Melhores do Ano: por Marcello Zapelini

Melhores do Ano: por Marcello Zapelini

2025 foi, musicalmente falando, um ano bem interessante, que começou a ter alguns lançamentos de destaque já em janeiro – alguns inesperados, outros que já se imaginava que sairiam neste ano. Também foi um ano pródigo em reedições e boxes de vários músicas e bandas que coleciono, então, acabou sendo um ano de várias aquisições importantes. Para a minha seleção deste ano, incluí os dez melhores discos de 2025 em minha opinião. Reedições, lançamentos de arquivo e box sets ganharam uma seção específica, e como também tivemos vários discos interessantes nessa área, também incluí alguns bons álbuns ao vivo para destacar.

Por outro lado, principalmente por motivos profissionais, não pude ir a nenhum show internacional neste ano; além de os ingressos estarem bastante caros, a maioria dos shows que gostaria de ter assistido caiu em dias em que simplesmente não conseguiria viajar, e por isso foi mais um ano que passou em branco em termos de apresentações ao vivo. Mas, pelo menos, em termos de gravações de estúdio, o ano foi bom. Vamos às listas, então!


ALICE COOPER – The Revenge of Alice Cooper

A banda original de Alice Cooper ainda é a melhor com que o malucaço tocou. Desde 1975, Alice Cooper, Michael Bruce, Dennis Dunaway e Neal Smith se reuniram umas poucas vezes, mas só neste ano gravaram um álbum completo – para completar, ainda é produzido pelo grande Bob Ezrin. E ainda trouxeram uma gravação inédita com o infelizmente falecido Glen Buxton. O resultado é o melhor disco do ano na minha opinião. “Wild Ones”, “Kill the Flies”, “Money Screams”, “Blood on the Sun”, “Black Mamba”, “What Happened to You” (a música com Glen) e “See You on the Other Side” são algumas das ótimas músicas deste ótimo disco, que revisita o passado sem ser repetitivo ou soar como paródia de si mesmo, e coroa uma série de bons lançamentos do veterano Alice nos últimos anos (“Paranormal”, “Detroit Stories” e “The Road”). Não sei se eles farão mais alguma coisa nova, mas se este for o último disco de Alice Cooper, os veteranos estarão fechando sua carreira com chave de ouro.


JETHRO TULL – Curious Ruminant

Outro caso de álbum que pode ser o último da carreira; Ian Anderson estreou seu terceiro guitarrista diferente em 6-7 anos, e o subitamente prolífico Jethro Tull (três álbuns de estúdio de 2021 para cá) ainda contou com as presenças de dois ex- integrantes, Andrew Giddings e James Duncan, para este 24º disco de material original. Da abertura com “Puppet and the Puppet Master” (uma curiosa reflexão sobre a relação entre os músicos e sua plateia) ao fechamento com a comovente poesia declamada sob uma base instrumental, “Interim Sleep”, passando pela longa “Drink from the Same Well”, as boas “Over Jerusalem”, “Dunsinane Hill” (bela melodia que remete aos tempos de folk rock da segunda metade dos anos 70) e “Savannah of Paddington Green”), Curious Ruminant não é um disco top 10 na longa discografia do Jethro Tull, mas consegue honrar o passado da banda e garantiu seu lugar na minha lista praticamente já nas primeiras audições. Escrevi mais sobre o disco em Jethro Tull – Curious Ruminant [2025] – Consultoria do Rock.


LARKIN POE – Bloom

Conheci Larkin Poe por meio da Consultoria, e me tornei fã das irmãs Rebecca e Megan Lovell por causa do seu som bluesy até o talo. O álbum anterior das garotas, Blood Harmony, já era muito bom, e este me impressionou ainda mais. A sensacional “Mockingbird”, as duas partes de “Easy Love”, a ótima “If God is a Woman”, o encerramento com “Bloom Again” e, sobretudo, “Bluephoria” (adorei o trocadilho do título), fazem parte dos destaques desse excelente disco. Alguém já disse que elas são as irmãs mais novas do Allman Brothers, e em alguns momentos elas fazem jus a essa fama. Rebecca Lovell é uma excelente cantora, toca uma guitarra apaixonante, e Megan dá um show na steel guitar sempre que necessário – e como mostra “Bloom Again”, harmoniza perfeitamente com a irmão. Este é o oitavo disco delas – e espero que venham muitos outros no futuro.


NIGHT FLIGHT ORCHESTRA – Give Us the Moon

Outra banda que conheci por meio da Consultoria, e outro disco que resenhei para o site (ver The Night Flight Orchestra – Give Us the Moon [2025] – Consultoria do Rock), o Night Flight Orchestra continua misturando as influências mais diferentes possíveis no seu último disco. O agora octeto (as duas Aeromanticas foram efetivadas como backing vocals oficiais) liderado pelo ótimo vocalista Björn Strid nos entregou mais um disco cheio de ótimas canções, com destaque para a faixa-título, a disco “Like the Beating of my Heart”, a oitentista “Stratus” e “Stewardess, Empress, Hot Mess (And the Captain of Pain)”, melhor música do disco e uma das que mais gostei do grupo até hoje. O grupo está soando mais pop do que hard rock, mas faz tempo que isso deixou de ser problema para mim. Os guitarristas Sebastian Forslund e Rasmus Ehnrborn brilham com seus solos e bases, Jonas Källsbäck é um bom baterista, mas meus destaques no instrumental são Sharlee D’Angelo, cujo baixo dá inveja aos mestres da disco music e o ótimo tecladista John Löhmir. Outra banda que espero que lance mais discos num futuro próximo!


CHRISTONE “KINGFISH” INGRAM – Hard Road

O jovem (fará 27 anos em janeiro) guitarrista e vocalista de blues comparece com seu quarto álbum (terceiro de estúdio), lançado em setembro e rapidamente transformado num dos discos que mais ouvi nesses três meses finais de 2025. O grandalhão já começa fazendo uma declaração de intenções na abertura do álbum (“Truth”): goste ou não, ele será fiel à música que ele quer fazer, não importa como será considerado. Daí em diante tem-se um desfile de blues, funk, r&b e até um pouco de hip hop, mostrando que Kingfish não é um bluesman puro, mas um artista treinado na ampla variedade da black music americana. “Standing on Business”, “Voodoo Charm” e “Back to LA” são alguns dos destaques desse ótimo disco, mas poderia citar mais, pois o álbum é bom do começo ao fim. Os vocais estão perfeitos, a guitarra brilha sempre que ganha destaque, e a produção de Tom Hambridge valoriza as boas composições de Ingram. Conheci o trabalho dele por meio do ótimo Live in London lançado no final de 2023; os discos anteriores receberam prêmios relevantes como o Blues Music Award e o Grammy, e acredito que Hard Road também vá ganhar alguns.


STYX – Circling from Above

Se o Marcello Zappellini de 2025 entrasse numa máquina do tempo e visitasse o de 1985 para contar que um dia ele estaria colocando o Styx numa lista de melhores do ano, provavelmente a versão 1985 iria expulsar a de 2025 a pontapés. Demorei um bocado de tempo para começar a gostar da banda, admito; e este álbum primoroso estava passando desapercebido até o Mairon Machado chamar a atenção para ele. Tommy Shaw, J. Y. e Chuck Panozzo continuam demonstrando que Denis DeYoung não faz falta para a banda (ainda bem, nunca gostei muito da voz do tecladista, embora ele seja tecnicamente excelente), e nesse último disco eles também revisitam o passado e fazem a ponte com o presente: “Build and Destroy” e “Everybody Raise Your Glass”, por exemplo, são músicas que remetem ao Styx do começo dos anos 80, ao passo que a bela “Forgive” não se parece com nada que a banda tenha feito. “She Knows” traz até uma clarineta! Para acalmar o Marcello de 1985 que ainda vive em mim, o Styx provavelmente nunca estará na minha lista de bandas favoritas, mas se fizer mais discos como este, os Marcellos do futuro vão ter que amarrar e amordaçar o de 1985 para ele parar de ser chato.


DREAM THEATER – Parasomnia

Outro disco que resenhei para a Consultoria (ver Dream Theater – Parasomnia [2025] – Consultoria do Rock), Parasomnia trouxe o velho Mike Portnoy na bateria em sete novas músicas (e uma vinheta instrumental) que, se não conquistarão novos fãs, pelo menos não decepcionarão os que já gostam do grupo. Todos os elementos clássicos do som da banda estão presentes nesse disco conceitual e sombrio que trata de distúrbios do sono e pesadelos: o épico (“The Shadow Man Incident”), o lírico e suave (“Bend the Clock”), o peso (“Night Terror” e “Dead Asleep”) e o instrumental elaborado (“In the Arms of Morpheus”), mostrando que a volta de Portnoy fez bem à banda. A voz de James LaBrie está envelhecendo um pouco, mas na minha opinião está ficando melhor; John Petrucci e Jordan Rudess continuam dando show nas guitarras e teclados, e John Myung brilha quando tem espaço. E embora eu considere Mike Mangini um ótimo baterista, o som do Dream Theater pede Mike Portnoy.


LITTLE FEAT – Strike Up the Band

Primeiro álbum de músicas originais do Little Feat desde 2012 (ano passado a banda lançou o ótimo Sam’s Place, recheado de blues), Strike Up the Band pode ter apenas Bill Payne como membro fundador dizendo “presente”, mas o baixista Kenny Gradney e o percussionista Sam Clayton estão na banda desde 1972, o guitarrista Fred Tackett entrou em 1987 e os novatos Scott Sharrard e Tony Leone (guitarra/vocais e bateria/vocais, respectivamente) fazem parte da turma desde 2019 e 2020. O novo disco traz os elementos de Southern Rock misturado com as influências de New Orleans que caracterizam o Little Feat desde seus primórdios, muita musicalidade, bons vocais e metais na medida. “4 Days of Heaven, 3 Days of Work”, “New Orleans Cries When She Sings”, “Too High to Cut my Hair”, “Bayou Mama”, “Midinight Flight” e a faixa-título (com direito a backing vocals das meninas do Larkin Poe) são alguns dos destaques deste ótimo disco que saiu duplo em vinil e simples em CD. Como mencionei na resenha do The Last Record Album na minha lista de 1975, o Little Feat era a banda que Led Zeppelin e Rolling Stones idolatravam nos anos 70. Podem até não ter mais fãs tão conhecidos, mas continuam fazendo um rock cheio de groove e ritmo 50 anos depois.


BUDDY GUY – Ain’t Done with the Blues

89 anos e contando, o velho George “Buddy” Guy é provavelmente o último dos grandes mestres do blues ainda na ativa. E que bom que ele ainda não está de saco cheio do blues. Seu 20º álbum solo de estúdio é produzido pelo mesmo Tom Hambridge que trabalhou com Christone Kingfish Ingram no álbum que aparece na minha lista. Vários convidados especiais como Joe Walsh, Joe Bonamassa, o próprio Kingfish, Peter Frampton, Chuck Leavell e a superbaixista Tal Winkelfeld, dão as caras no álbum. Outro álbum recheado de destaques, mas queria sublinhar “How Blues is That” (com Joe Walsh na slide guitar e vocais), “It Keeps me Young” (com Peter Frampton), as deliciosas “Trick Bag” e “Swamp Poker”, a reflexiva “I Don’t Forget” (com sua letra narrando as injustiças que ele presenciou: “You may tell me slaving days are gone but it don’t erase years and years of wrong; I don’t forget my people’s history, I still got scars across my family. I don’t forget the things I’ve seen, they stay in my head, I don’t forget”) e a bluesy ao extremo “Blues on Top” como as músicas que mais me chamaram a atenção e as que mais gosto de repetir quando ouço o disco.


GLENN HUGHES – Chosen

15º álbum-solo de estúdio de Glenn Hughes, o primeiro desde 2016, Chosen é um daqueles discos que um cara que não precisa provar mais nada lança para manter seus fãs alegres. Coproduzido por Hughes e o guitarrista dinamarquês Soren Andersen, Chosen traz dez novas composições numa veia mais hard rock (como no anterior Resonate), iniciando com a ótima “Voice in my Head” e engatando uma sequência arrasadora com “My Alibi”. Até o final com “Into the Fade”, Glenn e seus asseclas não deixam a peteca cair – “In the Golden” e “The Lost Parade” trazem ótimos riffs de guitarra e o baixo poderoso que caracterizam boa parte do trabalho solo do Voice of Rock. O álbum fica um pouquinho mais leve em “Come and Go” e na funky “Black Cat Moan”, mas este é provavelmente o disco mais pesado da minha lista. Glenn Hughes passou pelo Brasil em novembro naquela que parece ser sua última turnê, mas, como ninguém respeita muito essa ideia de pendurar as chuteiras, não se sabe se é verdade ou não. Se ele não fizer mais shows, que pelo menos grave mais uns discos como Chosen, que não fará mal nenhum!


Álbuns ao vivo em destaque:
O ano de 2025 trouxe alguns discos ao vivo dignos de nota. Vou começar com dois álbuns de bandas que estiveram nas minhas listas de anos anteriores: Dirty Honey e The Warning. Com Live from Auditorio Nacional, CDMX, The Warning disponibiliza seu primeiro duplo ao vivo oficial; as meninas estão em casa e isso as encheu de energia, pois em 25 faixas elas apresentam o que têm de melhor em seus discos anteriores em versões que superam as de estúdio. “Qué Más Quieres”, “S!CK”, “Choke” e “Hell You Call a Dream” confirmam o talento de Dany como vocalista, de Pau como baterista e Ale Villarreal como uma baixista discreta e eficiente. Apenas a guitarra de Dany Villarreal não se destaca muito, como no álbum anterior, mas nada que comprometa.

Mayhem and Revelry Live confirma a excelência do Dirty Honey (que tirou os Stones do topo da minha lista de 2023) em seu blues-rock setentista. “Won’t Take me Alive”, “Dirty Mind”, “Satisfied” e “Scars” trazem Marc Labelle (vocais), John Notto (guitarra), Corey Coverstone (bateria) e Justin Smolian (baixo) fazendo o que fazem de melhor.

Made in Kuba é o terceiro lançamento ao vivo da banda sueca Siena Root. Os ótimos vocais de Zubaida Solid são, como sempre, o destaque do grupo, mas os outros integrantes (Johan Borgström, Love Fosberg e Sam Riffer) têm seus momentos de brilho, em especial nas músicas mais longas como “We (We Are Them)”, “In my Kitchen” e “The Summer is Old”.

E uma banda que nem imaginava que estivesse na ativa, The Blues Project, reapareceu com Live 2025. O batera Roy Blumenfeld é o único integrante do original presente, mas os demais integrantes honram o passado com versões interessantes para clássicos como “Flute Thing” (com direito, claro, a uma flauta como a original), “I Can’t Keep from Cryin’ Sometimes” e “Wake me, Shake me”, além de trazerem uma poderosa cover para “Heard it on X”, do ZZ Top.

Por fim, menciono o mestre David Gilmour em seu The Luck and Strange Concerts. Discos ao vivo não são novidade para Gilmour, mas como não se arrepiar com a ótima versão para “Fat Old Sun”, o dueto de pai e filha em “Between Two Points” e o arranjo vocal para a clássica “The Great Gig in the Sky”? Claro que há as enésimas versões de “Comfortably Numb” e “Wish You Were Here”, mas também tem bastante coisa legal no meio. Considerando que provavelmente Gilmour nunca mais tocará nada do bom Luck and Strange, vale a pena ir atrás.


Reedições, lançamentos de arquivo e box sets:

Dentre as muitas reedições do ano, duas merecem destaque especial. O Grateful Dead revisitou um de seus discos mais aventureiros, Blues for Allah, para uma edição de 50º aniversário com direito a dois CDs contendo gravações ao vivo em 1975 e 1976, destacando as composições do álbum. Obrigatório para os fãs! O Little Feat homenageou os 50 anos de The Last Record Album com uma edição Deluxe contendo o disco original, várias sobras e demos de gravação e um concerto inédito em Boston. Outro que quem gosta da banda não pode dispensar. Dos lançamentos de arquivos, outros dois: o passado de Bob Dylan foi escavado a fundo no 18º (!) volume da Bootleg Series, Through the Open Window 1956-1963, em versões com 2 e 8 CDs recheadas de raridades, mas também algumas coisas que já tinham saído antes (mesmo problema do volume anterior, dedicado às sessões do magistral Time Out of Mind). Jimmy Page se mostra um pão-duro dos infernos com seu Live EP, que apresenta versões ao vivo para quatro músicas de Physical Graffiti, extraídas de shows no Earls Court (1975) e Knebworth (1979). Por que não lançar pelo menos um dos apoteóticos shows do Earls Court em uma box? Não dá para entender.

Quanto às box sets, o ano trouxe muita coisa boa: a família de David Bowie completou o catálogo solo do Camaleão com I Can’t Give Everything Away; só o CD duplo com o show em Montreux vale o preço da box inteira, mas o triplo Recall é um apanhado e tanto dos últimos anos da carreira dele. O Wishbone Ash ganhou uma fantástica At the BBC 1970-1988 em 11 CDs e um DVD mapeando a evolução do grupo ao longo de quase vinte anos. Gillan 1978-1982 traz quase tudo o que Ian Gillan gravou após o fim da Ian Gillan Band numa box bastante atraente, com as artes de capa originais no livreto e boa qualidade sonora. The Who teve seu Who Are You devidamente “encaixotado”: além das demos e versões alternativas, as gravações ao vivo com Keith Moon e Kenny Jones valem o pacote. Por fim, quero destacar a versão definitiva de um dos meus álbums favoritos, Made in Japan (Deep Purple), que em cinco CDs traz os três shows completos, versões editadas para singles, o álbum original remixado e um Blu-Ray com mais remixes. Além de tudo, há um bom livreto, um poster e o programa dos shows originais.

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