Monster Magnet – 25…………TAB [1991]

Monster Magnet – 25…………TAB [1991]

Por Micael Machado

Existem certos discos que exigem uma “dedicação” maior de quem se dispõe a lhes escutar, pois a audição dos mesmos pode ser bastante “complicada” e “difícil” para este corajoso ouvinte. Metal Machine Music, de Lou Reed, e Arc, de Neil Young, se encaixariam nessa categoria, pois são, basicamente, ruídos de feedback e distorções de instrumentos reunidos em uma “canção” contínua composta, basicamente, apenas de “barulhos”… Certamente, há outros exemplos de álbuns com estas características, e um deles foi gravado pela banda norte-americana Monster Magnet em 1991, mas foi lançado no país de origem do grupo apenas em 1993…

Tendo lançado duas demos como um trio ainda no ano de sua fundação, em 1989, o Monster Magnet registrou um single de estreia para a gravadora Circuit Records no ano seguinte (já como quarteto), e um EP de seis faixas também em 1990 pela gravadora alemã Glitterhouse Records, antes de assinar com o selo Caroline Records (na época, estabelecido nos Estados Unidos), o qual lançou o single “Murder/Tractor” pela sua subsidiária Primo Scree também em 1990. Com a boa repercussão do single, a Caroline autorizou a banda a entrar no estúdio para gravar seu primeiro álbum, mas as três faixas resultantes (totalizando mais de 48 minutos) acabaram rejeitadas pela gravadora, fazendo com que o quarteto (formado, então, por Dave Wyndorf nas guitarras e vocais, John McBain na guitarra solo, Tim Cronin no baixo e Jon Kleiman na bateria) voltasse ao estúdio (não sem antes repor Cronin, que passou a cuidar da parte de luzes dos shows ao vivo, pelo baixista Joe Calandra) para gravar novas composições (além de regravar duas faixas de seu primeiro EP e registrar uma cover para “Sin’s A Good Man’s Brother”, do Grand Funk Railroad) e lançar, já em 1991, seu álbum de estreia, chamado Spine of God. Uma turnê pelos EUA em suporte ao Soundgarden para divulgação do primeiro disco completo do Monster Magnet chamou a atenção da gravadora A&M Records, que assinaria com a banda em 1992 e lançaria seu segundo full lenght, chamado Superjudge, no começo de 1993.

A melhor divulgação da major A&M e a boa recepção do público ao segundo álbum do Monster Magnet acabaram levando o nome da banda a plateias maiores, fazendo o grupo ser considerado um “sucesso menor” nos EUA, e um dos precursores do Stoner Metal no país. Quando viu o quarteto em alta nas paradas, aparentemente, a gravadora Caroline “se lembrou” daquelas faixas rejeitadas de 1991, e decidiu lançar as mesmas nos Estados Unidos, no formato de um EP de três faixas chamado 25…………TAB, naquele mesmo 1993. O mini-álbum já havia sido lançado na Alemanha pela citada Glitterhouse Records ainda em 1991, mas foi somente com a versão da Caroline (a qual, inclusive, conta com uma capa diferente da versão europeia original) que a bolachinha acabou chegando de vez ao grande público.

Capa da versão alemã original de 25…………TAB

Se você conhece o Monster Magnet pelos álbuns gravados após este EP, não espere encontrar aqui quase nada do que está acostumado. Se, após Spine of God, o Imã de Monstros se tornaria um dos pilares do Stoner Rock norte-americano, aqui o quarteto ainda era uma banda muito mais voltada a uma sonoridade “psicodélica” e “viajante”. No encarte de uma das muitas reedições posteriores, Wyndorf escreveu nas “liner notes” que o grupo “estava ouvindo muito Hawkwind, Amon Duul II, Alice Cooper e Skullflower quando compomos este disco“. Os pouco mais de quatro minutos de “Lord 13”, a menor faixa do EP, são possivelmente a coisa mais “acessível” do álbum, embora passem longe do estilo que a banda adotaria depois (soando quase como algo das bandas psicodélicas de San Francisco do final dos anos 60, com sua percussão e sonoridade quase acústicas). Já os mais de doze minutos de “25/Longhair” são divididos em uma faixa rápida e mais focada na guitarra durante “25” (que ocupa aproximadamente os oito primeiros minutos da canção) e um pouco mais cadenciada em “Longhair”, uma jam instrumental que talvez seja a música deste EP com o estilo mais próximo da sonoridade que o grupo iria adotar em seus lançamentos posteriores, e que, infelizmente, termina com um “fade out” que nos deixa com vontade de escutar mais desta canção.

Embora “25” tenha algumas “viagens lisérgicas” ali pelo meio, acredito que nada prepare o ouvinte para o que ele irá escutar nos mais de trinta e dois minutos da faixa de abertura, intitulada “Tab”. Sobre uma sólida e repetitiva base formada pelo baixo e pela bateria, guitarras “viajantes” se misturam a efeitos eletrônicos e distorções diversas, além de vocalizações quase orientais e falas diversas (e distorcidas por efeitos sonoros variados, como ecos e repetições), formando uma das faixas mais abstratas e “psicodélicas” que eu já ouvi de uma banda (supostamente) de hard rock, e a qual é impossível descrever em detalhes aqui. No mesmo encarte citado antes, Wyndorf explica que ” ‘Tab’ foi uma das primeiras coisas que fizemos como banda. Há uma versão realmente crua dela em nossa primeira demo, e (para a versão que saiu no EP) foi feita apenas uma mixagem dela, devida à sua duração e porque não tínhamos muito dinheiro para gravar”. Ainda nessas “liner notes”, o vocalista explica que o EP “foi a última coisa que Tim (Cronin) gravou antes de passar para a parte de iluminação”, e que “não tocamos muita coisa desse álbum ao vivo (depois de gravá-lo), acho que fizemos ’25’ umas duas vezes, e foi só”.

Contracapa da versão americana de 25…………TAB

Como escrevi acima, o EP chegou a ser lançado na Alemanha (em vinil e CD) ainda em 1991 (dois anos antes de seu lançamento oficial nos EUA, portanto). Ele foi relançado pelo selo Steamhammer em 2006, também na Alemanha, com uma versão ao vivo da faixa “Spine Of God” como bônus (a mesma versão seria relançada em 2017 pela Napalm Records tanto na Europa quanto nos EUA), sendo que existe ainda uma versão da Caroline Records (presumidamente de 1994) que agregou o single “Murder/Tractor” às três faixas originais, embora as faixas do compacto apareçam como “hidden tracks” na versão em CD (que, particularmente, é a que possuo). Seja em qual edição for, tenho certeza que nada irá lhe preparar para o estranhamento de ouvir algo como “Tab”. Encare por sua própria conta e risco, e, caso enfrente o desafio, tenha uma boa “viagem sonora”. Afinal, como diz uma nota no encarte de Spine of God, “it’s a satanic drug thing… you wouldn’t understand” (deixo a tradução para vocês…).

Track List:

1. Tab
2. 25 / Longhair
3. Lord 13

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