Shows Inesquecíveis: Kiss (São Paulo, 2009)

Shows Inesquecíveis: Kiss (São Paulo, 2009)

Por Rafael “CP”

Inaugurando a coluna “Shows Inesquecíveis”, trago hoje um relato a respeito do show daquela que pode não ser minha banda favorita, mas que sem dúvidas realizou o melhor espetáculo que já presenciei em minha vida, devido à qualidade de sua produção e da banda em si, além de fatos que tornaram esse dia muito peculiar.
Em 7 de abril de 2009 chegou finalmente o dia pelo qual eu estava esperando desde a última aparição da banda na turnê do álbum Psycho Circus, em 1999. Nesses dez anos muita água havia passado sob a ponte. Peter Criss e Ace Frehley caíram fora, cedendo seus lugares para o velho chegado da banda Eric Singer, que já havia ocupado o posto de baterista do grupo nos anos 90, e ao ex-guitarrista do Black ‘n Blue e na época roadie, Tommy Thayer. A expectativa em relação à “Kiss Alive/35 World Tour”, que celebrava os 35 anos do grupo era grande, assim como a de ver a nova formação em ação.
Mesmo horas antes do show o dia já dava mostras de que prometia, pois ao sair do trabalho, devidamente maquiado tal qual Paul Stanley, já causei certo mal estar com meus patrões (o show foi em uma terça-feira). No entanto, a essa altura eu não estava me importando, pois estava a caminho de uma noite incrível ao lado de amigos muito especiais que eu conhecia apenas virtualmente, e estava prestes a buscá-los na rodoviária para curtirmos esse show juntos. Rumando ao Tietê via metrô, chegando lá encontrei mais irmãos roqueiros rumo ao Arena Anhembi, além de meus convidados: Bruno, sua esposa Marinez e a queridíssima Janny, que rodaram do Mato Grosso do Sul até São Paulo em busca da banda mais quente do mundo.
No caminho até o local do show, além de estar pensando em que desculpa usar para justificar minha falta no trabalho em plena quarta-feira, pudemos perceber a grande oferta de ingressos nas mãos de cambistas e a grande procura, o que nos fez supor que a casa estaria cheia. Nós, que tínhamos dois ingressos de sobra, pertencentes a um casal do Mato Grosso do Sul que infelizmente não pôde comparecer no show, estávamos autorizados a vender as entradas apenas pelo mesmo preço que foram adquiridos, mas sem tempo, logo adentramos o Arena Anhembi, desperdiçando dois ingressos que poderiam ser disputados no tapa por uma multidão. Na fila, fizemos algumas amizades com outros fanáticos. Inclusive, uma dessas amizades nos garantiu o direito de entrar com uma câmera fotográfica profissional no evento, ação proibida pela organização do evento, e que nos permitiu tirar fotos de excelente qualidade.
Incrivelmente, a organização foi muito boa, e tudo funcionou perfeitamente: entrada ordenada, trânsito bom… Logo procuramos o melhor lugar possível. Com cerca da metade da capacidade da Arena Anhembi lotada, às 20:30, subiu ao palco a banda de abertura, os brasileiros do Dr. Sin, que agradaram bastante ao público presente. Andria Busic (baixo e vocal), Ivan Busic (bateria e vocal), Eduardo Ardanuy (guitarra) e Rodrigo Simão (teclado) tocaram por 45 minutos, executando clássicos da banda como “Emotional Catastrophe”, a envolvente “Fire” e “Drowning in Sin”, música do mais recente álbum do quarteto, Bravo, de 2007. Para fechar, não poderia faltar a excelente “Futebol, Mulher e Rock n’ Roll”, que fez o Anhembi cantar em coro o famoso refrão: “eta, eta, eta, brasileiro quer… futebol, mulher e rock n’ roll, meu Deus como isso é bom!“. De fato, muito bom!
Ao término do set do Dr. Sin, roadies entraram em ação, acertando os últimos detalhes. À essa altura, na primeira batida no bumbo da bateria de Eric Singer, já pudemos sentir uma tremedeira na barriga que se estenderia por toda a noite. A qualidade de som era notável, sem comparação com a modesta aparelhagem da banda de abertura, que só serviu pra aquecer os ouvidos famintos por rock. Em um Anhembi então completamente lotado, o sistema de som começou a tocar “Won’t Get Fooled Again” do The Who, dando indícios de que algo estava para acontecer.
Enfim, às 21:35 desceu uma cortina preta com um imenso logo prateado do Kiss, e ao ser pronunciado o já conhecido grito de “Hello São Paulo, you wanted the Best, you got the Best. The hottest band in the world… Kiss”, foi desfraldada a cortina e executado um imenso show de fogos de artifício, anunciando a entrada do quarteto liderado por Paul Stanley (guitarra e voz) e Genne Simmons (baixo e voz), que começou arrebentando com a clássica “Deuce”, seguida de “Strutter”. Após alguns problemas com o microfone de Paul, veio o primeiro diálogo com o público, onde o guitarrista declarou seu amor pelo Brasil, com as velhas frases clichês, citando o fato de que não existe público no mundo como o daqui.
O show seguiu com “Got to Choose” e um show de labaredas de fogo em “Hotter Than Hell”. Logo depois Eric Singer assumiu os vocais em “Nothin’ to Lose”. Na sequência, “C’mon and Love Me”, e um momento hilariante: Paul chamou, equivocadamente, “Watchin’ You”, mas logo percebeu o erro e retomou o microfone para declarar: “também conhecida como ‘Parasite’”. “She” teve direito a um belo solo de Tommy Thayer, com direito a tiros de fogo saindo de sua Les Paul.
Então finalmente foi executada “Watchin’ You”, seguida de mais clássicos, como “100.000 Years”, “Let me Go, Rock n’ Roll” e “Black Diamond”, iniciada com a introdução de “Stairway to Heaven”, do Led Zepellin. Estranhamente, em seguida veio a sempre saideira “Rock n’ Roll All Nite. Mas espera aí, onde estavam aqueles clássicos mais conhecidos, que levaram a maior parte do público para o show? A banda se despediu e simplesmente saiu, com milhares de pedidos de músicas diversas por parte dos fãs desesperados, depois de uma linda chuva de papel picado com mais de 30 mil pessoas cantando junto um dos maiores hinos do rock n’ roll.
Eis que, depois de um pequeno hiato, a banda voltou ao palco, perguntando se o pessoal queria ir embora. A resposta foi um enorme não, dando início à segunda parte do show, desfilando grandes clássicos. E lá veio “Shout it Out Loud”, “Lick It Up” com Paul pedindo para lamber as garotas brasileiras, levando as mesmas ao êxtase. Em “I Love it Loud”, além da já conhecida cusparada de sangue executada por Gene Simmons, houve também sua elevação através de cabos de aço, levando-o para cantar essa música sobre a iluminação, no topo do palco.
Após a dançante “I Was Made for Lovin’ You”, veio o melhor momento da noite, com Paul Stanley perguntando se nós o queríamos mais perto, pois ele queria ir para o meio da galera. Para minha surpresa ele veio, e levado por uma tirolesa, veio parar bem ao meu lado. Foi o momento top da noite, ver meu ídolo cantando “Love Gun” ao meu lado foi fantástico. Logo depois, minha canção favorita mudou de nome, de “Detroit Rock City” para “São Paulo Rock City”, cantada em coro por todos os presentes, inclusive o solo de guitarra, que nem foi ouvido, escutando-se apenas um “ô ô ô ô” da plateia, encerrando um show incrível, arrancando minhas lágrimas ao som de “God Gave Rock n’ Roll to You”, que rolou nos alto-falantes.

O público ainda tentava digerir tamanha porrada musical, e os fogos de artifício não paravam de iluminar o céu da capital paulista. Depois de ver o melhor show ao vivo da face da Terra, fomos tomar um belo porre em um pub, com as caras pintadas e borradas de tinta guache, onde muitas pessoas nos pediram para tirar fotos, nos chamando de privilegiados por termos comparecido a semelhante espetáculo. Porre tomado, várias idas e vindas desmaiado no metrô sem acordar na estação certa, algumas horas depois cheguei eu em casa no horário em que já deveria estar trabalhando, tentando dormir em vão, pois aquele espetáculo de som e cores até hoje não saiu da minha mente.

                          
Set list:

1. Deuce
2. Stutter
3. Got to Choose
4. Hotter than Hell
5. Nothin’ to Lose
6. C’mon and Love Me
7. Parasite
8. She
9. Watchin’ You
10. 100.000 Years
11. Cold Gin
12. Let Me Go, Rock n’ Roll
13. Black Diamond
14. Rock and Roll All Nite
Bis
15. Shout It Out Loud
16. Lick It Up
17. I Love It Loud
18. I Was Made Lovin’ You
19. Love Gun
20. Detroit Rock City

6 comentários sobre “Shows Inesquecíveis: Kiss (São Paulo, 2009)

  1. Acho uma pena que eles toquem tão poucas músicas dos anos 80 pra frente, em especial porque não estão mais com Ace Frehley e Peter Criss, fato que acabava engessando a banda nos anos 70. Gostaria muito de ver um show solo de Paul, pois, além dele ser para mim "o cara" do grupo, sei que ele executa um repertório variadíssimo, com uma ênfase legal nos anos 80, época na qual foi nitidamente liderança mais forte do grupo.

  2. NA verdade , eu adorei o fato de eles tocarem musicas menos constantes em seus sets , pois as mais conhecidaente sempre vê em dvds e tal. Pra mim o set foi perfeito , embora a minha musica favorita seja Psycho Circus

  3. A performance da banda foi muito boa mesmo. Mas odiei a organização do local.

    A pista VIP estava gigantesca, quem estava na pista normal, mesmo estando na grade (meu caso), viu o show de muito longe.
    O palco também estava baixo demais.
    E no final ainda teve um tumulto razoável porque algum FDP esqueceu (!?) de abrir o portão… a galera teve que derrubar na bicuda.

    Mas, quanto à performance da banda, concordo com você. Foram muito bem, conforme o esperado.

  4. Muito massa. Eu sou um dos que VI o KISS em 99, com a formação original, e até hoje este é o melhor show da minha vida. Só classicos dos anos 70, sem imitações de Eric Singer ou Tommy Thayer para os mascarados originais. Era o Ace Frehley ali, na minha frente. Era o Peter Criss cantando "Beth". Pelo visto, a lógica do show é a mesma, inclusive o voo da borboleta de Paul Stanley (que aqui em Porto Alegre tb ficou do meu lado praticamente).

    Uma pena as brigas (e os tragos) terem afastado Ace e Peter do grupo. Os anos 80 do Kiss não servem para muita coisa na minha opinião (tirando o Hot in the Shade e o Revenge, bons discos)

  5. "Revenge" é de 1992, malandro!!!!

    Hehehe, mas eu imagino que te refiras ao Kiss sem maquiagem, não? Bom, eu gosto muito dessa fase, curto mesmo, em especial o "Lick It Up" e o "Revenge". Mesmo no "Crazy Nights", o que menos curto dessa época, encontro material que me agrada, como "Turn on the Night". "Hot in the Shade" pode não ser um discaço nem nada, mas minha música favorita da banda está nele: "Hide Your Heart".

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