Cinco Discos Para Conhecer: Templos do Rock – Apollo Theater

Por Marcello Zapelini
Localizado no Harlem, em New York, o Apollo Theater é um templo sagrado da música negra norte-americana há décadas. Com capacidade para cerca de 1500 pessoas, o Apollo foi aberto em 1913 e se tornou uma casa de espetáculos de artistas majoritariamente negros nos anos 30 – nessa época, de acordo com os registros, sua capacidade atingia 2000 pessoas. Considerado um dos marcos urbanos da cidade de New York, o Apollo, interessantemente, reserva periodicamente uma noite para a apresentação de artistas amadores, que são julgados por um comitê.
O Apollo não apenas hospeda shows musicais, mas também apresentações de comediantes, peças teatrais, exibições de filmes e de dança. Na década de 30, quando o teatro passou a ser administrado por pessoas da comunidade local e a apresentar quase que só artistas negros, o lendário produtor e musicólogo John Hammond trabalhou para o Apollo como caça-talentos, e com isso vários dos principais músicos de jazz e blues da época se apresentaram lá com frequência – alguns dos quais se tornariam contratados da Columbia Records, que era o “emprego regular” de Hammond. O teatro era tão apreciado pela população do Harlem que nunca sofreu qualquer dano, mesmo quando as tensões raciais levavam a explosões de violência. Ao longo das décadas, a lista de artistas que se apresentaram no Apollo é tão extensa quanto brilhante: James Brown, Prince, Michael Jackson, Otis Redding, Aretha Franklin, Billie Holiday, Miles Davis, Dave Brubeck, Sammy Davis Jr., Stan Getz, Ice Cube, e até mesmo o Gorillaz! Naturalmente, muitos álbuns ao vivo foram registrados lá, e a lista que segue é, como sempre, um reflexo das preferências do autor. Como sempre, temos bonus tracks – mas desta vez se concentram num único músico.
Motor-Town Revue– The Motor-Town Revue Live at the Apollo [1963]
No começo dos anos 60, a Motown reunia seus artistas (e às vezes incluía outros de outras gravadoras) para caravanas pelos EUA, com cada um apresentando umas poucas músicas por noite. O primeiro de quatro volumes documentando esses shows foi gravado no Apollo, e é algo imperdível, apesar de uma qualidade sonora bem ruim: embora os vocais sejam bem nítidos, o instrumental ficou vários números abaixo no volume. O grupo vocal The Contours começam a festa após uma introdução de Bill Murry, e sem deixar a peteca cair, as Supremes de Diana Ross seguem o programa; Diana Ross, ainda bem jovem, está bem longe da sua voz ideal, mas as garotas se saem bem. O que vem a seguir é ainda melhor: o insuperável Marvin Gaye, ainda pouco conhecido, interpreta a balada “What Kind of Fool Am I?” e seu primeiro hit, “Stubborn Kind of Fellow”, músicas que mostram a versatilidade do mestre. Mais um grupo vocal feminino, The Marvelettes, dá sequência ao show, preparando o terreno para outro gênio (ou seria um anteprojeto de gênio?): Little Stevie Wonder, do alto de seus 12 anos, que interpreta “Don’t You Know” com um domínio impressionante da voz. O álbum se encerra com Mary Wells e The Miracles (Smokey Robinson ainda não tinha tomado as rédeas do grupo), cada qual com duas músicas – algo natural, pois eram os artistas mais bem-sucedidos da gravadora à época. Mary Wells teria poucos hits depois de 1963 e gravaria um álbum com Marvin Gaye, e Smokey Robinson And The Miracles ainda fariam melhor, mas o desempenho deles é excelente. Os astros da Motown, sem dúvida, sabiam como fazer um bom show, o que é atestado pelos inúmeros álbuns da gravadora registrados ao vivo (alguns com qualidade sonora bem ruim), e este sampler é uma boa introdução ao potencial dos seus astros no palco. A Motor-Town Revue chegaria à Europa, inclusive gravando um disco em Paris; neste álbum temos seus artistas no verdadeiro templo da música negra norte-americana, e apesar de não ser fácil de achar, vale a procura.
The Contours– Whole Lotta Woman
The Supremes– Let Me Go The Right Way
Marvin Gaye– What Kind Of Fool Am I
Marvin Gaye– Stubborn Kind Of Fellow
The Marvelettes– Strange I Know & Someday, Someway
Little Stevie Wonder – Don’t You Know
Mary Wells– Two Lovers
Mary Wells– Bye Bye Baby
The Miracles– You’ve Really Got A Hold On Me
The Miracles– Way Over There
Edgar Winter – Roadwork [1972]
O Apollo pode ser o templo da música negra, mas nem por isso fechou suas portas para o albino Edgar Winter, que gravou lá parte deste álbum duplo com participação de Rick Derringer e de seu irmão Johnny. Trazendo material gravado também na Academy of Music em New York, bem como no Whiskey A Go-Go de Los Angeles, o álbum é creditado ao White Trash, composto por Jerry LaCroix nos vocais e saxofone, Rick Derringer na guitarra e vocais, Randy Jo Hobbs no baixo, Bobby Ramirez na bateria, um naipe de metais (Marshall Cyr, Mike McClelan e Tilly Lawrence nos trompetes, e Jon Smith no sax) e o chefe Edgar nos teclados, sax e vocais. Após a abertura com a balançada “Save the Planet”, o álbum inclui tanto material original quanto covers para clássicos como “I Can’t Turn You Loose”, “Back in the USA” e “Tobacco Road”, bem como músicas gravadas por Derringer com Johnny Winter, como “Rock’n’Roll Hoochie Koo” e “Still Alive & Well” (esta, na verdade, seria registrada por Johnny depois do lançamento de “Roadwork”, mas provavelmente já rondava os shows do guitarrista na época do Johnny Winter And, que trazia Hobbs, Derringer e seu irmão Randy Zehringer). O público enlouquece quando Edgar diz “people keep asking me, where’s your brother?” e Johnny sobe ao palco para uma versão incendiária de “Rock’n’Roll Hoochie Koo”. O clássico “Tobacco Road” preenchia um lado inteiro do álbum com seus 17 minutos, com direito a um belo solo de Derringer e ao scat singing de Edgar acompanhado de seu teclado. O álbum se encerra com outro clássico, “Turn On Your Lovelight”, com um show de Jerry LaCroix no vocal. O White Trash só durou três discos, e Edgar formou o Edgar Winter Group com a participação de Rick Derringer, além de ter lançado vários discos-solo e em parceria com o brother Johnny, com qualidade bastante variável, mas não é exagero considerar este Roadwork como um dos seus melhores trabalhos, transbordando energia e musicalidade e levando o público do Apollo à loucura.
Edgar Winter (teclados, saxofones, vocais), Jerry LaCroix (vocais, saxofone), Rick Derringer (guitarra, vocais,), Randy Jo Hobbs (baixo), Bobby Ramirez (bateria), Marshall Cyr (trompete), Mike McClelan (trompete), Tilly Lawrence (trompete), Jon Smith (saxofone)
Save The Planet
Jive, Jive, Jive
I Can’t Turn You Loose
Sill Alive And Well
Back In The U.S.A.
Rock And Roll, Hoochie Koo
Tobacco Road
Cool Fool
Do Yourself A Favor
Turn On Your Lovelight
Hall & Oates – Live at the Apollo [1985]
Quem viveu o começo dos anos 80 no Brasil conheceu Hall & Oates como uma dupla pop por meio do seu hit “Maneater”. Pouca gente sabia que os dois branquelos cantavam soul muito bem, e este Live at the Apollo é uma boa prova do seu talento – e ainda contam com o luxuoso auxílio de Eddie Kendricks e David Ruffin, ex-integrantes do lendário grupo vocal The Temptations. Junte-se a eles uma ótima banda de apoio, com as feras G. E. Smith (guitarra), Robby Kilgore (teclados), Lenny Pickett (sax), Hollywood Paul Litteral (trompete) e Mickey Curry (bateria), entre outros, e um repertório bem escolhido, e tem-se um álbum que surpreende quem não conhece a carreira do duo, que, ao menos na década de 70, era mais interessante do que muita gente imagina. Começando com um “Apollo Medley” que junta clássicos da Motown e uma versão para “When Something’s Wrong With My Baby” (de Sam & Dave, lendas da Stax) a hits da banda como “One on One” e “I Can’t Go for That”, além de recuperar “Every Time You Go Away”, que fazia sucesso na versão de Paul Young (que a regravara em seu segundo LP) nessa época, este álbum era apenas a segunda gravação ao vivo em uma discografia que já contava com uns 15 discos – cheia de altos e baixos, e marcada pelo fato de que alguns dos seus maiores sucessos tinham sido discos bem comerciais, muito inferiores aos lançamentos dos anos 70. Vale a pena conferir, nem que seja pelo lado A, já que o material mais pop está no lado B do LP – mas para quem viveu o começo dos anos 80, algumas músicas são divertidas de relembrar.
Daryl Hall (guitarra, mandolim, vocais), John Oates (guitarras, vocais), G. E. Smith (guitarra), T-Bone Wolk (baixo, vocais), Robby Kilgore (teclados), Charlie Dechant (teclados, saxofone), Lenny Pickett (saxofone), Steve Welson (saxofone barítono), Michael Klvana (teclados), Wells Christie (teclados), Mac Gollehon (trompete), Hollywood Paul Litteral (trompete) e Mickey Curry (bateria), Eddie Kendricks (backing vocals), David Ruffin (backing vocals), Jimmy Maellen (percussão)
Apollo Medley
When Something Is Wrong With My Baby
Everytime You Go Away
I Can’t Go For That (No Can Do)
One On One
Possession Obsession
Adult Education
B. B. King – Live at the Apollo [1991]
O rei do Blues gravou dezenas de discos ao vivo ao longo de sua carreira, mas, curiosamente, os fãs tiveram que esperar até o começo dos anos 90 para ele lançar um álbum no Apollo. Acompanhado por um grupo gigante (a Philip Morris Super Band, liderada pelo pianista Gene Harris e que contava com feras do jazz como “Sweets” Edison, Ray Brown, Kenny Burrell e Plas Johnson – você pode até não o conhecer de nome, mas já o ouviu tocando o tema da Pantera Cor-de-Rosa no sax tenor), o Blues Boy interpreta músicas de vários momentos de sua carreira, incluindo “When Love Comes to Town”, que ele gravara com o U2 em 1988, a eterna “The Thrill is Gone”, além de “Guess Who” e “Night Life” em um bom disco que, infelizmente não se destaca na sua discografia (afinal, para quem já tinha os fantásticos Live at the Regal e Live at the Cook County Jail, um álbum ao vivo do começo dos anos 90 não chama a atenção…). O álbum, infelizmente, não termina muito bem, pois a última música é “Peace to the World”, uma bobagem que King gravou por exigência do produtor do álbum anterior (Live at San Quentin – era a única gravação de estúdio), que a compôs e tocou todos os outros instrumentos. B. B. ainda estava cantando bem, e sua guitarra é sempre um prazer de ouvir, afinal, ele é daqueles que nunca desperdiçavam uma nota, e apesar da banda contar com nada menos que 12 músicos nos metais (além de piano, baixo, bateria e uma guitarra inaudível de Kenny Burrell), ela não se intromete demais nos arranjos, deixando o guitarrista brilhar. Há que se questionar o fato de às vezes termos solos de sax no lugar dos de guitarra, mas a proposta era colocar B. B. King com uma big band de jazz, então o experimento é válido.
B. B. King (guitarra, vocais), Ray Brown (baixo), Gene Harris (piano), Harold Jones (bateria), Kenny Burrell (guitarras), Jeff Clayton (alto saxofone), Jerry Dodgion (alto saxofone), Gary Smulyan (saxofone tenor), Plas Johnson (saxofone tenor), Ralph Moore (saxofone tenor), George Bohanon (trombone), Urbie Green (trombone), Robin Eubanks (trombone), Paul Faulies (trombone), Glen Drews (trompete), Joe Mossello (trompete), Harry “Sweets” Edison (trompete)
When Love Comes To Town
Sweet Sixteen
The Thrill Is Gone
Ain’t Nobody’s Bizness
Paying The Cost To Be The Boss
All Over Again
Nightlife
Since I Met You Baby
Guess Who
Peace To The World
Ben Harper & The Blind Boys of Alabama – Live at the Apollo [2005]
Em 2004, Ben Harper e sua banda de apoio The Innocent Criminals (Juan Nelson no baixo, Leon Mobley na percussão, Jason Yates nos teclados, Oliver Charles na bateria e Marc Ford na guitarra) juntaram-se ao grupo vocal The Blind Boys of Alabama para gravar o álbum There Will be a Light, e fizeram vários shows para promovê-lo; no dia 12 de outubro daquele ano, eles se apresentaram no Apollo, em que um CD e DVD ao vivo foi registrado. O álbum inicia com uma instrumental, “The 11th. Commandment”, e segue com Harper e as vozes milagrosas dos Blind Boys – um grupo vocal que começou suas atividades em 1939 e, na época do lançamento deste álbum, ainda contava com dois membros fundadores, Clarence Fountain e George Scott, além de Jimmy Carter, Bobby Butler, Rick McKinnie, Joey Williams, e Tracy Pierce. “Picture of Jesus”, com seu andamento gostoso e o piano elétrico de Jason Yates, é o primeiro destaque do set list, mas está longe de ser o último, pois “Church House Steps” e “Where Could I Go”, que incluem bons solos do ex-Black Crowes Marc Ford, “Wicked Man”, a arrepiante “Mother Pray” (interpretada a capella), “There Will be Light” são músicas muito boas. É interessante notar que em várias músicas Ben passa o microfone para os Blind Boys, como, por exemplo, em “I Shall not Walk Alone”, em que Jimmy Carter solta o gogó. Com mais de nove minutos de duração, “Satisfied Mind” encerra esta verdadeira celebração, com Yates arrepiando num órgão que parece ter saído de uma igrejinha do interior. Ben Harper continua produzindo novas músicas (seu disco mais recente é de 2023) e os Blind Boys of Alabama permanecem na ativa, tendo lançado mais de 70 álbuns, mas até o momento não houve nenhuma nova colaboração entre eles. Talvez um dia a mágica volte a acontecer e eles se reúnam novamente.
Ben Harper (guitarra, vocais), Marc Ford (guitarras), Juan Nelson (baixo), Oliver Charles (bateria), Jason Yates (teclados), Leon Mobley (percussão), The Blind Boys (backing vocals: Bobby Butler; Clarence Fountain; George Scott; Jimmy Carter; Joey Williams; Tracy Pierce; Ricky McKinnie)
11th Commandment
Well, Well, Well
I Want To Be Ready
Take My Hand
Picture Of Jesus
Church House Steps
Ben Introduces The Band
Give A Man A Home
Wicked Man
Mother Pray
I Shall Not Walk Alone
Church On Time
Where Could I Go
There Will Be A Light
Satisfied Mind

Bonus tracks:
Claro que quando se fala em Live at the Apollo o primeiro nome que vem à cabeça é de James Brown, que não apenas colocou o teatro no mapa, como ainda foi um dos responsáveis por comprovar que os discos ao vivo eram comercialmente viáveis e, mais do que isso, podiam ser tão relevantes na obra de um artista quanto os álbuns de estúdio. Numa homenagem especial a um mestre que pouco aparece nesta Consultoria (até porque ela é do rock e não do soul/funk/rhythm and blues), decidi que todos os quatro álbuns gravados pelo The Hardest Working Man in Show Business no Apollo seriam comentados como bonus tracks! Ladies and gentleman, it’s star time!
JAMES BROWN – Live at the Apollo [1963]
James Brown faturava alto com os singles e queria lançar um álbum ao vivo para que o público em geral pudesse ao menos ouvir seu show. A gravadora King Records só aceitou lançar o LP porque Brown arcou com os custos da gravação e da produção. O álbum é pura energia do começo ao fim, o melhor rhythm & blues que se pode esperar. Com “Think” (em um ritmo acelerado), “I Don’t Mind”, “I’ll Go Crazy”, “Night Train”, “Try Me” (que leva as garotas da plateia ao delírio) e um medley matador, Live at the Apollo traz um jovem James com a faca nos dentes, que sabia que se não desse o melhor de si, perderia um bom dinheiro, pois o álbum seria um fracasso. Com o apoio vocal dos seus velhos Famous Flames e contando com uma banda de apoio excelente (mas ainda abaixo do nível das que ele montaria nos anos 60), que incluía o saxofonista St. Clair Pinkney, que o acompanharia por anos, Brown conquista a plateia já de cara (como ele mencionou em sua autobiografia, “quando entrei em “I’ll Go Crazy” eu sabia que seria um daqueles dias”) e não deixa a peteca cair em nenhum momento. Presença comum na lista dos melhores ao vivo de todos os tempos, o primeiro Live at the Apollo de James Brown colocou o padrão nas alturas.
James Brown – Live at the Apollo, volume II [1968]
O segundo volume é menos badalado que o primeiro, mas nem por isso é ruim. Este álbum duplo foi registrado em 1967 e lançado no ano seguinte. Abrindo com uma “Think” menos frenética, mas ainda matadora (com participação da vocalista Marva Whitney), o álbum é um desfile de hits do Mr. Dynamite interpretados por uma banda magnífica e um showman insuperável, com direito a uma versão de “Caravan”, clássico do jazz das big bands que era usado para a apresentação das dançarinas que Brown colocava no palco, e ao velho companheiro dos Famous Flames, Bobby Byrd, soltando o vozeirão em “Sweet Soul Music”. A versão de Brown e sua turma para a clássica “Kansas City” deixa todas as anteriores no chinelo, e muitos de seus sucessos acabam sendo apresentados apenas em trechos, porque não havia tempo de tocar versões completas – caso de “I Got You (I Feel Good)” e “Out of Sight”. Músicas como “Cold Sweat”, “Prisoner of Love”, “Maybe the Last Time” e “Please Please Please” mostram que poucos conseguiam apresentar um show como James Brown no seu auge nos anos 60. E com uma banda que tinha, entre outros, Jimmy Nolen na guitarra, Fred Wesley no trombone, Maceo Parker, Alfred “Pee Wee” Ellis e St. Clair Pinkney nos saxes, Jabo Stark na bateria, James podia fazer o que quisesse no palco que ainda se sairia bem. Algumas músicas trazem um arranjo de cordas, que suspeito terem sido acrescentadas posteriormente como overdubs, mas nunca encontrei confirmação dessa informação. Este Live at the Apollo volume II foi reeditado em CD duplo, numa edição deluxe que acrescentou cerca de meia hora de música ao original, incluindo uma versão completa de “It’s a Man’s Man’s Man’s World”, que dura quase vinte minutos (no original ela fora editada para perto de 12), e essa é aparentemente a edição definitiva do clássico.
James Brown – Revolution of the Mind: Live at the Apollo, volume III [1971]
Após a gravadora ter vetado um álbum triplo ao vivo extraído de shows em Paris, Brown entregou este duplo gravado mais uma vez no Apollo. O Soul Brother No. 1 agora era acompanhado pelos J.B.’s, que passaram a acompanhá-lo em 1970 quando a banda original se desfez por causa de discussões sobre o pagamento, mas mesmo essa nova banda já tinha se modificado significativamente com a saída dos irmãos Bootsy e Phelps “Catfish” Collins. O velho chapa St. Clair Pinkney continua no sax, Fred Wesley voltara e reassumira o papel de diretor musical do grupo, Fred Thomas brilhava no baixo, a banda não deixa nada a desejar em relação às anteriores. Com pouco mais de uma hora de duração, o LP duplo/CD simples deixa um gosto de “mais! Mais!” ao final, revelando que Brown continuava um showman fantástico quase dez anos depois de seu triunfo no primeiro ao vivo no Apollo. A introdução já deixa claro que o Soul Brother vinha para explodir tudo, e o que se segue é um show memorável, cheio de soul e funk, com clássicos como “Bewildered”, “Sex Machine”, “Get Up, Get Into It, Get Involved”, “Hot Pants” (essas duas com participação do velho chapa Bobby Byrd, agitando o público para James deitar e rolar) e uma “Make it Funky” com mais de 12 minutos, que traz o mestre Fred Wesley solando ao trombone. O terceiro volume do Apollo não é tão variado quanto o segundo, que parece ter sido preparado para que o show completo de James Brown fosse mais conhecido do público, mas em termos de energia e balanço, é superior àquele. A capa que mostra James atrás das grades infelizmente se tornaria verdade, pois ele acabaria passando dois anos preso no final dos anos 80 sob diversas acusações, inclusive porte ilegal de armas e drogas.
James Brown – Live at the Apollo 1995 [1995]
Gravado em 1994, apesar do título, seria o último disco ao vivo contemporâneo lançado por James em vida (ele ainda teria mais três discos de estúdio lançados antes de falecer em 2006) – outras gravações ao vivo arquivadas ainda seriam disponibilizadas antes e depois de sua morte. O quarto álbum registrado no mítico teatro é muito menos aplaudido do que os anteriores, mas honestamente não vejo motivo para tantas críticas: o ritmo do show é frenético na maior parte do tempo e o Godfather of Soul se mostra em boa voz, usando os velhos truques para levar a plateia na palma da mão, a banda de apoio é excelente (mas sem a genialidade dos mestres dos discos anteriores) e o repertório é cheio de hits e clássicos brownianos. Claro que não dá para comparar um James Brown sessentão com o jovem dos anos 60 e as novas versões não são tão boas quanto as originais, mas como criticar um álbum que começa com “Cold Sweat”, passa por “Try Me”, “The Payback”, uma “Papa’s Got a Brand New Bag” engatada na sexta marcha, e que acaba desembocando em “(I Got You) I Feel Good”, “Please Please Please” e “Sex Machine”? Há também versões para as antigas “Prisoner of Love” e “Georgia on my Mind” e, de tempos mais recentes, tem-se apenas o hit “Living in America” e “Georgia-Lina”, mas, afinal, o que realmente importa são os clássicos dos anos 60 e 70. Diferentemente dos outros volumes, o último Live at the Apollo traz uma faixa de estúdio, “Respect Me”, que foi lançada também como single, mas não fez sucesso comercial.


