Ministry – Hopiumforthemasses [2024]
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Por Micael Machado
Três anos depois de Moral Hygiene, Al Jourgensen e seus asseclas estão de volta com um novo álbum do Ministry, o qual, arrisco a dizer, corre grande risco de ser o melhor disco da banda desde Houses Of The Molé, de 2004. Além de ter mais riffs marcantes e músicas interessantes do que seus últimos lançamentos (que estavam longe de serem ruins, mas, honestamente, ficavam um nível abaixo do “padrão de qualidade” que a banda nos acostumou durante a década de 1990), o “chefão” Al parece ter ouvido os discos antigos do grupo e resgatou deles o uso de samplers com vozes e citações retiradas de filmes, discursos políticos e programas e noticiários de TV, os quais se integram nas músicas e acabam se tornando parte das letras das mesmas, embora não constem nos textos do encarte. Estes samplers aparecem com ênfase nas duas primeiras faixas, a pesada e arrastada “B.D.E.” (iniciais de “Big Dick Energie”, cuja letra critica aquilo que, aqui no Brasil ficou conhecido como “cultura Red Pill”) e a rápida (e altamente indicada para quem gosta do estilo Metal Industrial praticado pelo Ministry) “Goddamn White Trash”, que conta com participação de Pepper Keenan, do Corrosion Of Conformity, nos vocais, e cuja letra se posiciona contra os supremacistas brancos que assolam os Estados Unidos atualmente, além destes efeitos também terem destaque em “TV Song 1/6 Edition”, uma das faixas mais rápidas do disco, e, possivelmente, a que mais lembra os “bons tempos” de discos como The Mind Is A Terrible Thing To Taste ou Psalm 69.
Outra que parece saída de um destes dois álbuns é “Just Stop Oil”, quase uma “nova versão” da clássica “Just One Fix”, e cuja letra alerta (mais uma vez) para os perigos do aquecimento global. Já “New Religion”, que tem um dos melhores riffs do álbum, parece vinda de uma fase um pouco posterior, da época do citado Houses Of The Molé ou de seu anterior, Animositisomina. “Aryan Embarrassment” é marcada e pesada, além de trazer novamente a participação especial de Jello Biafra (ex-vocalista dos Dead Kennedys) nos vocais, além de possuir uma das letras mais fortes do disco, com Jello novamente criticando os supremacistas brancos norteamericanos sem nenhuma papa na língua, em frases como “Como as pessoas podem concordar com isto? A democracia se transforma em poeira, em uma guerra ao voto que faz a América odiar novamente. É tudo tão estúpido!“.

Como nos álbuns mais recentes, as letras das músicas são muito importantes para passar a visão que Al tem do mundo atual, a qual pode ser resumida em frases como “Esta é nossa realidade/Este é o fim de nossa sociedade/Parece ser o fim dos tempos/E não é bonito”, que ele canta em “It’s Not Pretty”, outra faixa veloz (com mais um riff bastante interessante), mas que começa de forma leve e acústica, quase confundindo os mais desinformados na carreira do grupo. Quase todas as faixas tem um alvo específico, os quais, além dos já citados acima, também atacam a extrema direita que toma conta da política mundial (em “TV Song 1/6 Edition”), o mercado de capitais que guia os verdadeiros rumos do mundo (em “New Religion”) e até contra a guerra Rússia x Ucrânia, em “Cult of Suffering”, que traz os vocais de Eugene Hütz, do Gogol Bordello, em uma faixa com trechos cantados em ucraniano, e cuja letra no encarte estampa a frase “Ministry apoia a Ucrânia” na página onde ela aparece.
Assim como no disco anterior, Al Jourgensen (que, aqui, além da produção e dos vocais, também se ocupa de guitarras, baixo, teclados e programações) optou por não ter uma formação fixa para o seu Ministry, embora a maioria dos músicos envolvidos na gravação de Hopiumforthemasses também tenham participado de Moral Hygiene. Michael Rozon (responsável pelas programações e alguns teclados) e o guitarrista e baixista Cesar Soto ainda são os “parceiros de crime” mais constantes ao longo das faixas, mas desta vez, Cesar divide as funções quase igualmente com Monte Pittman, guitarrista que já tocou com Prong, Body Count e até com a diva Madonna (ela mesma). Roy Mayorga volta a empunhar as baquetas do Ministry (desta vez em três faixas), assim como Paul D’Amour se ocupa do baixo em uma música (e da guitarra em outra) e John Bechdel se encarrega dos teclados em outra. Além dos convidados já citados nos vocais, também temos as participações (em diferentes faixas) do guitarrista Billy Morrison, do tecladista Charlie Clouser, além de vocais adicionais de músicos como Atticus Pittman, Liz Walton, Victoria Espinoza, Dez Cuchiara e Joshua Ray.

A citada “Cult of Suffering” é, musicalmente, uma das faixas mais “diferentes” do disco, com um ritmo mais leve e até algum suingue, em uma composição que dá destaque ao que parece soar como um órgão Hammond (tocado, seguindo o encarte, pelo próprio Jourgensen) e que soa quase como uma inofensiva composição pop, e que só não é mais “estranha” no contexto do disco do que a faixa de encerramento, “Ricky’s Hand”, cover do cantor britânico Fad Gadget (do qual, confesso, eu nunca tinha ouvido falar anteriormente) totalmente eletrônico, com um ritmo quase dançante (e praticamente sem a participação das guitarras) que remete à fase inicial da carreira do Ministry, onde o grupo se dedicava muito mais o synth-pop da época (início dos anos 1980) do que ao metal industrial que adotaria no final daquela década e início da seguinte. Esta fase, inclusive, foi “revisitada” em The Squirrely Years Revisited, álbum de regravações lançado no início deste 2025, o qual, infelizmente, ainda não teve edição nacional. Ainda em 2024, Jourgensen declarou que o próximo álbum de inéditas seria o último da carreira do grupo, além de marcar o retorno do baixista Paul Barker, que fez parte da formação da banda entre 1986 e 2003, e foi o principal parceiro de composições de Al nos “tempos áureos” do grupo. Nem uma coisa nem outra foram confirmadas enquanto escrevo este texto, mas o fato é que, com o retorno de Donald Trump (antigo desafeto de Jourgensen) à Casa Branca e com o mundo cada vez mais pendendo para o lado da extrema direita, duvido que o líder do Minstry vá abandonar sua principal plataforma de comunicação. Afinal, como ele mesmo canta em “Just Stop Oil”, “Nós temos algo a dizer, e não há mais como adiar”! Afinal, o mundo, certamente, ainda precisa das letras (e das músicas) do Ministry para tentar acordar!
Track List:
1. B.D.E.
2. Goddamn White Trash
3. Just Stop Oil
4. Aryan Embarrassment
5. TV Song 1/6 Edition
6. New Religion
7. It’s Not Pretty
8. Cult Of Suffering
9. Ricky’s Hand
Ministry foi uma banda que eu ouvi muito no começo dos anos 90 e depois acabei deixando de lado. Até li que o grupo tinha lançado um disco novo no ano passado, mas não fui atrás. A resenha me deixou com vontade de conhecer, então agora no mês de julho, quando (espero) a universidade der um tempo, vou conferir.