Ouve Isso Aqui: 1975 por André Kaminski

Ouve Isso Aqui: 1975 por André Kaminski

com Daniel Benedetti, Davi Pascale, Fernando Bueno, Mairon Machado, Marcelo Freire e Marcello Zapelini

O duro de estar entre os últimos sorteados (e eu continuo com esta sina) é que a maioria dos discos que eu queria indicar já estiveram presentes em listas anteriores. Mas, para a nossa sorte e privilégio, os anos 70 são tão ricos em ótimas obras que mesmo assim ainda consegui selecionar 6 discos que gosto bastante. A maioria pode não ser um grande destaque do ano, mas creio que todos tenham qualidades suficientes para estarem nesta seção sem gerar muita estranheza. Espero que gostem e que se animem a ouví-los porque há muita coisa boa que estes artistas lançaram neste excelente ano de 1975.


1. Bee Gees – Main Course

André: A banda já havia passeado por muitos estilos e influências, mas aqui começa a sua guinada à disco music e aos anos de hits de sucesso que viriam logo depois com o sucesso do filme e trilha sonora Saturday Night Fever [1977]. “Jive Talkin” até entrou na trilha e eu amo aquele baixo sintetizado, pedal tão pouco utilizado no rock e no pop nos dias de hoje. Claro que suas baladas pop seguem presentes, e com a qualidade de sempre como em “Fanny (Be Tender With My Love)”. É um disco leve e mais singelo que os mais famosos deles, mas que conta com aquelas melodias deliciosas das quais o Bee Gees sempre ofertou em quase todos os seus discos.

Daniel: Outra vez não… não passei da terceira música.

Davi: Main Course é o álbum que marca a chegada do Bee Gees à disco music. E podemos dizer que chegaram em grande estilo!! Afinal, das 3 faixas que se arriscaram no gênero (“Nights on Broadway”, “Jive Talkin´” e “Wind of Change”), duas se tornaram clássicos do conjunto. No restante, o que temos é o trio trazendo mais algumas das lindas baladas que estavam acostumados a nos presentear, sendo que a mais conhecida desse trabalho acredito que seja “Fanny”. Das músicas presentes no lado B, gosto bastante de “Edge of the Universe” e “All This Making Love”, ambas com um pézinho no rock. Não é o meu álbum favorito do Bee Gess, mas é um disco bacana de se escutar.

Fernando: É a virada estilística dos Bee Gees. Ainda que não tenha exatamente todas as características de sua fase disco, já não me agrada tanto quanto os discos anteriores. As harmonias continuam fortes e agora são acompanhadas de um groove mais intenso. Ainda sinto que preciso ouvir mais para captar melhor o disco e a proposta.

Mairon: Um disco de guinada na carreira do Bee Gees. Quem acha que a banda é só Saturday Night Fever, tenha certeza que tudo começou neste disco, e mais ainda, que antes existem 12 belíssimos álbuns que passeiam pelo pop e pelo prog com muita dignidade. Mas em Main Course o trio estava mais dançante, e logo de cara, entregam a clássica “Jive Talkin'” para seus fãs se assustarem com o ritmo extremamente diferente de tudo o que os australianos já haviam gravado até então, com forte influência de Stevie Wonder ao meu ver. Porém, o disco é bem diversificado. Temos influências Beatle em “All This Making Love”, com aquele solinho de guitarra que é muito George Harrison, o moog de “Edge of the Universe” Mas o Bee Gees era especialista em fazer balada, e aqui, ele entrega a lindíssima “Songbird” (que para um desconhecido, pode crer que vai achar que é Elton John quem toca), com uma linda orquestração, a tocante interpretação de Robin Gibb em “Country Lanes”, e a queridinha “Fanny (Be Tender with My Love)”, com os falsetes que qualquer fã de Bee Gees adora imitar, o que também aparece na brilhante “Come On Over” (existe alguma versão nacional para esta linda faixa?) e no bom fechamento de “Baby As You Turn Away”. O que eu gosto mesmo é quando eles vão ao limite da disco music na espetacular “Wind of Change”, e claro, no mega sucesso “Nights on Broadway”, que pérola musical, que trabalho excelente. Uma lástima que as músicas disco são apenas as três primeiras, mas mesmo assim, é um disco excelente, e uma surpresa gigante ver ele aqui.

Marcelo: Quando os irmãos Gibbs lançam, em junho de 1975, Main Course (o último pela Atlantic nos EUA), eles estão colocando no mercado seu 13º LP, ou sejam, não eram mais novatos e já haviam passado por vários estilos. No entanto, é com esse disco que os Bee Gees deixam de ser lembrados apenas como grandes melodistas britânicos e tornam-se, definitivamente, mestres das pistas de danças — ainda que a discoteca propriamente dita só fosse explodir alguns anos depois. O curioso é que essa guinada não foi fruto de um cálculo mercadológico frio, mas consequência de um período turbulento: de certa maneira desprestigiados após terem fracassado mercadologicamente nos dois últimos LP’s, sem grandes hits recentes e criativamente cansados, Barry, Robin e Maurice aceitaram o “exílio voluntário” em Miami, por sugestão do produtor Arif Mardin. Foi a melhor decisão que os quatro poderiam ter tomado e, a meu ver, a que os coloca definitivamente no panteão sagrado da música ocidental, afinal ninguém vende cerca de 220 milhões de discos à toa (há estimativas que dão conta de 250 milhões e as poucas, mas mais sóbrias, que se afastam desses números ficam na casa dos 120 milhões, o que, ainda que improvável, não seria pouca coisa). Em Miami, descobrem novos timbres, ritmos e — no caso de Barry — um novo instrumento: o falsete que redefiniria toda a música pop da segunda metade dos anos 1970. Dessa forma, Main Course traz aquele delicioso momento em que um artista descobre algo sobre si que muda tudo. O álbum é um pot-pourri de soul, R&B, pop e proto-disco que mistura sensualidade, humor e arranjos vivíssimos, além de pitadas de rock, de psicodelia e de progressivo. Se a deliciosa “Jive Talkin’” é a faixa que abre as portas do futuro e inaugura a fase dourada do grupo, “Nights on Broadway” é o aperfeiçoamento estético dessa reinvenção, já com Barry usando o falsete com convicção. Por outro lado, “Fanny (Be Tender with My Love)” mostra que a emoção fraterna dos Bee Gees nunca deixou de existir e que, para quem já passou dos 50 como eu, esse sabor daqueles momentos típicos de Sessão da Tarde eram a felicidade suprema e mal sabíamos disso. Main Course envelheceu muitíssimo bem como trilha sonora não só de 1975, mas dos anos seguintes da década de 70 e início dos 80, com a serenidade dos discos essenciais: soa pop, mas também inventivo; dançante, mas sofisticado; simples, mas carregado de detalhes de produção que revelam novas camadas a cada audição. É o registro de um renascimento musical. Só não é o melhor disco da lista do André porque ele trouxe Novo Aeon do Raul Seixas, imbatível, e também selecionou o tesouro escondido Fish Out of the Water do Chris Squire! Meus destaques: as já citadas “Jive Talkin’”, “Nights on Broadway”, “Fanny (Be Tender with My Love)” e também a magnífica “All This Making Love”, que tanto Elton John quanto Supertramp gostariam de tê-la composto. A gema escondida: “Songbird”, que retoma a sensibilidade melódica da fase final dos anos 60. Vale destacar, por fim, a bela capa do disco.

Marcello: Tirando a trilha sonora de Saturday Night Fever, nunca dei muita atenção ao Bee Gees. Sem dúvida nenhuma os irmãos Gibb sabiam cantar e compor boas melodias, sua banda de apoio era boa, mas nunca me atraíram muito. Então, foi com curiosidade que fui ouvir Main Course, e minha conclusão é simples: é um disco que deve agradar bastante aos fãs da banda, mas não é exatamente para mim. A banda estava começando a abraçar a disco music, e uma de suas músicas (“Jive Talkin’”) acabaria na trilha sonora, e para mim as músicas mais interessantes são justamente as que trazem influências da música das discotecas; uma das marcas registradas da fase dançante do grupo, o vocal em falsete de Barry Gibb, ganha bastante destaque nele. O LP começa bem, com três músicas mais dançantes, “Nights on Broadway”, a já mencionada “Jive Talkin’” e “Wind of Change”, e diminui o ritmo com “Songbird” – a música é desesperadamente baseada em “Desperado”, do Eagles; francamente, em termos de songbirds, sou mais a Christine McVie e o Fleetwood Mac. Dela em diante, o álbum fica cheio de baladas que não me atraem muito (“All This Making Love” é mais animada, mas não gostei dela), à exceção da bela “Come On Over”, com uma boa steel guitar. “Edge of the Universe” também é bem legal, agora com os sintetizadores de Blue Weaver em destaque. Aliás, que belo trabalho do tecladista no disco! Main Course não muda minha opinião sobre o Bee Gees, mas é um disco que dá para ouvir sem problemas.


2. Chris Squire – Fish Out of Water

André: Quando eu ouvi este álbum pela primeira vez, achava que estava ouvindo algum disco do Yes que eu não conhecia ou que veio com o nome errado. Até Chris Squire cantando soa parecido com Jon Anderson, apenas um pouco menos agudo. Na maioria das vezes, quando um disco solo é lançando por um integrante de uma banda no auge da fama soando similar ao que a própria banda faz, significa que suas faixas foram ideias que não foram aproveitadas na sua banda principal. Se essa teoria for correta, olha que incrível que estava Squire como compositor. Pelo menos teve a ideia de não deixá-las mofando nas fitas de gravação e as lançou por si, nos brindando com 5 canções brilhantes. Aproveitando aqui, quem acha que o Yes devia ter encerrado a carreira após a morte do baixista, levanta a mão. o/

Daniel: Eu não conhecia este disco e, André, obrigado pela indicação, pois gostei muito. Pelo que pesquisei, é o álbum de estreia da carreira solo do Squire. Aliás, dispensável falar em suas habilidades de composição e como baixista, além de não me desagradar como vocalista. Um prog rock com pegada jazzística, no qual o saxofonista Mel Collins brilha demais. Minhas favoritas foram “Silently Falling” e “Safe (Canon Song)”.

Davi: Chris Squire foi, certamente, um dos maiores baixistas da história do rock. Sendo assim, não preciso comentar do trabalho que realizou, enquanto instrumentista, nesse disco. Seria chover no molhado. Fish Out of Water joga dentro de seu território comum. Ou seja, um álbum de rock progressivo, onde carrega todas as características do Yes. Em alguns momentos, até mesmo as linhas vocais remetem ao grupo, caso da (ótima) faixa de abertura “Hold Out Your Hand”. Para deixar tudo ainda mais interessante, o disco conta com as participações de Patrick Moraz e Bill Bruford. O disco contém apenas 5 faixas, onde os grandes destaques, para mim, acabam sendo a já citada faixa de abertura, além da lindíssima “Silently Falling”. Excelente lembrança!

Fernando: Um álbum solo imponente em que Squire não só mostra sua técnica lendária, mas também entrega composições refinadas, complexas e emotivas. As linhas de baixo, claro, são protagonistas e conduz todas as músicas. Vale a pena até para celebrar um dos principais músicos do estilo.

Mairon: Com um timaço formado por Bill Bruford (bateria), Patrick Moraz (teclados), Mel Collins (saxofone) e outros convidados, Squire faz aqui um dos melhores álbuns solo do Yes (palmo a palmo com Beginnings e The Steve Howe Album, ambos do Steve Howe). Para quem é fã do Yes, o som é bastante similar, mas mais “modernoso”, onde o baixão Rickenbacker de Fish é o destaque com certeza, principalmente em “Hold Out Your Hand”, na suíte “Safe (Canon Song)”, onde até uma harpinha surge (seria aqui às origens de “Awaken”?), além de um esplendor de arranjo orquestral, e na impressionante “Silently Falling”, repleta de variações e com solos grandiosos de Squire e Moraz. Mas é em “Lucky Seven” que temos o ápice prog do disco, com um show a parte (para variar de Bruford), e o saxofone de Collins dando um ar Van Der Graaf para uma canção tipicamente Yes, onde o baixo de Squire é hipnotizante. Que baita música! E ainda temos a lindinha “You By My Side”, com a bela participação orquestral. Disco fenomenal, e disparado o melhor desta lista. Convido o leitor para conhecer mais sobre a história deste álbum aqui.

Marcelo: Quando você coloca a agulha no lado A e “Hold Out Your Hand” começa a tocar nos alto-falantes das caixas de som de seu aparelho toca-discos, ela evoca de tudo: uma nova faixa do Yes? Esses vocais são do Jon Anderson? Esse órgão de tubos da Catedral de São Paulo situada em Londres é coisa de Rick Wakeman? Na verdade, como curiosidade, ele foi tocado pelo organista da própria catedral, Barry Rose, que conhecia Squire e Andrew Pryce Jackman, pinaista e tecladista que foi companheiro do baixista da banda The Syn (Pré-Yes), e que os conhecia desde a infância. O órgão continua ao longo da música, refletindo as experiências de Squire e Jackman juntos como coristas da igreja. Mas não é nada disso e esse som só pode ser explicado com o clichê mais repetido sobre Chris Squire e que faço questão de reproduzir como se meu fosse, do tanto que nele acredito: se o Yes era um organismo vivo formado por cinco partes extremamente distintas, Fish Out of Water lançado em novembro de 1975 também pela Atlantic Records (o que era essa gravadora nos anos 70, hein?!) deixa algo cristalino: Chris Squire era o coração pulsante e, em muitos sentidos, o cérebro harmônico daquela máquina progressiva. Squire solta no mercado, durante a pausa do Yes, seu único álbum solo em vida e uma obra monumental que coloca o baixo (e a arquitetura sonora em torno dele) no centro da criação artística. Se o sujeito sempre tocou baixo como quem conduz uma orquestra de cordas, aqui ele leva essa abordagem ao limite. O disco é uma fusão exuberante de rock progressivo sinfônico, melodias angulares e arranjos grandiloquentes, com as participações de Patrick Moraz nos teclados (que aqui abre mão dos sintetizadores ARP e usa os Moogs, parecendo absurdamente com… Wakeman), Bill Bruford (Yes, King Crimson, UK e Genesis) na bateria, Mel Collins (King Crimson) no saxofone e o flautista da cena de Canterbury Jimmy Hastings (Caravan). Jackman toca piano e faz as orquestrações desse álbum em que todas as faixas foram compostas, arranjadas e produzidas por Squire. Retornando à faixa de abertura, “Hold Out Your Hand”, ela já estabelece o clima: linhas de baixo melódicas como voz principal, metais conversando com cordas, e Squire cantando com uma clareza que surpreende quem o conhecia apenas como coadjuvante vocal do Yes. Mas nada prepara o ouvinte para a dupla final “Silently Falling” e “Safe (Canon Song)”. A primeira tem uma progressão que também poderia facilmente pertencer a um épico do Yes (na verdade, se ele tivesse apresentado essas ideias todas do disco a seus colegas, ele nunca as teria lançado como um disco solo!); a segunda é um exercício de construção musical que parece reescrever a lógica de como uma suíte prog pode funcionar. É simultaneamente grandiosa e íntima, técnica e emocional, ou seja, algo que só Squire poderia conceber. Hoje, cinquenta anos depois, Fish Out of Water é revisitado como um ponto alto do prog setentista fora das grandes bandas. Um disco solitário no melhor sentido da palavra: uma peça única, impossível de reproduzir. Meus destaques: “Hold Out Your Hand / You By My Side”, “Silently Falling”. A gema escondida: “Safe (Canon Song)”: longa, desafiadora, mas recompensadora como poucas. Mais um golaço da lista do André, ganha por pouco do disco dos Bee Gees e só perde para o Raul Seixas. Se um dia os colegas colaboradores aqui da casa decidirmos fazer uma lista dos álbuns que todos deveriam ouvir antes de morrer, este deveria estar no topo da lista. Como curiosidade: sobre o título do álbum, Fish era o apelido de Squire, ou seja, o “fora d’água” deduz-se fácil…

Marcello: Possivelmente o melhor disco solo lançado por um integrante do Yes, no mínimo nos anos 70, Fish Out of Water foi por muito tempo o único lançamento do baixista fora do seu “emprego” habitual. Com as participações de Bill Bruford e Patrick Moraz (além de Mel Collins e uma orquestra), o álbum é o mais próximo do Yes que qualquer dos integrantes do grupo jamais conseguiu. Squire brilha do começo ao fim, não somente no baixo (como tocava o então magricela altão), mas também nos vocais, e suas composições são bastante atraentes – em especial “Safe (Cannon Song)” e “Silently Falling”, que juntas ocupam quase 50% do LP. Das músicas mais curtas, “Hold Out Your Hand”, que traz um órgão de igreja e os backing vocals da esposa Nikki Squire, é outro destaque, e o solo de flauta de Jimmy Hastings (colaborador do Caravan e das bandas de Canterbury) em “You By My Side” dá vontade de ouvir a música várias vezes em sequência. Naturalmente, o baixo (ninguém se esquece que Chris era um dos maiores nomes nesse instrumento) ganha destaque, e gosto sobretudo de seu desempenho em “Safe (Cannon Song)”. Fish Out of Water foi relançado em uma box com 7 discos (2 CDs, 2 DVDs, LP e 2 singles) em 2018, trazendo a mixagem original e um remix, mas nunca consegui sequer chegar perto dela…


3. Novalis – Novalis

André: O Novalis nunca conseguiu sair da Série B das bandas progs setentistas, mas isso não significa que não haja qualidade em seus trabalhos. É aquele estilo de prog sinfônico/espacial focado em teclados e que possui alguns poucos vocais em alemão que não se destacam mas não comprometem perto da riqueza instrumental que apresentam. O Novalis lembra o The Enid, banda britânica que segue estilo parecido. Como já mencionado, as vezes é mais sinfônico, as vezes mais espacial, todavia em ambos os estilos eles dominam seus instrumentos muito bem.

Daniel: Este eu “conheço” (ouvi há um bom tempo e não me lembrava de nada). É um prog alemão bastante atmosférico, repleto de passagens com teclados etéreos e momentos sinfônicos. Há poucos vocais e as canções são em alemão, sendo em sua imensa maior parte instrumental. A sonoridade lembra um pouco a da banda Eloy, também alemã, no disco Ocean e em outros momentos me lembrou o Camel. Disco muito bom!

Davi: Confesso que não conhecia essa banda. Pesquisei sobre eles e descobri que são um grupo de prog alemão e que, nesse segundo disco, passavam a cantar em sua língua nativa. Ainda que seja um diferencial interessante, acaba sendo mero detalhe já que o álbum é majoritariamente instrumental. Das 5 faixas apresentadas aqui, apenas 2 são cantadas e mesmo assim, apenas em um pequeno trecho das músicas. Os músicos são bons, onde coloco como destaque o tecladista Lutz Rahn. Sem dúvidas, ele é o grande diferencial desse LP. No entanto, as faixas não me empolgam. Acho os arranjos um pouco arrastados demais para o meu gosto. Se tivesse que escolher uma faixa, ficaria com “Impressionen”.

Fernando: Uma obra subestimada do prog alemão, marcada por clima soberbo, melodias límpidas e uma sensibilidade poética singular. Os teclados criam paisagens sonoras que seduzem com sutileza, enquanto as composições fluem com elegância e foco emocional. É um disco raro, tanto pela inspiração quanto pela coerência estética. Merece ser resgatado como um dos grandes tesouros esquecidos do movimento.

Mairon: O Novalis é uma banda que poderia ter tido mais sucesso em sua carreira. Músicos talentosíssimos, o grande selo Brain e belas composições são alguns dos pontos positivos para esta banda excelente, que tem em seu segundo álbum, auto-intitulado, um dos seus melhores trabalhos (junto do excelente ao vivo Konzerte e do essencial, e para mim o melhor, clássico Sommerabend, de 1976). Os caras compunham músicas incríveis e repletas de variação, onde a diversidade de teclados – de moogs e hammon até piano e sintetizadores modernos para 1975 – de cara chama a atenção, assim como a guitarra também tem um papel relevante por conta de suas distorções. Destaque óbvio para as mini-suítes ” Wer Schmetterlinge Lachen Hört” e “Impressionen”, que mostram toda a versatilidade de variações do quinteto, abusando de variações, e instrumentos, com violões, vocais femininos, guitarras, órgão de igreja, enfim, de um tudo aparecendo na primeira, e a segunda sendo uma revisão para a Quinta Sinfonia de Anton Bruckner, onde a guitarra é o instrumento da vez. Mesmo com vocais em alemão (bem raros inclusive, aparecendo só em duas faixas), o que soa estranho nas primeiras audições, o conjunto da obra é muito bom, sendo a melhor canção “Es färbte sich die Wiese grün”, uma épica mistura de elementos que vão do piano, violões e wah-wah até o órgão, sintetizadores e baixão tremulante. Agora, é impressionante o que eles conseguem fazer em apenas 4 minutos nas instrumentais “Sonnengeflecht”, com sintetizadores, piano, moog, mudanças de andamento, tudo comandado pela bateria furiosa de Hartwig Biereichel e dos teclados de Carlo Rages e, principalmente, do gênio Lutz Rahn. Não sei por que a banda não conseguiu o mesmo status que um Triumvirat ou um Eloy, mas que os caras eram feras, a eram.

Marcelo: A turma aqui da casa curte um Krautrock, como já devem ter percebido! Eu confesso que dessa banda, Novalis, eu devo ter ouvido pouquíssima coisa e nem de longe conhecia esse álbum. Enquanto Inglaterra e EUA disputavam o trono do rock progressivo, a Alemanha dos anos 70 cultivava suas próprias sonoridades, e pelo visto Novalis era uma das mais elegantes (repito: falo sem conhecimento de causa, apenas pela audição completa dessa indicação do André). Esse disco homônimo de fevereiro de 1975 me pareceu lírico, pastoral, profundamente melódico e distante da agressividade mais experimental de outros grupos alemães do período, como Eloy (que eu sou fã de carteirinha e que tem o poderosíssimo Power and the Passion de 1975) ou Grobschnitt (que também tem um disco bacana lançado em 1975, o Jumbo). Aqui, o Novalis abraça com autoridade o “poetischen rock”, uma fusão entre romantismo literário e paisagens sonoras luminosas. As composições são longas, mas não grandiloquentes; técnicas, mas sempre guiadas por melodias claras que evocam prados, rios e aquela sensação de verão eterno típica do prog germânico mais melancólico. O resultado me soou como uma música que parece ser uma boa trilha sonora para uma caminhada silenciosa em meio à natureza. Meus destaques: a faixa “Wer Schmetterlinge lachen hört”, para mim o grande momento do álbum, com um crescendo emocional que remete menos ao virtuosismo britânico e mais a uma busca espiritual. A gema escondida: “Impressionen”, essencial para me fazer entender o clima do disco. Gostei, voltarei a ele mais vezes.

Marcello: O Novalis era um grupo alemão cujo nome foi tirado do pseudônimo de um poeta romântico do final do século XVIII – e um dos destaques deste disco, “Es Färbte Sich Die Wiese Grün”, teve sua letra adaptada de um poema do sujeito, algo que a banda faria nos discos seguintes. O grupo gravara o primeiro disco em inglês, como era comum no rock alemão dos anos 70, e para este segundo optou pelo idioma nativo, continuando a gravar em alemão até o fim da carreira. Outras boas músicas do álbum são as instrumentais “Sonnengeflecht”, “Dronz” e “Impressionen”, esta última baseada em uma sinfonia de Anton Brückner, em que o tecladista Lutz Rahn se destaca com um trabalho excelente no órgão. Particularmente, recomendaria o disco ao vivo de 1977, Konzerte, que traz o ótimo vocalista austríaco Fred Mühlböck agregado à banda, para quem quiser se aventurar mais no trabalho dessa banda, que lembra um pouco o Eloy e mesmo o Camel da época do Mirage (1974), e às vezes arriscava um pouquinho mais de peso, como o Grobschnitt e o Birth Control faziam na cena alemã da época. Em 2017 uma box set reuniu todos os discos do grupo, mais um de inéditas e um DVD – mas como os discos do grupo nos anos 80 não são lá essas coisas, ela acaba se tornando um exagero. Mas este Novalis foi uma ótima lembrança do André!


4. Roxy Music – Siren

André: É uma banda que venho conhecendo muito recentemente, coisa de 2 anos atrás. E este é um disco que me marcou deles. Não tão glam como os anteriores e obviamente buscando aquele lado mais radiofônico em relação às suas canções, digo que a turma de Bryan Ferry conseguiu criar um álbum que equilibrou muito bem os dois lados. Tanto é que, comercialmente, este é o que vendeu mais na época. “Whirlwind”, “Nightingale” e “Just Another High” são as músicas que mais me apeteceram e, mesmo longe da reputação de um Rolling Stones setentista é um disco que eu poderia chamar de “classic rock” em sua melhor definição.

Daniel: Ótimo disco de uma banda que eu nunca liguei muito. O que me impressionou é a riqueza instrumental das canções: o sax de Andy Mackay está sempre recortando as músicas, Paul Thompson é um grande baterista e que guitarrista é Phil Manzanera, com um feeling absurdo e ótimos solos. Gostei muito de “Both Ends Burning”. Vou ouvir o restante do material deles, bela indicação!

Davi: Essa é uma banda que nunca me chamou a atenção. De fato, os músicos são muito bons. Não apenas o guitarrista Phil Manzanera e o cantor Bryan Ferry, mas a parte da ‘cozinha’ também é bem eficiente. No entanto, suas músicas nunca me encantaram. Nesse quinto disco – bem quisto entre os críticos e os fãs –  eles emplacaram duas músicas, sendo a faixa de abertura “Love Is The Drug” a mais lembrada. Escutei o disco na íntegra, com toda a atenção do mundo, mas por algum motivo não me conquistou. Sei lá… Assim que acaba o LP, não me lembro de nada do que ouvi. De todas, “She Sells” é a que considero mais bacaninha. Foi legal ouvir para conhecer um pouco mais do trabalho dos rapazes, mas continuo não sendo fã.

Fernando: O álbum parece esconder múltiplas camadas, da sensualidade ao experimentalismo suave. No entanto, ainda não ouvi o suficiente para absorver tudo o que ele oferece; sinto que uma imersão maior revelará nuances que hoje apenas pressinto. Aliás, por mais que eu ouça a banda eu não consigo entender muito a sua proposta.

Mairon: O álbum mais surpreendente da lista. Não que eu não curta, pelo contrário, adoro. Mas jamais imaginaria que o André fosse indicar Roxy Music um dia. Este disco é revolucionário, na verdade a Roxy Music é revolucionária. Eles anteciparam o som dos anos 80, aquilo que atribuem ao Talking Heads por exemplo, em no mínimo 8 anos. Quem acompanha a carreira da banda – me motivei a fazer uma Discografia Comentada deles – sabe quanto Brian Ferry e cia. estavam à frente de seu tempo. “Love is the Drug”, com seu baixão marcante de John Gustafson, é apenas o início da revolução sonora que a banda causou nos anos 70, dançante, envolvente, sensual, misturando glam rock com música latina, música clássica com folk, pop escrachado com country, tudo com excelência. O outro grande sucesso do disco, a delirante “Both Ends Burning”, é um show de temperos progressivos advindos dos teclados, com uma percussão disco e uma guitarra safamente motown. Que música complexa, e sensacional! A guitarra embalada de Phil Manzarena no pseudo-punk de “Whirlwind”, ou na bela “Nightingale”, os teclados (que pianinho elétrico querido o de “She Sells”) e o violino de Eddie Jobson em “End of the Line”, faixa com ótimos elementos disco, os instrumentos de sopro de Andy Mackay, o ritmo forte de Paul Thompson em “Could It Happen to Me?”, tudo se encaixa perfeitamente nesta bandaça. Faixas que deveriam ser mais valorizadas são “Sentimental Fool”, com aquela introdução viajante, e uma tocante performance vocal de Brian Ferry, e “Just Another High”, linda faixa com mais um show vocal de Ferry. Belíssima escolha, e olha, talvez o melhor disco daqui.

Marcelo: Outro disco da lista do André de uma banda que ouvi pouquíssima coisa até hoje e que, assim como o do Novalis, nunca tinha ouvido. Siren me pareceu um álbum em que o Roxy Music se apresenta com um charme sofisticado feito de elegância, ironia e um certo distanciamento blasé. Como não o conhecia, em diversos momentos me lembrei de Talking Heads, que, obviamente, beberam dessa fonte. Bryan Ferry, sempre um personagem à parte, apresenta aqui ótimo desempenho vocal e interpretativo. Meus destaques: por algum motivo, na hora de ouvir o disco no Spotify, ativei a execução aleatória e uma das últimas faixas que ouvi foi “Love Is the Drug” e essa sim, eu já conhecia, só não consegui lembrar de onde, com seu clima irresistível, urbano, moderno até hoje. “She Sells” e “Both Ends Burning” também são muito boas, demonstram a habilidade do grupo em fazer pop inteligente sem perder a profundidade. Já “End of the Line” é quase uma carta de amor que Ferry escreve enquanto observa seu reflexo num vidro embaçado. Há também um subtexto de fim de era nessa faixa, mas que acompanha todo o disco, como uma sensação de despedida elegante de alguém que sai de uma festa luxuosa sabendo tratar-se de sua última farra sofisticada. A gema escondida: “Sentimental Fool”, pouco mais de seis minutos de atmosfera pop etérea. Um álbum que gostei e que vou voltar a ouvir, mais até do que o do Novalis.

Marcello: O quinto disco do Roxy Music em menos de quatro anos, e o terceiro com Eddie Jobson nos teclados e violino, Siren traz a então namorada de Bryan Ferry na capa, a modelo Jerry Hall. Depois deste LP, a banda entraria em um hiato até 1979, lançando apenas um álbum ao vivo (Viva! Roxy Music) e uma coletânea (Greatest Hits). Siren teria sido um bom testamento para o Roxy, pois foi muito elogiado pela crítica e vendeu bem, rendendo dois sucessos, “Love is the Drug” e “Both Ends Burning”, a primeira dançante ao extremo (e com ótimo baixo de John Gustafsson), a segunda mais séria e dramática. Junte a isso as ótimas “Couldn’t it Happen to Me?”, “Just Another High” e “Sentimental Fool”, as boas “End of the Line”, “She Sells”, “Nightingale” e “Whirlwind”, e o resultado é um disco que não tem nada sobrando. A excelência dos músicos, a interpretação apaixonada de Ferry e o cuidado com as composições fazem de Siren um ótimo disco, digno de ser relembrado nas listas dedicadas ao ano de 1975 – e admito que me esqueci dele ao fazer a minha.


5. Thin Lizzy – Fighting

André: Eu tenho uma teoria que diz que no mínimo, 50% dos guitarristas de hard rock do final dos anos 70 e anos 80 ouviram este e os outros dois discos seguintes do Thin Lizzy, amaram, e passaram a copiá-los em suas bandas. Acho que este é o disco mais antigo que ouvi de uma banda constando aquele hard rock puro, sem muita influência do blues ou de outros estilos como no Led Zeppelin e no Deep Purple. Se houver outro mais antigo (AC/DC talvez), eu não conheço. É o peso da cozinha de baixo e bateria e aquelas guitarras que Lynott aprendeu a valorizar neste e nos posteriores refletidas cm petardos excepcionais do hard rock setentista.

Daniel: Fighting é um ótimo disco, meio que esquecido, de uma das melhores bandas dos anos 1970. A formação quarteto se iniciou no álbum anterior, Nightlife (1974), mas foi aqui que a sonoridade definitiva do grupo começa a aparecer encorpada. Os guitarristas Scott Gorham e Brian Robertson estão mais em sintonia e as chamadas “guitarras gêmeas” fluem com mais naturalidade. Canções como “Suicide”, “Wild One” e “Spirit Slips Away” são provas do afirmado. É meu álbum favorito desta lista.

Davi: Considero Fighting o início da fase áurea do Thin Lizzy. Já surgia aqui com força, a influência do hard rock e a potência das twin guitars de Scott Gorham e Brian Robertson. Outro grande destaque é o impactante trabalho de baixo do saudoso Phil Lynott. O disco abre com uma versão matadora de “Rosalie”. A música de Bob Seger ganhou um pouco mais de peso, um arranjo um pouco mais acelerado e acabou se tornando um dos grandes hits do Thin Lizzy. Também gosto bastante da porrada “Suicide”, da suingada “Silver Dollar”, do rock “Ballad of a Hard Man” e da balada “Wild One”. Grande álbum, grande banda.

Fernando: Um ponto alto da trajetória do Thin Lizzy, consolidando o som das guitarras gêmeas e a força narrativa de Phil Lynott. O disco pulsa energia, melodias marcantes e atitude, mostrando por que a banda se tornou referência do hard rock. É direto, inspirado e tecnicamente afiado, um clássico que sintetiza a alma irlandesa com poder e elegância. Essencial para entender a grandeza do grupo.

Mairon: Finalmente o som do Thin Lizzy ganha forma. Depois de perambular por diversos estilos, e inclusive travestindo-se de uma banda cover do Deep Purple chamada Funky Junction (lançando o excelente Funky Junction Play a Tribute to Deep Purple), Phil Lynott, Scott Gorham, Brian Robertson e Brian Downey definem o estilo que então consagraria o grupo como o mais importante do rock irlandês e um dos maiores no cenário mundial. É uma mini-coletânea de obras-primas do hard setentista, com vários destaques, mas em especial, as guitarras gêmeas e o vocal sensual de Lynott que nos conquistam em “Ballad of a Hard Man”, “Freedom Song” e “For Those Who Love To Live”, simplesmente fantásticas. Ao mesmo tempo, considero como melhor faixa a viajante “Spirit Slips Away”, onde o solo com o pedal de volume é simplesmente arrepiante. Curto muito o peso e a velocidade de “Fighting My Way Back” e “King’s Vengeance”, que me lembram um pouco o Led de Led Zeppelin III, principalmente pelas alternâncias acústicas e elétricas. Como não destacar também “Suicide”, faixa com seu riffzão imortal que foi copiado indecentemente por bandas como Iron Maiden, Def Leppard, Tygers of Pan Tang e outros da NWOBHM. Ainda temos “Silver Dollar”, alegrinha e swingada como só o Thin Lizzy conseguia fazer, “Rosalie”, uma das canções mais Kiss que o Kiss nunca gravou, e quer ter seu momento de ser tocado ao coração, ouça as guitarras gêmeas chorando na tocante “Wild One”. Certamente, muito da influência que o Thin Lizzy deixou para a posteridade vem dos petardos impressos nos sulcos de Fighting.

Marcelo: Não sei explicar, mas nunca curti muito Thin Lizzy (podem me crucificar)… Sei que os caras tinham carisma e fala-se muitos dos shows deles, mas não sou de ouvi-los muito – nem tenho discos deles, só os ouço quando uma música ou outra pinta nas minhas playlists do Spotify. No entanto, como desconhecedor da banda, curto mais o Fighting, lançado em setembro de 1975, do que o aclamado Jailbreak do ano seguinte, ainda que ambos tenham o mesmo roteiro: guitarras gêmeas entrelaçadas, histórias de rua, melodia carregada de alma e um rock que é, ao mesmo tempo, firme e romântico, que têm como resultado uma sonoridade que respira Dublin, bares esfumaçados, amor bandido e aquela poesia trabalhadora que Lynott (justiça seja feita) sabia escrever. Num pano rápido, minhas impressões foram: “Rosalie”, cover de Bob Seger, por exemplo, vira um petardo roqueiro nas mãos da banda; “Suicide” antecipa o lirismo elétrico de Jailbreak; “Wild One” mostra o lado vulnerável e romântico de Lynott; “Fighting My Way Back” vem com um senso de urgência que traduz depressão, luta e dignidade. Fiz questão de ouvi-lo junto com Jailbreak e continuo com a sensação de que não é “apenas” um disco pré-Jailbreak. Meus destaques: “Rosalie” e “Suicide”. A gema escondida: “Silver Dollar”, pequena joia de groove e atitude. Talvez esteja à frente do Novalis e do Roxy Music, talvez não, mas já estou com vontade de ouvi-lo novamente. Gostei da lista do André, me deu 3 discos para me aprofundar.

Marcello: Depois do anêmico Night Life, um disco excessivamente suave (mas que rendeu algumas boas músicas), o Lizzy mostrou as garras com este Fighting. As guitarras de Scott Gorham e Brian Robertson estão mais afiadas do que no disco anterior, mas ainda não se integram tão bem quanto em Jailbreak – mas já dá para perceber que a dupla se entendia muito bem. “Rosalie”, do então pouco conhecido Bob Seger, abre muito bem o disco, que traz “Fighting My Way Back”, “Suicide” (clássico da banda desde os tempos de Eric Bell, mas ainda inédita em estúdio), “The Wild One”, “Silver Dollar” (composta por Brian Robertson) e “Freedom Song”. Recentemente foi anunciada uma box set contendo este álbum e Night Life, mais outtakes, raridades e material ao vivo, mas ainda não tive a oportunidade de ouvi-la. Fighting mostrou que o Thin Lizzy tinha futuro se investisse no hard rock, mas não chegou a fazer grande sucesso. Ainda bem que os discos seguintes trariam à banda o sucesso que merecia.


Raul Seixas – Novo Aeon

André: Não creio que tenha muita coisa à acrescentar a um dos artistas mais incríveis do rock brasileiro que nesta época estava inspiradíssimo em compôr canções inesquecíveis junto ao (ainda não mago) Paulo Coelho. Meu disco favorito dele e por sorte, ninguém ainda o recomendou e pude acrescentá-lo aqui para dar aquela ouvida novamente.

Daniel: Eis um artista brasileiro, que canta em português, de quem eu gosto e tenho vários álbuns. Tenho em Novo Aeon um de meus discos preferidos do Raul em que ele não apenas traz o rock (com doses cavalares de influência rockabilly) e o blues, mas também de música brasileira como baião, forró, entre outras. Embora ainda presente, as letras mais místicas se reduziram em relação ao seu antecessor, Gitâ, mas mantêm a pegada crítica e humorística. “Tente Outra Vez” e “A Maçã” talvez sejam as mais conhecidas, mas minhas preferidas são “Rock do Diabo”, “Egoísta” e “Tu És o MDC da Minha Vida”. Discaço!

Davi: O grande Raul Seixas ficou conhecido por fazer um som onde mesclava o rock n roll com ritmos brasileiros e, Novo Aeon, um dos grandes clássicos da carreira de Raulzito, representa muito bem essa jogada. “Rock do Diabo” (com seu arranjo altamente inspirado em “Honey Don´t”), “Eu Sou Egoísta”, “A Verdade Sobre a Nostalgia” (com sua intro chupada de “My Baby Left Me”) e “Peixuxa” (com seu arranjo claramente chupado de “Ob-La-Di-Ob-La-Da”) demonstravam o lado mais rocker do baiano. “Tu Es o MDC Da Minha Vida” é tão brega que poderia ter sido gravada por cantores como Reginaldo Rossi ou Odair José. “A Maçã” e “Sunseed” apostavam em um lado mais “delicado” do cantor. “É Fim de Mês” e “Caminhos” jogavam na cara do ouvinte o apreço do baiano pela música brasileira, enquanto “Para Nóia” traz um arranjo cinematográfico e divertido. O Novo Aeon é um disco eclético, onde o rei do rock brasileiro deixava às claras todas as suas influências, com composições e textos extremamente bem resolvidos. Audição obrigatória!

Fernando: Tenho um pouco de preguiça de ouvir o Raul Seixas. Não desgosto, mas não tenho interesse. Reconheço sua importância cultural e conceitual, porém meu interesse permanece mais ameno, apreciando-o com certa distância emocional.

Mairon: Quando se fala em Raul Seixas, é inegável que o seu período ao lado de Paulo Coelho é o mais produtivo. Da trilogia Gitâ, Novo Aeon e Há 10 Mil Anos Atrás, este é meu preferido, pois musicalmente, o que é entregue aqui é quase 100% perfeito. Com exceção de “Tente Outra Vez”, que se tornou manjada demais como música motivação – mesmo sendo uma música linda, com um fantástico arranjo vocal – todas as outras canções são fantásticas. As letras e a performance vocal do baiano são incríveis e a banda que o acompanha é a fina flor do rock nacional nos anos 70 – o guitarrista Jay Vaquer está tocando muito (leia o texto de Marcelo Freire e entenda mais o que estou falando)! Difícil dizer qual a minha preferida, pois adoro a delicadeza de “A Maçã”, com sua letra conflitante sobre relacionamentos abertos, e um maravilhoso arranjo de cordas, o rock choroso de “Tu És O MDC da Minha Vida”, uma das mais sensacionais obras de sátira musical criadas no Brasil, o chute no saco da ditadura em “Para Noia”, ou a crítica política atemporal de “É Fim do Mês”. Mas diria que a faixa-título ocupa este lugar, uma faixa que mistura elementos do country, folk e rock, com uma flauta alucinante e um peso descomunal no refrão. Que música, que obra! E o que é aquele dueto vocal de “Sunseed”, ao lado da esposa Glória Vaquer? Lindo demais. E o naipe de metais no rockaço “Rock do Diabo”, a letra poderosa de “Eu Sou Egoísta”, outro rock sensacional, assim como a paulada “A Verdade Sobre A Nostalgia”, outra música atemporal, com fortes críticas sociais, e um solo magistral de Vaquer? Puro suco do melhor que Raul registrou em sua vida, simples assim. Para ser ouvido por gerações!

Marcelo: O melhor da lista, disparado – tudo o que tenho a dizer sobre ele está aqui.

Marcello: Em tempos (bem) idos, eu tinha esse LP, mas nunca o comprei em CD e quando o Marcelo Freire fez a resenha recentemente, fui ouvir novamente. Apesar de Raulzito ter discos melhores, não há o que reclamar deste, pois tem várias músicas legais, como a sensacional “É Fim de Mês”, sobre as agruras de quem vê o salário terminar antes do mês, as belas “A Maçã” (com a interpretação romântica e apaixonada de Raul) e “Tu és o MDC da Minha Vida”, as ótimas “Para Noia”, “Rock do Diabo” (com a imortal frase “o diabo é o pai do rock!”) e a faixa-título, que encerrava muito bem o disco. Na época da resenha, fui ouvir o disco novamente no streaming, e me lembrei bem da tola, mas divertida, “Peixuxa (O Amiguinho dos Peixes)”, que até hoje estou tentando descobrir se tem um significado oculto na letra ou se é aquilo mesmo, e as duas “Caminhos”, que fizeram com que eu recordasse os tempos tranquilos de adolescência, quando ouvia o LP. Mas não me deu vontade de comprar o disco de novo.

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