Thin Lizzy – Black Rose: A Rock Legend [1979]

Thin Lizzy – Black Rose: A Rock Legend [1979]

Por Daniel Benedetti

Black Rose: A Rock Legend é o nono álbum de estúdios da banda irlandesa Thin Lizzy, lançado oficialmente em abril de 1979 pelos selos Vertigo (Europa), Mercury (Canadá) e Warner Bros. (Estados Unidos). Em 1978, o Thin Lizzy lançou seu primeiro álbum ao vivo, Live and Dangerous. Há alguma discordância sobre quanto do álbum foi realmente gravado ao vivo – o produtor Tony Visconti afirmou que as únicas partes que não foram overdubladas foram a bateria e a plateia. No entanto, Brian Robertson contestou isso, afirmando que recusou o pedido de Phil Lynott (líder, baixista e vocalista) para regravar um solo de guitarra e que as únicas partes overdubladas foram os backing vocals e algumas partes de guitarra de Scott Gorham.

Phil Lynott, Gary Moore e Scott Gorham. Trio endiabrado do Thin Lizzy em 1979

Robertson acrescentou: “Simplesmente não é verdade. A única razão pela qual dissemos que foi gravado por completo foi obviamente por questões fiscais… então tudo o que Visconti alega é besteira.” Gorham concorda, afirmando que tentou regravar um solo, mas não conseguiu recriar o som ao vivo, acrescentando: “Eu refiz uma faixa rítmica e alguns vocais de apoio. Mas é isso.” O álbum foi um enorme sucesso, alcançando o segundo lugar no Reino Unido, e foi classificado como o melhor álbum ao vivo de todos os tempos pela revista Classic Rock em 2004.

Brian Robertson saiu definitivamente do grupo algum tempo depois de um show em Ibiza, em 6 de julho de 1978, quando os desentendimentos com Lynott chegaram ao limite. Lynott substituiu Robertson por Gary Moore novamente (que havia feito parte da banda em duas ocasiões diferentes anteriormente), e nessa época a banda uniu forças com Steve Jones e Paul Cook, do Sex Pistols, e também com Chris Spedding e Jimmy Bain, para formar o The Greedy Bastards, que fez alguns shows tocando uma seleção variada de músicas. Dessa forma, Lynott conseguiu alinhar sua banda ao movimento punk e evitar ser rotulado como um “dinossauro”, como muitas outras bandas de rock dos anos 1970 haviam sido. Outros membros ocasionais do The Greedy Bastards incluíam Bob Geldof e Pete Briquette, do Boomtown Rats.

Gary Moore, Scott Gorham e Brian Downey (em pé); Phil Lynott (sentado)

O Thin Lizzy iniciou outra turnê pelos Estados Unidos em agosto de 1978, seguida por uma viagem à Austrália e à Nova Zelândia. Brian Downey não os acompanhou, tendo contraído pneumonia e preferindo passar algum tempo na Irlanda. Ele foi substituído na turnê pelo baterista americano Mark Nauseef. Em seu retorno, Downey se juntou à banda e no início de 1979 eles gravaram Black Rose: A Rock Legend em Paris. As sessões foram marcadas pelo aumento do vício em drogas de Lynott e Gorham, e pela presença geral de drogas ao redor do grupo. Por conseguinte, isso também transpareceu na temática do álbum, em canções como “Got to Give It Up”. As influências celtas permaneceram, no entanto, principalmente na música que encerra o álbum, “Róisín Dubh”, um medley de sete minutos de canções tradicionais irlandesas com um toque de rock com guitarras gêmeas.

A formação do grupo continha Phil Lynott (Vocal e Baixo), Scott Gorham (Guitarras), Gary Moore (Guitarras) e Brian Downey (Bateria e Percussão). Também participam do disco: Jimmy Bain (Baixo em “With Love”), Huey Lewis (Gaita em “Sarah” e “With Love”) e Mark Nauseef (Bateria em “Sarah” – não creditado)

Single de “Sarah”

Black Rose incluiu a segunda música que Phil Lynott escreveu sobre um membro de sua família, intitulada “Sarah”. A primeira música com esse nome apareceu em Shades of a Blue Orphanage, de 1972, escrita sobre sua avó, também chamada Sarah. A música em Black Rose é sobre sua filha recém-nascida. A música “Will You Go Lassie, Go” (também conhecida como “Wild Mountain Thyme”) às vezes é erroneamente creditada como uma canção tradicional, mas na verdade foi escrita por William McPeake e gravada pela primeira vez por Francis McPeake. Ela é creditada no álbum a “F. McPeak”.

Pelo menos duas das músicas – “Waiting for an Alibi” e “S & M” – surgiram no início do verão de 1978, antes da saída de Brian Robertson da banda. As gravações ocorreram entre dezembro de 1978 e fevereiro de 1979 nos estúdios Pathé Marconi EMI Studios, em Paris (França) e no Good Earth Studios e no Morgan Studios, ambos em Londres (UK). A produção ficou por conta de Tony Visconti e do Thin Lizzy.

Single de “Do Anything You Want To”

“Do Anything You Want To” abre o álbum com a sonoridade roqueira do Thin Lizzy, ou seja, sem abrir mão de melodias criativas e guitarras gêmeas. “Toughest Street in Town” é mais hard rock, mais direta e traz um pouco mais de peso, contando com ótimo solo de guitarra. “S&M” é bem malemolente, trazendo um excelente trabalho do baixo, conferindo um certo swing para a canção.

A clássica “Waiting for an Alibi” mostra o relevante trabalho das guitarras e o baixo de Lynott muito presente, em um Hard Rock excelente. “Sarah” tem um clima ameno e descontraído, com melodias suaves e contagiantes. “Got to Give It Up” é um hard rock típico do Thin Lizzy, cheio de ritmo, sem abrir mão do peso. “Get Out of Here” é uma verdadeira porrada hard rock, com as guitarras infernais e ritmo acelerado. “With Love” flerta com uma pegada bluesy, dando bastante malícia para a sonoridade, em mais uma ótima construção do grupo. “Róisín Dubh: A Rock Legend” encerra o disco em uma jornada com várias passagens instrumentais e variações de dinâmicas bem interessantes.

Encarte de Black Rose

Juntar talentos como os de Phil Lynott e Gary Moore, dificilmente daria errado. O trabalho traz, sim, o peso do Hard Rock, com riffs e solos muito inspirados, explorando a categoria de um guitarrista como Gary. Ao mesmo tempo, a transcendental capacidade melódica de Lynott dá as caras por todo o álbum: as canções contam com verdadeiras ondas de melodias simples, suaves e acessíveis e que só acrescentam ao disco. E é neste contexto que surgem canções como “Waiting for an Alibi”, “Do Anything You Want To” e “Róisín Dubh (Black Rose): A Rock Legend”, todas destaques dentro da discografia do grupo.

Black Rose: A Rock Legend foi um sucesso no Reino Unido, alcançando o 2º lugar na principal parada britânica de discos. Segundo estimativas, o álbum supera a casa de 100 mil cópias vendidas apenas no Reino Unido. Entretanto, ficou apenas com a 89ª posição em sua correspondente norte-americana. “Waiting for Alibi”, “Do Anything You Want To” e “Sarah” foram singles que fizeram barulho no Reino Unido, alcançando os 9º, 14º e 24º lugares na principal parada desta natureza naquele país.

Revista promocional de 1979 com Thin Lizzy na capa

Em 4 de julho de 1979, após tocar no Day on the Green, em Oakland, Gary Moore deixou o Thin Lizzy abruptamente no meio de outra turnê. Anos depois, Moore disse que não se arrependia de ter saído, “mas talvez tenha sido errado o jeito que eu fiz. Eu poderia ter feito diferente, eu acho. Mas eu simplesmente tive que sair.”. Posteriormente, ele seguiu carreira solo, lançando vários álbuns de sucesso. Ele havia tocado com Lynott e Downey em seu álbum de 1978, Back on the Streets, e no single de sucesso “Parisienne Walkways” antes de deixar o Thin Lizzy, e, em 1985, Gary e Lynott se uniram novamente no single de 5ª colocação no Reino Unido, “Out in the Fields”.

Single de “Got To Give It Up”

Após a saída de Moore, o Thin Lizzy continuou a turnê por algumas noites como um trio antes de Lynott trazer Midge Ure para substituí-lo temporariamente. Ure tinha planos anteriores de se juntar ao Ultravox, mas havia co-escrito uma música, “Get Out of Here”, com Lynott em Black Rose: A Rock Legend, e concordou em ajudar o Thin Lizzy a completar seus compromissos de turnê.

Em seu retorno ao Reino Unido, a banda seria a atração principal do Reading Festival pela segunda vez, em 25 de agosto de 1979, mas teve que cancelar esta participação devido, segundo se acredita, a problemas justamente em sua formação. Especula-se que a apresentação como headliner exigiria um show mais extenso e não havia tempo de Ure aprender todo o repertório.

Contra-capa de Black Rose

Faixas:
1. Do Anything You Want To
2. Toughest Street in Town
3. S & M
4. Waiting for an Alibi
5. Sarah
6. Got to Give It Up
7. Get Out of Here
8. With Love
9. Róisín Dubh (Black Rose): A Rock Legend

Um comentário em “Thin Lizzy – Black Rose: A Rock Legend [1979]

  1. Disco maravilhoso do Lizzy, difícil destacar alguma música sem ser injusto com as demais, mas a faixa-título é uma verdadeira obra-prima, em especial quando os guitarristas atacam as músicas tradicionais irlandesas. A turnê que você se referiu pela Oceania rendeu recentemente um combo CD+DVD muito bom, em que a gente percebe que o problema de Gary Moore era a cabeça que não harmonizava com a de Lynott, porque musicalmente ele parece que tinha tocado a vida toda com o Scott Gorham. E o ex-Ian Gillan Band Mark Nauseef não se saiu nada mal substituindo o fantástico Brian Downey (um baterista que sempre achei subestimado).
    Sobre o Live & Dangerous, Gorham e Downey são unânimes em dizer que Tony Visconti mentiu ao dizer que o disco tinha sido todo regravado em estúdio à exceção da bateria, mas ele efetivamente tentou convencê-los a fazer overdubs porque já tinha feito a mesma coisa com David Bowie (David Live) e tinha dado certo.

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