Datas Especiais: 50 anos de Fruto Proibido

Datas Especiais: 50 anos de Fruto Proibido

Por Marcelo Freire

Se você gosta de rock, é inevitável voltar sempre a Fruto Proibido — quarto álbum de estúdio de Rita Lee e o segundo com a banda Tutti-Frutti — como uma espécie de gênese não apenas da Rita pós-Mutantes, mas de um novo capítulo na história da música brasileira. Lançado em 30 de junho de 1975, esse álbum é a obra-prima máxima da carreira de Rita, bem como, com justiça, um dos pilares mais sólidos e ressonantes da música nacional. Não por acaso, como lembra Rafael Steph em seu excelente artigo A ironia na festa de Rita Lee, o disco “possibilitou todo o movimento rock nas décadas que se seguiram”. E não há exagero algum nisso. Fruto Proibido foi, sim, a semente que germinou o rock brasileiro como linguagem legítima, tropical e urbana.

Rita Lee pelas lentes de Cynira Arruda no ano de 1970. Na época, a artista lançou seu primeiro disco solo, Build Up.

Após sua “saída” (eufemismo para “expulsão”) do grupo Os Mutantes — uma das bandas mais inventivas e radicais do Brasil nos anos 60 e início dos 70 — Rita poderia ter sucumbido ao ostracismo ou à repetição, mas escolheu os riscos. O seu desligamento do grupo gerou vários depoimentos e relatos divergentes ao longo dos anos, incluindo a versão de que ela havia partido por vontade própria. Porém, em 2007, Baptista admitiu ao Whiplash: “Mandei a Rita embora dos Mutantes. Ela era uma banana!“. Em outras entrevistas, Arnaldo explicou que a alusão à banana era uma referência ao Yes: “Porque eu achava a Rita um pouco ‘banana’, muito ‘pra inglês ver’, então às vezes eu prefiro o que é mais Led Zeppelin e não Yes, como a Rita era.

Rita Lee em ensaio de Os Mutantes na Serra da Cantareira (SP), por volta de 1970-71, fotografada por Leila Lisboa Sznelwar, namorada à época de Liminha.

O primeiro dos riscos assumidos foi o de voltar, de mala e cuia, para a casa dos pais. Em Rita Lee: Uma autobiografia, ela revela que chegou a “cogitar a ideia de inventar uma história diferente da real para dizer a eles como justificativa de seu retorno”, mas que, no fim das contas, a fragilidade (ou “vulnerabilidade”, como ela sugere) foi mais forte e ela os confessou: “Me expulsaram da banda e antes que a solidão me atirasse embaixo de um caminhão, lembrei que vocês talvez pudessem me acolher de volta. Juro que é por pouco tempo“. Com isso, ela passa a morar no porão da casa da família, onde começou a juntar os cacos de si mesma (ouça “Ovelha negra” lendo a letra e imaginando-a nessa condição de mulher separada em pleno 1972 num Brasil careta, puritano e machista, e de volta à casa dos pais, morando no canto que lhe cabia: o porão). O segundo risco que correu foi o de montar uma banda com outros roqueiros, sendo a única mulher do grupo. Ao formar a Tutti-Frutti, encontrou o solo fértil e os cúmplices certos para florescer de maneira estrondosa. A parceria com a guitarrista e vocalista Lúcia Turnbull, e a formação com Lee Marcucci (baixo), Franklin Paolillo (bateria) e Luis Sérgio Carlini (guitarra solo) moldaram um som coeso, vigoroso, direto — e ainda hoje incrivelmente moderno.

Rita e seus fiéis escudeiros da banda Tutti-Frutti no quintal de sua casa em SP, no alto de uma colina. Da esquerda para a direita: Luiz Carlini: (guitarrista), Lee Marcucci (baixista), Franklin Paolillo (baterista) e Rita Lee. Foto de Carlos Safker.

Logo na abertura, “Dançar pra não dançar” é um petardo. Os riffs cortantes de Carlini anunciam a entrada triunfal de uma nova Rita: sensual, ácida, irreverente e dona do próprio nariz. A faixa carrega uma tensão libertadora — um convite ao corpo e ao inconformismo. E Rita dança, sim, mas não para obedecer: dança para confrontar, provocar, resistir. Mas é com “Agora só falta você” que o disco estoura. Um hino. Um statement. O grande hit, um arrasa-quarteirão de independência e afirmação. O groove contagiante, mérito do baixo matador de Marcucci, e a interpretação vocal de Rita, cheia de ironia e autoconfiança, de deboche e sedução, fazem da música um marco do pop-rock brasileiro e uma das maiores de nosso rock nacional. E aqui faço um registro que pretende ser um reconhecimento ao qual raramente vejo ser mencionado: a bateria de Franklin Paolillo nessa faixa é não só a melhor do disco como uma das melhores, quiç[a a melhor, já gravada no rock nacional. A canção, embora pop na estrutura, é subversiva na atitude: uma mulher exigindo protagonismo e autonomia num cenário musical (e social) ainda profundamente machista. “No ar que eu respiro / Eu sinto o prazer / De ser quem eu sou, de estar onde estou”. Não é preciso nem enfatizar que ela é direcionada a Arnaldo Baptista, ex-parceiro de banda e ex-marido, e que remete, novamente, ao que ela diz em sua autobiografia quando relembra o seu desligamento dos Mutantes: “Chego ao ensaio e me deparo com um clima tenso/denso. Até que o Arnaldo quebra o gelo, toma a palavra e me comunica – não nessas palavras, mas o sentido era o mesmo – que naquele velório o defunto era eu. ‘A gente resolveu que a partir de agora você está fora dos Mutantes porque nós resolvemos seguir na linha progressiva-virtuose e você não tem calibre como instrumentista’.”.

E então vem “Esse tal de Roque Enrow”, um autêntico manifesto. Rita celebra e satiriza o rock’n’roll com a mesma naturalidade. É deboche e reverência ao mesmo tempo e resume com poucos versos o espírito híbrido e brasileiro do disco. A música tem ares de sátira, mas também é um libelo de amor, na qual ela brinca, mas avisa que sabe muito bem onde pisa. E não é coincidência que essa faixa, assim como “O toque” e “Cartão postal”, tenha a coautoria de Paulo Coelho — ainda antes de sua fama literária, atuando como letrista no mundo do rock com uma sensibilidade mística, provocadora e bem-humorada que dialogava perfeitamente com a persona em transformação de Rita Lee. Vale lembrar que, com Raul Seixas, entre 1973 e 1978, Paulo Coelho compôs 33 músicas lançadas em 5 dos 6 álbuns do período de Raul (a exceção é o disco O Dia em que a Terra Parou, de 1977, sem nenhuma composição da dupla). O solo de saxofone na faixa é do lendário Manito. A colaboração com Paulo Coelho, aliás, é um aspecto fundamental da força poética do disco. As letras que assina com Rita fundem o simbólico com o sensual, o místico com o urbano, sempre de forma ousada, lírica e espirituosa. É nessa costura que se forja o tom subversivo do álbum: um convite a experimentar a liberdade, a transgressão e o prazer como direito existencial.

Paulo Coelho em pose de meditação em 1974, durante a sua viagem ao Deserto de Mojave, nos Estados Unidos, na companhia de Christina Oiticica (autora do clique), então namorada e mais tarde sua esposa.

“Ovelha negra”, por sua vez, transcende a canção e vira ícone, é a balada que virou símbolo de toda uma geração. Uma espécie de autorretrato definitivo (letra e música são suas), em que Rita se assume com a verve e a coragem de quem não se encaixa — e, mais do que isso, se orgulha disso. Musicalmente, é precisa, emocional sem ser piegas. A guitarra de Carlini entra com elegância e força, e o arranjo inteiro respira como um desabafo necessário. Poucas músicas brasileiras dizem tanto com tão pouco e, musicalmente, é uma aula de como fazer uma canção soar eterna. Quem não se lembra de “Foi quando meu pai me disse / – Filha, você é a ovelha negra da família / Agora é hora de você assumir e sumir”. Ainda sobre Carlini, em “Ovelha negra” temos o solo de guitarra mais bonito da música brasileira — e que, segundo o guitarrista, lhe veio “inteiro em um sonho”. Mas há também as pérolas mais discretas do disco — aquelas que o tempo revela com mais nitidez…

A faixa-título, “Fruto proibido”, é uma dessas. O verdadeiro tesouro escondido não só do disco, mas da carreira de Rita Lee. Menos celebrada do que deveria, ela condensa toda a ousadia, sensualidade e potência poética do álbum. A letra joga com símbolos bíblicos (“morde a maçã, vá fundo sem medo”) para falar de desejo — um Éden reinventado por uma mulher. A sonoridade é deliciosamente hard rock, marcada por uma guitarra insinuante e uma batida minimalista que valoriza a entrega vocal. É uma música para se escutar com fones, olhos fechados e alma aberta. Ouvindo-a hoje, 50 anos depois do lançamento do álbum, percebo que a letra genial (que, assim como a música, é de Rita) traz uma atmosfera carregada de mistério e transgressão em umas sacadas quase metafísicas: “Não é nada disso, alguém fez confusão! / Vou dar um tempo, preciso distração / Às vezes cansa minha beleza / essa falta de emoção e de sensação // Quem foi que disse que eu devo me cuidar? / Tem certas coisas que a gente não consegue controlar / Comer um fruto que é proibido, / você não acha irresistível? / Nesse fruto está escondido o paraíso, o paraíso // Eu sei que o fruto é proibido, / mas eu caio em tentação / Acho que não!”. Rita, aqui, fala lindamente de prazer e autoconhecimento feminino em pleno auge da Ditadura Militar!! A música traz um excelente arranjo da Tutti-Frutti — e que recompensa quem mergulha em sua ambiguidade. Ouso dizer que é, juntamente com “Agora só falta você”, a melhor faixa do disco e uma das melhores de nosso rock nacional, sem dúvidas. Méritos para o dream team dela: a gaita maravilhosa é de Carlini, que também manda ver na slide guitar, violão e backing vocal, Rita Lee canta e vem de violão e sintetizador, Marcucci no baixo e cowbell, Paolillo com a bateria e a percussão, Guilherme Bueno no piano e clavinete, Rubens Nardo e Gilberto Nardo nos vocais e o Manito no saxofone, na flauta e no órgão Hammond.

A capa gatefold externa (acima) e interna (abaixo) de Fruto Proibido

Outra pérola imperdível é “Pirataria”, uma das composições mais inventivas e injustamente esquecidas do disco. Começa com um clima quase onírico, e logo se desdobra num balanço fluido, sensual, com uma levada que mistura o groove brasileiro com um tempero folk-progressivo. Com flauta transversal em destaque — num arranjo que evoca o Jethro Tull da fase Stand Up e Aqualung —, a faixa surpreende por sua estrutura híbrida: folk, psicodélica, tropicalista e sensual. Mas enquanto Ian Anderson usava a flauta para tensionar, Rita e a Tutti-Frutti a fazem soar como um sopro libertador, leve e lúdico, ainda que inserido num contexto de crítica social velada. Manito (sempre ele) faz com que a flauta aqui não seja mero ornamento, mas elemento de contraponto melódico que acrescenta leveza e mistério. A letra é cheia de ironia e duplo sentido — uma marca registrada de Rita — e fala de contrabando, liberdade e apropriação, brincando com o próprio conceito de “pirataria” como símbolo de quem transgride as leis do mercado, do amor e da moral. É também uma música que reafirma o lugar de Rita como cronista da rebeldia cotidiana — aquela que vive nos gestos menores, nos prazeres não autorizados, na recusa em obedecer às regras pré-estabelecidas. Na única parceria de Rita Lee com o baixista Lee Marcucci, o resultado é uma faixa hipnótica, dançante, quase ritualística. “Pirataria”, portanto, é o tipo de faixa que escapa dos hits, mas finca raízes profundas nos ouvintes mais atentos. É progressiva sem ser pretensiosa, rica em texturas, e mais uma prova da liberdade estética com que Rita e sua banda trabalhavam nesse álbum. O uso da flauta, nesse sentido, é um gesto ousado dentro do contexto do rock brasileiro da época, que poucos se permitiam explorar com tanta fluidez – a exceção fica com o Secos & Molhados.

Foto de Bob Wolfenson em 1976 para um ensaio.

“Cartão postal” e “Luz del Fuego” mostram o lado mais poético, e ao mesmo tempo político, de Rita. A primeira é uma balada melancólica com sutis camadas emocionais. A segunda homenageia a mítica artista capixaba Dora Vivacqua, símbolo de liberdade sexual e rompimento com padrões de comportamento — exatamente o que Rita representava, de forma pop e acessível. “Luz del Fuego”, mais introspectiva, exibe sua habilidade em fundir imagens líricas com melodias melancólicas e arranjos refinados da excepcional Tutti-Frutti (banda que merecia mais reconhecimento pelos serviços prestados) — destaque para a sutileza dos teclados de Guilherme Bueno e o arranjo de Luiz Carlini.

Do ponto de vista técnico-musical, Fruto Proibido é um trabalho exemplar. A banda Tutti-Frutti exibe uma coesão raríssima, com grooves que misturam rock, soul, funk e psicodelia sem nunca soar forçados. Carlini, em especial, brilha com sua guitarra afiada, mas sempre a serviço da canção. Lúcia Turnbull, embora muitas vezes esquecida nos créditos históricos, é peça-chave na harmonia vocal e na atitude do álbum. Se o álbum é uma obra-prima, deve-se ao som altamente autoral e, ao mesmo tempo, conectado com o que havia de melhor no rock setentista a cargo de Turnbull, Marcucci, Paolillo e Carlini — sem contar o auxílio luxuoso de Manito, Guilherme Bueno e outros músicos.

O impacto do álbum foi imediato: vendeu mais de 200 mil cópias em plena Ditadura — um feito para um disco de rock com protagonismo feminino e linguagem provocadora — aliás, uma mulher lançar um álbum de rock provocador era, em 1975, por si só, um ato político…

Porém, seu legado vai além: abriu caminho para toda uma geração de mulheres no rock brasileiro. Marina Lima, Cássia Eller, Pitty, Tulipa Ruiz, entre tantas outras, devem parte de sua existência artística à trilha desbravada por Rita nesse álbum. No mesmo ano do lançamento, Nelson Motta, em sua coluna do jornal O Globo, avaliou que o disco não apenas marcava o primeiro grande sucesso comercial de sua intérprete, mas também o “primeiro grande sucesso popular de um artista representativo do rock brasileiro dos anos 1970”.

Creio, portanto, que talvez a maior herança de Fruto Proibido seja ter provado, de uma vez por todas, que o rock brasileiro não precisava imitar o gringo para ser autêntico. Ele podia — e devia — ser híbrido, tropical, debochado, dançante e politizado. Rita mostrou que era possível fazer isso com inteligência, senso de humor e altíssimo nível artístico. O disco, cinco décadas depois, ainda tem identidade própria e continua atual, potente, necessário. Em tempos de fórmulas recicladas/recicláveis e conteúdo descartável das mediocridades de streaming, Fruto Proibido permanece como o que sempre foi: um fruto raro, cheio de vida, com sabor de liberdade — e impossível de resistir.

Sensacional compacto duplo lançado em 1976, hoje item de colecionador.

A tempo: em 1976, depois do grande sucesso no ano anterior com o LP Fruto Proibido, a gravadora Som Livre lançou um compacto duplo traz o hit “Ovelha Negra” e três faixas inéditas sensacionais: “Lá Vou Eu”, “Caçador de Aventuras” e “Status”. A mixagem de “Ovelha Negra” e diferente da original e superior tecnicamente. Obrigatório para qualquer amante de rock and roll e fácil de encontrar no YouTube (para comprar, é uma raridade).

 

Track List

  1. Dançar Prá Não Dançar
  2. Agora Só Falta Você
  3. Cartão Postal
  4. Fruto Proibido
  5. Esse Tal De Roque Enrow
  6. O Toque
  7. Pirataria
  8. Luz Del Fuego
  9. Ovelha Negra

14 comentários sobre “Datas Especiais: 50 anos de Fruto Proibido

  1. Sensacional disco, sensacional texto e sensacional lembrança. Mesmo não sendo meu favorito de Rita com a tutti frutti (Entradas & Bandeiras ocupa esse posto), é um discaço para ser enaltecido eternamente não só na música nacional, mas mundial. A análise da letra da faixa-título é uma das melhores leituras que fiz esse ano. Parabéns Marcelo, e mesmo tendo virado a chavinha diversas vezes, Rita tem seus méritos na carreira por discos como este!

    1. Muito obrigado pelas palavras, Mairon, fico realmente lisonjeado pelo reconhecimento, afinal, por mais de uma vez, você escreveu sobre ela aqui no site, logo a minha missão não era fácil.
      A ideia para esse texto surgiu, justamente, da música “Fruto proibido”, que é uma das melhores do rock dos anos 70, seja nacional ou não, portanto fico feliz que tenha gostado do que escrevi sobre ela.

  2. Um dos melhores discos do rock brasileiro, ponto. Não há muito o que comentar sobre “Fruto Proibido”, que é uma obra-prima da primeira à última faixa. Sobre “Agora Só Falta Você”, tenho que destacar o clip com a Rita voando com a Esquadrilha da Fumaça, que me marcou muito e, apesar da produção para lá de simples, é um clássico!

  3. Concordo, Marcello, para mim o “Fruto proibido” insere-se como um dos grandes álbuns de rock da década em nível mundial. Sou fã incondicional do “Entradas e bandeiras” e acho até que são duas obras-primas nota 10, porém o desempate se dá, justamente, nas faixas que menciono como tesouros perdidos: “Fruto proibido” e “Pirataria”, já que “Agora só falta você” e “Ovelha negra” empatam com “Coisas da vida” (juntamente com “Ovelha negra” e “Fruto proibido”, a música mais linda de Rita Lee) e “Corista de rock”. No “Entradas e bandeiras”, mais uma vez, a Tutti-Frutti prova ser a melhor (e mais subestimada e esquecida) banda de rock da década de 70 do Brasil, já com o novo baterista, Sergio Della Mônica, que tocaria depois com a Marina e o Cazuza (e olha que sou fã do Franklin Paiolillo, para mim o melhor baterista que já tocou hard rock neste país) e o Carlini, como sempre, arrebentando nas guitarras. É uma parada difícil… No instrumental e na técnica da Tutti-Frutti, bem como nos arranjos vocais de Rita, “Entradas e bandeiras” ganha de 10 a 9, mas nas obras-primas das músicas, “Fruto proibido” tem as 2 que mencionei que o deixam à frente por 10 a 8.
    Ano que vem, escreverei o texto de 50 anos desse disco, já deixarei agendada essa efeméride.

  4. Uma pequena divergência é sobre o melhor som de bateria. Para mim vai para Falso Brilhante, da Elis. O som daquela bateria para mim é o melhor que já ouvi em qualquer disco, seja ele nacional ou internacional, principalmente em “Como Nossos Pais” e “Velha roupa Colorida”

    1. Aí é briga de gigantes… Quem toca bateria no disco da Elis é o Nenê, craque demais, baita baterista também de jazz e ainda em atividade! Acho que vale a divergência sim, podemos debatê-la.

      1. Aliás, já encaminhando a discussão: o Nenê é covardia, pois tem mais técnica, inclusive de como gravar a bateria, tem mais repertório instrumental… Ele ganha do Paiolillo no geral, sem dúvidas, mas em termos de hard rock, de rock and roll (que é a minha defesa), ele perde, pois é mais jazzistíco – totalmente jazzístico. Não que isso seja ruim, óbvio, só não encaixa com o critério do rock que tracei.
        O sujeito, quando gravou com a Elis, já tinha 10 anos de estrada (ele foi do Quarteto Novo), tocou com Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti e Milton Nascimento no “Clube da esquina 2”, então é Davi contra Golias nas baquetas hahahahehahaha Ótima lembrança, Mairon.

        1. Marcelo, nem vou discutir a questão de técnica x feeling, mas o som mesmo. Acho que aquele som gordo de bateria do Falso Brilhante é inigualável. A qualidade dos caras não tem mesmo como discutir, mas a produção e mixagem, poxa, aquele som é fantástico

  5. Começo dizendo que o hoje cinquentão Fruto Proibido é um bom disco, mas não é parte da minha fase preferida da saudosa Rita Lee, pois sempre preferi os discos que ela gravou depois de seu casamento anos depois com o Robertão de Carvalho (seu grande parceiro musical até o fim da vida), a começar pelo hits “Mania de Você” (1979) e “Lança Perfume” (1980), só para citar dois exemplos. Eu tenho uma opinião um tanto controversa sobre a considerada “primeira obra-prima” de sua fase pós-Mutantes – se não levarmos em conta os álbuns solo anteriores, incluindo o primeiro com a sua então nova banda Tutti Frutti, o subestimado Atrás do Porto tem uma Cidade (1974).

    Afirmo que Fruto Proibido é sim um ótimo disco, mas não é exatamente tudo isso que ainda dizem a seu respeito, pois ainda está muito longe de ser o melhor de toda a discografia geral da hoje falecida artista. Pelo menos seis de suas nove faixas são por mim consideradas como hits: a faixa-título, “Dançar pra Não Dançar”, “Agora só Falta Você”, a super-manjada “Ovelha Negra”, “Luz del Fuego” (que a própria artista regravou anos depois junto com a também saudosa Cássia Eller) e “Cartão Postal” (que até o Cazuzão fez uma bela releitura em seu último disco antes de morrer e também a saudosa Gal Costa em um de seus últimos discos ao vivo). Enquanto “Pirataria” não foi um hit nacional e sim uma canção mais para os fãs, a faixa “O Toque” é uma estranha no ninho, com toques psicodélicos que dão um sabor diferente a audição deste disco.

    Por último, deixo aqui um conselho aos ouvintes: não tentem por favor levar muito a sério “Esse Tal de Roque Enrow” (assim mesmo, como a própria sempre cantava) e sua letra completamente abobalhada. Pois esta é a faixa que mais me torce o nariz quando eu penso neste álbum de 1975 da “Vovó Ritinha e sua Nova Banda”, mas não é por causa daquela versão desastrosa que os caras do Roupa Nova fizeram muitos anos depois (e olha que eu ainda gosto dessa banda). É porque eu acho-a boba demais para ser levada a sério mesmo, para mim a mais faixa fraca da bolacha. Digo isso apenas para não contar a real e longuísima história de como eu conheci esta canção em 2005, atráves do saudoso Programa Raul Gil em sua época dourada na TV Record e o quadro que eu mais gostava de assistir nessa fase: “Jovens Talentos” (cuja temporada de 2005 jamais foi superada nos anos seguintes em outras emissoras), porém posso resumir que aquele foi um momento muito difícil e problemático para mim.

    Enfim, minha nota ao Fruto Proibido por se manter ainda relevante e “delicioso” para os ouvintes nestes 50 anos hoje completados é um 8,5 de 10, apesar dos pouquíssimos defeitos contidos neste álbum. Pois mesmo com dois anos depois de seu falecimento, Rita Lee ainda é um ícone verdadeiramente imortal!

  6. Valeu, Igor, pelo comentário! Saiba que também sou fã da Rita Lee na fase com o Roberto de Carvalho – aliás, deixe-me fazer uma observação: se “Fruto proibido” é uma obra-prima do rock nacional, “Rita Lee” (1979) é uma obra-prima do pop brasileiro, e é o momento em que ela passou a trabalhar com a lendária dupla Lincoln Olivetti e Robson Jorge, arranjadores e multi-instrumentistas que são ícones do soul e do funk brasileiro. Claro, esse disco também marcou o início da parceria de Rita com Roberto de Carvalho, mas da mesma forma que lancei luz sobre a Tutti-Frutti (sem eles, a história não teria as obras geniais da Rita em sua fase roqueira), quero chamar à atenção para essa dupla inigualável da música brasileira, responsável pela sonoridade ensolarada e deliciosamente pop de alguns dos maiores hits da cantora: “Doce vampiro”, “Mania de você”, “Chega mais” e “Papai me empresta o carro”. Eu costumo dizer que em festas nas quais não toca “Chega mais” eu nem vou.

    1. Cara… O álbum de 1979 da Rita Lee é quase todo primoroso (com exceção da faixa “Maria Mole”, que é a que eu menos gosto do tracklist, tal qual “João Ninguém” do disco seguinte), porém o timaço de músicos que tocam nele só abrilhantou o conjunto geral da obra, com a qual tem início a fase que eu mais gosto dela. Quanto ao repertório deste álbum, afirmo que as quatro faixas que você citou são icônicas, mas a minha preferida é a última: “Arrombou a Festa Parte 2” (conheço mais essa segunda parte do que a primeira).

      Só que eu acho o disco de 1980 da Vovó Ritinha bem superior, pois além da citada “Lança Perfume” o tracklist traz também “Baila Comigo”, “Nem Luxo nem Lixo”, “Caso Sério”, “Bem me Quer” e assim vai indo até chegar no final com a minha favorita do LP: a divertida e escrachada canção “Ôrra Meu!” que para mim é a prova maior de que mesmo estando em uma fase mais pop e casada com o Robertão de Carvalho, a saudosa artista ainda não abandonou “Esse Tal de Roque Enrow” que tanto marcou a sua fase antiga com o Tutti Frutti e que voltaria a se repetir em 1983 com “On the Rocks” (gravada em outro disco, mas que é outra pedrada também).

      Mas tá tudo bem, a obra extensa da Rainha do Rock Brasileiro é válida para todos os gostos e críticas!

      1. Muito legais as suas observações, Igor – realmente, o de 1980 é o consensual melhor álbum dela dessa, digamos assim, fase pop, e eu também o admiro absurdamente; assim como a disputa de melhor entre “Fruto proibido” e “Entradas e bandeiras” é duríssima, o mesmo ocorre aqui. Acho os 2 (o de 1979 e o de 1980) irrepreensíveis; fico com o de 1979 por “Chega mais”, que acho uma das melhores músicas de festa do pop mundial, pega pódio junto com “Celebration” do Kool and the Gang e “Don’t Stop Til You Get Enough” do Michael Jackson.

        1. Respeito demais a sua escolha por “Chega Mais’ como a sua canção favorita do álbum de 1979 da Rita Lee (até porque essa já abre o disco em alto astral), mas também te peço com carinho que respeite e concorde com a minha escolha por “Arrombou a Festa Parte 2” no finalzinho da bolacha como a melhor faixa, encerrando bem o tracklist com o mesmo alto astral do começo e uma dose certeira de sarcasmo que transborda em sua letra. Então, tá tudo certo!

          1. Com certeza! “Arrombou a Festa Parte 2” é sensacional!

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