Ouve Isso Aqui: 1975 por Daniel Benedetti

Ouve Isso Aqui: 1975 por Daniel Benedetti

Com André Kaminski, Davi Pascale, Fernando Bueno, Mairon Machado, Marcelo Freire e Marcello Zapelini

Não há dúvidas de que 1975 foi um ano bastante prolífico e importante para o Rock. Como a lista de melhores de todos os tempos do site demonstra, o nível dos lançamentos era consideravelmente alto. Mais: grandes bandas se solidificavam como capazes de arrastarem multidões para shows além do movimento punk estar em estágio embrionário final para explodir no ano seguinte.

Como a CR nunca havia feito estas listas de 50 anos para nenhum outro ano anteriormente, não entendi muito bem esta proliferação de listas, mas, de toda forma, escolhi 5 álbuns aleatórios (que estão na minha coleção) lançados em 1975 em que o único critério usado foi o fato deles me agradarem. E, de bônus, um disco nacional que não tenho, mas acho muito bom!


Armaggedon – Armaggedon

Daniel: Keith Relf já havia assombrado o mundo no Yardbirds e no Renaissance, contudo, havia espaço para uma última vez. Cerca de um ano antes de sua precoce morte, ele surge com este supergrupo cuja sonoridade fazia uma incrível mistura de Hard Rock e Rock Progressivo, apostando em canções longas, com extensas passagens instrumentais e uma qualidade assustadoramente boa. Um dos últimos registros de Relf é também uma real obra de arte.

André: Daqueles supergrupos que lamentamos ter acabado tão rápido. O Armageddon faz um hard rock com peso e velocidade, mas sem deixar o psicodélico de lado. Guitarra, baixo e bateria dão o tom pesado e outros instrumentos (como a gaita de boca) dãoaquele toque psicodélico-hipongo que gostamos tanto. Adoro a beleza de “Silver Tightrope” e a originalidade de “Paths and Planes and Future Gains”. Keith Relf se foi muito cedo. Imagino os mais quantos discos poderia gravar seja aqui ou em outros projetos.

Davi: Esse é um disco que conheço há um bom tempo. É um álbum que sempre esteve presente na coleção de LP´s do meu pai. Lembro quando comecei a ouvir rock n roll, ainda criança, décadas atrás, dele puxando esse título da estante e dizendo: “Já ouviu esse disco? Não vendeu nada, mas é um puuuuta disco!” E realmente… O som que eles faziam era muito bacana. Hard rock de primeira com um pé no prog. Trabalho de guitarra e bateria são excelentes. Outro destaque é o grande Keith Relf (Yardbirds), que brilha tanto com o forte trabalho vocal, quanto nas harmônicas bem colocadas. Minhas faixas preferidas ficam por conta de “Buzzard”, “Last Stand Before” e “Paths and Planes and Future Gains”.

FernandoProjeto de curta duração, formado por Keith Relf (ex-Yardbirds) ao lado de Martin Pugh (ex-Steamhammer) e Bobby Caldwell (ex-Captain Beyond). Incrível o Keith Relf! Ter banda do calibre de Yardbirds, Renaissance e Armageddon não é para qualquer um. Ainda mais com essa diversidade musical. O disco aqui é um hard rock mais pesadão com forte carga psicodélica e progressiva. Suas faixas, no geral, são mais longas que as das bandas do mesmo estilo. Apesar de ser um discaço, a banda não teve continuidade e, de qualquer forma, Relf faleceu pouco depois. O álbum tem uma aura de clássico cult, mas poderia ser mais reconhecido.

Mairon: Contei a história dessa banda incrível, e desse álbum incrível, aqui. Não preciso dizer mais do que simplesmente o segundo melhor disco de 1975, na minha lista Melhores de Todos os Tempos: 1975, atrás apenas do inigualável Physical Graffitti, e fim de papo.

Marcelo: Discaço da lista do Daniel, Armageddon é daquelas obras que nos fazem lamentar pela descontinuidade do trabalho dos envolvidos – Keith Relf tinha uma saúde frágil e, provavelmente por isso, não suportou a taquicardia decorrente do choque que levou e o matou em 1976. Apresentados na contracapa do álbum original como um “supergupo”, a banda estava destinada à grandeza; com sua mistura de rock espacial, psicodelia, progressivo e acid hard, certamente renderia um 2º álbum que os consagraria, já que esse foi sucesso de crítica e público. Peter Frampton, já um grande artista em 1975, é quem os recomenda à A&M Records, e é provável que, por ele ser o artista mais vendido na época, eles tenham concordado em contratar a banda. Meu destaque: “Silver Tightrope”, a “Stairway to Heaven” deles, delicada e lírica.

Marcello: Um dos meus discos favoritos do ano de 1975 é o filho único de um supergrupo formado por Keith Relf (vocal, ex-Yardbirds e Renaissance), Martin Pugh (guitarra, ex-Steamhammer), Louis Cenammo (baixo, ex-Renaissance e Steamhammer) e Bobby Caldwell (ex-Johnny Winter e Captain Beyond). Cinco músicas em pouco mais de 41 minutos, é tudo que existe dessa banda, num LP que começa com a guitarra de Pugh cuspindo fogo na ótima “Buzzard” (oito minutos de guitarras e bateria pesadas, com Relf dando tudo de si no vocal e na harmônica). Na sequência, a bela “Silver Tightrope” mostra que Relf estava em ótima forma, e mais uma vez a guitarra de Pugh é um destaque. “Paths and Planes and Future Gains” traz o peso de volta na única música com menos de 8 minutos no disco, demonstrando que a banda podia ser direta e concisa, mas é provavelmente a música mais fraca do disco. No lado B, “Last Stand Before”, meio funky, prova que nem só de hard rock vivia o Armageddon, com Relf mais uma vez na harmônica. E a longa “Basking in the White of the Midnight Sun” encerra o disco fazendo você querer mais, com seu riff intrincado, um belo interlúdio instrumental e a banda à toda. A gravadora não promoveu bem o disco, a banda fez apenas dois shows para divulgá-lo, Pugh e Caldwell se afundaram nas drogas e Relf, que sofria de asma, acabou com enfisema pulmonar, prejudicando ainda mais o Armageddon; no início de 1976 a banda acabou e Relf morreu tragicamente eletrocutado enquanto tocava guitarra. Armageddon seria recuperado nos anos 90 como uma obra-prima esquecida. Bom vê-lo aqui novamente!


Budgie – Bandolier

Daniel: Bandolier é um dos grandes álbuns da sólida discografia do Budgie, um dos melhores power trio do hard rock setentista. Liderados pelo vocalista e baixista Burke Shelley, o disco apresenta uma sonoridade agressiva e bem pesada, com a seção rítmica pulsante e as guitarras insanas de Tony Bourge, com riffs e solos empolgantes. Faixas como “Breaking All the House Rules” e as duas partes de “Napoleon Bona-Part” são grandes exemplos destas afirmações

André: Conheço o Budgie há algum tempo, mas não este disco. Outra bela surpresa que passou batida por mim durante todos estes anos. Chegar perto do som do Rush eu diria que nunca vi alguma banda conseguir, mas esta de fato é a que mais se aproxima dos canadenses, sendo lamentável que perto deles, são muito, mas muito mais desconhecidos. “I Can’t See My Feelings” tem uma cozinha de baixo poderosa e um ritmo contagiante com direito até a solo de baixo e cowbell. Belo disco que eu não conhecia e saí da audição bem satisfeito.

Davi: De todos que não tinha muita familiaridade, esse foi o que mais curti. Hard rock de primeira com ótimos riffs e um belo trabalho vocal de Burke Shelley. Do lado A, minha preferida é a empolgante faixa de abertura “Breaking All The House Rules”. “Slipaway” confesso que não me empolga muito, mas o disco volta a entrar nos eixos com a boa “Who Do You Want For Your Love”, que começa com uma levada funkeada antes de voltar aos riffs certeiros de Tony Bourge. O lado B é perfeito e conta com dois sons que vão fazer os fãs de Iron Maiden ficarem com os olhinhos brilhando: “I Can´t See My Feelings” (regravada pela donzela de ferro na década de 90) e “Napoleon Bona-Part One & Two” que traz aquele levada cavalgada que se tornou marca registrada do grupo que Steve Harris lidera. Discaço!

FernandoQuinto álbum do Budgie, o Rush gaulês, e terceiro daqueles álbuns obrigatórios do trio. Apesar de ser muito comparado com o Rush, o Budgie é menos prog que os canadenses e mistura hard rock, proto-metal e muito groove. Faixas como “Breaking All the House Rules” e “Napoleon Bona-Part” revelam tanto peso quanto senso de humor, marca registrada da banda. Porém muitos fãs conheceram a banda mesmo por conta da faixa I Can’t See My Feelings regravada pelo Iron Maiden no single From Here to Eternity (1992). É considerado um dos discos mais acessíveis do Budgie.

Mairon: Conheci o Bugdie através de um antigo blog chamado Hardão 70, do qual baixei (e muita) coisa que nunca tinha ouvido falar. Eu já sabia da existência do grupo, mas foi só quando ouvi Squawk (1972) que realmente fui fisgado pelo grupo. Aqui temos a estreia do batera Steve Williams, e um Budgie mais hardeiro e menos pesado do que seus discos antecessores (lembrando que Bandolier já é o quinto disco do trio). A guitarra de Tony Bourge para mim é a atração principal, por mais que os holofotes se vão quase que exclusivamente para o baixista e vocalista Burke Shelley. Mas são os riffs e solos ácidos de Bourge que me remetem ao que é o hardão 70 que eu gosto tanto, como surgem em “Breaking All the House Rules”, baita faixa para abrir um disco, e no mega-clássico ” I Ain’t No Mountain”. Pontos altos para a delicadeza de “Slipaway”, uma faixa belíssima comandada por um excelente arranjo de violões e com um solo arrasador de Bourge, e a épica “Napolean Bona-Parts I e II”, das quais não sei honestamente qual é a melhor, com a primeira privilegiando um lindo dedilhado de guitarra, além de um brilhante slide, e a segunda, pancada, o riff cavalgante do baixo e guitarra que o Iron chupo sem dó em diversas de suas canções, e mais um solo arrasador de Bourge. E falando neles, se você já ouviu a versão que os caras fizeram para “I Can’t See My Feelings”, irá perceber que Steve Harris nunca foi um gênio, apenas se apoiou em ombros de gigantes para ver mais longe. Apesar do leve deslize de “Who Do You Want For Your Love?”, que me lembra o Trapeze, com Shelley dando uma de Glenn Hughes da Shopee, mas sem o mesmo clima, é um discaço!

Marcelo: O álbum mais subestimado da lista traz um hard rock de primeira! Ótima escolha – na verdade, a lista toda é muito boa e coerente dentro de uma veia roqueira nas escolhas internacionais. Sempre achei injusta a crítica ao grupo soar como uma cópia do Rush e recomendo também os quatro álbuns anteriores ao Bandolier. Meu destaque: “Slip Away”, um rock mais leve e viajante, daqueles que só as melhores bandas de hard rock sabem fazer – se eu me casasse novamente, certamente a tocaria na cerimônia.

Marcello: Burke Shelley vinha liderando seu Budgie em ótimos discos desde 1971. O quinto álbum do grupo, Bandolier, traz tudo aquilo que tornou a banda especial: os vocais esganiçados de Shelley, a ótima guitarra de Tony Bourge, a bateria pesada de Steve Williams (estreando no grupo), e as letras divertidas. O disco abre com “Breaking All the House Rules”, uma verdadeira festa de riffs de guitarra com mais de sete minutos de duração, e segue com “Slipaway”, mais suave, levada nos violões e com Shelley cantando com delicadeza; “Who Do You Want for Your Love?” é mais funkeada, e em alguns momentos a voz de Shelley lembra a de Glenn Hughes, ainda que sem seu alcance. A música ganha peso e se torna bem “budgeana”. “I Can’t See My Feelings” abre o lado B destacando os riffs de Bourge (um mestre nesse quesito), e prepara o caminho para uma das mais conhecidas do álbum, a ótima “I Ain’t No Mountain”, com um riff de guitarra sensacional e uma letra com a cara do Budgie – ainda que a composição seja de Andy Fairweather-Low. O disco se encerra com as duas partes da ótima “Napoleon Bona (“Bona-Parts 1” e “Bona-Part 2”, outra prova do senso de humor bizarro de Shelley); a música começa mais lentinha, quase acústica, e de repente vira paulada na moleira. Coisa fina! Como uma das poucas bandas do País de Gales a se tornar razoavelmente conhecida (Man é a única outra que me vem à cabeça), o Budgie até lançou discos melhores, mas Bandolier é muito bom e mereceu ser recuperado nessa seção.


Eloy – Power And The Passion

Daniel: Obviamente o Eloy faria mais barulho com seus discos subsequentes como Dawn e Ocean, mas eu gosto bastante deste Power and the Passion. A banda desejava que o disco (conceitual, sobre viagem no tempo) fosse duplo, mas o manager Jay Partridge bateu o pé para que ele fosse simples. O lado A original possui duas canções das mais brilhantes do Eloy, “Love Over Six Centuries” e “Mutiny”, que demonstravam a banda embarcando em um prog/space rock mais sofisticado, e saborosíssimo de se apreciar, e que apontava para um novo direcionamento musical o qual seria mais desenvolvido nos discos seguintes.

André: Das duas uma: ou o senhor Daniel estava inspirado quando fez esta seleção de discos ou estou com os ouvidos muito bem humorados hoje. Isso não pode ser porque é fim de trimestre, tenho que lançar trocentas notas e sempre fico meio emburrado nestes tempos. Então é mérito mesmo do Daniel e esta saraivada de petardos tanto neste disco quanto nos anteriores. Gosto muito do Eloy, fazem um progressivo mais tradicional e as vezes até sabático (vide o início em “The Zany Magician”) todavia sempre intrigante. Power and the Passion traz mais uma daquelas viagens prog/espaciais com arranjos caprichados típicos das bandas progressivas germânicas (tal como o Triumvirat nesta mesma edição). Só sentar e viajar nas sonoridades envolventes deste disco.

Davi: Embora o Eloy seja uma banda conceituada, confesso que ouvi muito pouco deles até o momento. Justamente por conta do culto que existe em torno do grupo alemão, ouvi com uma alta expectativa e o disco acabou me frustrando um pouco. Os músicos, de fato, são excelentes. Os arranjos – que trazem um rock progressivo com um pé no space rock – são bem desenvolvidos e muito bem executados. No entanto, o trabalho vocal de Frank Bornemann, contando com um sotaque carregado e linhas vocais mortas, não me agrada. Os grandes destaques do LP ficam por conta de “Love Over Six Centuries” e “Mutiny”.

FernandoCoincidência, ou não, estou ouvindo muito Eloy recentemente. Porém fui atrás da carreira dos anos 80 que sempre ignorei. Power and the Passion faz parte do auge criativo do grupo. Inclusive, podemos dizer, um auge bastante longo, pois de Inside, o segundo disco de 1973, até Time to Run de 1982 são nove discos que, sem exageros, podem ser citados como preferidos de qualquer fã de prog. Um dos álbuns conceituais mais ambiciosos do Eloy, narrando a história de um jovem que viaja no tempo até o século XIV. Musicalmente, traz a mistura de progressivo sinfônico com space rock que é umas das marcas da banda alemã.

Mairon: O Eloy tem uma carreira muito vasta, liderada pelo guitarrista e vocalista Frank Bornemann. Apesar de serem alemães, o som deles é muito fácil de encaixar no prog britânico, e neste caso, Power And The Passion é um bom exemplo das inspirações que o quinteto germânico trouxe de lá. Este é um álbum conceitual, tratando de viagens no tempo, alucinógenos, e amor entre um homem dos tempos atuais por uma mulher do ano de 1358. O nome da banda para mim é o tecladista Manfred Wieczorke, que faz misérias nos seus mais diversos instrumentos (órgão, pianos acústico e elétrico, mellotron, moog, etc), destacando sua participação em peças belas como “Mutiny”, o show no hammond de “Back Into The Present” e a magnífica criação de “The Bells Of Notre Dame”, a qual encerra toda a história com um esplendor lindo e delicado advindo dos teclados de Wieczorke. Entre outras faixas que vão contando a história, me chama atenção a Sabbhática “The Zeny Magician” (só eu lembro de “Sabbath Bloody Sabbath” e do Ozzy na risada do mago logo no começo da canção?). Por fim, lamento que a UOL tenha perdido meu texto para a Maravilha Prog “Love Over Six Centuries”, umas das melhores obras na arte do progressivo, e cujo solo de sintetizador, seguido pelo peso do hammond são perfeitos. Adendo, a capa é belíssima, e tendo as letras inseridas na parte interna gatefold, fica melhor de entender a história. Baita lembrança Daniel!

Marcelo: Precisamos urgentemente de uma discografia comentada do Eloy – ou uma postagem Do Melhor ao Pior. Excelente álbum conceitual para se ouvir do começo ao fim e na ordem, sem pular nenhuma música – não se preparar para ouvir esse álbum é um pecado. O nível das composições progressivas aqui é altíssimo, em todas as faixas todos os músicos têm destaque; um mistério ele não ter sido elencado como um dos 10 melhores de 1975 na votação oficial da casa. Meu destaque: viver uma experiência completa do que já foi o mundo um dia – sente e ouça o álbum inteiro, na ordem e acompanhando as canções com as letras, sem fazer outra coisa e sem interrupções.

Marcello: Um dos progressivos mais interessantes da Alemanha nos anos 70, o grupo do guitarrista/vocalista Frank Bornemann tem vários álbuns muito bons, e este é um deles – ainda que os imediatamente seguintes, Dawn e Ocean, sejam considerados as obras-primas do grupo. Após a introdução um pouco pomposa, o ritmo avassalador de “Journey into 1358” prepara o terreno para a música mais longa do disco, “Love Over Six Centuries”, uma composição com todo o sabor do prog alemão da década de 70, bem viajante e com ótimos teclados de Manfred Wieczorke (o grupo se completa com Detlef Schwaar na guitarra, Fritz Randow na bateria e Luitjen Janssen no baixo). Na sequência, a ótima “Mutiny” (que tem uma versão ainda melhor no Live de 1978), minha favorita do disco, com algumas variações de ritmo que a tornam extremamente atraente e um desempenho excelente de Randow. O antigo lado B é composto por seis músicas mais curtas (à exceção da última), e nele eu destaco a boa “Daylight” (com bons solos), os riffs de guitarra surpreendentemente pesados de “The Zany Magician” e a bonita “The Bells of Notre Dame”, que encerra o disco deixando vontade de ouvi-lo novamente. Muita gente despreza o Eloy como um prog de segundo escalão, ou reclama do vocal carregado de sotaque de Bornemann, mas o grupo (que existe até hoje) tem um catálogo de respeito e esse Power and the Passion está aí para comprovar que a banda merece sua atenção. Ótima lembrança!


Triumvirat – Spartacus

Daniel: Outra banda de prog alemão na lista. Adoro Spartacus e, talvez, seja mesmo meu álbum preferido do grupo. Um disco conceitual sobre o gladiador homônimo ao disco, a sonoridade descreve muito bem os altos e baixos da história que é contada, em muito boa simbiose. A presença dominante do tecladista Jürgen Fritz traz à memória a musicalidade do Emerson, Lake & Palmer, muito embora as guitarras e violões de Helmut Kollen ofereçam um equilíbrio interessante. Enfim, fãs de progressivo não terão do que reclamar.

André: Uma das coisas mais tristes de muitos que ouvem rock é desprezar os teclados como se guitarras jamais pudessem deixar os holofotes ou então não é rock. Neste álbum, as guitarras são meras coadjuvantes, com teclados, moogs e hammonds se sobressaindo. Ainda bem que eu amo baixo e teclados, logo, o Triumvirat me agrada fácil fácil com um de seus melhores discos. Triumvirat é o Emerson, Lake & Palmer germânico e para quem gosta de longas exibições de virtuose junto a uma sonoridade toda pomposa, vá atrás de tudo o que esses alemães lançaram.

Davi: O Triumvirat é uma banda que sempre foi muito comparada ao Emerson, Lake & Palmer. Há quem os acuse de serem uma cópia do power trio britânico. Embora pegue bastante referências, acho injusto chamar os caras de cópia. Embora não seja um profundo conhecedor do Triumvirat, algo que notei foi que nesse terceiro disco não tem nenhuma daquelas músicas incrivelmente longas que costumavam fazer. Seria proposital ou apenas consequência da proposta do trabalho? Bom… Algo que podemos notar é que está bem equilibrado a quantidade de faixas instrumentais com faixas cantadas e do lado virtuose com o lado melódico. No quesito execução, o ponto alto, para mim, fica por conta do trabalho de teclado do Jürgen Fritz; já em relação às músicas, minhas favoritas ficam por conta de “The Sweetest Sound of Liberty” e “Spartacus”.

Fernando: Duas bandas de prog alemão em uma lista só é algo de se notar. Esse é um álbum conceitual baseado na história do gladiador Spartacus e é considerado o ponto alto de sua carreira por muitos fãs. Eu adoro esse disco, mas ainda gosto mais do Mediterranean Tales (1972). Muitas vezes comparado ao Emerson, Lake & Palmer, o Triumvirat entrega aqui um prog sinfônico virtuoso, com foco nos teclados de Jürgen Fritz. As composições são épicas, repletas de passagens instrumentais elaboradas, mas ainda acessíveis.

Mairon: Mas olha só quem aparece aqui (finalmente), os alemães do Triumvirat. E com um dos seus grandes discos. A banda que sempre foi (e não tem como não ser) comparada ao Emerson Lake & Palmer, estava afiadíssima em 1975, e neste seu terceiro disco (álbum conceitual, cuja história conta a ascensão e queda do gladiador Spartacus), entregam tudo aquilo que um fã do prog ELPiano gosta, que são muitos teclados, performances exuberantes de bateria e o baixão em destaque, como surge logo em “The Capital Of Power”, uma pequena apresentação do que o Triumvirat pode fazer, assim como em “The Hazy Shades Of Dawn” ótima faixa instrumental, e nas duas mini-suítes “The March To Eternal City” e “Spartacus”, nas quais a bateria de Hans Bathelt (um dos caras mais injustiçados no prog) é uma locomotiva sonora tão boa quanto a do seu parceiro britânico, e que se você colocar para um desavisado, a criatura vai achar que realmente é o ELP quem está rodando na vitrola. É moog, é hammond, é uiiiiiiiiiiiin, é o baixão, é tudo o que o ELP tem de melhor ali. Mas não se engane, os alemães têm muita capacidade de criarem o seu próprio estilo, seja fazendo faixas dançantes e leves como “The Walls of Doom”, seja privilegiando o piano de Jurgen Fritz e os vocais, como no clássico “The Deadly Dream Of Freedom”, ou a mistura do piano ou o violão com os instrumentos elétricos, como na excelente “The School Of Instant Pain”, ou na bela ” The Sweetest Sound Of Liberty”, dando um ar um tanto quanto diferente daquilo que o famoso trio criou. Melhor faixa para a curta, mas sensacional “The Burning Sword Of Capua”, pesada e com os teclados viajantes de Fritz levando o ouvinte à uma viagem musical em pouco menos de 3 minutos. Um belo disco, e uma pena que depois dele, o Triumvirat, ou New Triumvirat, não seria mais o mesmo.

Marcelo: Já deu para sacar que o Daniel curte um bom prog alemão. Embora eu não seja fã da banda, acho injusto serem considerados por muitos como clones do Emerson, Lake and Palmer… No saudoso Orkut, eu participava de uma comunidade chamada Prog na veia e recordo-me até hoje de um post que era da música “The School of Instant Pain” com uns 3 mil e tantos comentários num quebra-pau danado entre os que a defendiam e os que a achavam descaradamente cópia da sonoridade do ELP. Ouvindo o álbum, devo dizer que achei o disco gostoso de ouvir – mais até do que o outro álbum dele que conheço, o Mediterranean Tales, ainda que eu fique com a sensação de que parece com outras bandas. Da lista, é o que menos gostei, porém isso não significa que seja ruim. Meu destaque: a faixa título, “Spartacus”, uma pérola que bem poderia estar na coluna do Mairon de maravilhas do mundo prog.

Marcello: De todos os discos dessa lista, este foi o único que cheguei a comprar em vinil, em reedição dos anos 80. Jürgen Fritz, Hans Bathelt e Helmut Köllen (em seu último disco com o grupo) tentavam se livrar da pecha de Emerson Lake & Palmer alemão com este disco conceitual, e conseguiram. O principal destaque é, como era de se esperar, os excelentes teclados de Jürgen Fritz (autor da maioria das músicas), mas Hans Bathelt também brilha na bateria (além de escrever as letras), e Helmut Köllen tem boa voz e segura muito bem no baixo (Köllen escreveu duas músicas, as belas “The Deadly Dream of Freedom” e “The Sweetest Sound of Liberty”). Baseado na história do gladiador Espártaco, que liderou uma revolta de escravos contra Roma, o álbum é uma pequena pérola do prog-rock setentista, com “The School of Instant Pain”, “The March to the Eternal City” e a faixa-título como minhas músicas favoritas, mas não há nem um segundo sequer de música que não seja interessante, com as faixas instrumentais servindo de interlúdios para as composições principais. É pena que Köllen tenha deixado o grupo no final de 1975, tendo gravado um disco-solo que acabou sendo lançado postumamente (ele morreu acidentalmente aos 27 anos – a idade maldita). “Spartacus” consolidou o sucesso de seu antecessor “Illusions on a Double Dimple”, inclusive nos EUA, mas os discos posteriores não foram nem tão bons nem tão bem-sucedidos quanto os dois gravados pelo trio Fritz/Bathelt/Köllen.


The Outlaws – Outlaws

Daniel: Escolhi este álbum por dois motivos: o primeiro é que eu adoro o chamado southern rock e o segundo é de que não me recordava de ter visto algo sobre o Outlaws aqui na CR. Esta é a estreia do grupo e a sonoridade funde o Rock com referências de country, R&B e, especialmente, blues. Aos meus ouvidos, o grupo não faz um som pesado como o do Lynyrd Skynyrd ou o do Blackfoot, por exemplo, mas faixas como a incrível “Green Grass and High Tides” mostram um conjunto com uma abordagem com mais peso que a Allman Brothers Band. Excelente dica para quem curte um rock com pegada sulista dos Estados Unidos.

André: Tenho mergulhado mais e mais a fundo do chamado southern rock, e claro, um dos grandes destaques da década de 70 é uma ótima pedida a quem quiser ter contato com esse som. Muito melódico e técnico, mas que soa gostoso e suave, é aquele típico rock americano cheio de harmonias vocais, refrãos bem construídos e guitarra solo ardendo. Diliça de álbum.

Davi: Há um tempo atrás, criamos um Consultoria Recomenda com o tema ‘southern rock’ e foi ali que tive meu primeiro contato com os Outlaws. Na ocasião, foi indicado um álbum ao vivo e lembro que gostei da indicação. Agora, surge mais um álbum dos rapazes com uma sonoridade bem resolvida. Há um acento comercial no trabalho deles, que já pode ser notada na faixa de abertura “There Goes Another Love Song”. Algo que me agrada bastante são os vocais bem harmônicos, com uma forte referência de Eagles (banda que eu adoro). Como toda banda southern que se preze há uma forte influência da música country e aqui ela surge com força em faixas como “Knoxville Girl” e “Waterhole”. No entanto, os grandes momentos do disco acabam ficando por conta de “Song for You”, “Cry No More” e “Green Grass High Tides”. Divertido….

FernandoO Southern rock não é uma das searas que eu acompanho muito. Fico mais no Lynyrd Skynyrd e The Alman Brothers e não conheço muita coisa fora isso. Mas conheci esse disco há não muito tempo e já tinha achado muito bom. Combinando guitarras gêmeas no estilo Allman Brothers com melodias mais radiofônicas, traz clássicos como “There Goes Another Love Song”, mas a perola é mesmo “Green Grass & High Tides”, um épico de quase 10 minutos que virou assinatura do grupo.

Mairon: Clássica estreia de um dos grandes nomes do Southern Rock, apesar de estar longe de ser um dos meus favoritos (Allman Brothers, Lynyrd Skynyrd, ZZ Top e Poco ocupam essas posições com sobras). O que penso que falta nos fora-da-lei é um trabalho de guitarras mais visceral, que aparece somente na ótima introdução de “Song For You”, e a banda usa muitos backing vocals que não me agradam como os vocais femininos do Lynyrd, assim como faz falta um piano nas canções, ou o vozeirão rouco de Gregg Allman em comparação com a de Henry Paul, para contextualizar um pouco, me lembrando sim o Poco aqui e acolá (“Cry No More” e ” Song In The Breeze” por exemplo, puro suco de Poco), mas sem o mesmo feeling psicodélico que os caras que vieram a criar o Eagles tinha. Em um Consultoria Recomenda sobre o tema, ressaltei isso, e também o poder de “Green Grass and High Tides”, e não tem, essa faixa está muito acima de qualquer outra canção que a banda lançou, valendo por si só a audição do disco. Por mais que tenha contras do que a favor, essa é daquelas que você para tudo para ouvir, e os solos enlouquecedores da segunda metade me pegma de jeito, mesmo preferindo a versão ao vivo. Foi ótimo ouvir a “Free Bird” dos Outlaws novamente para esse Ouve Isso Aqui. Obrigado Daniel!

Marcelo: O Outlaws já nasceu pronto, pois neste álbum de estreia temos tudo o que um fã de Southern Rock pode pedir a Deus: que todas as músicas sejam derivações da The Allman Brothers Band, é claro, e do Lynyrd Skynyrd. Reza a lenda que, na turnê da The Marshall Tucker Band, em que eles eram a banda de abertura, era comum boa parte do público ir embora antes da atração principal subir ao palco. Eu não conheço os EUA, mas a ideia que tenho desse país perpassa esse tipo de rock. Som gostoso, macio, daqueles para rolar no toca-fitas do carro ao longo de viagens pelas estradas ensolaradas deste mundão. Meu destaque: “It Follows From Your Heart” – Billy Jones tem a voz ideal para esta balada de amor perfeita, uma das mais bonitas de todo o panteão do Southern Rock. Que pedida boa, Daniel, até abri aqui uma cerveja na audição do álbum.

Marcello: O Four Guitar Army de Hughie Thomasson, Henry Paul e Billy Jones (todos guitarristas, vocalistas e compositores) nunca foi muito conhecido no Brasil, mas fez sucesso nos EUA e gravou bons discos. É verdade que tem bandas melhores que o Outlaws no southern rock (Lynyrd Skynyrd, Allman Bros. Band e Blackfoot, por exemplo), mas o som que tiram de suas guitarras é muito legal e as músicas são bastante agradáveis. Este primeiro álbum traz dois clássicos deles, a abertura “There Goes Another Love Song” e o encerramento com “Green Grass and High Tides”, mas também inclui coisas boas como “Song for You”, “Cry No More”, a instrumental “Waterhole” (essas duas com um sabor de country rock que me fez lembrar Flying Burrito Brothers), “Keep Prayin’” (uma daquelas músicas que você gostaria que tivesse uns minutos a mais) e “Knoxville Girl”. Um disco meio inesperado nessas listas, mas muito divertido e com ótimas guitarras. Henry Paul (que saiu e voltou) lidera os foras-da-lei até hoje, depois de dezenas de formações, pelas quais passaram mais de 50 músicos. Se alguém tiver curtido o disco, recomendo o ao vivo de 1978, “Bring it Back Alive”, em que “Green Grass…” dura mais de vinte minutos.


Azymuth – Azymüth

Daniel: Certamente que não sou um consultor ligado à música nacional, então, cheguei até a pensar em não indicar um álbum nacional. Porém, se tem um tipo de música brasileira que eu gosto muito é a instrumental. Este álbum do Azymüth possui sua faixa de maior sucesso no Brasil, “Linha do Horizonte” (que curiosamente possui vocais), mas minhas preferidas são as totalmente instrumentais que fundem jazz, samba, funk (o estadunidense) e, porque não, o rock. O groove do som da banda é absurdo de bom. Vale muito uma conferida.

André: Vou acabar soando ufanista, mas não dá de não tirar o chapéu para músicos brasileiros do mais alto gabarito tocando uma tonelada de instrumentos diferentes misturando jazz, rock, prog, folk, MPB, samba e funk, além de outros estilos que não me lembro. Banda de longa discografia da qual já ouvi muitos discos, estando este entre meus preferidos junto a Aurora [2011]. Eu que adoro baixo, amo ouvir “Manhã” junto ao som de cuíca (já disse uma vez aqui no site que não gostava de cuíca, mas aprendi a curtir o instrumento e esta canção foi uma das responsáveis por isso).

Davi: Álbum de estreia deste grupo que é um verdadeiro dream team. Se alguém estiver buscando uma espécie de supergroup brasileiro, esse é certamente um grande exemplo. O disco – que mistura canções instrumentais com cantadas – apresenta uma sonoridade bastante refinada trazendo elementos do jazz, do fusion e do samba. No entanto, minha música favorita sempre foi a mais comercial do disco, a faixa de abertura “Linha do Horizonte”, que conta com uma levada meio 14 Bis. Lembro que foi essa música que me fez comprar o CD e que tantos anos depois, ainda faz meus olhos brilharem. A construção dela é perfeita: instrumental, letra, vocalização. Sem dúvidas nenhuma, um dos grandes clássicos da música brasileira. Aliás, essa afirmação pode ser direcionada tanto à canção, quanto ao álbum em questão. Boa lembrança.

Fernando: Lembro de ter ouvido esse disco em uma época em que eu estava fissurado por esse rock fusion. Porém alguma coisa me fez nunca mais voltar, mas foi uma boa lembrança. O disco já apresenta a mistura de groove, improvisação e ritmos nacionais (como samba e baião) que marcaria sua carreira. Destaque para a faixa “Brazil”. É uma obra que abriu caminho para que o Azymuth se tornasse respeitado mundialmente.

Mairon: Aaaah, que maravilha ver a Azymuth aqui. Esse disco é fantástico, de uma das bandas mais injustiçadas do nosso Brasil. Olha a faixa de abertura, “Linha do Horizonte”, olha a lindeza dessa faixa. O trabalho dos teclados de José Roberto Bertrami é incrível e delicioso de se ouvir. Isso é ampliado para “Brazil”, uma espécie de Bossa Nova Prog onde o piano elétrico e os sintetizadores são as atrações, e na delirante “Periscópio”, uma sonzeira de sete minutos na qual Bertrami experimenta todos os teclados à sua disposição, com o baixão Rickenbacker retumbando na sala, ou no jazz swingado de “Montreal City”, com boas vocalizações. Mas a Azymuth vai muito além da tecladeira de Bertrami. Para mim, a força do trio está na exímia cozinha de Mamão (bateria) e Malheiros (baixo), que trazem o clima brasileiro para os viajantes teclados progs de Bertrami em faixas como “Esperando Minha Vez”, “Faça De Conta”, e honestamente, em todo o disco. Um trio fantástico e único na música nacional. Adoro o Rickenbacker de Malheiros em “Caça a Raposa”, pequena gema musical que fecha o lado A deste discaço com um espetáculo a parte do moog e do piano elétrico de Bertrami. E que tal o ritmo Santaniano alucinante de “Estrada dos Deuses”, ou a mistura de cuíca e moog de “Manhã” e “Melô dos Dois Bicudos”? Inovadora, no mínimo, para inclusive influenciar Patrick Moraz eu seu The Story Of I (será??). A discografia da Azymuth é vasta, com mais de 35 discos, mas esse seu disco de estreia ainda hoje é o melhor deles. Baita lembrança

Marcelo: Disparado, o melhor álbum da lista. Amigo, ele abre com “Linha do Horizonte”, um verdadeiro monumento da nossa música nacional! “É, eu vou pro ar / No azul mais lindo / Eu vou morar // Eu quero um lugar / Que não tenha dono / Qualquer lugar”. Formado por José Roberto Bertrami no piano e sintetizadores, Ivan “Mamão” Conti na bateria, e Alex Malheiros no baixo, o grupo sempre esteve na vanguarda da experimentação sonora e já gravaram com a maioria dos grandes artistas nacionais, incluindo trilhas para novelas e filmes. No início da carreira, os músicos chegaram a tocar com Eumir Deodato, Paulo Moura e Candeia. Depois, contratados da Philips – posteriormente Phonogram – os três gravavam e arranjavam as bases dos sucessos da época de gente como Raul Seixas, Tim Maia, Erasmo Carlos, MPB-4, Marcos Valle, Hyldon, Erlon Chaves, Elis Regina, Sérgio Sampaio, Gonzaguinha, Clara Nunes, Rita Lee, Odair José e outros). Os caras manjavam tanto de som que o álbum foi gravado no estúdio Havaí no Rio de Janeiro, com a própria banda gerenciando a produção de forma independente inicialmente e, posteriormente, venderam o disco para a Som Livre. O LP Azimüth (com essa grafia) é a estreia da banda com o seu próprio trabalho autoral e o som consegue ser atual até hoje. Com carreira internacional consistente, foram o primeiro grupo brasileiro a se apresentar no Festival de Montreux, além de já terem sido sampleado por diversos artistas do rap e da música eletrônica. Meu destaque: “Linha do Horizonte” (com letra de Paulo Sérgio Valle), não poderia ser outro, embora o disco tenha também grandes temas instrumentais como “Brazil”, “Manhã”, “Caça a Raposa”, “Estrada dos Deuses” e o melhor deles: “Montreal City”, além da deliciosíssima “Esperando minha Vez”, música que 10 em cada 10 artistas nacionais na década de 70 dariam tudo para terem composto, ouça e saque a levada genial dela de bateria e baixo. Na verdade, não esqueça da pedrada que fecha o álbum, “Periscópio”. Coloque-a para aquele seu amigo que não conhece música brasileira de qualidade e deixe-o tentando adivinhar quem é, não fale nada, apenas ponha-o para ouvir; duvido que ele diga que seja de algum nome nacional. Esse disco é magnífico!

Marcello: Fazia anos que não ouvia Azimüth (nunca entendi o porquê da grafia diferente). Banda formada por alguns dos melhores músicos brasileiros do começo dos anos 70 (com destaque para o ótimo baterista Mamão), o Azymuth acompanhou diversos artistas até gravar seu primeiro disco próprio pela Som Livre em 1975, que trouxe a famosa “Linha do Horizonte” – uma música que conhecia bem antes de saber de quem era. A mistura de teclados eletrônicos com percussão bem brasileira em “Melô dos Dois Bicudos” e “Manhã” (com cuícas bem proeminentes) ajuda a entender por que a banda se tornou tão famosa no exterior. Algumas músicas têm um sabor bem fusion dos anos 70, como “Brazil”, “Caça a Raposa” e “Faça de Conta” (essa com um baixo sensacional de Alex Malheiros), ao passo que “Estrada dos Deuses” soa um pouco como se George Duke decidisse expulsar Carlos Santana de sua banda e assumir seu lugar como solista; a percussão me lembra bastante o trabalho do Santana da metade dos anos 70. “Periscópio” encerra muito bem o disco, com ótimo som de órgão na música mais longa de todas (cerca de sete minutos e meio). Grande disco, com instrumental impecável e vocais suaves e agradáveis.

5 comentários sobre “Ouve Isso Aqui: 1975 por Daniel Benedetti

  1. Muito legal essa lista, que acabou me criando um problema (dois discos que tinha pré-selecionado para a minha própria entraram nela), mas tem bastante coisa para colocar no lugar. É difícil apontar um destaque, mas acho que meu favorito seria o Triumvirat.

    1. Também achei uma lista sensacional e, diferentemente da minha, foi praticamente uma unanimidade dentre todos os consultores! Parabéns, Daniel!
      Para mim, o destaque incontestável é o Azymuth.

      1. Baita lista, e tirando o Armaggedon, que é indiscutível, melhor disco para mim é Azymuth. Discaço. Os dois saíram da minha lista, assim como o Spartacus. Bom que ainda tenho mais uns 40 para citar

  2. Uma lista com 2 dos meus discos favoritos de todos os tempos não é pouca coisa não, além de ser uma raridade!!
    Armaggedon e Spartacus são fodásticos!!
    1975 foi um ótimo ano com certeza…

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