Melhores de 2025: por Emerson Lopes

Para quem é fã do cantor Bruce Springsteen, 2025 foi um ano de ouro e inesquecível, com os lançamentos da caixa Tracks II, do filme Salve-me do Desconhecido, que também conquistou uma indicação ao Globo de Ouro, e da versão estendida do disco Nebraska. Mas é claro que muitos outros acontecimentos ocorreram, entre eles, a emocionante apresentação do cantor Ozzy Osbourne ao lado do Black Sabbath, e sua morte 18 dias depois, aos 76 anos, o reencontro dos irmãos Gallagher, que colocaram o Oasis na estrada, após 16 anos, e a entrada de Soundgarden, White Stripes, Joe Cocker e Warren Zevon no Rock & Roll Hall of Fame. Isso sem falar na escalação dos “velhotes” Willie Nelson (92), Bob Dylan (84) e Neil Young (80) para a 40ª edição do Farm Aid, nos EUA, e no blueseiro Buddy Guy, que, aos 89 anos, lançou o disco Ain’t Done With The Blues. Para 2026 já temos garantidas apresentações de AC/DC, Iron Maiden, Elton John (Rock in Rio), Guns N’ Roses, Extreme e Lynyrd Skynyrd (Monster of Rock), Twisted Sister, In Flames e Black Label Society (Bangers Open Air), Dream Theater, Avenged Sevenfold, Living Colour, Echo & The Bunnymen, Bryan Adams e Megadeth. Haja fôlego e dinheiro para maratonar tudo isso.

1 – Bruce Springsteen – Tracks II: The Lost Albums
O site Consultoria do Rock não tem uma categoria hors-concours, o que se tornou um problema para eu conseguir encaixar a caixa (desculpe o trocadilho) lançada pelo cantor Bruce Springsteen, chamada Tracks II: The Lost Albums. É claro que não tenho a intensão de desmerecer os outros nove discos indicados, mas a empreitada de Springsteen não tem páreo, pelo menos no item quantidade. Mas também entendo que quantidade não é sinônimo de qualidade, mas no caso da caixa em questão, com 83 músicas, divididas em sete discos, o número elevado de canções não comprometeu em nada a qualidade. Vamos então a um resumão do que o velho Boss nos ofereceu. Os discos, todos inéditos, estavam guardados nos arquivos do cantor, com músicas que vão de 1983 a 2008. Neste período, ele passou por diferentes fases musicais e pessoais, o que o ouvinte perceberá durante as audições dos sete discos inéditos. Difícil pinçar esta ou aquela canção diante da diversidade de cada um dos discos. Por outro lado, canções como “One Beautiful Morning”, “God Sent You”, “Silver Moutain”, “The Lost Charro”, “Late in the Evening” e “I’m Not Sleeping” não passarão despercebidas. Para os fãs do cantor, não é novidade que ele tem diferentes facetas em seus discos, o que acabou o tornando um artista atemporal. A caixa tem o mérito de trazer esses pequenos “tesouros” à luz, isso ninguém discute. Mas, ao mesmo tempo, fica a dúvida se lançar tudo de uma vez só e encaixotado foi a melhor decisão, já que o valor da brincadeira ficou alto até mesmo para os conterrâneos do cantor que ganham em dólar.

2 – Kenny Wayne Shepherd & Bobby Rush – Young Fashioned Ways
Tenho que confessar que o meu parco conhecimento sobre blues ficou ainda mais latente ao descobrir que nunca tinha ouvido falar do cantor e gaitista Bobby Rush, que em 2025 completou 92 anos de idade, tem três prêmios Grammy em casa na categoria Melhor Disco de Blues Tradicional, e que em 2026 está na briga por mais um gramofone dourado pelo disco Young Fashioned Ways, em parceria com o guitarrista Kenny Wayne Shepherd, motivo pelo qual encontrei este álbum. Sou fã antigo de Shepherd, que recebeu sua primeira indicação ao Grammy em 1998, quando tinha 21 anos de idade. O disco em questão tem o mérito de mesclar diferentes escolas do blues e entregar um resultado brilhante. Temas como “Who Was That” e “Young Ways” são o melhor cartão de visita que o ouvinte poderia receber, trazendo toda a magia do blues. Já “40 Acres (How Long) e “G String” têm o formato de dueto (gaita e violão), com atmosfera marcante do blues do cantor mesclando canto e narração. Ainda em dueto, mas desta vez entre gaita e guitarra slide, chegam “You So Fine” e “Hey baby”, que também uma batida hipnotizante. Por fim, “Uncle Esau”, que ganhou videoclipe no YouTube, tem Shepherd pela primeira e única vez neste álbum tocando o seu estilo mais rock, e “Long Way From Home”, que tem o mérito de incorporar com perfeição a guitarra de Shepherd com a tradição da gaita e do piano no blues. Uma beleza de tema, que fica ainda melhor com a interpretação de Rush.

3 – Steve Morse Band – Triangulation
Tudo que for falado sobre o guitarrista norte-americano Steve Morse será pouco diante do seu tamanho e da sua trajetória, que já ultrapassa quatro décadas e tem passagens fundamentais nas bandas Dixie Dregs e Deep Purple. Paralelamente, ele lançou uma dezena de discos solos. Para a alegria dos fãs, depois de um longo hiato após sua saída do Purple, ele reaparece, aos 70 anos de idade, com o belíssimo disco Triangulaton, acompanhado por Dave LaRue (baixo) e Van Romaine (bateria), e sua guitarra inconfundível. Mas o que já seria ótimo fica ainda melhor com a participação de outros dois gigantes da guitarra: Eric Johnson e John Petrucci. O som de Morse é limpo e vibrante, e com a formação de trio, ele tem espaço que dedilhar as notas de forma livre e, é claro, com seu costumeiro talento. O trio também favorece a conversa franca entre o guitarrista e o baixista, que dá um show à parte no tema “Off The Cuff”. O Morse mais pesado está nas músicas “Break Through” e “Triangulation”, com Petrucci. Para fechar, com 11 minutos, o guitarrista oferece “Tumeni Partz”, que remete à clássica “Radar Love”, sucesso da banda holandesa Golden Earring, em 1973.

4 – Steve Porcaro – The Very Day
Gostem ou não, o grupo norte-americano Toto é um dos gigantes da música e conseguiu cravar seu nome na história. Quem não lembra de músicas como “África” e “Hold The Line”? Algumas pessoas podem não lembrar, mas a espinha dorsal do Toto era formada pelos irmãos Porcaro (Steve, Jeff e Mike) e pelo tecladista David Paich, todos músicos manjados na cena de Los Angeles (EUA), na década de 1970. Mas depois de vários altos e baixos, o Toto perdeu seu status e hoje vive apenas do passado. Por outro lado, é inegável que o grupo tinha um talento acima da média, tanto nas composições como nos arranjos. Um dos arquitetos do som do Toto era o tecladista Steve Porcaro, que lançou neste ano o aclamado disco The Very Day, uma deliciosa viagem o som da década de 1980. É impressionante como ele consegue criar a atmosfera perfeita para suas belas composições. Apesar de não ser um cantor com voz potente, Porcaro consegue manter o ouvinte envolvido em temas como “Listen To My Heart”, “Does It Really Matter?” e “Miss Jane Sinclar”, que vão agradar em cheio fãs dos finados Steely Dan e Style Council. Outro ponto alto é “Change”, cantada pelo veterano Michael McDonald (Dobbie Brothers) e que ainda traz Michael Landau (guitarra), David Paich (órgão) e Marcus Miller (baixo). Também se destacam “Saint and Angels”, uma homenagem à Califórnia e aos Beach Boys, com Jason Scheff nos vocais, “Water From The Sky”, que trará um sentimento profundo de nostalgia ao fã do guitarrista Steve Lukather, que mantém vivo até hoje o legado do Toto em concertos ao redor do globo, e “2x Lover”, com a voz macia de Jude Cole.

5 – Adrian Smith & Richie Kotzen – Black Light / White Noise
É difícil deixar de fora de uma lista de grandes discos de 2025 a parceria entre dois gigantes da guitarra como Adrian Smith e Richie Kotzen. Smith está à frente do Iron Maiden há quatro décadas e Kotzen tem também uma longa carreira como instrumentista, e passagens pelas bandas The Winery Dogs, Poison e Mr.Big. Vale lembrar que Kotzen se tornou um tremendo vocalista também, com um timbre que lembra muito o saudoso Chris Cornell. Em 2021, eles lançaram o primeiro projeto juntos, agradando em cheio os fãs de rock, mas com um impacto limitado. Agora, a dupla retoma a parceria e deixa claro que a química entre eles deve render ainda outros grandes discos no futuro. Em Black Light / White Noise, o ouvinte vai conseguir ouvir claramente a diferença de estilos entre os dois guitarristas. Kotzen é mais virtuoso e traz influências do funk e do soul. Já Smith, que tem 13 anos mais que Kotzen, vem da escola do rock britânico, tem um som mais pesado. Temas como “Muddy Water” e “Blindsided” mostram bem que os caminhos diferentes de suas carreiras não atrapalham em nada a conexão musical da dupla. A temperatura continua elevada nas faixas “Heaven Weather” e “Life Unchained”. Os backing vocals de Smith aparecem límpidos em “Darkside” e “Wraith”, assim como as frases que saem com força de sua guitarra. Para fechar, “Beyond the Pale”, balada de quase 8 minutos que serve para dar um respiro a quem está tocando e para a plateia levantar seus celulares. Smith e Kotzen tocam no Brasil em abril de 2026, no Bangers Open Air, na capital paulista, e em Curitiba (PR).

6 – Coheed and Cambria – The Father of Make Believe
Antes de escrever sobre o disco do Coheed and Cambria, tenho que confessar que não tenho qualquer interesse nas histórias narradas nas letras da banda. Sei que seus discos trazem o universo criado pelo vocalista Claudio Sanchez, chamado The Amory Wars, que também pode ser encontrado em HQs, mas definitivamente não é isso que me faz gostar da banda, que conheci em 2011 durante sua participação do Rock In Rio. O vocal cheio de personalidade de Sanchez e o som que traz elementos de rock progressivo, punk, metal e pós-hardcore são arrebatadores. A energia emanada pela banda não deixa ninguém indiferente. Para os fãs de carteirinha, o novo disco The Father of Make Believe é um dos melhores já lançados pela banda na última década. A calmaria da música de abertura (“Yesterday’s Lost”) não “prepara” o ouvinte desavisado do que está a caminho. Já “Goodbye, Sunshine” tem todos os elementos que tornam a música da banda tão característica, com uma bateria marcante, as duas guitarras se completando, e a montanha russa sonora. “Searching for Tomorrow” e “The Father Of Make Believe” mantêm a mesma pegada. Já em “Blind Side Sonny”, o quarteto solta toda a “raiva” contida em uma porrada de 2:23 minutos, assim como em “Play The Poet”, que traz Sanchez com a voz distorcida. Na sequência aparece uma trinca que faz a temperatura baixar, com a belíssima “Corrner My Confidence”, “One Last Miracle” e “Someone Who Can”, provavelmente a música mais fácil para quem ainda não está familiarizado com o universo sonoro da banda. Por fim, o grupo apresenta a suíte “The Continuum”, dividida em quatro atos, com destaque para a primeira das canções, “Welcome to Forever, Mr Nobody”. Provavelmente a banda continuará a exercer impacto em seu seleto grupo de ouvintes, mas aparentemente isso não é um problema para Sanchez e os rapazes do Coheed and Cambria.

7 – John Cafferty & The Beaver Brown Band – Sound Of Waves
Não é todo dia que presenciamos uma banda renascer após quase quatro décadas. Apesar de nunca ter parado de tocar, John Cafferty & The Beaver Brown Band acabou esquecida após uma temporada de sucesso na década de 1980, especialmente pela trilha do filme Eddie and the Cruisers, e músicas em trilhas sonoras como Rocky 4 e Stallone Cobra. Agora, mais uma vez, uma trilha sonora serve de trampolim para a banda se reencontrar com os fãs saudosos. A música “Day In The Sun” foi incluída no filme Ricky Stanicky, estrelado pelos atores Zac Efron e John Cena, e foi o primeiro single do álbum Sound Of Waves. O som cru do disco é um dos outros atrativos para quem está “cansado” de superproduções. “Promise & Dream”, “Hearts of The Mighty” e “Great Divine” são rock and roll puro e direto, sem firulas, e “Lasting Impression” parece que saiu diretamente da década de 1960, quando Beatles, Byrds e Jefferson Airplane brilhavam. Outros destaques são “Paralisades” e “Razor ‘n’ Rock, que poderiam ter sido gravadas facilmente por Bruce Springsteen. Por falar em Springsteen, a presença do saxofonista Michael Antunes deixa o som de Cafferty ainda mais parecido com som característico da Jersey Shore, na costa leste dos EUA. Antunes mostra suas credenciais em “Send A Little Message To Yo”, “Loveland” e “Blue California”. Por fim, a balada “Sound Of Waves”, de quase 8 minutos, com voz, piano e sax, traz Cafferty relembrando dos velhos tempos e deixando uma mensagem de esperança, que vem por meio do ritmo e do som das ondas.

8 – Jack J Hutchinson – Battle Scars
Não é de hoje que a internet dá a oportunidade de conhecermos artistas espalhados ao redor do mundo. A democratização da música é algo que trouxe a liberdade que antes era negada pelas gravadoras, que por décadas impuseram os artistas que nós “poderíamos” ouvir. Um bom exemplo disso é o cantor e guitarrista britânico Jack J Hutchinson, que faz um blues rock ou southern rock genuíno e visceral. Seu trabalho é 100% independente e sua paixão ao interpretar suas composições nos faz questionar a linha tênue que separa o sucesso do fracasso. Não estou afirmando que Hutchinson é um fracasso, apenas tentando “entender” os motivos para um artista vingar e outro não. Em Battle Scars, gravado ao vivo em pequenos bares do Reino Unido, o cantor traz temas como “Don’t Let The Fuckers Get You Down”, “Days Are Gone” e “Constellations”, todas do disco Battles, lançado em 2024. Ao vivo, as canções soam mais cruas e a guitarra de Hutchinson parece uma mistura de Hendrix (Jimi) com Thayil (Kim). A influência de Hendrix aparece novamente na ótima “Hip Slickin'”. É claro que a balada não poderia faltar, representada aqui “I Will Follow You”. Outro tema de peso é a épica “Love Is The Law”, de quase 8 minutos de duração e belos solos do músico.

9 – L.A. Guns – Leopard Skin
A conturbada relação entre o cantor Phil Lewis e o guitarrista Tracii Guns causou estragos na trajetória dos californianos do L.A. Guns, que se apresentou ao público ainda na década de 1980, quando as bandas estavam deixando de se preocupar com seus cabelos e focaram mais em fazer música. Aí nasceram bandas como o Guns N’Roses e anos depois o grunge de Seattle. Felizmente o grupo conseguiu passar por várias turbulências e mais seu som característico, mas entendendo que o bom e velho rock and roll não terá mais o mesmo espaço e influência de décadas passadas. Para a sorte dos fãs, o grupo mantém na linha de frente Lewis e Guns e a disposição de continuar. Temas como “Hit and Run” e “Taste It” mostram que eles continuam em forma. Já “The Grinder” remete aos discos de Alice Cooper na década de 1990, e “Follow The Money” traz Guns no comando total, provando porque ele é um dos grandes em seu instrumento. Como de costume, a balada desta vez responde pelo nome de “The Masquerade”, que a manjada formula de vocal comedido, violão de fundo e aquele solo de guitarra de cortar o coração na hora exata. A banda também não deixou de fora uma faixa acústica. “Runaway Train” faz o estilo saloon do velho oeste, com piso de madeira e sujo de poeira. Enfim, o disco entrega aquilo que o L.A. Guns tem de melhor, ou seja, sua originalidade preservada e riffs bem postado.

10 – Billy Idol – Dream Into It
Apesar do veterano Billy Idol não ter exatamente algo novo para oferecer, é muito bom ouvir algo novo após uma década no limbo. Obviamente ele não tem mais a mesma energia da década de 1980, quando ele reinou nas paradas de sucesso, mas aos 70 anos ele volta com um disco Dream Into It, ao lado do seu fiel escudeiro Steve Stevens, guitarrista que define o som do cantor. E esse tal som que mantém por quatro décadas fãs fieis está explícito na faixa que fecha o novo disco, “Still Dancing”, que não é exatamente uma homenagem ao primeiro hit de sua carreira (“Dancig With Myself”), mas é sem dúvida a música que vale cada centavo que os coroas gastaram para comprar o CD. Do mais, Idol entrega um disco com suas digitais, destacando a faixa-título, “Too Much Fun” e “Gimme The Weight”. Outra boa sacada foi convidar três cantoras para dividir os vocais (Alison Mosshart, Joan Jett e Avril Lavigne). A balada do disco responde pelo nome “I’m Your Hero”, que está anos luz de clássicos como “Eyes Without Face” e “Sweet Sixteen”, mas faz bem o seu papel. O cantor também lançou o documentário Billy Idol Should Be Dead, que mostra sua trajetória desde o início no movimento punk em Londres, passa pelos excessos que quase o levaram à morte e, por fim, o músico que “nunca foi levado a sério”, mas que continua entre nós quase cinco décadas depois de sua estreia com o Generation X.
*Emerson Lopes é jornalista, autor dos livros Jazz ao seu alcance e Springsteen, ambos publicados pela editora Multifoco, e editor dos blogues Jazz ao seu alcance e Bruce no Brasil.


