Melhores de Todos os Tempos: 1991

Melhores de Todos os Tempos: 1991
Pearl Jam (com Chris Cornell ao centro) em apresentação no dia 3 de agosto de 1991

Por Mairon Machado

Com Anderson Godinho, André Kaminski, Daniel Benedetti, Davi Pascale, Diogo Bizzoto, Fernando Bueno, Luis Fernando Brod, Marcelo Freire, Marcello Zapellini

E chegamos a última lista de Melhores de Todos os Tempos. Neste resgate que conseguimos fazer em 2025, faltava ainda a lista de 1991, e os dez consultores (mais o convidado especial Luis Fernando Brod) trouxeram os dez melhores de um ano concorrido. Afinal, inúmeros discos daquele ano fizeram sucesso e poderiam estar no topo desta lista. Foi o ano do estouro mundial do grunge, dos grandes (e gigantescos) lançamentos de Guns N’ Roses e Metallica, mostrando como o hard rock e o heavy metal também estava em voga, assim como a cena brasileira ganhava destaque com o Sepultura.

As bandas citadas estão entre os dez mais, mas, para surpresa de muitos, e principalmente, por ser uma das maiores ausências na lista original, quem encabeça esta lista é nada mais nada menos que Ten, do Pearl Jam. A estreia do quinteto brigou ponto a ponto com Metallica (Black Album) e Nevermind (Nirvana), conquistando esta posição na reta final, deixando os outros dois gigantes na vice-liderança e terceira posição respectivamente. Desta feita 7 álbuns da lista original estão novamente aqui, que tem como novidades além de Ten, a Legião Urbana e Mr. Madman Ozzy Osbourne, lembrando que a pontuação é dada abaixo *.

Confira e não esqueça de deixar sua lista e seus comentários sobre esta. Esperamos que tenham apreciado reler as listas antigas, as novas listas, e que talvez um dia possamos voltar à elas aqui na Consultoria do Rock. Até uma próxima


1° Pearl Jam – Ten [111 pontos]

Anderson: Essa lista mostra bem como o grunge começava a alçar voos maiores no contexto musical estadunidense e, consequentemente, do mundo ocidental como um todo. O movimento em si é anterior, o próprio Pearl Jam já é uma banda de uma segunda leva, mas as transformações que aconteciam na lógica do consumo de rock e derivados alçam tais bandas ao mainstream. Inclusive, é interessante questionar o papel desse rápido processo, junto a um contexto interno conturbado nos EUA, para o tanto de mortes concentradas em tão pouco tempo como no grunge. O fato é que Ten surge nesse caos e vai ganhando adeptos até se tornar o clássico inquestionável que é. Você pode gostar ou não, eu mesmo não sou fã da banda, mas com certeza tem que admitir que ao menos quatro músicas desse álbum sabes cantarolar. Merecido esse primeiro lugar pela relevância quanto às músicas, letras, banda e contexto para dizer o mínimo.

André: Já disse isso, repeti, birepeti e trirepeti: me esforcei muito, mas não consigo gostar nada que tenha Eddie Vedder entre os créditos de qualquer disco. Desisti há alguns anos.

Daniel: Sem dúvidas, um dos melhores discos dos anos 1990s. Clássicos aos montes, como “Black”, “Jeremy” e “Alive”, só para citar os óbvios. Em muitos outros anos seria o meu primeiro colocado, mas quando se tem uma obra do calibre de Nevermind, fica impossível. De toda forma, é um álbum de altíssimo nível e, com sobras, o segundo melhor da lista.

Davi: Todo mundo que curtia rock n roll no início da década de 90, já ouviu esse álbum ao menos uma vez na vida. Quem viveu o período, lembra-se de canções como “Alive”, “Even Flow” e “Jeremy” tocando à exaustão. O impacto que esses caras causaram na juventude, foi absurdo. Foi graças à eles, que aqui no Brasil, a galera começou a andar na rua usando blusa de flanela, mesmo estando debaixo de um sol escaldante. E, na boa, puta álbum! Enquanto o Alice in Chains fazia um som pesado e melancólico, o Pearl Jam trazia um som com um pé no alternativo, e outro pé hard rock clássico, usando e abusando de solos de guitarra (fato que deixou muito fã de rock alternativo puto, inclusive). Eddie Vedder já se destacava por seu estilo vocal característico – que depois seria copiado por bandas como Days Of The New, Silverchair e Creed – e também pela qualidade de seu texto. Não demorou para que a juventude passasse a tê-lo como uma referência, tratando-o quase como um Deus. O CD é bem consistente e traz diversas músicas que se tornaram clássicos do grupo, mesmo sem ter sido música de trabalho, caso de “Porch”, “Black” e “Why Go”. Um dos grandes álbuns da década de 90, sem dúvidas.

Diogo: O Pearl Jam é um caso curiosíssimo na minha vida. Passada minha época de aversão ao grunge (mais detalhes em meu comentário sobre o Nirvana), me arrisquei a explorar seus entes mais relevantes e encontrei no Peal Jam uma dicotomia. Ao mesmo tempo em que me rendi aos predicados de Ten, um ótimo álbum, com hits realmente dignos de ostentar o enorme sucesso, o restante da discografia com a qual travei contato sempre me passa uma impressão de enfado, aquela sensação de “tanto faz”. Não é essencialmente ruim, mas é meio maçante, enjoado. Assim como o vocal de Eddie Vedder, que infelizmente influenciou gente demais nos anos 1990 e respingou na década seguinte. Só que os grandes êxitos de Ten são tão bons, que só me resta fazer como Adam Sandler neste vídeo, fingir que estou com uma batata na boca e cantar “Even Flow” com um misto sincero de escárnio e empolgação. Apesar de estar bem conectado com seu tempo, Ten possui uma aura de banda de rock mais tradicional dos anos 1970, e talvez seja isso que me agrade, mas o fato é que abundam nele boas composições, incluindo os hits “Alive” (o melhor exemplo dessa aura setentista, com um belo solo de guitarra), “Black” e “Jeremy”, mas também “Once” e “Why Go”. Talvez o que atrapalhe mesmo seja a presença de Eddie, pois quase todas as músicas foram escritas por Stone Gossard e Jeff Ament.

Fernando: Entendo esse disco ficar em primeiro. Realmente é um disco excelente e representa não só a época, mas também a banda até hoje. Porém eu ainda acho um exagero a posição. Entendo que Nevermind representou mais o movimento grunge e o disco do Metallica foi mais importante para o rock/heavy metal. Mas tudo bem! O álbum trouxe uma força emocional crua que rapidamente o tornou um clássico. Faixas como “Alive”, “Black” e, principalmente “Even Flow” tornaram-se hinos de uma geração marcada por angústia existencial. Musicalmente, mescla a densidade do rock alternativo com o peso do classic rock. É uma estreia madura, com coesão e alma.

Luis Fernando: Ten apresentou a banda ao mundo, unindo o peso do hard rock à urgência do grunge. Com vocais de Eddie Vedder e riffs de guitarra marcantes, o disco se tornou um sucesso. Músicas como “Alive”, “Even Flow” e “Jeremy” viraram hinos. O álbum vendeu milhões, ajudando a popularizar o rock alternativo. Ten não foi um sucesso imediato, mas cresceu constantemente. Sua autenticidade e letras pessoais ressoaram com o público. Ele se mantém como o disco de maior sucesso do Pearl Jam. A banda se destacou no grunge, mas manteve raízes no rock clássico, com shows de alta energia. Usam sua plataforma para ativismo social, construindo uma conexão forte e duradoura com os fãs.

Mairon: Uma das maiores ausências dentre todas as listas originais, e que o Davi felizmente resgatou na lista de “Aqueles que Faltaram“. Foi tanta injustiça que inclusive ele apareceu também na lista de Melhores de Todos os Tempos dos anos 90. Comentei nelas o que penso sobre esse disco, mas passados 8 anos de quando escrevi aqueles textos, posso complementar dizendo que tanto Ten quanto Temple of The Dog cresceram (e continuam a crescer) cada vez mais em meu gosto pessoal. Uma belíssima coletânea do Pearl Jam tem que ter todo o Ten incluso!

Marcelo: Imagine ter 16 anos, ser um aluno do segundo ano do ensino médio e ouvir isso, em 1991? Foi mágico. Estava chegando para a aula numa longínqua tarde do século passado, ouvindo a rádio Transamérica e ouvi “Even Flow”… Não consegui entrar para o 1º horário, pois fiquei esperando terminar a sequência de 3 músicas para anotar o nome da banda e da música (era assim, jovens, que a roda girava…). Naquele mesmo dia, fui à Discoteca 2001, minha loja preferida de discos, para ver se eles sabiam de alguma coisa. Das 11 músicas do álbum, sei cantar inteiras as 11 apenas de ler seus nomes (e sei de cabeça a sua ordem no álbum, vamos lá): “Once”, “Even Flow”, “Alive”, “Why Go”, “Black”, “Jeremy”, “Oceans”, “Porch”, “Garden”, “Deep” e “Release”. Esse disco já nasceu clássico, ouço-o desde seu lançamento. Lamento apenas a ausência do Badmotorfinger, que não só é superior ao Ten como também melhor tecnicamente. Ainda assim, merecido o topo do pódio para Eddie Vedder e sua turma.

Marcello: A estreia do Pearl Jam ficou em segundo lugar na minha lista, mas podia perfeitamente ter ficado em primeiro, pois é um dos melhores da década de 90 e um dos mais completos discos de estreia de todos os tempos. Comprei a primeira edição em CD, que era para lá de pobre em termos gráficos (até o LP tinha encarte com as letras!). Único disco do grupo gravado com o baterista Dave Krusen, Ten engata uma sequência praticamente perfeita de “Even Flow” a “Deep”; curiosamente, nem a faixa de abertura (“Once”) nem a de encerramento (“Release”) chamam muito minha atenção. Mas “Even Flow”, os hits “Jeremy” e “Alive”, as belas “Black” e “Garden”, as pesadas “Porch” e “Deep”, impressionaram-me profundamente na época, e gosto delas até hoje. Após “Release” terminar, o álbum continua por alguns minutos com uma instrumental não indicada na track list, “Master/Slave”, que forma um loop com o início de “Once” se o ouvinte colocar o CD no modo repeat. Ten me fez acompanhar a carreira do Pearl Jam até hoje – tenho todos os discos de estúdio e alguns ao vivo do grupo. A única coisa que me entristece é que, embora tenha lançado alguns discos muito bons ao longo desses quase 35 anos, o PJ nunca conseguiu superar Ten.


2° Metallica – Metallica [109 pontos]

Anderson: O famoso disco preto do Metallica. Creio que facilmente a maior parte das pessoas que dizem gostar de Metallica falam isso pautadas em três ou quatro músicas desse álbum. Aqui no Brasil tenho certeza disso. Os riffs iniciais de “Enter Sandman”, “The Unforgiven” ou “Nothing Else Matters” são reconhecidos na primeira nota. Particularmente coloco esse álbum consideravelmente abaixo dos anteriores, e mais, coloco ele na prateleira do que a banda tem feito após o St. Anger, junto com os últimos álbuns. Não acho que seja ruim! Muito pelo contrário pra ser honesto, só acho que algo muito importante da banda morreu a partir desse material. Analisando a história da banda se percebe que a insanidade já havia adentrado às portas e os caras estavam mergulhando no caos de cabeça, o que vai resultar nas aberrações Load e Reload, bem como no hiato posterior. Por outro lado, a banda faz uma mescla de sonoridades que de certa forma inova alguns padrões do Heavy Metal, abre possibilidades fugindo da mesmice e ajudando a redefinir a ideia de mainstream na música pesada. Apesar dos pesares, e de eu não ter colocado em minha lista, diria que se esse álbum estivesse ali no top 3, não estaria errado.

André: Daqueles discos que nascem clássicos e que já foi tão esmiuçado que ninguém mais tem muito o que comentar sobre, exceto aquela rasgação de elogios costumeira. Eu adoro “Wherever I May Roam”, minha canção favorita de toda a carreira do Metallica. Nesses últimos anos, “Holier Than Thou” e a batidaça “The Unforgiven” cresceram comigo. O disco não envelhece e a mixagem de bateria ainda é a melhor da história da música, isso tendo plena consciência das limitações técnicas de Lars. Merecia a primeira posição ao contrário de uma outra banda aí.

Daniel: O último trabalho marcante do Metallica. Tenho uma relação muito forte com este disco, caso ele não existisse, eu não estaria aqui. E é nesse ponto que ele surge especialmente, como uma excelente porta de entrada para quem não conhece sons mais heavy metal. A banda construiu algo único neste álbum, aliando melodias acessíveis a um som ainda pesado. Tanto que esta fórmula passou a ser exaustivamente copiada, inclusive pelo próprio Metallica, que jamais conseguiu sequer chegar próximo deste nível uma segunda vez e, a partir de então, gerou álbuns de razoáveis a constrangedores em sequência, passando a viver dos louros desta obra até hoje.

Davi: O sucesso de “One” (And Justice For All) levou o Metallica à novos públicos, transformando-os no maior nome da cena thrash metal. Os músicos entenderam que para não perder o bonde, teriam que ir além do que vinham fazendo. Contando com a produção de Rick Rubin, o quinto álbum do Metallica trazia o grupo da bay area explorando novos caminhos. A banda veio com um som pesado e cristalino, James Hetfield fez linhas vocais mais elaboradas, Lars Ulrich continuava com a criatividade em dia e veio com um timbre de bateria absolutamente perfeito. “Through The Never” e “The Struggle Within” estavam próximas da sonoridade de seus álbuns anteriores, mas esse não era mais um disco de thrash metal. Aqui, eles fizeram um som mais heavy rock, digamos assim. E o projeto deu certo. Trouxeram duas baladas que se tornaram grandes hits (“The Unforgiven” e “Nothing Else Matters”), compuseram músicas que marcaram toda uma geração (caso de “Enter Sadman” e “Sad But True”), além de lados B incrivelmente impactantes (como, por exemplo, “Of Wolf and Man” e “Holier Than Thou”). O resultado não poderia ter sido outro: mais um grande disco do Metallica e mais um álbum que se tornou um marco dos anos 90.

Diogo: É claro que se trata de um baita disco. Não se chega ao status de álbum mais vendido de todos os tempos de um gênero musical menos acessível apenas amansando a sonoridade e apostando que o público geral vai recebê-lo de braços abertos. O Metallica soube se equilibrar entre manter sua evolução e abrir-se de vez para o mainstream com muito foco e trabalho, oferecendo uma coleção de composições coesas e bem produzidas, cujo resultado dezenas (centenas?) de milhões de pessoas conheceram. Gosto das longas faixas que abundam nos três discos anteriores, mas a escolha por mais canções que vão direto ao ponto foi positiva. O thrash metal do passado recente ainda dá alguns suspiros, mesmo que de forma mais simplificada, mas o que predomina mesmo é um heavy metal sem muita firula, menos técnico do que o dos antecessores. Também aparecem alguns lampejos do groove metal, que começava a dar as caras, especialmente em “Sad But True”, com resultados muito positivos. Minha preferida desde sempre é “Wherever I May Roam”, e essa predileção permanece até hoje. Por outro lado, alguns sinais de cansaço criativo já dão as caras, coisa que praticamente inexistia até então e se acentuaria muito com o passar dos anos.

Fernando: O chamado Black Album marcou uma guinada sonora para o Metallica e para todo o rock e heavy metal. Foi uma decisão arriscada que dividiu fãs, mas o álbum consolidou o Metallica como um gigante do mainstream. Mais conciso e acessível, reduziu a complexidade do thrash dos discos anteriores em favor de grooves pesados, refrões marcantes e produção impecável. Porém está longe de ser um disco pop como muita gente que torce o nariz até hoje. Só quem viveu sabe o impacto de “Enter Sandman”, “The Unforgiven” e “Nothing Else Matters” na época.

Luis Fernando: O ponto de virada de chave na maior banda de thrash do planeta. Com uma produção refinada de Bob Rock, trazendo uma sonoridade mais polida, ele se afastou da complexidade de seus trabalhos anteriores, permitindo que a banda alcançasse um público muito maior. E isso fez o fã raiz achar que a banda havia se vendido. É um dos álbuns mais vendidos da história. Mas nem tudo são flores, o processo de gravação foi intenso, durando meses, tudo registrado naquele VHS A Year and a Half in the Life of Metallica.

Mairon: O álbum preto apresentou o Metallica para uma nova geração de fãs (eu incluso), que delirou com um vasto repertório de clássicos. Afinal, qualquer ouvinte que tenha noção de música pesada, já deve ter sentido no seu cérebro as pancadas de “Enter Sandman” e “Sab But True”, ou tentado conquistar uma gatinha tocando as baladas “Nothing Else Matters” e “The Unforgiven”. Porém, existem canções que ficaram eclipsadas por esses quatro sucessos, mas com qualidades similares ou até melhores, seja nas velozes “Holier Than Thou” e “The Struggle Within”, ou nas pesadas “Through the Never”, “Don’t Tread On Me”, “The God That Failed” e “Or Wolf And Man”. Para mim, as melhores ficam por conta de “Wherever I May Roam” (que baita introdução) e “My Friend of Misery”, uma das raras oportunidades que Jason Newsted teve de mostrar por que foi escolhido para substituir o lendário Cliff Burton (lembrando que ele era um dos principais nomes do Flotsam & Jetsam). Ótimo disco, o último decente do Metallica (depois, só Death Magnetic se escapa), que não entrou na minha lista por detalhe.

Marcelo: Até os 45 do 2º tempo, o álbum preto do Metallica estava na minha lista, mas como deixar de fora o Dangerous do rei do pop?! No entanto, não me entristeceu a ausência de Michael Jackson frente à obra-prima do Metallica. Discaço, sem sombra de dúvidas.

Marcello: “O Metallica se vendeu!” era o grito que se ouvia quando esse disco saiu. Querem saber? Na minha opinião, ainda bem que o fez. O Metallica evoluiu bastante nos três primeiros discos, mas parou de fazê-lo no quarto. Assim, ou o grupo se reinventava, ou permanecia estagnado. O que ninguém esperava seria uma reinvenção tão radical. Já na abertura com o hit “Enter Sandman” o grupo mostrava que estava diferente. A sequência das 3 primeiras mostrava peso, mas não velocidade. E “The Unforgiven” não era nem pesada nem rápida, mas se tornou bastante influente na carreira do grupo, uma vez que a banda gravou várias sequências para ela. “Through the Never” e “The Struggle Within” são mais velozes, o que deve ter agradado os fãs mais radicais, e de repente surge “Nothing Else Matters”, e pela primeira vez você tinha uma música do Metallica para gravar na mix tape para a namorada. Verdade seja dita, a balada é linda e é uma das mais belas músicas da década de 90. A sequência final não é muito famosa, mas nem por isso ruim: de “Of Wolf and Man” a “The Struggle Within” temos 4 boas músicas que podiam estar nos setlists da banda sem problemas. Sem músicas enormes (as mais longas não chegam a sete minutos), com menos peso e velocidade (mas, em compensação, com um baixo audível), o disco vendeu horrores e fez do Metallica uma das maiores bandas do mundo, status que se confirmaria nos lançamentos seguintes.


3° Nirvana – Nevermind [107 pontos]

Anderson: Nevermind foi meu segundo lugar, perdendo pro Pearl Jam no detalhe. Hoje eu não consigo mais ouvir Nirvana, mas acredito que pode estar entre os três ou quatro álbuns que mais ouvi na vida. Lembro que ouvia de cabo a rabo, que conseguia expressar toda minha raiva e melancolia da adolescência quando ouvia esse disco, aliás, disco não, CD pirata. Até porque os conheci entre 1999 e 2000 possivelmente. Apesar de ser o segundo álbum da banda e ter havido uma produção mais refinada por trás, a minha percepção de jovem era de algo sujo e mal feito, agressivo e mal acabado. Minha percepção era de que simbolizava o grunge mais cru possível, outro ponto que mudei de ideia com o tempo. De qualquer forma músicas como “Smells Like Teens Spirit”, “Come As You Are” ou “Lithium”, bem como a sua capa icônica e vídeo clipes estão pra sempre na história.

André: Não votei, mas eu gosto muito desse álbum. Apenas que de vez em quando eu tiro umas férias dele para não me saturar. Mas é aquela coisa: volta e meia ouço Nirvana e me impressiono com suas composições. Meu primo mais velho tem uma toalha gigante da capa desse álbum e a foto dos 3 integrantes abaixo. Eu adorava ela e queria uma igual, mas nunca achei.

Daniel: O mais importante, mais impactante e mais influente álbum de rock dos últimos 34 anos. E muito provavelmente o melhor. Muitos poucos discos estão neste mesmo patamar, qual seja, de ser uma obra que mudou os caminhos da música que surgiu após sua aparição, com os méritos em transformar as desventuras de toda uma geração em arte. Portanto, não sei em que posição ficou, mas qualquer lugar que não seja o primeiro já faz desta lista, enormes desperdícios de tempo e de espaço, além de um contundente equívoco.

Davi: Depois que “Smells Like Teen Spirit” chegou às rádios, a cena de rock n roll não seria mais a mesma. A juventude se apaixonou pela poesia de Kurt Cobain e pelo som de poucos acordes produzidos pelo trio de Aberdeen (sim, o Nirvana não era de Seattle). O grupo deu dois passos adiante em relação ao seu álbum de estreia (Bleach). As músicas continuavam com a fórmula àla Pixies mesclando som limpo e sujo, momentos mais calmos com momentos mais rápidos e até alguns momentos mais pops. A diferença estava na produção certeira de Butch Vig e na bateria malandra de Dave Grohl, que deram um novo ar para as composições de extremo bom gosto de Kurt Cobain. Tirando a faixa escondida “Endless, Nameless”, o resto do disco é excelente e traz desde hits de FM (“Smells Like Teen Spirit”, “Come As You Are”, “In Bloom”, “Lithium”), até músicas que se tornaram verdadeiros clássicos do grupo como “Drain You”, “On a Plain”, “Territorial Pissings” e “Breed”. Um dos trabalhos mais emblemáticos daquela década.

Diogo: Minha relação com as bandas rotuladas como “grunge” começou muito conturbada. Como se não bastasse eu ter iniciado minha trajetória como ouvinte de música por meio do heavy metal mais tradicional e pelo glam metal, dois gêneros preteridos em favor do grunge no início dos anos 1990, ler publicações especializadas da virada do milênio contribuiu para ter a impressão de que o estilo era o malvado bicho-papão destruidor dos estilos supracitados, tamanha era a amargura de alguns redatores. Decorrido algum tempo, muito mais maduro e menos influenciável, passei a adorar Alice in Chains, gostar muito de Soundgarden e até curtir alguma coisa de Pearl Jam, mas o Nirvana ainda não me desce muito bem. Compreendo a gigantesca influência sobre aqueles que moldaram seu gosto musical na época e inclusive acho que essa suposta rivalidade proposta pelas revistas da época é extremamente superdimensionada, mas a mim o trio nunca impressionou. Não sou estúpido de não enxergar os predicados de Nevermind e acho que se trata, sim, de um bom disco, que pode não dialogar tão bem comigo, mas com certeza dialogou com milhões de jovens da época e manteve sua relevância. A melhor música para mim, com sobras, é “In Bloom”.

Fernando: Símbolo máximo do grunge, Nevermind alterou radicalmente o cenário musical ao levar o som do underground para o topo das paradas. “Smells Like Teen Spirit” se tornou um hino geracional, enquanto o disco como um todo mistura punk cru com melodia pop. As letras de Kurt Cobain expressam dor, alienação e ironia com honestidade brutal. A produção de Butch Vig deu à sujeira do grunge um brilho radiofônico. A quantidade de hits que saíram desse álbum é incrível. A cada 20/30 dias era uma música que não parava de tocar nas rádios.

Luis Fernando: Se por um lado o Guns e o Metallica me fizeram ser músico e querer tocar baixo, o Nirvana foi a banda que me inspirou a montar uma banda. Sem aquela complexidade toda, com aquela coisa mais simplista, com um tênis all star e uma atitude punk, o Nirvana foi a fagulha que eu precisava para montar minha primeira banda. Lembro dos clipes na MTV, das entrevistas. A faixa nº 5 do lado A do meu disco vinil, “Lithium”, é furada, de tanto que eu ouvi. Uma banda que mostrou que qualquer um poderia ter uma banda, simples assim. Nevermind redefiniu o rock alternativo e a indústria musical, desbancando artistas pop das paradas de sucesso e vendendo milhões. Uma pena que Kurt não estivesse preparado para tanto sucesso.

Mairon: “Smells Like Teen Spirit”, “In Bloom”, “Come As You Are”, “Lithium” e “Drain You”, alguns dos sucessos que marcou a geração grunge no início da década de 90, cantadas pelo insano Kurt Cobain. Eu tenho uma birra particular com Nirvana, não consigo gostar de nada do que fizeram (com exceção de alguma coisa do Unplugged), mas a presença de Nevermind nessa lista é tão óbvia quanto colocar fermento no bolo.

Marcelo: Todo mundo que VIVEU os anos 90 sabe que com o Nevermind do Nirvana as coisas passaram a ser diferentes e quem não gosta desse disco não entende de rock.

Marcello: Eu gosto muito desse disco, mas me pergunto: será que ele seria lembrado como um dos melhores da história (como frequentemente é) se não tivesse feito o inesperado sucesso que fez? Até “Smells Like Teen Spirit” estourar, eu nunca tinha ouvido falar no grupo, e por anos gostei do disco sem tê-lo, até comprar uma edição em CD duplo. O disco, na verdade, me intriga; se parar para pensar, não há nada que me justifique gostar dele, mas ainda assim acho-o muito bom. A já citada “Smells…” (com seu riff “chupado” de “More Than a Feeling”), “Come As You Are”, “In Bloom”, “On a Plain” (que iria ficar melhor depois no Unplugged), “Lithium” e “Lounge Act” são as minhas favoritas do disco, em especial a primeira, com seu riff básico (e solo mais básico ainda) de guitarra. Claro, tem algumas músicas que não me dizem nada, como “Territorial Pissings” (que escancara debochadamente as limitações instrumentais e vocais da banda), a desconjuntada “Breed” (apesar do refrão bom) e a tola “Polly”, mas não prejudicam o álbum. A edição de aniversário de 20 anos trouxe os B-sides e algumas músicas engavetadas e, diferentemente do que às vezes acontece, a banda colocou o que tinha de melhor no disco original – não havia nenhum “tesouro escondido” a ser revelado.


4° Guns N’ Roses – Use Your Illusion II [85 pontos]

Anderson: Se o primeiro Use Your Illusion tem a cara do Guns N’ Roses até então, este segundo disco mostra a cara que eles (ao menos parte deles, a parte que mandava) queriam para a banda. Extravagância, experimentalismos, exageros, grandiosidade, visivelmente a coisa estava fervilhando na cabeça dos caras, diria na verdade que já tinha subido pra cabeça. Não apenas Izzy saiu da banda nesse contexto, mas Steen Adler também deixou o GNR, bem verdade que fora demitido em uma confusão que vai parar nos tribunais. Entretanto, é impossível não gostar de “Civil War”, “Yesterdays”, a versão de “Knockin´ on Heavens Door” ou “Estranged”. O Use Your Illusion II foi mais bem sucedido que o primeiro, mas na minha lista não entrou.

André: No momento, meu favoritaço do ano! Várias canções aqui excepcionais e que se tornaram com o tempo a cara do melhor que esses malucos conseguiram criar. Tem baladas, tem rocks pesados, tem acento pop, tudo isso misturado e azeitado com muita qualidade. Faixas como “Yesterdays” e “You Could Be Mine” só crescem cada vez mais em minha admiração.

Daniel: Já dei minha opinião no disco I, mas este é tão bom quanto o primeiro. “Civil War”, “Shotgun Blues”, a excelente versão para “Knockin’ on Heaven’s Door”, e a fantástica “Paradise City” (minha preferida da banda) são amostras disto. O Gun’s resgatava vigorosamente o Hard setentista de bandas como Aerosmith, Stones e Nazareth; com muita excelência e dando seu toque metálico a elas. Incrível.

Davi: Tem muito fã que gosta de dizer que o Guns não deveria ter lançado um álbum duplo, que deveriam ter feito um best of deste material e criado um único álbum. Não concordo com essa tese, já que gosto muito desse projeto, mas é nítido que o segundo volume é menos ousado que o primeiro. Embora traga os rockões “Pretty Tied Up” e “You Could Be Mine”, a maior parte do álbum é formada por faixas mais comerciais. O disco abre com “Civil War” (última faixa gravada por Steven Adler, que já havia sido lançada na coletânea Nobody´s Child) e passa por músicas bem bacanas como “Yesterdays”, “So Fine”, “Estranged”, “14 Years”, além da ótima versão de “Knockin´ on Heaven´s Door” (ok, é verdade que eles criaram a versão em cima da gravação do Heaven, mas ainda assim ficou bacana). Agora… Vamos combinar que não precisava uma segunda versão de “Don´t Cry”, nem aquele rap medonho do “My World”, né?

Diogo: Caso esta revisitação tivesse ocorrido em outro momento, é possível que este disco ocupasse destaque em minha lista, mas atualmente ando um pouco enfastiado com a banda. Isso não me impede de enumerar as virtudes de um álbum que carrega em seu tracklist músicas do calibre de “Civil War” e “Estranged”, dois pequenos épicos que fazem jus às aspirações megalomaníacas de Axl Rose e, em minha opinião, são melhores do que “November Rain”, que teve maior êxito comercial e está presente no disco-irmão. Falando em megalomania, a existência de dois álbuns duplos lançados na mesma data é um retrato de uma época que não volta mais, na qual um grupo tinha cacife para contar com grande apoio financeiro de uma gravadora, pois havia boa chance de que o retorno fosse polpudo. Por um lado, a ousadia é bem-vinda, mas há o risco constante de que parte do material não esteja em tão alto nível, situação que acontece algumas vezes (o miolo do disco tem seus exemplos). Apesar de sua participação menor em relação ao primeiro Use Your Illusion, Izzy Stradlin mostra o valor de suas contribuições com a ótima “14 Years”, por ele cantada, e também coescreve aquela que é o destaque maior dessa era do Guns N’ Roses, “You Could Be Mine”, que poderia estar inserida entre os destaques de Appetite for Destruction (1987) com a maior naturalidade.

Fernando: Mais sombrio e político que o volume I, Use Your Illusion II aborda temas como guerra em “Civil War” e alienação, na minha música preferida da banda, “Estranged”. Musicalmente diverso, mescla hard rock, blues e até elementos de soul. A produção é igualmente rica, e a voz de Axl transita entre raiva e vulnerabilidade. É um disco introspectivo e denso, que reflete o caos criativo e emocional da banda no auge da fama. Só poderiam ter tirado “My World” que não tem nada a ver, mesmo que seja uma zoeira.

Luis Fernando: Eu simplesmente não consigo separar um disco do outro, apesar de ter meu preferido, o II. Era o Guns em seu auge, a maior banda de rock do planeta. Naquele momento eles podiam tudo. “November Rain”, “Don’t Cry”, “Estranged”, “You Could Be Mine”, shows de 3 horas, atrasos de mais de 3 horas. Eram os Guns N’ Roses! E este foi o começo do fim, tanto que Izzy não aguentou a pressão. Os abusos estavam mais intensos, e o resultado disso tudo, foi o fim da banda pouco tempo depois. Mas eles já haviam feito o estrago que se proporão.

Mairon: Um LP que começa com uma canção tão impactante quanto “Civil War” não poderia ficar de fora da lista de Melhores de 1991 de jeito nenhum, e com o agregado das longas e maravilhosas “Locomotive” e “Estranged”, ganha status para ser um dos melhores da década de 90. Essas três canções para mim são o diferencial de II em relação ao seu irmão gêmeo, pois me causam sempre aquela sensação de “como eram bons os tempos onde a criatividade na música surgia naturalmente“. Na primeira, ainda com o baterista Steve Adler, Slash estraçalha com um solo fantástico, enquanto na segunda, o novo baterista, Matt Sorum, quebra tudo com uma baita introdução. Já a terceira é uma música fenomenal, na qual o guitarrista Izzy Stradlin e o pianista (!) Axl Rose conduzem com propriedade uma daquelas canções que ficam para sempre na cabeça, complementadas por um revolucionário e caríssimo video-clipe, que abriu as portas para que outras bandas enxergassem a MTV como um meio de divulgar seu som. Mas II não vive só delas, já que possui outros dois clássicos incontestáveis na discografia do Guns: “Knocking On Heaven’s Door” e “You Could Be Mine”, ambas reconhecidas até por um gambá bêbado. Passeamos pelo rock de “14 Years”,os hards de “Shotgun Blues” e “Pretty Tied Up”, o desabafo de “Get in the Ring”, peça criada por Axl Rose para criticar a TV, as baladas “Yesterdays”, “Don’t Cry” – essa em sua versão com letra diferente -, “So Fine”, cantada pelo baixista Duff McKagan, a linda e esquecida “Breakdown”, para mim melhor que “November Rain”, com um belo trabalho do pianista Dizzy Reed, e até um rap-psicodélico em “My World”. Foi com a turnê deste que surgiram os palcos grandiosos. Era um novo Guns, com seis membros (Axl, Slash, Dizzy, Izzy, Matt e Duff) que preenchiam um palco realmente gigantesco, apoiados ainda por diversos músicos. Lembro até hoje do programa Hollywood Rock in Concert passando um show desta época, o palco imenso, uma quantidade infinita de pessoas assistindo a clássico em cima de clássico, cantoras seminuas e uma banda que tocava soando como se tudo estivesse na perfeição. Ninguém imaginava que nos bastidores Axl mostrava-se cada vez mais um egoísta, arrogante e prepotente, que culminou com o fim de uma das maiores bandas da história, infelizmente. Para mim, um dos grandes discos da sua época, e em um ano concorrido como 1991, vê-lo entre os dez mais era obrigação.

Marcelo: Esse estava na minha lista inicial, mas perdeu o lugar para o Voodoo Highways, petardo do Badlands… Não sei se todos se lembram, mas o Use Your Illusion II saiu semanas depois do anterior e foi inacreditável ver que elevaram o nível – que já era alto! “Estranged” é, na minha opinião, a música mais subestimada do Guns. Até hoje, um grande disco, portanto não me desagrada vê-lo na lista final.

Marcello: “Oh vida, oh azar…”, diria o grande filósofo Hardy Har Har. O volume II não melhora a situação, ainda que tenha a ótima “You Could Be Mine”, uma das poucas músicas dos dois discos que estão à altura do primeiro disco. Por outro lado, tem a interpretação exagerada e insuportável de Axl destruindo “Knockin’ on Heaven’s Door”. O disco começa com a pretensiosa “Civil War”, outra música com muitos minutos e poucas ideias. “14 Years” dá destaque aos teclados e teria sido melhor se alguém amordaçasse Axl, que vem encher o saco na hora do refrão (e Izzy estava cantando bem). “Yesterdays” e “Shotgun Blues” são razoáveis (em especial a primeira, outra que Axl destroçou com seu vocal irritante), mas a já citada “Knockin’…” e a ridícula “Get in the Ring” aumentam a sensação de perda de tempo ao ouvir o disco. “Pretty Tied Up” é bem legal e compensa o vocal forçado; “Locomotive” (com guitarras matadoras) e “Estranged” são as únicas “épicas” que valem sua duração, mas eu preferiria ouvi-las em mixagem instrumental. Aí, para completar, ainda tem a imbecilidade de “So Fine”, que quer ser uma balada soul com interlúdio hard rock e não consegue nada disso, outra versão de “Don’t Cry” e a vinheta “My World”, que nem o presidente do fã clube do grupo deve gostar. No todo, das 14 músicas, Use… II tem quatro boas, duas razoáveis, cinco horríveis e o resto não ajuda em nada. Dos álbuns duplos costumava-se dizer que davam um bom disco simples; os dois Use Your Illusion, na minha opinião, trazem juntos sete boas músicas, cinco razoáveis, e 18 (!!) que podem fazer os fãs felizes, mas para mim não tiram a sensação de perda de tempo que é ouvi-los.


5° U2 – Achtung Baby [63 pontos]

Anderson: Em novembro de 1991, na reta final do ano, o sétimo trabalho de estúdio do U2 chega nas paradas e apresenta uma banda que aposta suas fichas em mudanças. De cara, o visual de Lerry e seus amigos muda para algo midiático e artificial, uma visível crítica ao glamour e à fama, o que fica claro durante a ZOO TV Tour. Muito nostálgica essa listam engraçado lembrar que eu conheci o U2 assistindo um show dessa turnê, só vindo a entender tudo muito tempo depois. Dentre os elementos que aparecem no álbum temos sons eletrônicos, ambiguidades em letras, distorções distintas em relação ao que a banda fazia antes. Tudo isso viria a soar caótico para alguns e, principalmente, para quem acompanhava a banda desde antes. O fato é que desse material vieram as clássicas “One” e “Mysterious Ways” e uma banda pronta para enfrentar o futuro, o que se mostrou acertado.

André: CPI já para essas postagens de Melhores! Mais do que óbvio que o Mairon subornou os consultores a votarem neste disco insosso do U2!

Daniel: Meu disco preferido do U2. Embora eu curta bastante os anteriores, este álbum demarca um amadurecimento na sonoridade da banda, bem como uma “correção de rota” após o contestado Rattle & Hum. Faixas incríveis como “The Fly”, “Mysterious Ways”, “So Cruel” são cativantes, além de 2 das melhores canções do U2: “One” e “Acrobat”. Pena que depois deste álbum eles seguiram ladeira abaixo.

Davi: O U2 dominou as paradas de sucesso na década de 80 e eles estavam dispostos a repetir a façanha na década seguinte. Para continuar dialogando com a juventude, os músicos renovaram o seu som, passando a flertar o rock com a música eletrônica. (Algo que viria a ser copiado nos anos seguintes por grupos como Def Leppard, The Cult e Simple Minds).A jogada fazia sentido. Afinal, na década de 80, os rockers começaram a frequentar as discotecas. E embora começassem a frequentar os estabelecimentos com o intuito de pegar mulher, não era raro que depois de algumas semanas passassem a adquirir álbuns de grupos como Information Society, Kon Kan, Dead or Alive e Erasure. Portanto, não adianta ficarem bravos com o U2. Os músicos conseguiram fazer a mistura na dose certa, mesclando sons eletrônicos com o baixo sólido de Adam Clayton e as guitarras marcantes de The Edge. Bono continuava a produzir boas letras e a entregar um ótimo trabalho vocal. O novo trabalho gerou hits do porte de “Even Better Than The Real Thing”, “Misterious Ways” e “One”, além de contar com outras grandes faixas como “The Fly”, “Until The End of The World”, “Zoo Station” e “Tryin´ To Throw Your Arms Around The World”. A nova etapa parecia promissora, pena que os demais álbuns dessa fase não vieram no mesmo nível.

Diogo: Houve uma época em que eu até achava este um disco bem interessante. Inferior aos seus melhores lançamentos dos anos 1980, mas corajoso em se reinventar de uma maneira inteligente. Não sei se é questão de momento, pois nossos gostos flutuam muito com as fases e humores, mas, tendo escutado Achtung Baby na íntegra pela primeira vez depois de vários anos, não tive vontade de repetir a experiência. Preciso retomar a audição em um momento mais adequado, pois se trata de um disco com várias camadas e nuances, que carece de uma exploração mais criteriosa. Aproveito este espaço para lamentar que, na edição dedicada a 1991, o ano mais avassalador da história em se tratando de death metal, com dezenas e dezenas de lançamentos magníficos, alguns extremamente referenciais para o gênero, nenhum álbum do estilo deu as caras. Quantas vezes já ouvi falar em “Consultoria do Metal” como crítica ao site, mas é só ter um vocal um pouco mais gutural que o pessoal já fica dodói.

Fernando: Gosto de U2, mas para mim é uma banda de coletânea. Tive que ir olhar o set list do disco para ter uma ideia do que falar e assim… cadê as músicas das coletâneas? Somente “One” chamou a atenção logo de cara. Aí fui relembrando das faixas da segunda parte da famosa coletânea (a dos búfalos) e algumas outras músicas vieram na minha cabeça. Acredito que depois disso vieram algumas bombas que aí sim me fizeram abandonar a banda.

Luis Fernando: Achtung Baby é o meu disco preferido do U2, simples assim. Como uma banda que havia lançado The Joshua Tree iria conseguir se superar? Com Achtung Baby! Aqui eles exploraram novos sons e camadas estéticas, buscando se afastar da sonoridade a que havia sido conhecida e definida nos anos 80. Talvez por gravarem em Berlin, uma cidade que havia sido recém-unificada e um tal de David Bowie já havia descobertos anos atrás, isso acabe inspirando a banda. Por trás disso há a produção de Brian Eno e Daniel Lanois, ajudando a moldar a nova direção musical. O resultado? um disco mais sombrio e experimental. “One”, “Misterious Ways” e “Until the End of the World”, só pra citar algumas. Achtung Baby revitalizou a carreira do U2 na década seguinte, provando a capacidade de se reinventar. A Zoo TV também me marcou, pois assisti ela na Band (sempre ela), e foi impactante, visualmente grandiosa.

Mairon: Audacioso, inovador, criticado, odiado, amado, mas acima de tudo, uma jóia na carreira do U2. Os caras reiventaram-se, colocando o pé no pop e no eletrônico com força, que só seria batido pela incrível sequência de Zooropa e Pop!. Com a colaboração de Brian Eno e Daniel Lanois, Achtung Baby traz o riff perturbado da guitarra e a bateria eletrônica de “Zoo Station”, os vocais dobrados de “Even Better than the Real Thing”, a viagem de “Love is Blindness” e o embalo da ótima “Until the End of the World“. “Who’s Gonna Ride Your Wild Horses” é uma das poucas que possui traços do U2 anos 80, mesmo carregada de eletrônicos, assim como a clássica balada “One”. Aliás, gosto muito dos clássicos deste LP, no caso a citada “One”, a dançante “Misterious Ways” e a bluesy “The Fly”, mas são as desconhecidas “Acrobat”, “So Cruel” e “Tryin’ to Throw Your Arms Around the World“, apresentando uma mescla do pop proposto para essa nova fase com as linhas rock dos anos 80, que me fazem sair dançando pela casa, e quando ouço a fantástica “UltraViolet (Light My Way)“, encontro aquilo que eu quero de um disco quando busco diversão. Apesar de todas as críticas, Achtung Baby conquistou a primeira posição em seis países (entre eles Brasil e Estados Unidos, país aonde atingiu oito discos de platina),vendendo mais de vinte milhões de cópias em todo o mundo e tornando-se um dos álbuns mais vendidos da carreira do grupo. Fãs antigos detestam, fãs novos torcem o nariz, mas a real é que jamais Bono e cia. conseguiram criar algo tão bom e dançante quanto essa trilogia iniciada com Achtung Baby. Escrevi mais sobre ele aqui.

Marcelo: Talvez o único disco da lista que não envelheceu, basta ver o frescor de suas faixas – o que pode até não o colocar no lugar mais alto do pódio, mas lhe garante a imortalidade.

Marcello: Muitas vezes, quando uma banda se reinventa, ela se dá mal; não foi o caso do U2, pois este e Zooropa, com som bem semelhante, estão entre os melhores discos do grupo para mim. Quando coloquei o CD pela primeira vez, cheguei a me assustar: a percussão eletrônica, o riff de guitarra e a voz tratada eram inesperados, tornando “Zoo Station” diferente de tudo que ouvira da banda até então. Daí em diante há uma sequência praticamente perfeita até “Until the End of the World”. As enjoadinhas “Who’s Gonna Ride Your Wild Horses” (embora esta tenha sido modificada para melhor na reedição comemorativa de 20 anos) e “So Cruel” (esta ficaria melhor com um minuto a menos) baixam a bola, mas depois temos “The Fly” (com um riff de guitarra matador e totalmente não-U2) e “Mysterious Ways” (uma das minhas favoritas da banda em todos os tempos), uma outra enjoadinha (“Tryin’ to Throw Your Arms Around the World”), duas outras muito boas (a leve e alegre “Ultra Violet” e a intensa “Acrobat”) e uma mais convencional (“Love is Blindness”) para encerrar – e curiosamente, essa última encerra bem o disco; o U2 normalmente nunca soube posicionar uma música de impacto no final da track list. “Even Better than the Real Thing” traz The Edge fazendo solo de slide guitar, “One”, apesar de desgastada pelo excesso de covers, ainda emociona e “Until the End of the World” é para levar para uma ilha deserta e esperar o fim do mundo. Pessoalmente, acho Zooropa ainda melhor que este, mas não me incomodo se alguém aponta Achtung Baby como o melhor disco do U2 em seus quase 50 anos de estrada.


6° Sepultura – Arise [62 pontos]

Anderson: O primeiro disco de ouro do Sepultura fora do Brasil apresenta alguns dos clássicos mais icônicos da banda, como “Desperate Cry”, “Arise” e “Dead Embryonic Cells”. Alguns elementos tribais já aparecem nessa compilação, mas os caras não tinham entrado na ‘nóia’ de cabeça, ainda. Formação clássica, com Igor destruindo tudo e muito acima da média, Max ainda não tinha virado mendigo e estava cantando demais (para não usar palavrões), Andreas dentro do quadrado dele (de onde nunca deveria ter saído) e o Xisto que, bem, é o Xisto. Sepultura em sua melhor forma. Arise não só solidificou o Sepultura como uma das bandas mais importantes do metal, mas também provou que o Brasil tinha coisa pesada pra mostrar. Querendo ou não é, ainda hoje, a banda pesada mais respeitada do Brasil no mundo. Este disco é um clássico eterno! Destaco que meu olhar para o Sepultura é extremamente tardio, só vou atrás de conhecer efetivamente a banda nos idos de 2008-2010. Diria que isso coloca esse álbum mais em evidência ainda, pois, é possível destacar o material dentre várias coisas diferentes, com integrantes diferentes e contextos totalmente distintos. Clássico.

André: Gosto mais do anterior Beneath the Remains mas este aqui é um sucessor mais do que digno. A banda seguia afiadíssima e com novas composições mais técnicas do que o anterior sem deixar de lado a agressividade que marcava o som do Sepultura. Era esta a prova que os brasileiros não deviam (e nunca deveram na realidade) em nada para as bandas gringas.

Daniel: Um dos melhores álbuns de Heavy Metal dos anos 1990s e, possivelmente, o meu preferido do grupo. Agressivo, pesado e intenso, o Sepultura mergulhou de cabeça no Thrash Metal produzindo canções fantásticas. A bateria de Igor está insana, bem como as guitarras de Andreas e os vocais de Max. Obra-prima da banda.

Davi: Arise vinha na sequência de Beneath the Remains. Se o álbum anterior colocou os meninos de Belo Horizonte no primeiro escalão do heavy metal, Arise acabou sendo o responsável por ajudar a solidificar o nome do grupo. Os músicos continuavam modificando seu som aos poucos, trazendo arranjos mais elaborados, cada vez mais se afastando do death metal de sua fase inicial e abraçando cada vez mais o thrash metal. Contando mais uma vez com a produção certeira de Scott Burns, os músicos conseguiram um som ainda mais pesado, mais encorpado. Isso deve-se ao fato da gravadora ter liberado uma verba maior para a gravação. O tracklist era matador e trazia canções que se tornaram clássicos absolutos como “Desperate Cry”, Arise”, “Dead Embryonic Cells”, além da versão matadora de “Orgasmatron” (Motorhead). Durante a audição, vale a pena prestar uma atenção especial no trabalho de guitarra de Andreas Kisser e na bateria endiabrada de Igor Cavalera. Clássico absoluto!

Diogo: Qual é o melhor? Beneath the Remains (1989) ou Arise? Para mim, essa resposta pode variar. Atualmente, gosto um tiquinho mais do antecessor como um todo, mas os pontos altos de Arise talvez sejam mais altos, afinal, quantos discos conseguem ter uma trinca de abertura tão avassaladora quanto “Arise”, “Dead Embryonic Cells” e “Desperate Cry”? Desculpem-me, inclusive, quem acha que o Sepultura posterior a essa época é superior. Mais influente? Aí tudo bem, mas superior, jamais. No auge, o Sepultura era único. O rótulo genérico que colavam na banda era o thrash metal, mas a sonoridade desenvolvida pelo grupo mineiro era diferente de todas as bandas referenciais do estilo, e ainda havia um leve pezinho no death metal, fato que adiciona um charme especial, além da produção do mestre Scott Burns, uma das maiores referências no metal extremo. Eu sei que muitos não admitem que se critiquem seus integrantes e suas escolhas duvidosas, mas é triste pensar no potencial que o quarteto tinha e quão grande foi o declínio técnico e criativo de todos os envolvidos após a separação. Até houve lampejos da velha genialidade em determinados momentos, mas bem pouco em comparação com aquilo que a banda produziu em seu auge.

Fernando: Eu me lembro até hoje da primeira vez que ouvi isso. Já era um ‘metaleiro’, mas isso aqui rompeu limites do que eu ouvia. Arise é o álbum que firmou o Sepultura como potência global do metal extremo. Na época era até difícil acreditar que era mesmo uma banda brasileira. Misturando a brutalidade do thrash com influências do death metal e crítica política, o disco é técnico, agressivo e coeso. “Dead Embryonic Cells”, minha preferida, e a faixa-título são pancadas sonoras que mostram a maturidade da banda. O álbum também iniciou um processo de fusão de elementos brasileiros, mesmo sutil, que ganharia mais força em discos posteriores.

Luis Fernando: A primeira lembrança que tenho do Arise é uma fita que eu gravei de um amigo meu e, logo na sequência, um show que passou na Band onde a banda tocava em Barcelona. Que show intenso, marcante. Logo depois comprei o disco de vinil e ele me acompanha até hoje. Era uma banda do Brasil conquistando o mundo com um som pesado, intenso, matador, com faixas velozes e riffs complexos. E a banda já mostrava que estava além de seu tempo, onde flertou com elementos de música industrial e hardcore punk. O futuro seria brilhante. Logo se tornaram os queridinhos da crítica especializada, fazendo um grande sucesso no mundo todo. E arrisco-me a dizer que Arise foi um álbum divisor de águas para o metal extremo.

Mairon: Já deixei claro por diversas vezes que gosto muito mais do Sepultura de Jairo T. do que o Sepultura de Andreas Kisser, mas não posso negar que Arise é um discaço. Ouço muito de Slayer nesse disco, e acho que por isso que gosto tanto dele. Afinal, “Dead Embryonic Cells”, “Meaningless Movements” e “Subtraction” podiam fácil estar em South of Heaven, por exemplo. As introduções de “Altered State”, “Desperate Cry” e “Under Siege (Regnum Irae)”, essa a melhor do disco, já valem sua aquisição, e ouvir pancadas como a faixa-título, sempre trazem aquela sensação de “eita porra, hoje meu pescoço vai doer”. E como Andreas esmerilha na guitarra de “Infected Voice”, e como Igor está um cavalo cavalgando no seu kit em “Murder”. Baita disco!

Marcelo: Obra-prima indiscutível do thrash metal, se fosse lançado hoje seria considerado o melhor de 2025.

Marcello: Nunca fui fã do Sepultura. Respeito muito a banda, mas não gosto dela e ponto final. Normalmente as minhas críticas se dirigem aos vocais no tipo de som que a banda faz, mas no caso do Sepultura, o vocal insuportável do Max Cavalera é apenas parte do problema. O álbum começa cuspindo fogo com “Arise”; a música morre e dá lugar a “Dead Embryonic Cells”, a única do álbum que eu ainda me recordava (mas não gostava…), cuja introdução experimental é bem interessante (mesma coisa em relação a “Altered State”). “Desperate Cry” é bem melhor e inclusive tem um trecho instrumental bastante melodioso para o padrão do Sepultura! O peso e a violência voltam a aumentar nas músicas seguintes, e basicamente o que se tem é um massacre sonoro; quem gosta tem todos os motivos para adorar, eu não tenho nenhum. “Under Siege” é bem trabalhada e mostra que a banda tinha potencial para ir além dos seus limites. Como bônus, há uma versão bem legal para “Orgasmatron”; não supera a original, mas é boa de qualquer jeito. No final das contas, Arise não muda minha opinião: o Sepultura é uma das bandas mais importantes da história do rock brasileiro, e sua trajetória precisa ser tratada com respeito, mas sua música não faz parte do que eu gosto de ouvir, então, lamento que a banda tenha enfrentado tantos problemas, como a saída dos irmãos Cavalera, e esteja nas últimas, mas só vou voltar a ouvir esse álbum (ou qualquer outro do Sepultura) em situações como esta lista. Dentro do seu estilo, a banda é ótima, mas não o aprecio.


7° Guns N’ Roses – Use Your Illusion I [57 pontos]

Anderson: Coloquei esse clássico atemporal no terceiro lugar atrás apenas do Pearl Jam e do Nirvana. Isso em função do contexto histórico dos anos 1990, mas se me perguntar qual dos três gosto mais ou ainda ouço, este aqui estaria em primeiro. É um pouco difícil de separar os dois filhos (I e II), mas como sempre tem um preferido, este aqui por apresentar algumas pérolas como “November Rain”, “Live And Let Die”, “Dust N Bones” e, para mim, a melhor música da banda “Don’t Cry” (com a letra clássica), ficou na minha lista pessoal. Em minha opinião, este Use Your illusion é mais pesado, um pouco mais direto ao ponto com músicas rápidas como “Perfect Crime”, por exemplo. Isso talvez derive da participação de Izzy Stradlin que atuava mais ativamente deste material, inclusive deixa a banda nessa época. Acredito que este primeiro álbum tem mais a cara da banda.

André: Que ano foi 1991! Do primeiro álbum, tenho a minha favorita de ambos os Ilusions que é “Right Next Door to Hell”. Embora ultimamente tenho gostado mais do II, tive muitos anos que esse primeiro era o meu preferido e a famosíssima “November Rain” me encantava. A banda estava no auge. E como Izzy faz falta tanto como guitarrista base mas principalmente como compositor.

Daniel: Acho que poderíamos ter unidos os 2 discos do Guns em um voto só, afinal era praticamente um álbum duplo, lançado no mesmo dia, e desta maneira permitiríamos espaço para mais uma obra na lista. Assim, escolhi este à frente do II por questão de momento. Fosse outro dia a ordem seria inversa. Disco excelente com porradas do calibre de “Right Next Door”, “Perfect Crime” e “Back off Bitch”, além de boas baladas como “November Rain” e “Don’t Cry”. Grande álbum.

Davi: O Guns n´ Roses causou um verdadeiro estardalhaço com seu LP de estreia, Appetite For Destruction. Por isso, havia uma grande expectativa do que iriam aprontar em seu próximo álbum. A resposta veio com o ousado projeto Use Your Illusion que, desde sempre, dividiu opiniões. Na verdade, o disco é excelente, só que os músicos não repetiram a fórmula de seu debut e isso incomodou parte dos ouvintes. O novo trabalho era mais variado. Sim, aquele hard rock vigoroso, com vocais berrados e atitude punk rock, continuava presente, mas o novo álbum também trazia referências de blues, classic rock e música clássica (influência perceptível na balada “November Rain”). O tracklist é espetacular, tendo pouquíssimos pontos baixos. As únicas que não me agradam são “Bad Apples” e “Double Talkin´ Jive” (essa última, acho que funciona bem ao vivo, mas não em disco). Se tivesse que citar alguns destaques, contudo, seriam: “Bad Obsession”, “Coma”, “Back Off Bitch”, “Live and Let Die”, “Right Next Door to Hell”, além da já citada “November Rain”.

Diogo: Em comparação com o disco-irmão, este é menos megalomaníaco e bem mais roqueiro, contando com mais faixas curtas e diretas, incluindo algumas cujas demos remontam à época  em que a banda sequer havia lançado Appetite for Destruction (1987). Não à toa, a contribuição de Izzy Stradlin é maior em relação ao segundo Use Your Illusion, e sua ausência foi extremamente sentida após ter deixado o grupo, ainda em 1991, vide o regime exíguo de lançamentos desde então. Dá pra extrair um bom disco de hard rock de mais de 40 minutos apenas do tracklist da parte um, coisa que não acho que sai da parte dois.

Fernando: Para mim a presença da segunda parte já estaria ótima para representar a banda aqui nessa lista. Porém é difícil deixa de lado esse disco também. Na verdade, é que o Guns abusou da criatividade em 1991, apesar de várias dessas músicas já existirem há uns anos. Em “November Rain” Axl tentou de todas as maneiras encarnar um Elton John dos anos 90 e de certa forma chegou bem perto.

Luis Fernando: Meu comentário para II é o suficiente.

Mairon: Sempre achei que I era o preferido dos fãs perante II, afinal, é nele que estão os hits “Live and Let Die”, “Bad Obsession” e “November Rain”, além da versão original (e mais famosa) da baladaça “Don’t Cry”, e que consagraram o Guns N’ Roses no Brasil, ao mesmo tempo que ocorriam duas apresentações inesquecíveis na segunda edição do Rock in Rio (quem viu, viveu um dos momentos mais hilários da TV brasileira, quando Pedro Bial ironizava com um baita show o tempo inteiro, e disse para o Brasil ouvir: “Prestaram atenção no bumbum do Axl Rose??”). Conforme disse acima, prefiro II por conta de “Civil War”, “Locomotive” e “Estranged”, mas o Guns deixou em I a obra-prima “Coma”, uma das melhores de sua carreira, com seus mais de 10 minutos de duração. A variação de ritmos do LP é muito boa, com as velozes “Perfect Crime”, “Back Off Bitch”, “Garden of Eden” e “Right Next Door to Hell” lembrando o velho Hollywood Rose, a pegada “Bad Apples”, o country “You Ain’t the First” e o hard farofa de “Dead Horse” e “Don’t Damn Me”. Temos a participação especial de Tia Alice Cooper no country-psicodélico-metálico de “The Garden”, e até Izzy ganhou um espaço para cantar a bluesy “Dust N’ Bones” e a indecifrável “Double Talkin’ Jive”, uma das pérolas escondidas desse ótimo disco, que marcou época ao lado do seu irmão gêmeo, e ainda hoje, é um dos responsáveis por colocar muita gurizada no caminho do rock ‘n’ roll.

Marcelo: Até pensei em listar esse álbum… Não é um disco qualquer, afinal é o que tem “Live And Let Die”, “Don’t Cry Original” e “November Rain”. Os caras estavam no auge (esse disco vendeu mais de 960 mil cópias no dia de lançamento, recorde nunca superado por nenhum artista solo ou banda na história da música), é verdade, e tocando muitíssimo bem – sem falar na enxurrada de criatividade ao lançarem dois álbuns com 11 músicas cada, quase todas ótimas e algumas excelentes, juntos… Ouvindo-o hoje, 34 anos depois, na íntegra, também me agrada vê-lo na lista final. Muitas das faixas do álbum foram escritas nos primórdios da banda, mas não haviam sido incluídas em Appetite for Destruction, embora possam ser encontradas na Rumbo Tapes, uma das primeiras demos da banda. Discaço.

Marcello: Do Guns, só gostei mesmo do primeiro disco, então vou direto para as músicas. “Dust and Bones” é legalzinha, mas a primeira música a realmente chamar a atenção (infelizmente, não no bom sentido) é a inútil versão (porque nada acrescenta à original, e ainda é estragada pelo vocal) para “Live and Let Die”. Pouco depois, você tem que aguentar 100 kg de açúcar na infame “Don’t Cry”, e quando tudo parece perdido, um violão bluesy introduz “You Ain’t the First” – e na sequência, “Bad Obsession” e “Back Off Bitch” (apesar de estragada pelo vocal irritante) fazem você pensar que o disco vai finalmente ficar bom. Mas aí vêm os nove minutos da torturante “November Rain” – outra doçura, ainda por cima pretensiosa. “The Garden” traz Alice Cooper no vocal e um ótimo solo de Slash, tornando-a aceitável. E daí até o final, o álbum traz a animada e divertida “Bad Apples” e mais um bom solo de Slash em “Don’t Damn Me”, pois “Dead Horse” soa como tapa-buraco e “Coma” é longa demais para sua falta de boas ideias musicais. Considerando os músicos, Slash e o baterista Matt Sorum se destacam com trabalhos consistentemente bons e Izzy Stradlin’ continua seguro como guitarrista rítmico, além de crescer como vocalista, ao passo que Duff McKagan pouco se destaca e o tecladista Dizzy Reed tem poucas chances de se mostrar. Já Axl Rose é simplesmente um dos vocalistas mais insuportáveis da história para mim. O balanço de Use Your Illusion I acaba sendo três músicas boas, três razoáveis, três insuportáveis e sete que não me chamaram a atenção.


8° Ozzy Osbourne – No More Tears [44 pontos]

Anderson: Um clássico, uma produção impecável (agradeça a Duane Baron e John Purdell), um renascimento (mais um) do Madman. Heavy Metal clássico que soava moderno e atualizado, baladas, peso, criatividade, letras emocionantes de um lado, divertidas de outro. Tenho esse álbum como fundamental na minha construção musical e acredito que muitos millenials estão comigo. Há críticas de que sua sonoridade é mais acessível, ou seja, pop, mas de qualquer modo é uma delícia ouvir “Road to Nowhere” e “Mama I’m Coming Home”, ao mesmo tempo que é animado e empolgante a audição de “No More Tears”, “Hellraiser” ou “Zombie Stomp”. Destacaria a ótima forma de Zakk Wylde, Mike Inez e Randy Castillo! Monstros. Meu quarto lugar pessoal do ano de 1991, mas pensando bem poderia ser mais alto.

André: Sempre tive simpatia pelo porra louca mais querido do heavy metal, mas mesmo sendo este o grande êxito comercial da carreira solo de Ozzy, não tenho tanto apreço a este como tenho por The Ultimate Sin, Bark at the Moon e No Rest for the Wicked. Este disco já dá sinais de que as afinações Zakk Wylde de guitarras seriam as prevalentes neste e em todos os próximos que o barbudão loiro fez com o seu chefe e também na sua própria banda Black Label Society. Mesmo sem a mesma consideração, ainda é um bom álbum que se sustenta e “Desire” por exemplo possui riffs de guitarra espetaculares.

Daniel: Considero este o melhor álbum do Ozzy pós Randy Rhoads. Zakk Wylde está detonando tudo e as canções são ótimas, em especial, aquelas em que o saudoso Lemmy Kilmister auxiliou nas composições e que acabariam se tornando clássicos da carreira de Osbourne. Um ótimo disco, mas penso que Blood Sugar Sex Magik, por exemplo, poderia ocupar este espaço. De qualquer maneira, estaria em um top 20 do ano.

Davi: Esse é um trabalho que tem gente que ama e tem gente que diz que é mediano. Para mim, não apenas é um ótimo disco, como é o álbum que considero o mais forte da fase Zakky Wylde. Contando com um time de primeira – incluindo Randy Castillo na bateria, Bob Daisley no baixo e um empurrãozinho do icônico Lemmy Kilmister (Motorhead) nas letras – Ozzy Osbourne veio com um álbum pesado e melódico e retornou à boa forma depois do mediano No Rest For The Wicked. Muita gente associa esse álbum ao grunge. Diria que sim e não. Acredito que a mixagem tenha levado em consideração a então nova fase do rock, tentando trazer um som mais sujo, mais próximo das mixagens que bandas como Soundgarden e Alice In Chains vinham fazendo, mas em termos de construção, acho as composições bem a cara do Ozzy. As baladas “Mama I´m Coming Home”, “Time After Time” e “Road to Nowhere” (minha favorita das 3), funcionam, enquanto canções como “Mr. Tinkertrain”, “I Don´t Wanna Change The World”, “Desire”, “Hellraiser” e “No More Tears” empolgam logo de cara. Tem 2 sons apenas que acho abaixo do restante do álbum: “Zombie Stomp” e “S.I.N.”.

Diogo: No More Tears representa o segundo auge criativo da carreira solo de Ozzy, ponto alto de sua parceria com Zakk Wylde. O guitarrista, inclusive, pode não ter a mesma competência dos seus antecessores, mas formou ótima dupla com o Madman e fez muita falta em lançamentos posteriores sem sua presença. Há de se destacar também o baterista Randy Castillo, que participa de diversas composições, e a presença de Bob Daisley tocando baixo em estúdio, na última das diversas vezes em que Ozzy socorreu-se do australiano quando os outros responsáveis pelo instrumento (e pelas letras) não davam conta do recado. É um riff de baixo, inclusive, que dá a tônica da magnífica faixa-título, carro-chefe do disco, uma das últimas vezes em que Ozzy conseguiu verdadeiramente surpreender seu público com semelhante criatividade. Outro grande destaque para mim é a power ballad “Road to Nowhere”, superior à mais manjada “Mama, I’m Coming Home”, com bela performance de Zakk, e superando, inclusive, as suas baladas oitentistas, que muitas vezes exageram no açúcar. É interessante notar que, apesar de ter sido lançado em 1991, No More Tears mantém uma sonoridade ainda bem alinhada com a década anterior e é rico em músicas que poderiam muito bem estar inseridas em No Rest for the Wicked (1988), como a ótima “Desire” e “S.I.N.”. De No More Tears em diante, é necessário ser muito criterioso em relação à carreira de Ozzy, pois o material fraco supera aquele de qualidade.

Fernando: Com produção polida e a guitarra criativa de Zakk Wylde, No More Tears é um dos discos mais consistentes da carreira solo de Ozzy, comparável até mesmo com os dois primeiros com Randy Rhoads. Traz equilíbrio entre peso, melodia e introspecção, com destaque para a faixa-título, que é quase uma mini-épica, e para “Mama, I’m Coming Home”, uma balada melancólica e comovente. O álbum é um testamento da capacidade de Ozzy se reinventar sem perder sua essência. Na turnê embarcou em ideia de não fazer mais turnês o que resultou na No More Tours. Que dura até hoje.

Luis Fernando: O riff de baixo inicial da faixa título é algo que mexe comigo ate hoje. Foi o disco que reergueu a carreira do Madman depois de um período turbulento, sendo visto como um dos pontos altos de toda a sua discografia e trazendo uma sonoridade mais moderna ao heavy metal. Foi o disco que consolidou a parceria com Zakk Wylde. E, diante de um cenário onde Pearl Jam e Nirvana apareciam como destaques, Ozzy provou que podia fazer algo de extrema relevância, com uma sonoridade mais madura e letras mais honestas, aproximando-se mais com o seu público.

Mairon: Então, o que dizer de Ozzy? O cara já foi meu maior ídolo na música, mas ao longo dos anos, venho cada vez mais me afastando e desapegando de suas músicas. O que ele fez no Sabbath é incrível (nos oito primeiros discos, diga-se de passagem), mas acho a carreira solo muito errática. Este disco em especial é uma apresentação mais madura de um ainda jovem Zakk Wylde, que carrega No More Tears nas costas nas melhores faixas, as quais são a faixa-título, e as subestimadas “Zombie Stomp” e “Mr. Tinkertrain”, sendo a primeira talvez a melhor canção de Zakk ao lado de Ozzy. Mas ouvir “Time After Time”, “Road to Nowhere”, “Mama I’m Coming Home” ou a alegrinha “I don’t Want to Change The World” é dose. Sei lá, por vezes me parece que o disco soa muito anos 80 para 1991, como “Desire” e “S. I. N.” por exemplo. “A. V. H.” contribui um pouco positivamente novamente pela boa performance de Zakk, mas os vocais de Ozzy me soam deslocados do instrumental. É um bom disco, talvez, mas não pega nem Top 5 na carreira do Ozzy.

Marcelo: Não cogitei selecionar o disco do Mr. Madman, embora seja (com alguma controvérsia, eu sei) seu melhor álbum solo – pudera, Zakk Wylde contribui na composição de TODAS as músicas (e algumas, inegavelmente, são totalmente suas, tal qual “I Don’t Want To Change The World”, lindíssima, por sinal)… Gosto demais desse disco, mas 1991 teve bastante coisa boa acima dele. No entanto, diferentemente do Skid Row, não me desagrada vê-lo na lista final.

Marcello: Tirando os dois primeiros, meu disco favorito do Madman, e um dos CDs nais antigos da minha coleção. Ozzy é acompanhado por Randy Castillo (bateria), Zakk Wylde (guitarra), o ex-Uriah Heep John Sinclair (teclados), Bob Daisley e Michael Inez (ambos no baixo), e compôs algumas músicas com Lemmy (incluindo o hit “Hellraiser” – que o próprio Motörhead regravaria no ano seguinte) – o que rendeu alguns contracheques mais polpudos a mr. Kilmister. Com uma sequência de três músicas sensacionais (“Mr. Tinkertrain”, “I Don’t Wanna Change the World” e a baladinha “Mama I’m Coming Home”) abrindo o álbum, Ozzy deixa claro que não está de brincadeira. E após a pop “Desire”, a faixa-título é a melhor coisa que ele fez depois do Sabbath – nunca me esqueço do clip com a garota chorando até alagar a sala inteira. “Zombie Stomp” tem uma introdução tão longa que pensei que seria instrumental, e é uma música que ficou injustamente esquecida. “Time After Time”, “Road to Nowhere” e “S.I.N.” são outros destaques deste álbum fantástico, o último de Ozzy que pode ser considerado bom do início ao fim, cuja turnê foi a primeira de muitas “de despedida” (a famosa No More Tours) dele e gerou o excelente álbum ao vivo Live & Loud, com direito à participação do Black Sabbath original em duas músicas (e à segunda saída de Dio da banda…).


9º Legião Urbana – V [43 pontos]

Anderson: Conheci o Legião Urbana bem tardiamente na minha trajetória musical, uma coletânea trazida pelo meu pai em algum momento entre 2000 e 2004 fez com que eu entrasse em contato com a banda pra valer. Foi uma paixão intensa e possessiva, lembro até hoje as várias noites de internet discada que utilizei para conseguir fazer o download da música “Vento no Litoral”, outros tempos. Atualmente só mais uma banda que não suporto ouvir. Todavia, sobre o grandioso V, é impossível não lembrar de “Metal Contra As Nuvens” e “Teatro Dos Vampiros”. Impossível dissociar esse álbum e a banda do contexto de abertura política pós ditadura militar, das incertezas de um país destroçado econômica, social e politicamente e que mal sabia por onde recomeçar. Acho que as letras refletem isso tudo quando são por um lado críticas e por outro introspectivas abordando do micro ao macro. Dialogavam bem com nossa sociedade e talvez por isso esse material seja tão denso, importante e respeitado, por muitos idolatrado, até hoje. Deu até uma vontade de revisitar o Legião, mas passou rápido.

André: O disco possivelmente mais tristonho da banda. Governo Collor falhando, AIDS, drogas e vida pessoal de Renato Russo em caos se traduzindo em um disco mais soturno mas não menos ótimo dos caras. Mesmo não sendo especialistas em técnica, essa tentativa de soar menos simples caiu bem aos meus ouvidos e o ouço com o mesmo prazer dos demais da discografia.

Daniel: Um bom disco, sem nenhuma dúvida, e em anos menos concorridos estaria tranquilamente entre os 10. Mas 1991 foi um ano especial para a música e, portanto, é um exagero sua presença aqui, ainda mais quando percebo que Blood Sugar Sex Magik, Gish e Badmotorfinger ficaram de fora.

Davi: A fase de criação desse disco não foi nada fácil. O Brasil vivia os reflexos do maldito Plano Collor e Renato Russo vivia dois problemas pessoais pesadíssimos: a dependência química e a descoberta do HIV. Tudo isso refletiu no clima do álbum. Se As Quatro Estações aproximava a Legião de uma linguagem pop, V refletia o oposto, trazia os músicos em clima melancólico. Não apenas as letras refletem seus anjos e demônios, como o instrumental também é um reflexo da época. Os arranjos estavam mais lentos, mais arrastados e, por vezes, mais longos (fazendo com que muitas pessoas enxergassem uma influência do rock progressivo). Eu sou um grande admirador da obra da Legião Urbana, mas sou obrigado a reconhecer que esse é o trabalho deles que menos me cativou. Ok, o texto de Renato Russo continuava impactante, seu trabalho vocal seguia forte e inspirado. No entanto, o repertório não me chama muito a atenção. Tem apenas 3 músicas que gosto muito desse disco que são, justamente, os clássicos “Teatro dos Vampiros”, “Metal Contra as Nuvens” e “Vento no Litoral”. O restante, digamos que trazem algumas boas ideias que poderiam ser melhores desenvolvidas.

Diogo: Ser adolescente nos anos imediatamente posteriores à morte de Renato Russo significava ser impossível passar incólume ao Legião Urbana. Se o trio já era uma das maiores bandas de rock do país e contava com uma base de fãs apaixonada, a perda do ícone trouxe ares messiânicos ao cantor, e o exagero começou a gerar um desgaste que afastou muita gente do grupo e até causou repulsa em tantos outros. Eu fui um daqueles que até havia desenvolvido alguma simpatia pela banda, mas não demorou para que eu a extirpasse da minha vida. Hoje, com ouvidos e mente amadurecidos, não chego a rejeitá-la tanto quanto antes, mas ainda não tenho vontade de ouvi-la. V ainda carrega o erro de tentar ser ambicioso, mas sem conseguir sustentar essa ambição. Pois, verdade se diga, boa técnica não é essencial, mas fica bem mais difícil tentar alçar voos mais altos quando os músicos são instrumentalmente capengas e não conseguem traduzir ideias relativamente interessantes em bons arranjos, e “Metal Contra as Nuvens” ilustra bem esse fato. Para citar outra banda que também desperta amor e ódio em semelhantes proporções, mas cuja capacidade é bem maior, aqui não é Gessinger, Licks e Maltz, é Russo, Villa-Lobos e Bonfá. Boas composições até poderiam se salvar em meio à mediocridade instrumental, mas, sinceramente, para mim elas estão em falta; algumas coisas na segunda metade do álbum chegam a ser constrangedoras. “Vento no Litoral”, contudo, é uma boa canção, e só. O Legião Urbana funcionava melhor quando havia foco e a simplicidade estava ao seu favor, em músicas como “Tempo Perdido” e “Ainda é Cedo”.

Fernando: Tenho um pouco de preguiça com isso. Nessa época já tinha passado minha fase Quatro Estações e entrado de cabeça no metal. Quando ouvi esse disco não gostei e acabei abandonando a banda pelas próximas décadas. Ainda mais por se tratar de um disco mais melancólico e até delicado. Não combinava com o que estava ouvindo na época.

Luis Fernando: O disco prog do Legião Urbana. É um disco que retrata bem o momento em que, tanto banda quanto vocalista, estavam passando. Enquanto vivíamos uma crise econômica e um Plano Collor, Renato havia descoberto ser portador do vírus HIV e ainda enfrentava com seu problema com o alcoolismo. A sonoridade é mais densa, flerta com o progressivo, e traduz um sentimento de melancolia e desilusão. Apesar de ser mais introspectivo e em certos aspectos menos acessível que seus discos anteriores, V é considerado por muitos o seu melhor disco.

Mairon: Um dos melhores discos do rock nacional em todos os tempos, sendo difícil não colocar ele entre os 10 mais, teria que estar por aqui. E que bom que está. O álbum entrou em nossa lista de Melhores Brasileiros dos anos 90, e o que precisei comentar esta neste texto. Discaço que mostra como em algum momento de 1991, concorrendo com Titãs e Engenheiros do Hawaii, a Legião Urbana conseguiu ser a maior banda do Brasil.

Marcelo: Este álbum da Legião Urbana é uma das melhores coisas de todos os tempos em termos de arte no Brasil. Como muito já se falou dele, mencionarei tão somente as referências culturais que Renato Russo trouxe nele (e que, por si só, já justificam ele ser considerado uma obra-prima): 1º a capa remete à Larks’ Tongues In Aspic, álbum do King Crimson lançado em 1973; 2º “Love Song” é uma adaptação de “Cantiga de Amor”, composta em português arcaico pelo trovador português Nuno Fernandes Torneal no século XIII; 3º a faixa instrumental “A Ordem dos Templários” traz a peça “Douce Dame Jolie”, do compositor e poeta francês do século XIV Guillaume de Machaut; 4º “A Montanha Mágica” traz a referência literária no título, que é o mesmo do livro do escritor alemão Thomas Mann, lançado em 1924; 5º a introdução de “O Tteatro dos Vampiros” é uma estilização de “Cânone em Ré Maior”, de Johann Pachelbel, compositor e organista barroco alemão do século XVII; 6º a frase presente no fim da letra de “Sereníssima” (“Tenho um sorriso bobo, parecido com soluço”) foi extraída do livro Tônio Kröeger, também de Thomas Mann, de 1903; 7º o título de “L’Age D’Or” é o mesmo de um filme de Luis Buñuel lançado em 1930, cujo roteiro foi escrito pelo pintor surrealista Salvador Dali; 8º o álbum termina com a faixa instrumental “Come Share My Life”, uma música tradicional do folclore americano do século XIX.

Marcello: Comprei o LP no lançamento, e lembro-me da revista Bizz afirmar que o grupo tinha sido influenciado pelo progressivo (inclusive apontando semelhanças entre a capa com a de Larks Tongues in Aspic). Após a vinheta “Love Song (Cantiga de Amor)” vem “Metal Contra as Nuvens”, a música prog com mais de 11 minutos, bem elaborada, com várias mudanças de ritmo e bom desempenho vocal de Renato Russo. A instrumental “A Ordem dos Templários” é bonita, mas boa parte da atratividade do Legião está nas letras de Renato Russo, e por isso ela perde impacto. Na sequência, “A Montanha Mágica” não cumpre a expectativa deixada pelo título retirado do monumental romance de Thomas Mann (a música é boa, mas ficou longa demais para as ideias que a banda tinha); virando o disco, a gente recebia uma das melhores músicas deste V, “O Teatro dos Vampiros”, engatando a boa “Sereníssima” – mas a sequência de “Vento no Litoral” (lenta, melancólica, que não chega a lugar nenhum) e “O Mundo Anda Tão Complicado” (mais animada, mas com uma letra um tanto fraca para o padrão do grupo) não me disse muito em 1991 e me esqueci completamente dela. “L’Age D’Or” era – e ainda é – a melhor do disco na minha opinião, a única que tenho vontade de ouvir mais de uma vez em sequência. E o disco se encerra com outra instrumental, “Come Share My Life”, que não me atrai. O Legião Urbana enfrentava problemas sérios à época do disco, que, se não é tão bom quanto os quatro primeiros, é melhor que os dois seguintes. Ouvi muito o LP, mas não comprei o CD; ao escutar pela primeira vez em mais de trinta anos, minha conclusão é que a música do Legião Urbana não envelheceu, mas eu sim. É bom, mas longe de “melhores do ano”.


10° Skid Row – Slave to the Grind [41 pontos]

Anderson: Melhor forma do Skid Row, melhor álbum da banda. Em meio ao caos que o rock vivia, expressado bem nessa lista, os caras conseguiram acertar em cheio e dar uma sobre vida pro Glam Rock/Metal no mainstream. É um álbum pesado, visceral, cru mas extremamente bem produzido (agradecimentos a Michael Wagener, que aparece mais de uma vez na lista!). Hinos como “Monkey Business”, a faixa título e a baladíssima “Wasted Time” são repertório obrigatório de qualquer cover da banda (incluindo os “Covers de si mesmos” que os membros e ex-membros fazem por aí).

André: Esse é o Skid Row que eu gosto, com o Sebastião e talz, que fazia Bolan e Sabo engolirem boas doses de heavy metal e hard oitentista ao invés daquele punk e alternativo medonhos que a banda fez depois nos anos 2000. Disco ainda com a cara dos anos 80 e segue sendo muito bom, com belas doses daquelas melodias cativantes junto a um rock enérgico que era a alegria de muitos jovens daquele tempo (e de outros tempos seguintes, como é o meu caso).

Daniel: Eu gosto do Skid Row e acho este um bom trabalho, mas quando me atentei aos álbuns que ficaram de fora para que este entrasse… isto é uma excrescência, pois o Hard farofa já era um zumbi a esta altura dos acontecimentos. Dito isto, destaco músicas como “Monkey Business”, “Creep Show” e a faixa-título, além do fato de Sebastian Bach estar realmente cantando muito bem no álbum. Ficaria em um top 30 de 1991.

Davi: O Skid Row havia feito um ótimo álbum de estreia, mas acredito que ninguém imaginava o que estava por vir em Slave To The Grind. Os músicos seguiram com sua fórmula de criar músicas que mesclavam o hard rock com o heavy metal, além de baladas prontas para tocar na rádio. Só que tudo veio em dobro. O peso das guitarras veio em dobro, a potência vocal de Sebastian Bach veio em dobro. Digo, sem medo de errar, que esse é o disco definitivo tanto do Skid Row, quanto do Sebastian Bach (o melhor trabalho vocal de sua carreira é aqui). “Monkey Business”, faixa responsável por abrir o LP, também foi a escolhida para ser o primeiro single do novo trabalho. Aqui, já era possível ver que a banda havia retornado mais pesada. Faixas como “The Threat”, “Psycho Love”, “Get The Fuck Out”, “Livin´ on a Chain Gang” e “Mudkicker” soam empolgantes e mostram que os caras não estavam de brincadeira. As bandas de hard rock eram boas de baladas e com o Skid Row não era diferente. Trouxeram aqui 3 inspiradíssimas: “Quicksand Jesus”, “In a Darkned Room” e “Wasted Time”. A única bola fora fica por conta de “Creepshow”, uma faixa que não diz muito a que veio. Se tivessem a substituído por “Beggars Day” teríamos tido um álbum perfeito.

Diogo: Eu poderia dizer que Slave to the Grind foi um dos últimos suspiros do jeito oitentista de fazer heavy metal nas posições mais altas das paradas, mas isso seria pouco para defini-lo, pois Slave to the Grind não foi um suspiro, mas um grito de deixar a garganta ardida. Não à toa, é um dos raros discos ligados ao glam metal que até aquele pessoal mais turrão, que não gosta da turma dos cabelos armados, admite curtir. Aliás: chamem de heavy metal, glam metal, hard rock… Os rótulos pouco me interessam, até há alguns lampejos thrash na poderosa faixa-título, o que interessa mesmo é que se trata de uma obra maiúscula, uma evolução em relação ao já ótimo debut e a consolidação de uma banda com personalidade própria em meio a uma cena já saturada e repetitiva. Há, sim, alguns pontos mais baixos, como “Creepshow” e “Riot Act”, mas que se apequenam frente a duas das melhores canções da década de 1990, pelo menos para o autor deste comentário: “Quicksand Jesus” e “Wasted Time”. Sim, pois só essas duas já bastariam para que Slave to the Grind merecesse destaque. Quisera eu que houvesse mais baladas pesadas como essas; sóbrias, bombásticas, mas não apelativas, com belos solos e uma interpretação como a de Sebastian Bach, que vivia o auge de sua explosão vocal. De tirar o fôlego.

Fernando: Com Slave to the Grind, o Skid Row abandonou de vez o glam rock de seu disco de estreia e mergulhou em um som mais pesado e sombrio. Antes de ouvir esse disco eu já tinha ouvido “In A Darkened Room” e “Wasted Time”, assim para mim o disco seria uma sequência do primeiro. Porém faixas como “Monkey Business” e principalmente “Slave to the Grid” mostram riffs densos e vocais agressivos de Sebastian Bach que os aproximava ao heavy metal. Muito fã tabacudo não entendeu até hoje. O álbum foi ousado por apostar em um caminho mais sério e metalizado, e foi o primeiro de hard rock a estrear em #1 na Billboard na era do grunge.

Luis Fernando: Se comparamos com o disco de estreia, esse apresenta uma sonoridade mais pesada, afastando-se do glam metal e explorando um hard rock mais agressivo, quase beirando o metal. Aqui, Sebastian Bach mostra uma extensão vocal muito grande, alternando entra agudos limpos e gritos rasgados. E a dupla de guitarras ainda entregariam riffs mais elaborados e técnicos. Também há um amadurecimento das letras. Foi o disco que trouxe a banda ao Brasil também.

Mairon: Dentre as bandas de hard que marcaram o final da década de 80 e início dos 90, Guns N’ Roses e Skid Row sempre foram as que mais me atraíram. Slave to the Grind para mim é o melhor disco da trupê de Sebastian Bach, misturando elementos essenciais para que os ouvidos fiquem voltados para as caixas de som, seja no peso da faixa-título, no punkzão de “Riot Act”, no rock de “Get the Fuck Out”, na Zeppelina “Creepshow”, na levada mezzo funky de “Monkey Musiness” e principalmente no ritmo embalado de “Psycho Love”, “Livin’ On a Chain Gang”, “Mudkicker” e “The Threat”. O bom do grupo é que não há um destaque individual, o quinteto se completa fazendo música de ótima qualidade, e especificamente, quando fazem baladas, deixam para a eternidade pérolas magníficas batizadas “Quicksand Jesus”, “Wasted Time” e “In A Darkened Room”, essa última talvez a melhor canção da carreira do grupo. Muito legal vê-los novamente nas listas, e acredito também que seja a última presença deles, pois com a saída de Bach, poucos são os que se atreveram a ouvir os bons discos que Rachel Bolan, Dave Sabo e seus comandados lançaram nos anos 90 e 2000.

Marcelo: Só pode ser piada de mau gosto… Quem em sã consciência considera o Slave to the Grind melhor do que o Badmotorfinger do Soundgarden, o Gish do Smashing Pumpkins e o Voodoo Highway do Badlands?!?! Palhaçada. Aproveitarei o espaço, portanto, para dizer que deixaram de fora um disco com “Rusty cage” (que, sozinha, é melhor do que todas as 12 faixas do disco do Skid Row), “Outshined”, “Jesus Christ Pose”, “Searching with My Good Eye Closed”, “Room a Thousand Years Wide” (outra que bota no chinelo as faixas do Skid Row), “Mind Riot”, “Holy Water” (obra-prima subestimada da banda, mais uma que vale mais do que as 12 da banda do Sebastian Bach) e a apocalíptica “New Damage”, que já era a ponte para o Superunknown. Sem mais.

Marcello: Bem melhor do que o primeiro, com a banda mais madura e muito mais peso nas músicas. Deu certo: Sebastian Bach, Dave “The Snake” Sabo, Scotti Hill, Rachel Bolan e Rob Affuso conseguiram mesclar peso e melodias atraentes. A introdução bluesy de “Monkey Business” não ficaria deslocada em um disco do Aerosmith nos anos 70. Na sequência, a faixa-título, rápida e pesada, torna-se um dos principais destaques do álbum; não acompanhei a carreira do grupo posteriormente, mas “Slave to the Grind” (a música) é provavelmente a melhor coisa que o grupo fez. A banda pisa no freio em “Quicksand Jesus”, mas volta a colocar peso em “Psycho Love”, “Living on a Chain Gang”, “Beggars Day” (uma das melhores do disco para mim) e “Creep Show”. A balada “In a Darkened Room” é uma das músicas mais conhecidas do disco e serve para Sebastian soltar o gogó. Depois vem a agressiva, quase punk “Riot Act”, que nunca me chamou a atenção, e, encerrando o disco, a razoável “Mudkicker” e a baladinha “Wasted Time”, outra que atesta que o vocalista estava no auge. Este foi apenas o terceiro disco na história a entrar na parada da Billboard diretamente no número 1, e nem o Skid Row nem Sebastian Bach chegaram perto de repetir o sucesso do disco. É, sem dúvida, um bom disco, mas não o bastante para entrar na minha lista.


Listas Individuais

ANDERSON

1. Pearl Jam – Ten
2. Nirvana – Nevermind
3. Guns N’ Roses – Use Your Illusion I
4. Ozzy Osbourne – No more Tears
5. Skid Row – Slave to the Grind
6. Temple of the Dog – Temple of the Dog
7. Red Hot Chili Peppers – Blood Sugar Sex Magik
8. Legião Urbana – V
9. Sepultura – Arise
10. U2 – Achtung Baby


ANDRÉ

1. Guns N’ Roses – Use Your Illusion II
2. Marillion – Holidays in Eden
3. Metallica – Metallica
4. The Four Horsemen – Nobody Said It Was Easy
5. Sepultura – Arise
6. Pendragon – The Jewel
7. Harem Scarem – Harem Scarem
8. Helloween – Pink Bubbles Go Ape
9. Rush – Roll the Bones
10. Iced Earth – Night of the Stormrider


DANIEL

1. Nirvana – Nevermind
2. Pearl Jam – Ten
3. Guns N’ Roses – Use Your Illusion I
4. Guns N’ Roses – Use Your Illusion II
5. Metallica – Metallica
6. U2 – Achtung Baby
7. Red Hot Chili Peppers – Blood Sugar Sex Magik
8. Sepultura – Arise
9. Soundgarden – Badmotorfinger
10. Smashing Pumpkins – Gish


DAVI

1. Nirvana – Nevermind
2. Metallica – Metallica
3. Pearl Jam – Ten
4. Skid Row – Slave To The Grind
5. Mr. Big – Lean Into It
6. Soundgarden – Badmotorfinger
7. Guns n Roses – Use Your Illusion I
8. Michael Jackson – Dangerous
9. Red Hot Chili Peppers – Blood Sugar Sex Magik
10. Lenny Kravitz – Mama Said


DIOGO

1. Death – Human
2. Dismember – Like an Ever Flowing Stream
3. Mr. Big – Lean Into It
4. Suffocation – Effigy of the Forgotten
5. Sepultura – Arise
6. Sarcófago – The Laws of Scourge
7. Carcass – Necroticism: Descanting the Insalubrious
8. Skid Row – Slave to the Grind
9. Entombed – Clandestine
10. Soundgarden – Badmotorfinger


FERNANDO

1. Metallica – Metallica
2. Guns N’ Roses – Use Your Illusion II
3. Sepultura – Arise
4. Ozzy Osbourne – No More Tears
5. Sarcófago – The Laws of Scourge
6. Skid Row – Slave to the Grind
7. Richie Sambora – Stranger in this Town
8. Harem Scarem – Harem Scarem
9. Nirvana – Nevermind
10. Pearl Jam – Ten

 


LUIS FERNANDO BROD

1. Metallica – Metallica
2. Nirvana – Nevermind
3. Guns N’ Roses – Use Your Illusion II
4. Guns N’ Roses – Use Your Illusion I
5. Pearl Jam – Ten
6. Ozzy Osbourne – No More Tears
7. Massive Attack – Blue Lines
8. Michael Jackson – Dangerous
9. Sepultura – Arise
10. R.E.M. – Out of Time


MAIRON

1. Queen – Innuendo
2. Legião Urbana – V
3. R.E.M. – Out of Time
4. U2 – Achtung Baby
5. Guns N’ Roses – Use Your Illusion II
6. Temple Of The Dog – Temple Of The Dog
7. Pearl Jam – Ten
8. Guns N’ Roses – Use Your Illusion I
9. Skid Row – Slave To The Grind
10. Ney Matogrosso e Raphael Rabelo – À Flor da Pele


MARCELO

1. Soundgarden – Badmotorfinger
2. Legião Urbana – V
3. Sepultura – Arise
4. U2 – Achtung Baby
5. Pearl Jam – Ten
6. Badlands – Voodoo Highway
7. Nirvana – Nevermind
8. The Smashing Pumpkins – Gish
9. Michael Jackson – Dangerous
10. Spin Doctors – Pocket Full of Kryptonite


MARCELLO

1. U2 – Achtung Baby
2. Pearl Jam – Ten
3. R. E. M. – Out of Time
4. Living Colour – Time’s Up
5. Metallica – Metallica
6. Ozzy Osbourne – No More Tears
7. Nirvana – Nevermind
8. Motörhead – 1916
9. Red Hot Chili Peppers – Blood Sugar Sex Magik
10. The Allman Brothers Band – Shades of Two Worlds

Um comentário em “Melhores de Todos os Tempos: 1991

  1. Legal ver os comentários dos consultores sobre os discos e apreciar a variedade de opiniões. Pessoalmente, gostei bastante de ver nas listas individuais coisas como o Temple of the Dog (que foi um disco que ouvi muito, até praticamente enjoar) e o Helloween com o subestimado Pink Bubbles Go Ape, que chegou bem perto de entrar na minha lista na 10ª posição mas acabou perdendo para o Allman Brothers que lançou seu melhor disco em 50 anos em 1991. Fiquei um pouco surpreso com o fato de a maioria das listas se concentrar nos mesmos discos, pois foi um ano fértil em termos de bons lançamentos. E foi bom ver que não sou o único a considerar que o Guns copiou descaradamente o arranjo feito pelo Heaven para Knockin’ on Heaven’s Door – pena que os australianos ficaram na prateleira dos desconhecidos, porque a versão deles é melhor. No mais alguns discos nas listas individuais entraram para minha lista de próximos a ouvir.

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