encontra-se dentro do muro. Alucinado, ele pergunta a alguém fora do muro (ele mesmo) se esta pessoa percebe que ele está dentro do muro. Começa assim a crise interna de Pink, tentando descobrir por que está sozinho, por que não fala e ouve ninguém, ou seja, por que ele está dentro do muro. Então, vozes o avisam que o muro é tão alto que é impossível escalá-lo, e que ainda “os vermes comeram seu cérebro“.

A sonoridade da canção é densa, levada pelo dedilhado do violão e pela voz de Gilmour, com intervenções do piano, e lentamente, a canção ganha corpo, até retomar o tema de “Another Brick in the Wall” no eixo central, que é exatamente o solo de Gilmour. Voltamos aos violões e encerramos essa parte da história, onde Pink finalmente se dá conta de que criou um muro que o afastou de todos.

Desesperado, ele grita: “Tem alguém aí?“, que é a única fala de “Is There Anybody Out There?”, onde os gritos são cercados de barulhos, conversas ao telefone e com riffs de guitarra semelhantes aos da suíte “Echoes”, gravada pelo Floyd no álbum Meddle (1971), encerrando a canção com um bonito dedilhado ao violão, que transmite o clima de solidão vivido por Pink.
Pink no quarto de hotel (foto retirada do show)

“Nobody Home” é Pink revendo sua vida, deparando-se com a solidão e a ausência das pessoas de quem ele gosta. Apesar de estar em um quarto de hotel confortável,ele está sozinho, e tenta falar com as pessoas que gosta através do telefone, mas nunca há ninguém em casa. A canção é construída apenas ao piano e com os vocais de Waters.

“Vera” e “Bring the Boys Back Home” trazem as lembranças do pai de Pink à mente do astro do rock. Vera foi uma famosa cantora dos anos 40, e ao que parece, era um ídolo do pai de Pink, que ficou na mente do personagem central de The Wall por alguma razão que não é clara a princípio, mas que se encaixa quando surge “Bring the Boys Back Home”, como um manifesto, pedindo a volta dos soldados que estão na guerra enquanto estão vivos. Aqui, vale lembrar que o pai de Pink morreu durante a guerra, então, a associação mais óbia é a de que Pink ouvia Vera cantando quando recebeu a notícia da morte de vários soldados ingleses durante a guerra, entre eles, seu pai.
Telefone ocupado, batidas na porta, gritos, nos levam a “Comfortably Numb”, onde um médico surge para salvar Pink. Esse médico, um dos tantos Pinks que aparecem na história, é mais uma alucinação, e tenta encontrar os pontos que doem dentro de Pink. Porém, o próprio Pink não sente dor. Ele sente algo que não consegue explicar, parecido com uma doença que teve na infância, mas diferente. Pink sente-se confortavelmente anestesiado, mas sem saber por quê. O médico é basicamente o lado consciente de Pink, tentando salvá-lo da profunda crise depressiva onde ele se encontra, e que luta contra o lado mais afetado pelos abusos das drogas e todos os demais fatos que levaram Pink ao estado psicológico e mental que se encontra.
Musicalmente falando, temos um dos mais belos solos de guitarra da história do rock, e nada mais precisa ser dito. Ouvir “Comfortably Numb” e deliciar-se com o solo de Gilmour é como ir em um buffet de sorvetes e se esbaldar com a cobertura. Uma das melhores canções de todos os tempos, e, por incrível que pareça, é uma das canções que ficaram de fora do álbum solo de Gilmour. Estamos no ápice da insanidade mental de Pink, que é exatamente quando encerra-se o lado C.
Pink ditador (filme)

“The Show Must Go On” é uma leve balada que abre o lado D, parecida com diversas canções da fase More, Atom Heart Mother (1970) e Meddle. Pink adquire forças internas para voltar a ser um astro do rock, ou seja, ele se lembra do passado glorioso como artista, e decide investir nele para poder se recuperar. 

A mente entorpecida cria agora o novo astro Pink, que nos é apresentado em “In the Flesh!”, e que musicalmente é igual a “In the Flesh?”, com diferença apenas na melodia vocal. Ainda preso em seu muro, Pink volta aos palcos, mas como um ditador nazista liderando seu exército (sua banda), que despreza e agride homossexuais, negros, judeus e drogados, além da maioria de seus fãs, e então, a mente de Pink pira de vez, chegando a “Run Like Hell”, onde o jogo de frases entre Gilmour e Waters mostra a batalha que está acontecendo no cérebro do pobre Pink, que está à beira da morte. Trata-se de uma canção disco, disfarçada pelos efeitos de Wright, e é outra que ficou de fora do álbum solo de Gilmour.
A famosa marcha dos martelos (filme)
Os vermes finalmente tomam conta do cérebro de Pink, agora já em um estado deprimente, e “Waiting for the Worms” incita Pink a viver. Uma plateia (a parte do cérebro de Pink que está no limbo) grita pelos vermes, e Pink não resiste, entrega-se à morte, apenas esperando pelo verme que irá decidir seu futuro dentro do muro. O andamento lento da canção vira uma marcha que anuncia o que espera Pink dali em diante, bastando para isso ele seguir os vermes. No filme, aparece uma das mais famosas cenas da história do Pink Floyd, que é a marcha dos martelos nazistas.
Pink sozinho esperando pelo julgamento final
Pink, cada vez mais alucinado e angustiado, pede proteção aos vermes, avisa que não quer ser mais um ditador, que já compreendeu o que fez, e grita “Eu quero voltar para casa!“, na curta “Stop!”. Assim, os vermes o levam para o julgamento final em “The Trial”, para alguns, o momento do êxtase de todo o LP.
Construída sobre um arranjo orquestral, essa canção narra o julgamento de Pink por ele mesmo. Uma espécie de verme-promotor conta toda a história de Pink, fazendo uma revisão do que ouvimos da estória, e assim, personagens que contribuíram para a construção do muro, como o diretor da escola e a mãe de Pink, são chamados para depor. O diretor descasca Pink, proferindo podridões e outras baixarias, e a mãe apenas diz que “nunca quis que ele causasse nenhum mal”, e pede para levá-lo para casa para protegê-lo. Pink, agonizando, diz que “sim, eu estou louco, mas deve haver uma porta no muro por onde eu tenha entrado”.

O grande-verme
Assim, o grande-verme surge, e dá a sentença final. Após ver toda a vida de Pink, com tudo o que ele jogou fora, desprezou, a forma como se comportou, chegando ao cúmulo de isolar-se do mundo, criando um muro entre ele e aqueles que o amavam, e o sentimento de culpa finalmente sendo assimilado por Pink, o grande-verme decide que está na hora de derrubar o muro, e assim, uma gigantesca explosão coloca o muro abaixo.

Fora do muro, em “Outside the Wall”, Pink reencontra as pessoas que o amam, e que ele também ama. Recebendo o apoio e o carinho de cada um, seja sozinho ou em pares, Pink acorda da alucinação cercado pela família e pelos amigos, voltando à realidade de sua vida, como uma pessoa que passou por grandes dificuldades por consequência dos abusos de drogas, prepotência, arrogância e a sentida ausência de um ente paterno para restringir os limites e excessos de um garoto que cresceu no pós-guerra, encerrando a estória de um dos mais importantes álbuns conceituais do rock.

Palco de The Wall sendo montado durante a “The Wall Tour”
A curta e histórica turnê do disco afundou de vez com as finanças do Pink Floyd, que na sequência lançaria o álbum The Final Cut (1983), praticamente um disco solo de Waters lançado sob o nome Pink Floyd apenas por obrigações contratuais. Wright havia sido demitido do grupo ainda durante as gravações de The Wall. Mason chegou a ser substituído por Andy Newmark em “Two Suns in the Sunset”, e Gilmour tem uma participação discretíssima no disco, praticamente atendo-se ao violão e deixando a guitarra de lado.

Após o lançamento de The Final Cut, Waters saiu para seguir carreira solo, lançando The Pros and Cons of Hitch Hiking, e uma longa batalha judicial culminaria no retorno de Gilmour e Mason como Pink Floyd no álbum A Momentary Lapse of Reason (1987), tendo Wright como músico convidado. Mas isso já é assunto para outro artigo…

26 comentários sobre “Pink Floyd: desvendando “The Wall”

  1. Fiquei de ajudar a fazer esse post e não consegui. Porém lendo-o agora fico me perguntando o que poderia acrescentar já que os irmãos Machado fizeram um ótimo trabalho.
    Parabéns

  2. Bueno, foi uma lástima não termos nos organizado melhor para poderes participar, mas por um lado foi bom, pois não precisasses te envolver nos arranca-rabos entre eu e meu irmão… saiu cada briga que, se não fôssemos irmãos, acho que tinha dado morte… que dificuldade para obter um ponto de vista com que os dois concordassem…

    Tu não sabes do que tu escapou…

  3. Senhores,

    Obrigado pelo Post!

    A boa noticia é que ganhei o disco THE WALL de um amigo e eu o ouvi durante essa semana, coincidencia tremenda!!

    Gostei do disco… de verdade!! Esperava algo totalmente diferente e o disco me surpreendeu positivamente….. sobre a história…. bom… vou ouvir de novo tendo esse conceito na cabeça… Mas eu diria que é menos do que eu imaginava que era…..

    curioso isso não????

  4. Tudo que o Pink Floyd fez entre "Dark Side of the Moon" e "The Wall" é não menos que magnífico, mas se eu preciso apontar meu favorito entre eles escolho "The Wall". Apesar de considerar David Gilmour como o melhor músico da banda, sou um grande fã de Roger Waters. Seu talento como compositor é imbatível, e o conceito construído nesse álbum é não menos que fantástico, podendo ser relacionado com muitos artistas e seus devaneios. O acompanhamento musical é fantástico, e algumas das canções se tornaram mais que clássicos do grupo, clássicos do rock.

  5. Cara, por isso q ta caindo o mundo aqui em Porto Alegre, o Daniel gostou de algo prog, hoeiaoeaiea

    Concordo com o Daniel em termos de que tudo o que foi feito entre o Dark Side e o The Wall eh magnifico, mas o meu preferido eh Wish You Were Here. Shine on You Crazy You Diamond eh uma maravilha prog quase q insuperavel dentro da discografia do Floyd, perdendo apenas, na minha opiniao, para great gig in the sky e as melhores suites da banda, atom heart mother e meddle.

    Os meus albuns favoritos sao os q estao contidos as suites citadas: Atom Heart Mother e Meddle

  6. Eu gosto muito desse disco em todas as suas versões, a ao vivo, o filme e o disco em si. Ele é pra mim um disco que une perfeitamente música e estória.
    Não é o meu favorito da banda. Meu favorito é o The Piper at the gates of dawn.

  7. Ótimo artigo!

    Apenas uma correçãozinha: o disco de 1978 do Glimour não é About Face, mas um disco homônimo "Davi Gilmour". About Face foi lançado em 1984.

    Abraço

  8. Pink Floyd merece comentários longos! xD Os melhores discos do Floyd, pra mim, são o Atom Heart Mother e o Wish You Were Here, empatados e seguidos de perto pelo The Piper at the Gates of Dawn. The Wall eu ponho no nível do Final Cut – talvez um pouquinho abaixo -, ou seja, é um ótimo disco, mas o Floyd conseguiu bem mais do que isso anteriormente! Mas vamos ao post.
    Ainda bem que vcs seguiram o disco e não o filme, pois este não agradou ao próprio Waters, nem sei exatamente o porquê. É impressionante a riqueza dessa obra. Por mais que não seja meu trabalho favorito de Waters, em termos musicais, The Wall é surpreendente tanto pela musicalidade como pelos diversos elementos que cercam o seu conceito. Eu adoraria ver uma versão cinematográfica que fizesse jus a esse álbum, pois até o filme que fizeram consegue passar uma ótima sensação ao assisti-lo. Por exemplo, a parte do ditador eu acho que tem bem mais impacto no disco do que no filme, mas até no filme ficou legal. Tenho um amigo integralista que achou o filme fraquinho, mas adorou essa parte! hahaha
    Quanto à música, o mais impressionante é que li em uma entrevista, provavelmente do Gilmour, ele dizer que algumas músicas, como "Nobody Home", o Waters compôs em questão de minutos. Alguém dizia "essa música não tá funcionando", então ele saía e voltava com uma nova pra colocar no lugar! xD Minhas faixas favoritas são "One of My Turns", "Hey You", "Vera Lynn"/"Bring the Boys Back Home" (só funcionam melhor juntas), "Comfortably Numb" (um pouquinho overrated), "Waiting for the Worms" e a fodomenal "The Trial". A única bomba realmente é "Run Like Hell"… Não entendo como podem gostar dessa música!
    Quanto ao conceito do disco, acho que vcs não ousaram ir além da história narrada, até pq seria bastante arriscado, mas eu acredito que o Waters queria bem mais do que contar uma storinha com esse disco. E acho que a crítica dele vai muito além do universo dos grandes rock stars excêntricos e do show business. Se eu tiver enganado, foda-se Roger Waters, meu conceito é melhor que o dele! HAHAHA Mas, como eu dizia, acho que esse disco tenta retratar um fenômeno das sociedades contemporâneas e que é comum tanto à Filosofia como à Literatura, que é o da mecanização da vida, de como nos tornamos seres mórbidos – e isso onde menos percebemos – invertendo os valores naturais, na medida em que preservamos nossas vidas eliminando nossa vida. Assim, nos escondemos em um muro, onde ficamos totalmente protegidos, mas também perdemos a possibilidade de viver com os demais. Bem, não vou adentrar nos detalhes dessa questão, pq pode parecer muita viagem, e eu também não tenho muita bagagem pra falar sobre isso, então quero apenas afirmar que, no meu entender, é disso que o Waters tá falando, mais do que sobre a vida do Waters ou sobre o rock. A banda dele se chamar Bleeding Heart Band só parece confirmar minha hipótese.
    No mais, parabéns pelo texto! Meu inglês fraquíssimo não permite analisar melhor essas coisas! xD

  9. The Wall eu ponho no nível do Final Cut – talvez um pouquinho abaixo

    "Comfortably Numb" (um pouquinho overrated)

    A única bomba realmente é "Run Like Hell"… Não entendo como podem gostar dessa música!

    A fanfarronice não enxerga limites.

  10. 1) Sim, The Final Cut é um ótimo álbum, tão bom quanto ou melhor que o The Wall. Mas os 3 que eu citei superam todos!

    2) A música não é ruim, é maravilhosa, tanto que pus entre as minhas favoritas! Mas dizer que é a melhor do Floyd, como muita gente faz, ou colocar acima do restante do disco, acho isso besteira.

    3) Vai dizer que gosta dessa música chata? xP

  11. Não é tão estranho o Daniel ter curtido o The Wall, pois é um disco progressivo "em termos"…
    Mas ele mordeu a isca! Qualquer dia, o Daniel vai tah batendo punheta ao som de Eloy! xD

  12. Belíssimo texto.

    O The Wall já me rendeu várias noites de discussões com os amigos – regadas a cerveja, muita cerveja.

    Já tem mais de vinte anos desde a última vez que vi o filme e as cenas iam voltando a cada linha que eu ia lendo. Não sei se tenho vontade de vê-lo inteiro novamente (chega!), mas acho que vou ouvir o Is There Anybody Out There umas quinze vezes seguidas…

    Bom, sou mais um a adicionar o blog aos favoritos. Longa vida à Consultoria.

  13. Muito obrigado pelos elogios, Michel! São comentários assim que nos fazem ter vontade de seguir escrevendo sobre aquilo que amamos tanto e sobre o qual sempre podemos aprender mais algumas coisas!

    Longa vida a todos nós!

  14. Erro corrigido, realmente passou. A discussão foi tanta entre eu e o Micael q no fim das contas cada um escreveu uma parte e depois juntou tudo. Eu discordo de muito do que o Micael escreveu (e vice-versa), mas creio que conseguimos passar a ideia central do disco. O fato da discordância se deve principalmente por eu ser uma viúva de Waters. Depois dele, o Floyd nunca mais foi o mesmo.

    Fernando, pena que não pudeste colaborar. Com certeza, teu conhecimento seria uma boa balança para as brigas internas minha e do Micael

    Abraços e perdoem algo.

  15. Ótimo post mesmo!! Não conhecia o blog mas passarei a visitar 🙂
    Já avisei pro meu irmão, que só viu o filme recentemente e vai no show, pra ler isso tb!
    Eu fui ao show em 2010, mas só tinha visto o filme uma vez e mal me lembrava dele. (Eu tava viciada no The Piper e no Dark Side na época hehe)
    Foi só no show que compreendi todas as letras e entrei na viagem do disco, e foi maravilhoso ter esses e vários outros "insights" no próprio show. Sai de lá boquiaberta e agora q vou ver de novo no Brasil tenho certeza que terei outras reflexões! Vale mto a pena, todos têm que ir!!

  16. E detalhe! Antes de começar o show em Montreal o Roger Waters disse que no mesmo dia, há X anos atrás, ele cuspiu um fã…que estava ali de novo na primeira fileira!! Ele pediu desculpas pra ele e falou que não fazia mais essas coisas haha
    Foi mto emocionante pq era importante pro Roger…no fim ele gritou TEAR DOWN THE FUCKING WALL!!! Falou que tinha sido o melhor show da turnê até então…
    *morri*

  17. Jé, obrigado pelos elogios, e continue nos honrando com sua presença no blog.

    Quanto ao show, deve ter sido uma loucura ter visto este espetáculo no primeiro mundo… Quando sair a resenha de uma das apresentações no Brasil (estaremos presentes ao show de Porto Alegre)por favor nos informe se toda a estrutura apresentada lá fora foi trazida ao Brasil ou se algo foi "limado" para o pessoal do distante terceiro mundo…

    E essa do fã que inspirou tudo estar presente… momento histórico, com certeza!

  18. Está ai… estou em 2013 comentando essa postagem. Tenho 16 anos, e sou admirador do trabalho do Pink Floyd, e ainda um descobridor. (Ainda há longas e longas garimpadas!) Vou começar a visitar o blog, ver postagens antigas, pois eu gostei muito do que vocês escreveram! Obrigado
    Abraços…
    20/06/13

  19. Segundo dos meus 5 discos favoritos do PF, The Wall é tão emblemático que só falta virar “patrimônio da humanidade” pela UNESCO! hehehehehehe

  20. Gostei muito de conhecer mais sobre o Pink. Entei paenas para saber o significado dos martelos, ja que tenho uma camiseta com eles, e fiquei sabendo muito mais do que queria. Parabéns e obrigada por compartilhar conosco!

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