Cinco Discos Para Conhecer: Templos do Rock: Rainbow Theatre

Cinco Discos Para Conhecer: Templos do Rock: Rainbow Theatre

Por Marcello Zapelini

O Rainbow Theatre, um dos templos do rock mais conhecidos da Inglaterra, infelizmente, deixou de hospedar shows anos atrás e literalmente se tornou um templo, pois foi vendido para a Igreja Universal do Reino de Deus e restaurado como uma igreja. Mas, enquanto foi utilizado para shows, hospedou muitas das maiores bandas e cantores de rock de todos os tempos, e as histórias de lá são muitas. Particularmente, destaco os casos de Frank Zappa, que foi atirado do palco por um sujeito enciumado (a namorada era fanática pelo Zappa, vai entender) e quebrou uma perna, o do Deep Purple quebrando o recorde de banda de som mais alto até então em junho de 1972, do Yes filmando seu Yessongs em dezembro do mesmo ano, do Iron Maiden gravando o clip de “Women in Uniform” no palco, de Toyah Wilcox filmando um vídeo ao vivo diante dos olhos atentos de seu futuro marido Robert Fripp…

A história do Rainbow começa em setembro de 1930 como Finsbury Park Astoria, um cinema com capacidade para 4000 pessoas – um dos maiores do mundo quando da inauguração. A partir de 1939, espetáculos musicais passaram a ser apresentados no Astoria, incluindo orquestras. Na década de 50 o número de shows musicais aumentou, e mesmo The Beatles se apresentariam lá em 1963, ainda que o local continuasse a ser um cinema. Em 1970 ele se transformaria em Finsbury Park Odeon, mas em 1971 seria remodelado e reinaugurado como Rainbow Theatre, e o primeiro show de rock no local seria do The Who, em novembro daquele ano. A capacidade de público passou a ser de pouco mais de 3000 pessoas. Embora continuasse a exibir filmes, o Rainbow se tornaria majoritariamente um palco para shows, e continuaria assim até 1982, quando foi fechado. Após um período em que ilegalmente o Rainbow serviu como arena de boxe, o cinema/teatro/auditório fechou em 1988. Reabriu como igreja pentecostal e em 1995 foi adquirido pela Igreja Universal do Reino de Deus, que o reformou completamente para transformá-lo em local para cultos religiosos.

Durante os mais de dez anos que o Rainbow hospedou shows de rock, diversos álbuns ao vivo foram gravados lá, e a escolha foi difícil, porque muita coisa boa ficou de fora. Como sempre, as escolhas se deram pelas preferências do autor e incluem álbuns que tentam dar um pouco de variedade ao material, e as bonus tracks seguem um padrão bem peculiar: três álbuns gravados no mesmo ano. Recentemente adquiri a box set do Close to the Edge, do Yes, mas ainda não consegui degustar o suficiente os dois CDs gravados no Rainbow em dezembro de 1972 para resenhar…


Alvin Lee & Co. – In Flight [1974]

Em 1973, Alvin Lee estava de saco cheio do fato de ter que tocar sempre as mesmas coisas com o Ten Years After – e como tocava! Os álbuns não vendiam tanto assim, mas a demanda por shows era bem elevada e o TYA ficava a maior parte do tempo na estrada. Parte do sucesso nos shows era creditada à aparição do grupo no filme sobre o festival de Woodstock, em que Alvin Lee chamou a atenção de todos pela sua velocidade impressionante na guitarra (e isso que, se dermos crédito a Ritchie Blackmore, ele tocava errado). Após ter lançado um disco em parceria com o cantor Mylon Lefevre (On the Road to Freedom), Lee foi desafiado a fazer um show solo no Rainbow pelo secretário do vizinho George Harrison, e para isso convidou amigos que o visitavam em sua casa para jams nas horas de folga. Assim, ele concebeu um novo projeto, com uma banda de grande porte, que batizou de Alvin Lee & Co., que incluía, entre outros, Mel Collins no sax, Ian Wallace na bateria e Tim Hinkley nos teclados. Mesclando composições originais com clássicos do rock dos anos 50, Alvin Lee & Co. In Flight, gravado no Rainbow em 22/3/74 é uma verdadeira festa de rock’n’roll, com Alvin tocando sem se preocupar com a velocidade que o notabilizara. Alvin se sente à vontade o suficiente para começar o disco com um rock suave (“Gotta Keep Moving”) e segui-lo com uma balada soul (“Going Through the Door”) que traz um solo de sax de Mel Collins. Vários rocks dos anos 50, “Don’t Be Cruel”, “Mystery Train”, “Sliw Down”, “Keep A’Knocking” e “Money Honey” dão a Alvin a chance de emular seus heróis como Elvis e Little Richard. Mel Collins brilha em “Freedom for the Stallion”, a seção rítmica oferece uma “Intro” bem funkeada, e são apresentadas diversas composições novas de Lee, como “I’m Writing You a Letter” (reprisada no fim do show), “All Life’s Trials” (em que ele canta acompanhado de Collins na flauta, e toca violão), “Every Blues You Ever Heard” (com belo solo de Tim Hinkley no piano elétrico), dando variedade ao setlist. E “Ride my Train” mataria a vontade de ouvir um blues pesado com solo incendiário do mestre. Lee voltaria a trabalhar com o Tem Years After, dissolvendo a banda em 1975 para se dedicar à carreira solo. O TYA voltaria brevemente duas vezes com ele, depois sem. Alvin Lee morreria em 2013 deixando um belo trabalho como legado, mas poucas vezes brilharia tanto como naquela noite no Rainbow.

Alvin Lee (vocais, guitarras), Neil Hubbard (guitarras), Alan Spenner (baixo), Mel Collins (saxofone), Ian Wallace (bateria), Dyan Birch (backing vocals), Frank Collins (backing vocals), Paddie McHugh (backing vocals)

  1. Got To Keep Moving
  2. Going Through The Door
  3. Don’t Be Cruel
  4. Money Honey
  5. I’m Writing You A Letter
  6. You Need Love Love Love
  7. Freedom For The Stallion
  8. Every Blues You’ve Ever Heard
  9. All Life’s Trials
  10. Intro
  11. Let’s Get Back
  12. Ride My Train
  13. There’s A Feeling
  14. Running Round
  15. Mystery Train
  16. Slow Down
  17. Keep A Knocking
  18. How Many Times
  19. I’ve Got Eyes For You Baby
  20. I’m Writing You A Letter

Queen – Live at the Rainbow ‘74 [2014]

Este CD duplo, que ficou engavetado por 40 anos, traz o Queen em três shows no Rainbow, um em 31 de março, os outros em 19 e 20 de novembro, que promoviam o álbum mais recente em cada época (Queen II e Sheer Heart Attack), com um total de 41 faixas registradas nas listas. Quase todo o setlist do CD 1 é replicado no 2, com exceção de “Great King Rat”, “The Fairy Feller’s Master Stroke” e “See What a Fool I’ve Been” (este blues é melhor do que muita coisa que o Queen colocou nos seus primeiros três discos, aliás). O Queen ao vivo, na minha opinião, raramente decepciona, e muito se deve à excelência dos quatro músicos – e nessa época a banda ainda soava próxima do hard rock (depois é que se perdeu). Um fã do Queen certamente debateria sobre quais são as melhores versões de cada música, mas não sou um deles, e por isso registro as músicas que mais gosto sem entrar na discussão: “Father to Son”, o medley de “Jailhouse Rock” no show de março, “Keep Yourself Alive” (ambas com o solo de Roger Taylor), “Now I’m Here” abrindo o show de novembro, “Stone Cold Crazy” e “Killer Queen”. Claro que tinha que ter algumas bobagens como “The Fairy Feller’s…” (uma das músicas que me lembram porque não consigo me entusiasmar com a banda tanto quanto a maioria) ou “Liar” (uma boa música estragada pelos vocais, que parecem sempre estar sobrando). Freddie Mercury e Brian May são, naturalmente, as estrelas dos shows, mas Roger era um baterista bastante capaz e John Deacon preenche bem os espaços deixados pelos outros três com ótimas linhas. O Queen em 1974 não era ainda o sucesso mundial que se tornaria, mas já mostrava que viera para ficar entre os maiores nomes do rock. Como sempre disse, nunca fui fã da banda, mas não sou louco de negar sua importância, nem de reconhecer o talento dos quatro britânicos. E, como sempre ocorria nessa época da carreira do grupo, nobody played synthesizer.

  1. Procession
  2. Father To Son
  3. Ogre Battle
  4. Son And Daughter
  5. Guitar Solo
  6. Son And Daughter (Reprise)
  7. White Queen (As It Began)
  8. Great King Rat
  9. The Fairy Feller’s Master-Stroke
  10. Keep Yourself Alive
  11. Drum Solo
  12. Keep Yourself Alive (Reprise)
  13. Seven Seas Of Rhye
  14. Modern Times Rock ‘n’ Roll
  15. (Medley) Jailhouse Rock / Stupid Cupid / Be Bop A Lula
  16. Liar
  17. See What A Fool I’ve Been
  18. Procession
  19. Now I’m Here
  20. Ogre Battle
  21. Father To Son
  22. White Queen (As It Began)
  23. Flick Of The Wrist
  24. In The Lap Of The Gods
  25. Killer Queen
  26. The March Of The Black Queen
  27. Bring Back That Leroy Brown
  28. Son And Daughter
  29. Guitar Solo
  30. Son And Daughter (Reprise)
  31. Keep Yourself Alive
  32. Drum Solo
  33. Keep Yourself Alive (Reprise)
  34. Seven Seas Of Rhye
  35. Stone Cold Crazy
  36. Liar
  37. In The Lap Of The Gods… Revisited
  38. Big Spender
  39. Modern Times Rock ‘n’ Roll
  40. Jailhouse Rock
  41. God Save The Queen

Freddie Mercury (vocais, piano), Brian May (guitarras, violões, vocais), John Deacon (baixo), Roger Taylor (bateria, vocais)


Iggy Pop – Live in ‘77: Rainbow Theatre London 07/03/1977 [2020]

David Bowie se autoexilou em Berlin para se desintoxicar, e seu velho amigo (e ídolo) Iggy Pop estava na mesma situação. Sem gravadora, o Iguana foi levado pelo Camaleão (meio reptilianos, eles…) para a RCA. E em 1977 Iggy embarcou em uma turnê com o apoio luxuoso de Bowie nos teclados e backing vocals. Um dos shows registrados ocorreu no Rainbow Theatre, e demoraria décadas para ser lançado oficialmente: em 2020 a box set The Bowie Years juntaria os três discos que Iggy gravou com apoio de Bowie (The Idiot, Nightclubbing e T.V. Eye Live), um CD de raridades e outtakes e três discos ao vivo gravados em março de 1977. Ouvindo este disco a gente percebe por que Iggy não selecionou nenhuma música para o ao vivo oficial: a qualidade sonora é baixa (embora melhore um pouco ao longo do show), com os instrumentos empilhando-se numa maçaroca sonora que permite ouvir a voz do chefe, o baixo bem proeminente, e relativamente pouco da guitarra, teclados e backing vocals. Mas o show é sensacional. O repertório inclui três músicas do primeiro álbum dos Stooges (“1969”, “No Fun” e “I Wanna Be Your Dog”), duas de “Fun House” (“T.V. Eye” e “Dirt”), quatro de Raw Power (a faixa-título, “Gimme Danger”, “I Need Somebody” e “Search and Destroy”), três de The Idiot (“Funtime”, “Sister Midnight” e “China Girl”), e três de Lust for Life (“Turn Blue”, “Tonight” e “Some Weird Sin”), que só seria lançado seis meses depois. Iggy é acompanhado por Ricky Gardiner (guitarra) e os irmãos Hunt (bateria) e Tony Sales (baixo), além, é claro, de Bowie. As versões para “Dirt”, “1969”, “Sister Midnight”, “China Girl”, “Funtime” e “Tonight” (as três últimas estão entre as poucas em que se consegue ouvir bem os teclados de Bowie), são muito boas; os teclados proeminentes em “I Wanna Be Your Dog”, entretanto, não combinam muito. No backing vocal, Bowie se destaca em “Tonight”, mas aparece relativamente pouco na maioria das músicas. Naquela noite de março de 1977, Iggy Pop, David Bowie e seus comparsas fizeram um show memorável, infelizmente não gravado à altura de sua qualidade; pesado, sujo, quase anárquico em alguns momentos, Live in ‘77 – Rainbow Theatre é um ótimo registro da parceria entre David Jones e James Newell Osteberg, e um bom complemento ao show de Cleveland, previamente resenhado pelo Micael Machado nesta Consultoria, pois traz três músicas a mais.

Iggy Pop (vocais), Ricky Gardiner (guitarras), Hunt Sales (bateria), David Bowie (teclados, vocais), Tony Sales (baixo)

  1. Raw Power
  2. T.V. Eye
  3.  Dirt
  4. 1969
  5. Turn Blue
  6. Funtime
  7. Gimme Danger
  8. No Fun
  9. Sister Midnight
  10. I Need Somebody
  11. Search And Destroy
  12. I Wanna Be Your Dog
  13. Tonight
  14. Some Weird Sin
  15. China Girl

Golden Earring – Live [1977]

Esse disco quase não entrou na lista simplesmente porque eu não sabia que tinha sido gravado no Rainbow (minha edição em CD tem um encarte para lá de chocho). A banda holandesa tinha sido fundada em 1961, gravara o primeiro LP em 1965, abrira para o The Who em 1971 e tivera um hit surpresa em 1973 (“Radar Love”), mas estava meio por baixo em 1977, quando finalmente lançou um disco ao vivo. E este é um dos poucos discos que a cada vez que ouço eu aprecio ainda mais. A formação do grupo tinha se estabilizado em 1970 com Barry Hay (vocal), George Kooymans (guitarra, vocal), Rinus Gerritsen (baixo e teclados) e Cesar Zuidwjik (bateria), aqui acrescida de Eelco Geeling na guitarra. A banda tinha uma discografia respeitável de 12 álbuns de estúdio, mas Live revisita dez músicas de apenas cinco deles: Eight Miles High (1969 – a faixa-título, reduzida à metade de sua duração), Seven Tears (1971 – a excelente “She Flies on Strange Wings”), Moontan (1973 – o hit “Radar Love”, e as ótimas “Candy’s Going Bad”, “Vanilla Queen” e “Just Like Vince Taylor”), To the Hilt (1976 – a divertida faixa-título) e Contraband (1976, álbum mais recente da banda então, que comparece com “Mad Loves Comin’”, “Fighting Windmills” e “Con Man”). O desempenho dos músicos é simplesmente fenomenal, e Kooymans e Geeling se desafiam o tempo todo (“Vanilla Queen” e “To the Hilt” são bons exemplos); algumas músicas estão em versões mais longas do que as de estúdio e a presença de Geeling, muito bom na slide guitar, traz um elemento a mais nos arranjos. O inglês Barry Hay, que se radicara na Holanda na década de 60 (e entrara no grupo em 1968), não só está em casa, como está cantando melhor do que nunca. Golden Earring Live é um daqueles discos que são praticamente perfeitos do começo ao fim, mas gostaria de destacar a última música, “Just Like Vince Taylor”, homenagem a um rocker britânico pouco conhecido, e que tem um riff sensacional. Uma curiosidade: o engenheiro de som que fez a gravação é Steve Lillywhite (fãs do U2 sabem de quem estou falando). O Golden Earring atravessou décadas, até se dissolver em 2021 devido à doença do guitarrista e principal compositor Kooymans, diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica. A banda ainda lançaria outros álbuns ao vivo de alta qualidade (inclusive a série Naked, com versões acústicas), mas não seria exagero apontar este primeiro ao vivo como o melhor que o grupo fez.

Barry Hay (vocais), George Kooymans (guitarras, backing vocals), Eelco Geeling (guitarras), Rinus Gerritsen (baixo e teclados), Cesar Zuidwjik (bateria)

  1. Candy’s Going Bad
  2. She Flies On Strange Wings
  3. Mad Love’s Coming
  4. Eight Miles High
  5. Vanilla Queen
  6. To The Hilt
  7. Fighting Windmills
  8. Con Man
  9. Radar Love
  10. Just Like Vince Taylor

Ramones – It’s Alive! [1979]

No dia 31 de dezembro de 1977, o Ramones homenageou o aniversário deste escriba (hehehe, deixem eu me achar um pouco) com um show que seria lançado no ano seguinte como It’s Alive, até hoje uma das melhores definições para hecatombe sonora que já ouvi. O negócio é 1, 2, 3, 4!, e deixar a paulada comer solta. O álbum funciona como um resumo do que a banda tinha feito até então em seus três primeiros LPs, e com 28 músicas espremidas em menos de 54 minutos, Joey, Dee Dee, Johnny e Tommy levam os ingleses ao delírio, praticamente sem dar um intervalo para respirar. É difícil destacar uma música, pois o repertório do grupo é muito uniforme, com as músicas sucedendo-se sem dar chance para o ouvinte respirar; a música mais curta, “Judy is a Punk”, dura 1’14”, e a mais longa (“Here Today Gone Tomorrow” – um dos poucos momentos em que a banda desacelera) chega a 2’55” – mais curta do que uma introdução de música do Yes, hehehe.A plateia ainda não berra as palavras de ordem (“Hey, Ho, Let’s Go!” ou “Gabba Gabba Hey”) como nos discos ao vivo posteriores, mas reage bem, estimulando o grupo a aprofundar seu ataque sonoro. Particularmente gosto de “Rockaway Beach”, “Gimme Gimme Gimme Shock Treatment”, “Today Your Love Tomorrow the World”, e a minha favorita de sempre, “Surfin’ Bird” (que foi a música que me fez gostar do Ramones). Na verdade, Ramones era uma banda bastante consistente, pois pouquíssimas vezes se desviava do seu caminho; em It’s Alive!, o grupo faz o seu básico – e não precisava de mais nada. Os quatro shows gravados para o álbum foram lançados em uma box set no 40º aniversário do lançamento original, mas trata-se de uma edição limitada que deve estar valendo uma pequena fortuna atualmente. O original já é bom demais, então vá atrás dessa box somente se você for um fanático pelo Ramones.

Joey Ramone (vocais), Johnny Ramone (guitarras), Dee Dee Ramone (baixo), Tommy Ramone (bateria)

  1. Rockaway Beach
  2. Teenage Lobotomy
  3. Blitzkrieg Bop
  4. I Wanna Be Well
  5. Glad To See You Go
  6. Gimme Gimme Shock Treatment
  7. You’re Gonna Kill That Girl
  8. I Don’t Care
  9. Sheena Is A Punk Rocker
  10. Havana Affair
  11. Commando
  12. Here Today, Gone Tomorrow
  13. Surfin’ Bird
  14. Cretin Hop
  15. Listen To My Heart
  16. California Sun
  17. I Don’t Wanna Walk Around With You
  18. Pinhead
  19. Do You Wanna Dance
  20. Chainsaw
  21. Today Your Love, Tomorrow The World
  22. Now I Wanna Be A Good Boy
  23. Judy Is A Punk
  24. Suzy Is A Headbanger
  25. Let’s Dance
  26. Oh Oh I Love Her So
  27. Now I Wanna Sniff Some Glue
  28. We’re A Happy Family

Bonus tracks: três ao vivo de 1973!
O Rainbow estava em alta no ano de 1973, porque três álbuns ao vivo de músicos bem conhecidos foram gravados lá. Desses discos, os de Clapton e do Focus foram lançados contemporaneamente, e o do Sweet teria que esperar um pouco para chegar às mãos dos fãs (e mais ainda para ser disponibilizado na íntegra). Assim, para celebrar este fato incomum, as bonus tracks de nossa seção hoje trazem três discos ao vivo gravados em 1973.


1) Eric Clapton – Eric Clapton’s Rainbow Concert [1973]
É um fato conhecido que Eric Clapton estava no fundo do poço no começo dos anos 70. Após o fim do Derek & The Dominos, ele se recolheu à sua mansão para se entupir de heroína e curtir uma depressão causada pelo amor pela esposa de George Harrison. No final de 1972, Pete Townshend organizou uma volta do Slowhand, com dois shows no dia 13 de janeiro do ano seguinte no Rainbow. Além de Townshend, o arroz-de-festa Ronnie Wood (guitarra, vocais), Steve Winwood (teclados, vocais), Jim Capaldi (bateria, vocais) e Reebop (percussão), três integrantes do Traffic, mais Rick Grech (baixo) e Jimmy Karstein (bateria) completam a banda; se parar para pensar, com Clapton, Winwood e Grech, só faltou Ginger Baker para completar o Blind Faith. O LP original trazia apenas seis músicas, expandidas para 14 em 1995 – mas ainda assim não se tem acesso aos shows completos. Clapton abre com “Layla e “Badge”, indicando que ele não ia correr riscos, pois eram duas de suas músicas mais conhecidas à época. Outras músicas de destaque são as boas versões para “Pearly Queen” (do Traffic, com Steve Winwood no vocal principal), “After Midnight” (mais lenta do que a de estúdio, e mais interessante na minha opinião), “Presence of the Lord” (do Blind Faith, mais uma vez com vocal de Winwood), “Bottle of Red Wine” e “Bell Bottom Blues” (da fase Derek & The Dominos). Por outro lado, “Little Wing” aparece em versão meio pálida, bem aquém do que Clapton fizera com os Dominos (para piorar, com o solo final cortado na reedição), e “Key to the Highway” revelaria seu potencial nas versões posteriores. Infelizmente, “Pearly Queen”, “Little Wing” e “Roll it Over” perderam, cada uma, em torno de dois minutos em relação às versões do LP original, o que obriga um fã de Clapton que queira ter tudo o que seu ídolo gravou a manter uma cópia de cada edição. Eric Clapton’s Rainbow Concert não seria minha escolha para iniciar alguém no trabalho do Slowhand, mas é um bom álbum que atesta que Eric ainda sabia tocar e cantar, preparando o caminho para sua volta triunfal com 461 Ocean Boulevard, e traz uma impressionante coleção de músicos talentosos juntos no palco. Um antigo sonho meu era ter uma versão completa dos dois shows, quem sabe uma box set com 4 CDs, mas o 50º aniversário do álbum passou e nada foi apresentado nesse sentido. Mas a esperança é a última que morre, então, quem sabe um dia…


Focus – At the Rainbow [1973]
O primeiro disco que comprei que trazia o nome do mítico teatro na capa, nos anos 80. Na época, achei a parte interna da capa meio ridícula; anos depois vim a saber que era a decoração interna do Rainbow no seu período clássico. Conhecia Focus de algumas músicas que meu irmão tinha numa fita cassete, e quando ouvi o disco, não reconheci nenhuma, mas gostei mesmo assim. No ano de 1973 a banda estava comemorando o (improvável) sucesso de “Hocus Pocus”, com o yodel maníaco de Thijs van Leer e o instrumental alucinado de Akkerman, Ruiter e van der Linden, e a versão neste disco deixa a original no chinelo, com direito a uma reprise após a linda “Sylvia”. O material registrado no disco (gravado em 5 de maio de 1973) inclui músicas de Moving Waves e Focus 3, e traz as belas “Focus II” e “Focus III”, minha favorita “Sylvia”, um excerto da suíte “Eruption”, que tomava todo o lado B de “Moving Waves” e aqui é apresentada com pouco mais de 8 minutos, e “Answers? Questions! Questions? Answers!”, também mais curta do que o original (mas ainda assim mais bela do que a de estúdio) e com solos memoráveis de van Leer na flauta e Jan Akkerman na guitarra. Aliás, o guitarrista brilha praticamente o tempo todo, mas não se pode desprezar as contribuições de Bert Ruiter (baixo) e Pierre van der Linden (bateria). O Focus só se decidiu por um disco ao vivo porque ficara insatisfeito com o que seria seu quarto disco de estúdio (algumas músicas sairiam depois em Ship of Memories) e, com van Leer e Akkerman tendo lançado discos solo (“Introspection” e “Profile”), com o guitarrista já preparando o seguinte (“Tabernakel”), At the Rainbow era basicamente uma forma de manter a banda em evidência. Deu certo: poucos fãs do grupo holandês não colocam este álbum entre seus favoritos.


Sweet – Live at the Rainbow 73 [1999]
Uma das crias do glam rock que a crítica desprezava e o público inglês adorava, o Sweet tinha entre seus defensores ninguém menos que Ritchie Blackmore, que elogiava o talento instrumental dos rapazes. A banda tinha lançado a maior parte do seu material até então em singles, com a maioria das composições escritas por Nicky Chinn e Mike Chapman, hitmakers britânicos que também forneciam música para Suzi Quatro e outros artistas; o foco nos compactos fez com que o segundo e o terceiro álbuns de sua discografia fossem coletâneas! Parte deste álbum (gravado em 21/12/73) foi lançada em 1975 no duplo Strung Up como o LP ao vivo do pacote – o outro era composto pelos singles de maior sucesso da banda; o show completo só seria lançado em 1999. A formação é a clássica com Brian Connolly (vocais), Andy Scott (guitarra, teclados, vocais), Steve Priest (baixo, vocais) e Mick Tucker (bateria, vocais – é impressionante o peso que ele tira de um kit menor do que o de Ian Paice!), e o álbum traz boas versões de alguns dos maiores sucessos deles até então, como “Ballroom Blitz”, “Teenage Rampage”, “Blockbuster” e “Hell Raiser” (que abre os trabalhos com um riff pesadíssimo), além de “The Man with the Golden Arm”, que traz a banda tocando após uma intro pré-gravada e um imenso solo do baterista Tucker. “Burning/Someone Else Will” é mais pesada do que qualquer coisa do Led Zeppelin na época, por exemplo (o nome do Led me veio à cabeça porque o riff inicial lembra “Immigrant Song”). Conheço muita gente que despreza o Sweet por causa das músicas excessivamente comerciais, outros que não gostam dos vocais histriônicos (que prejudicam um pouco músicas como “Rock’n’Roll Disgrace”), e outros por considerarem que o grupo não merece crédito por usar músicas de Chinn/Chapman, mas não se pode negar que Blackmore tinha razão: os rapazes tocavam muito.

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