I Wanna Go Back: Journey – Arrival [2001]

I Wanna Go Back: Journey – Arrival [2001]
Por Diogo Bizotto
Aproveitando a vinda do vocalista Steve Augeri para o Brasil no próximo final de semana, realizando uma apresentação em São Paulo no dia 12 (sábado) e outra em Porto Alegre no dia seguinte, na qual estarei presente junto a uma pequena mas fanática turma de maníacos por Journey, trago para vocês nesta semana meus comentários a respeito do álbum Arrival, disco lançado em 2001 pelo grupo, o primeiro a contar com os vocais de Augeri, encerrando definitivamente a parceria com o lendário vocalista Steve Perry.
Antes de apresentar o disco, é importante discorrer sobre a situação do Journey na época. Tendo encerrado suas atividades em 1987, após a turnê do álbum Raised on Radio (1986), o grupo ficou inativo até 1995, com seus membros se concentrando em outras atividades, incluindo aí a carreira solo de Steve Perry e as bandas Bad English, que contou com o guitarrista Neal Schon e o tecladista Jonathan Cain em suas fileiras; e Hardline, que trouxe o guitarrista em seu primeiro e excelente álbum. Em 1995, a formação clássica do grupo, contendo, além dos citados, Ross Valory no baixo e Steve Smith na bateria se reuniu, sob a condição imposta por Perry em trocar o empresário Herbie Herbert, desde o início da carreira com o grupo, por Irving Azoff.
Essa reunião teve como resultado o álbum Trial By Fire, lançado em outubro de 1996. Apesar de não constituir um clássico instantâneo como foram Escape (1981), Infinity (1978) e Frontiers (1983), o disco é recheado de destaques, canções que, mesmo em uma época atípica e não muito benéfica para o gênero, não abriram mão do estilo próprio do Journey. Músicas como “Message of Love”, “One More”, “Forever in Blue” e “Can’t Tame the Lion”, além da bem sucedida balada “When You Love a Woman”, mostraram um grupo maduro e que não perdeu a mão na hora da composição. Porém, o relacionamento com Perry, já desgastado desde meados dos anos 80, provou continuar difícil. Durante uma escalada no Havaí, o vocalista sofreu sérios ferimentos no quadril, que o impossibilitavam de se apresentar ao vivo. Assim, a banda não saiu em turnê para promover o disco, mas manteve a esperança de fazê-lo tão logo Perry se submetesse a uma cirurgia a fim de colocá-lo novamente na forma necessária, fato constantemente adiado pelo cantor. Dessa maneira, Neal Schon e Jonathan Cain resolveram procurar outro vocalista para levar o Journey novamente à estrada.
Encontraram o substituto de Perry na forma de Steve Augeri, ex-Tall Stories e ex-Tyketto. Para o lugar do baterista Steve Smith, que também havia deixado o grupo, foi selecionado Deen Castronovo, virtuoso músico que já havia tocado junto de membros do Journey nos anteriormanete citados Bad English e Hardline. A primeira atitude do renovado grupo foi a gravação, em 1998, de uma música para a trilha sonora do filme “Armageddon”, a excelente “Remember Me”, estreando a nova formação em alto nível.
Com a banda já na estrada, foi lançado mundialmente em 2001 (no final de 2000 no Japão) o disco Arrival, que trouxe poucas diferenças em relação ao Journey de outrora com Steve Perry. Augeri se mostrou um bom substituto tanto em estúdio quanto ao vivo, trazendo um approach mais hard rock e menos pop ao grupo, apesar de também se sair muito bem nas baladas. Aliás, para alguns pode ser um problema o fato do álbum contar com um número elevado de canções nesse estilo, mas algumas delas certamente são destaques do álbum, as quais especificarei em seguida.
“Higher Place” tem a cara das grandes composições do Journey: uma faixa mais acelerada porém melódica, sem nunca apelar para formatos batidos e repetições. Segue a escola de canções como a clássica “Separate Ways” e constitui um dos destaques do disco e uma das favoritas dos fãs. Único sucesso do álbum, que foi o primeiro do Journey desde 1977 a não atingir o status de disco de ouro (500 mil cópias comercializadas), “All the Way” é uma balada conduzida pelo piano de Jonathan Cain nas estrofes e assistido por ótimos backing vocals no refrão, além de contar com um dos belíssimos solos desse que é um de meus guitarristas favoritos, o fantástico Neal Schon. Destaque também para a produção de Kevin Shirley, límpida e equilibrada.
Ross Valory, Neal Schon, Deen Castronovo, Steve Augeri e Jonathan Cain
A terceira canção é muito especial para esse escriba, pois não apenas é minha favorita do álbum, como é um dos grandes destaques de toda a discografia da banda, um verdadeiro clássico injustiçado. A bela letra de “Signs of Life” recebe uma excelente interpretação de Augeri, em uma linha vocal mais atípica nas estrofes, descambando para um refrão mais tradicional, porém emocionante, destacando novamente o bom trabalho de backing vocals do grupo, que tem a sorte de contar com mais quatro membros com boa capacidade vocal além de Augeri. A estrofe que precede o solo de guitarra é algo para o qual não encontro palavras para descrever, capaz de arrancar lágrimas do mais dedicado ouvinte.
A marcada “All the Things”, introduzida por uma melodia executada na guitarra, tem nesse instrumento seu principal fio condutor, através de riffs simples, então retornando para a melodia inicial. Uma balada mais tradicional, “Loved By You” tem no piano e nos teclados de Jonathan Cain sua característica mais marcante. Uma boa canção, mas sem o gabarito de clássicos como “Open Arms” e “Faithfully”. Como escrevi anteriormente, o número de baladas do disco é elevado, e em “Livin’ to Do” temos a segunda em sequência. Porém, nesse caso, com mais elementos marcantes, como a bela introdução executada por Schon no estilo violão espanhol. Não contente, o guitarrista despeja licks com uma pegada mais blues que abrem passagem para a voz de Steve Augeri e conduz a música descendo a mão com mais simplicidade, deixando o cargo de dar tons mais épicos à canção aos teclados de Cain e às viradas de Deen Castronovo. Parece repetição, mas não posso deixar de citar mais um lindo solo de Schon, uma máquina em se tratando de expressar bom gosto através das seis cordas.
“World Gone Wild” traz um Journey mais pesado e acelerado, como nunca deixou de ser ao menos em algumas canções a cada disco. Uma linha vocal mais reta segue o instrumental intenso porém simples, temperado por algumas viradas de bateria. Seguindo na linha mais simples, mas com uma melodia vocal mais inspirada no refrão, “I Got a Reason” é interessante, mas constitui um ponto mais baixo do álbum. Mais uma balada eleva os ânimos novamente: “With Your Love” é aquela típica (para os padrões do Journey) canção emocional, perfeita para que a plateia acenda isqueiros durante sua execução. Muitos diriam piegas, brega… E não estão errados. Mas qual o problema em ser piegas de vez em quando? Belíssima música, para entoar sem ser medo de ser feliz.
É pouco ou quer mais baladas? O Journey te dá mais uma! “Lifetime of Dreams” pode não ser tão boa quanto a anterior, mas reserva bons momentos para o ouvinte que aprecia esse tipo de canção, em especial o bom refrão. A introdução de “Live and Breathe” revela a ótima sonoridade extraída do baixo de Ross Valory, porém, fica claro que uma produção um pouco mais ousada ou uma mixagem que valorizasse mais os riffs de Neal Schon tornaria essa faixa mais empolgante, pois quanto mais pesada soa a guitarra, melhor soa a canção. “Nothin’ Comes Close” é a música mais bluesy do trabalho, remetendo a alguns momentos dos álbuns Evolution e Departure, dessa vez com a guitarra recebendo a evidência merecida. Um dos momentos mais “pra cima” do disco surge com “To Be Alive Again”, canção de instrumental simples mas muito bem trabalhada em cima de backing vocals, co-escrita com Eric Bazilian, que compôs diversos sucessos junto a artistas como Joan Osborne, Robbie Williams e Jon Bon Jovi.
Alguém pediu mais uma balada? “Kiss Me Softly” recebeu uma tranquila levada por parte de Deen Castronovo, entremeada por piano e delicadas intervenções guitarrísticas. Os vocais de Augeri são muito bem encaixados, dando a interpretação necessária à faixa, sem exageros. Vale citar que esta, assim como outras três músicas do disco foram compostas em parceria com Jack Blades, que obteve fama internacional como baixista e vocalista das bandas Night Ranger e Damn Yankees, além de uma frutífera carreira como produtor. O disco chega a seu fim com “We Will Meet Again”, munida de um andamento atípico, que dá a impressão de que a faixa está em eterna busca pelo clímax. A melhor escolha possível para o encerramento do álbum.
O Journey ainda lançaria o EP Red 13 (2002) e o álbum Generations (2005) com Steve Augeri no vocal, mantendo-se sempre na estrada a fim de fazer por merecer a posição devida no cenário musical atual. Se os discos já não vendem aos milhões como antigamente, nada como provar seu potencial sobre os palcos, e essa é uma arte na qual o Journey tem gigantesca experiência, basta assistir a seus shows e ouvir seus discos ao vivo. Neal Schon, em especial, brinca de tocar música, executando seus marcantes solos com facilidade. Hoje em dia o grupo conta com o filipino Arnel Pineda no vocal, tendo lançado o disco Revelation em 2008, e segue excursionando ao redor do mundo, inclusive de apresentação marcada para 30 de março em São Paulo. Mas essa é outra história…
Track list:
1. Higher Place
2. All the Way
3. Signs of Life
4. All the Things
5. Loved By You
6. Livin’ to Do
7. World Gone Wild
8. I Got a Reason
9. With Your Love
10. Lifetime of Dreams
11. Live and Breathe
12. Nothin’ Comes Close
13. To Be Alive Again
14. Kiss Me Softly
15. We Will Meet Again

2 comentários sobre “I Wanna Go Back: Journey – Arrival [2001]

  1. E aconteceu o que eu temia… o show de Steve Augeri em Porto Alegre foi cancelado. A produtora ainda teve a audácia de justificar a atitude dizendo que foi um pedido do artista, devido a problemas familiares, quando na verdade o que ocorreu foi uma baixíssima procura por ingressos. É uma pena, pois tinha grande esperança em ouvir canções como "Signs of Life", "Faith in the Heartland" e "Higher Place" ao vivo…

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