Ace Frehley – Now Playing [2025]

Ace Frehley – Now Playing [2025]

Por Mairon Machado

Space Ace foi fazer seus solos no espaço. Infelizmente, soubemos da morte de um dos guitarristas mais influentes da história na data de ontem, através de sua família. A causa da morte não foi revelada oficialmente até a edição deste texto, o qual curiosamente eu comecei a escrever no início deste mês, quando chegou para mim esta bela coletânea do início da carreira solo de Ace, sendo que eu não sabia das condições de saúde de Ace em seus últimos dias de vida, e exatamente quando (achei que) terminei ele, veio a notícia da morte de um gigante.

Ace Frehley, com seu marcante traje espacial e sua inseparável bebida

Antes de falar sobre o disco em si, preciso prestar minhas palavras de fã para Ace. O Kiss mascarado surgiu tardiamente para mim, já que nascido nos anos 80, conheci o Kiss farofa de “Lick It Up”, “I Love it Loud”, “Forever” e “Crazy, Crazy Nights”, entre outras que rodavam direto tanto nas rádios quanto nos clipes da MTV e da Globo. Mas um dia, durante um programa que passava de tarde na Record, por volta de 1995, vi um especial do Kiss, que começava com um “Strutter” em preto e branco, com imagens muito ruins, passava por “Love Gun”, colorido, mas igualmente imagem ruim, e chegou em Ace Frehley tocando “Detroit Rock City” com uma capa nas costas (seu marcante “traje espacial”) durante uma apresentação na Austrália, em 1980. O solo da música, a performance de Ace, cara, eu tinha uns 13 anos, e vidrei naquilo. Assim como, com certeza, milhões e milhões de garotos e garotas no mundo inteiro vidraram com aquele ser.

Virei fã de Ace, inclusive da Frehley’s Comet e de sua carreira solo, devorei o Alive!, assisti inúmeras apresentações do Kiss mascarado, babando pela guitarra que dava tiros, pegava fogo, voava, e tive a felicidade de ver o cara ao vivo durante a turnê de Psycho Circus, numa alegria que guardo eternamente em minha mente e no meu coração. Ace ajoelhado solando “Black Diamond”, ou no canto do palco mandando ver em “Love Gun” são daquelas coisas que nunca mais esquecerei.

A vida pessoal é cercada de (alguns) altos e (muitíssimos) baixos. Acidentes, farras, bebedeiras, drogas, muitos problemas e causos que serviram para acabar manchando sua carreira com o passar dos anos, contribuindo também para isso as falas dos ex-colegas Gene Simmons e Paul Stanley, que adoram (será que ainda vão continuar) soltar o verbo contra Ace. Mas, como o próprio Ace Frehley escreveu em sua autobiografia Eu Não Me Arrependo, o nome do livro já diz tudo. Ace fez o que fez e não importa a sua vida fora dos palcos e estúdios. A música de Ace é e sempre estará soando forte nas caixas de som, assim como sua máscara, suas guitarras inovadoras, que davam tiro ou brilhavam, e claro, seu carisma inquestionável.

Ace e sua guitarra prestes a pegar fogo. Carisma inquestionável

Foi com muita dor que recebi a notícia da morte de Ace no mesmo dia que fechei o texto sobre o álbum, o qual recentemente, lá nos Estados Unidos, saiu: a coletânea Now Playing. O álbum foi lançado somente em LP, no luxuoso azul cobalto, e resgata 10 canções do início da carreira solo de Ace, junto da Frehley’s Comet.

Particularmente, sempre achei Ace “O Cara” do Kiss. Foram suas criações não só o logo da banda, mas os trajes e performances mais impactantes dos quatro mascarados (ok, era legal ver Gene cuspindo fogo e sangue, mas bah, nada supera o que Ace fez nos palcos). Após sua saída, o Kiss se tornou outra banda. Eram os licks, riffs e solos de Ace que fizeram do Kiss um dos maiores nomes de rock ‘n’ roll da história, mas infelizmente, ele não conseguiu transferir todo o seu talento quando tentou seguir adiante sem os colegas de Kiss.

Notícia com o acidente que quase matou Ace, e inspirou “Rock Soldiers”

Eu gosto dos discos da Frehley’s Comet e de Ace solo, não tanto quanto os do Kiss, óbvio, mas há bom material nos lançamentos, e Now Playing faz um belo apanhado disto. O lado A traz 4 canções da estreia da Frehley’s Comet, auto-intitulado, lançado em 1987. “Rock Soldiers” abre os trabalhos com as batidas da bateria e o riff pesado de uma canção bem oitentista, na qual Ace fala “Ace is back and he told you so“, em uma canção que narra sobre o trágico acidente que quase tirou a vida de Ace em 21 de maio de 1983, quando dirigia seu Delorean totalmente embriagado, e acabou sobrevivendo, livrando-se dos demônios que o cercavam. A faixa também abre Frehley’s Comet, e é bem poderosa para mostrar o retorno de Ace. Em ambos os discos, seguimos com “Breakout”, que narra a história de alguém que ficou preso injustamente por 7 anos, em outra canção bastante pesada, destacando os vocais de Tod Howarth e o solo bem veloz de Ace. Apenas para relembrar, a banda de Ace aqui consistia dele nas guitarras e vocais, Howarth (vocais, teclados, guitarras), Anton Fig (bateria) e John Regan (baixo, backing vocals), uma boa banda de apoio.

Ace retorna aos vocais em “Into The Night”, uma canção mais calma, principal single de Frehley’s Comet (junto de “Rock Soldiers”) que narra a história de um personagem curtindo as aventuras e desventuras de uma madrugada qualquer, com uma sonoridade bem oitentista, e mais um belo solo de Ace, carregado de bends e notas velozes. Curiosamente, essas três canções também abrem Frehley’s Comet, e a última canção do disco nesta coletânea é “Calling To You”, um belo hardão com os vocais de Tod, que me remetem bastante ao Van Halen era Sammy Hagar, e trata sobre divertir-se ao som do rock ‘n’ roll. O lado A de Now Playing encerra-se com “Insane”, faixa que originalmente abre o álbum Second Sighting (1988), bastante autobiográfica, na qual Ace relata ter dinheiro, ter fama, e ser inconsequente por ser insano. Um rock quadradão, com pitadas country, mas com um refrão grudento.

Lindo vinil em azul cobalto

No lado B, temos mais duas faixas de Second Sighting, “Dancin’ With Danger” e “It’s Over Now”, lembrando que aqui, Fig foi substituído por Jamie Oldaker. A primeira surge com sintetizadores e o riff pesado de um Ace inspirado, uma faixa rápida, pesada, ótima para fãs do guitarrista, certamente uma das melhores de sua carreira, e com um belo solo, recheado de notas velozes. Já a segunda é uma balada levada pelos vocais de Tod, com direito a piano, sintetizadores e aquele andamento arrastado desse tipo de canção anos 80, e que como o nome diz, reflete sobre o fim de um relacionamento, mas com possibilidades de seguir em frente. Por fim, de Trouble Walkin’ (1989) disco que contou com a participação do Skid Row fazendo backing vocals, Peter Criss e Anton Fig na bateria, além de Richie Scarlet (guitarras) e John Regan (agora nos sintetizadores e baixo), Now Playing resgata “Shot Full of Rock”, “Hide Your Heart” e “Trouble Walkin'”.

Detalhes do selo do vinil

Adoro a velocidade e o peso de “Shot Full of Rock”, outra ótima faixa, com os vocais marcantes de Ace, além de seu riff quebrado e bem trabalhado, um ótimo refrão e Ace mandando ver no solo de mais uma faixa autobiográfica, com destaque para a frase “Your fascination with my creation, And stimulation, rock to drop” (pequena indireta para Gene Simmons??). Grande faixa. A segunda é uma parceria de Paul Stanley e Desmond Child, que já havia sido gravada por Bonnie Tyler (1988) e pelo próprio Kiss (1989), e que aqui recebe um riff que me lembra “Strutter”, mas que no fundo é só uma impressão mesmo, com a canção desenvolvendo-se de forma similar à versão do Kiss e da própria Tyler, inclusive com os “ah, ah, ah, ah, hey, hey, hey, hey” e “doo doo doo doos“. “Trouble Walkin'” encerra a coletânea com uma letra narrando sobre o rapaz que é o pesadelo das mães, em um rockzão tipicamente Kiss, para alegrar a casa e deixar aquela sensação de que o tempo passou rápido durante a audição.

Senti falta de algo do EP Live + 1, lançado pelo Frehley’s Comet em 1988, ou alguma novidade/raridade, mas ok. Para os fãs de Ace que já possuem os discos da Frehley’s Comet, talvez realmente Now Playing seja mais um caça-níqueis, mas para aqueles que não tiveram a oportunidade de conseguir os discos nos anos 80 e 90, e estão afim de ver como é Ace fora das máscaras, esta coletânea é uma boa indicação. E que nosso eterno personagem espacial vague pelo espaço, espalhando seus solos e conquistando cada vez mais fãs e seguidores pelo cosmos universal. Sua morte deixará um vazio imenso na história da banda, e também na história da música, e penso que Ace nunca teve realmente o reconhecimento que deveria. Sentiremos sua falta, Space Ace!

Contra-capa do vinil

Track list

A1 – Rock Soldiers

A2 – Breakout

A3 – Into The Night

A4 – Calling To You

A5 – Insane

B1 – Dancin’ With Danger

B2 – It’s Over Now

B3 – Shot Full Of Rock

B4 – Hide Your Heart

B5 – Trouble Walkin’

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