Body Count – Merciless [2024]

Body Count – Merciless [2024]

Por Micael Machado

Tentaram me matar com tiros / Tentaram me matar de fome / Tentaram me infectar com muitos tipos de vírus / Mas falharam em me eliminar / Falharam em me destruir” canta Ice T em “Live Forever”, sexta faixa de Merciless, oitavo disco de estúdio do Body Count, lançado em novembro de 2024 (lá fora, pela gravadora Century Media, nos formatos CD, Vinil – em várias cores diferentes – e um “Deluxe Box” com um CD extra com as versões instrumentais das faixas, além de “brindes” como bandana e munhequeira; enquanto, aqui no Brasil, foi lançado pela gravadora Shinigami, apenas no formato CD Digipak), o quarto registro onde a banda é formada, além de Ice nos vocais, por Ernie C. nas guitarras, Sean E. Sean nos samplers e backing vocals (estes dois, os únicos sobreviventes da formação original, ao lado, claro, do “chefão” Ice T), Juan Of The Dead nas guitarras, Vincent Price no baixo, e Ill Will na bateria, além do vocalista de apoio Little Ice e do produtor Will Putney, que também atua como guitarrista adicional e participa da composição em praticamente todas as faixas do registro (ele que também é guitarrista da banda Fit for an Autopsy). Com doze faixas em pouco mais de quarenta e um minutos, Ice e sua turma mantém a mistura de rap com metal que tornou o Body Count famoso lá no começo da década de 1990, mas parecem levar a sonoridade do grupo alguns passos adiante nas direções mais “pesadas” do estilo.

Faixas como a veloz “Psychopath” (primeiro single de divulgação do álbum, e que conta com os vocais do músico convidado Joe Badolato, também do Fit for an Autopsy) e a brutal “The Purge” (com letra inspirada pela série de filmes de mesmo nome, e que conta nos vocais com a participação de George “Corpsegrinder” Fisher, do Cannibal Corpse) parecem saídas de alguns dos álbuns mais extremos do Slayer, enquanto a vinheta de abertura “Interrogation Interlude” aproxima a sonoridade do Body Count ao metal industrial de uma banda como o Ministry, por exemplo. A citada “Live Forever” (com participação nos vocais do cantor Howard Jones, ex-Killswitch Engage, atual Light the Torch) tem, além de um dos melhores refrões do disco, alguns trechos que se aproximam do Death Metal Melódico (apesar dos vocais de Ice não terem nada a ver com o estilo), e a veloz “Drug Lords” (com uma rápida participação de Max Cavalera – vocês sabem quem – em um curto trecho falado em português) parece saída de algum dos primeiros discos do Soulfly (ainda que sem a percussão característica da banda – aliás, o encarte não especifica quem canta nesta faixa, mas eu arriscaria dizer que as vozes ficaram a cargo do baixista Vincent Price, porque, certamente, não é Ice quem está cantando aqui).

Body Count: Ill Will, Vincent Price e Sean E. Sean (atrás), Ernie C., Ice T e Juan Of The Dead (mais à frente)

“Do or Die” tem algumas partes que poderiam ser consideradas como o chamado “pula pula” do nu metal, enquanto “World War” parece saída de algum disco antigo do Biohazard, e composições como a faixa título, “Fuck What You Heard”, “Mic Contract” (todas com bastante destaque para o baixo) ou “Lying Motherfucka” já se aproximam mais do estilo “tradicional” do grupo, apostando no peso em demérito da velocidade, e onde Ice atua mais como rapper do que como cantor.

A parte lírica também sofreu algumas alterações desde os primeiros discos, afinal, se “Mic Contract”, “Do or Die” (que prega contra o crescente armamento da população dos EUA como forma de autodefesa, mas onde Ice diz que “se você vier pra cima de mim com uma automática, eu não vou me defender apenas com uma faca” e que ele não é “nenhum filha da puta pró-armas”, mas sim “pró manter-se vivo”) ou a própria “Merciless” ainda tratam da dificuldade da vida nas cada vez mais violentas ruas da Los Angeles natal do grupo (ou de qualquer outra cidade grande no mundo), “World War” alerta para o fato de que a humanidade está cada vez mais próxima de um conflito mundial em larga escala, tema que também permeia “Drug Lords”, onde Ice fala sobre quem realmente “manda” na política do planeta. “The Purge” e “Psychopath” foram inspiradas por filmes que Ice T assistiu durante a pandemia de Covid 19, enquanto “Lying Motherfucka” é um ataque direto a Donald Trump (“Você tem pessoas que continuam a lhe apoiar / ainda que as merdas que você diz já tenham se provadas falsas / Você mente para o mundo inteiro / e ainda planeja se candidatar novamente para Presidente“), e “Fuck What You Heard” é uma crítica ao sistema político norte americano como um todo (“Esquerda e Direita são asas de uma mesma ave / Eles querem nos separar / Nos manter lutando uns contra os outros /Enquanto roubam o trem“). Já a surpreendente recriação da clássica “Comfortably Numb” (aquela mesma, que, aqui, chega até a contar com a própria participação do compositor David Gilmour na reinvenção de um dos mais emblemáticos solos de guitarra da história do rock, na única faixa do disco que passa dos quatro minutos de duração) trata da alienação da população, que fica imersa nas “redes sociais” o tempo todo, e acaba alienada (ou “confortavelmente entorpecida”, como diz o título da música) do que realmente está acontecendo atualmente no mundo, sendo “informada” constantemente por Fake News e notícias “manipuladas” pelo governo ou pelos verdadeiros donos do poder no planeta.

Contracapa da versão nacional de Merciless

Merciless é um passo adiante na carreira da banda, com músicas fortes e letras ainda mais impactantes e abrangentes do que alguns dos registros anteriores. Como Ice canta em “Fuck What You Heard”, “Body Count’s in tha buildin’ ” mais uma vez, e, ao que parece, não vai sair tão cedo. Ainda bem!

I refuse to give up / I refuse to shut up / You can try to stop me / You can try to kill me / But my voice will live forever

Track List:

1. Interrogation Interlude
2. Merciless
3. The Purge
4. Psychopath
5. Fuck What You Heard
6. Live Forever
7. Do or Die
8. Comfortably Numb
9. Lying Motherfucka
10. Drug Lords
11. World War
12. Mic Contract

 

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