The Cult – Electric [1987]
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Por Daniel Benedetti
Electric é o terceiro álbum de estúdios da banda britânica The Cult, lançado oficialmente em abril de 1987 pelos selos Beggars Banquet e Sire. Love, segundo disco de estúdio do grupo, saiu em outubro de 1985. Para o trabalho, a música e a imagem da banda mudaram de suas raízes punk para influências psicodélicas dos anos 1960. Love foi um sucesso nas paradas, alcançando a quarta posição no Reino Unido e vendendo 100 mil cópias lá, totalizando 500 mil cópias em toda a Europa, além de 100 mil na Austrália e 500 mil nos Estados Unidos.
Do final de setembro de 1985 a junho de 1986, a banda fez uma turnê mundial com o novo baterista Les Warner (que havia tocado com Julian Lennon e com Johnny Thunders). Mais dois singles do álbum Love se seguiram: “Rain” (na 17ª posição nas paradas do Reino Unido) e “Revolution” (na 30ª posição nas paradas do Reino Unido). Nenhum deles chegou às paradas dos EUA. Outro single, “Nirvana”, foi lançado apenas na Polônia. De volta à Inglaterra, a banda se hospedou no Manor Studios em Oxfordshire, com o produtor Steve Brown (que havia produzido Love), e gravou mais de uma dúzia de músicas novas. O Cult não gostou do som de seu então novo álbum de estúdio, intitulado Peace, e decidiu ir para Nova York para que o produtor Rick Rubin pudesse remixar o primeiro single, “Love Removal Machine”.
Rubin concordou em trabalhar com o grupo, mas somente se ele regravasse a música. Rubin acabou convencendo o Cult a regravar o álbum inteiro, porém, a gravadora da banda, Beggars Banquet, ficou descontente com a ideia, pois dois meses e 250 mil libras já haviam sido gastas no disco. No entanto, após ouvir a gravação inicial em Nova York, a Beggars Banquet concordou em prosseguir. Rick Rubin criticou o uso de efeitos de guitarra nos discos anteriores do conjunto por serem “exagerados”. Rubin, em vez disso, perguntou à banda se eles estariam interessados em gravar algo mais parecido com o AC/DC ou com o Led Zeppelin dos primeiros tempos. Seguindo a visão de Rubin, voltada para o hard rock, Billy Duffy tocou uma guitarra Gibson Les Paul com um amplificador Marshall no álbum e, de acordo com o guitarrista, “nenhum pedal de efeitos [era] permitido, exceto wah-wah“.
De acordo com o vocalista Ian Astbury, a banda estava insatisfeita com os resultados das sessões anteriores, afirmando: “Estávamos em um estúdio residencial em Oxfordshire, lotado de bebida, sem supervisão. Provavelmente aconteceu o mesmo com os Stone Roses ao fazerem The Second Coming. Gastamos um quarto de milhão de libras fazendo um álbum que soava como sopa“. Duffy afirmou que a mudança no som foi orgânica, afirmando: “O Cult sempre foi uma banda movida a riffs, mesmo nos estágios iniciais com o Death Cult e o Southern Death Cult, só que começamos a entrar no fruto mais proibido, que eram os riffs de blues-rock. Isso mudou o senso rítmico da banda, que era muito tribal no início dos anos 80, mudando para uma batida mais rock e swing“. O engenheiro Tony Platt afirmou que Rubin compararia a instrumentação do álbum aos “sons de guitarra de Back in Black, ao som de bateria de Highway to Hell e ao som de voz do Led Zeppelin“, tocando trechos de cada disco durante a mixagem. A produção de Rubin enfatizou o bumbo, devido à sua experiência como produtor de hip hop.
Embora todas as doze faixas do Manor Sessions tenham sido inicialmente descartadas, quatro delas apareceriam como lados B de singles de Electric. Outras cinco apareceram em um EP de edição limitada. O primeiro single, “Love Removal Machine”, foi lançado em fevereiro de 1987, e a nova versão do álbum foi lançada em abril daquele ano, agora renomeado como Electric. A formação do grupo que gravou Electric era Ian Astbury nos vocais, Billy Duffy nas guitarras, Jamie Stewart no baixo e Les Warner na bateria.
“Wild Flower” abre o disco com um riff sensacional e uma excelente pegada Hard Rock. “Peace Dog” traz a nova pegada da banda, sendo pesada e potente, além dos bons vocais de Astbury. “Lil’ Devil” é ótima, continuando a fórmula do começo do disco com ótimo trabalho de Duffy. A sonoridade mais bluesy da excepcional “Aphrodisiac Jacket” conta com Duffy e Astbury brilhando. “Electric Ocean” é mais curtinha, mais direta, contudo, sem abrir mão de uma dose de agressividade. “Bad Fun” apresenta um sentido maior de urgência, com a seção rítmica mais potente. Outra canção mais acelerada e baseada em um bom riff é “King Contrary Mary”, com excelentes vocais de Astbury. “Love Removal Machine” é uma música de assinatura do Cult, pois expressa o DNA da banda e suas influências de grupos como os Stones, por exemplo. Desnecessária a versão apenas morna do grupo para o clássico “Born to Be Wild”. O disco sobe novamente de patamar com outra porrada bem direta, “Outlaw”. A tremenda, no melhor sentido, “Memphis Hip Shake” encerra o trabalho com muitos ecos de Led Zeppelin.
Ao apostar em um som mais direto e mais simplificado, embora também consideravelmente pesado, o Cult produziu um verdadeiro álbum de guitarras. Duffy é o grande centro das atenções com riffs infernais e solos matadores. Evidentemente, a categoria de Astbury nos vocais continua em sua excelência, impressionando como ele
consegue interpretar as músicas com profundidade. E neste ponto, letras e musicalidade se fundem simbioticamente. Se há um pecado em Electric que não o permite a perfeição é o desnecessário – e morno – cover para “Born to Be Wild”. Entretanto, faixas impressionantes como “Wild Flower”, “Love Removal Machine”, “King Contrary Man” e “Memphis Hip Shake” são pontos altos de toda a discografia do conjunto.
Electric atingiu a ótima 4ª posição da principal parada britânica, alcançando a 38ª colocação em sua correspondente norte-americana. A Rolling Stone, a Trouser Press e mesmo o site AllMusic celebram bastante o trabalho, como exemplo do apreço da mídia pelo disco. A banda fez a turnê com Kid Chaos (também conhecido como “Haggis” e “The Kid”) no baixo e Stewart na guitarra base. Mais dois singles, “Lil’ Devil” e “Wild Flower”, foram lançados em 1987. Algumas faixas do álbum Peace original apareceram nas versões single de “Love Removal Machine” e “Lil’ Devil”. O álbum Peace completo só seria lançado em 2000, quando foi incluído como Disco 3 do box Rare Cult.
Nos EUA, o Cult, agora composto por Astbury, Duffy, Stewart, Warner e Kid Chaos, teve o apoio do então desconhecido Guns N’ Roses. A banda também se apresentou no Roskilde Festival, na Dinamarca, em junho de 1987. Durante a parte australiana da turnê mundial, a banda destruiu 30 mil libras em equipamentos e, como resultado, não pôde fazer uma turnê pelo Japão, pois nenhuma empresa alugava novos equipamentos para o conjunto. Ao final da turnê, o álbum Electric havia sido certificado como Ouro no Reino Unido, mas a banda mal se falava naquela época. Haggis deixou o Cult ao final da turnê de Electric para formar o Four Horsemen, pelo selo Def American, de Rubin.
Astbury e Duffy demitiram Warner e também sua equipe de empresários Grant/Edwards, e se mudaram para Los Angeles com Stewart. Warner processou a banda diversas vezes por sua demissão, bem como pelo que ele considerou serem royalties não pagos por sua performance no álbum Electric, resultando em longas batalhas judiciais. O Cult assinou um novo contrato de gestão e escreveu 21 novas músicas para seu próximo álbum. Electric, segundo estimativas, supera a casa de 1 milhão de cópias vendidas apenas nos Estados Unidos.
Faixas:
01. Wild Flower
02. Peace Dog
03. Lil’ Devil
04. Aphrodisiac Jacket
05. Electric Ocean
06. Bad Fun
07. King Contrary Man
08. Love Removal Machine
09. Born to Be Wild
10. Outlaw
11. Memphis Hip Shake