Minhas 10 Favoritas do Alice in Chains

Minhas 10 Favoritas do Alice in Chains

A banda em 1988, 2 anos antes da estreia em LP. Da esquerda para a direita: Jerry Cantrell, Sean Kinney, Mike Starr e Layne Staley. Com pinta de metal farofa, esses quatro foram responsáveis por muita música pesada e sombria

Por Marcelo Freire

Dando sequência à coluna recém-criada do Mairon, venho com minha lista da banda grunge mais heavy metal de todas. Sem destrinchar as canções, apenas cito quais as minhas dez músicas favoritas do Alice in Chains, em que álbum elas se encontram e por que cada uma delas é uma das que mais aprecio da banda. Segue então minha seleção, da décima ao primeiro lugar, e espero nos comentários saber quais são as suas listas.

Layne Staley: morto pelo vício em Spedball, sua voz e jeito de cantar continuam influenciando muitos cantores de rock.

10. “Nutshell” – MTV Unplugged (1996)

Eu tinha 21 anos quando adquiri esse CD num sábado à tarde. Acabara de comprar o meu primeiro carro e andava com a grana contada, então só deu para levar ele e tomar um caldo de cana com pastel na Rodoviária (sabor típico de todo brasiliense que andou muito de ônibus). Voltei para casa ouvindo-o na estrada e que sensação arrepiante! Como uma banda dessas poderia soar tão perfeita nesse formato, meu Deus!? Ok, Jar of Flies e Sap já prenunciavam isso, mas aqui foi uma coisa diferente… Uma versão triste, sombria e psicodélica de uma banda que nunca decepcionava, o baixo mais marcante do que na versão em estúdio, bem como o vocal mais intenso do que na original. Sempre que ouço ambas, prefiro a versão acústica, mais densa e lenta. De toda a série de incríveis acústicos que a MTV teve, esse e o da Legião Urbana são os melhores – na verdade, dentro do espírito proposto pelo formato, acústico mesmo só o do minimalismo de Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá.


9. “Right Turn” – Sap (1992)

Essa é covardia, pois tem Mark Arm e Chris Cornell, o melhor vocalista de todos os tempos. Eu tinha 17 anos quando Sap saiu e, naquela época, nós tínhamos todos os LP’s das bandas de rock dos anos 70, que aprendêramos a gostar com nossos tios, pais e amigos. Eu já curtia Saxon e Iron Maiden (todo adolescente de 15 anos ama Iron Maiden), vindos da década de 80, mas o grunge é a minha vivência roqueira de adolescente! Já pensou ter vivido a beatlemania?! Ter acompanhado os lançamentos de Black Sabbath, Deep Purple, Yes e Led Zeppelin?! Ok, nós curtíamos tudo isso, mas Soundgarden, Nirvana, Alice in Chains, Stone Temple Pilots, Guns N’ Roses, essas eram as bandas para chamarmos de nossas, esses eram os sons que nós apresentávamos aos mais velhos, invertendo as influências.


8. “We Die Young” – Facelift (1990)

Eu tinha 15 anos quando ouvi Alice in Chains pela 1ª vez — e a primeira música que ouvi deles, pasmem, não foi “Man in the Box”, mas sim “We Die Young”. Deixe-me corrigir: a primeira música que vi do Alice in Chains, pois naquela época existia uma coisa que eu agradeço todos os dias por ter vivenciado: a MTV. Só quem viveu nessa época sabe o tanto que era importante ter um canal como a MTV (que estreou no Brasil na TV aberta!); esqueçam internet, celulares, TV a cabo, o lance era jornal, revista, TV aberta e rádio, e a MTV, nos seus primeiros anos, foi a melhor curadoria que um adolescente podia ter para curtir boa música. O clipe passa na minha memória até hoje. Foi aí que descobri Jerry Cantrell (quando enfim comprei o LP, corri para ver de quem era a composição e descobri ser sua).


7. “So Far Under” – Rainer Fog (2018)

Se você dissesse a um fã daqueles típicos órfãos de vocalistas: “Ah, só curto o Black Sabbath com o Ozzy, o Deep Purple com o Gillan, o Barão com o Cazuza, o Genesis com o Peter Gabriel” e por aí vai, que essa era uma faixa inédita do álbum homônimo de 1995, ele acreditaria. Ok, Layne Staley era muito bom, mas o Alice in Chains é Jerry Cantrell, basta ouvir seus álbuns solo, os 3 discos do Alice in Chains sem o vocalista fundador da banda e as fichas técnicas dos discos (ele é, praticamente, o compositor de tudo…) para constatar isso. Uma das melhores músicas deles, aqui temos o que faz o Alice in Chains ser o Alice in Chains – os caras voltaram em uma máquina do tempo para essa faixa! As guitarras soam densas e hipnóticas como sempre, com aqueles riffs em looping que amamos. Ah, e podem jogar as pedras que quiserem, pois não me abalo quando nado contra a maré, até prefiro o mar com menos gente: William DuVall é um cantor subestimado. Ouça sem preconceitos este álbum. A saber: essa canção é de DuVall, ele a compôs sozinho, o que revela que o sujeito entendeu perfeitamente o som da banda na qual entrou e sabe exatamente o que os fãs querem


6. “Brush Away” – Alice in Chains (1995)

Este álbum é um pântano sombrio e profundo… Gostava de ouvi-lo à noite, repetidas vezes. Uma pena o Layne Staley ter morrido tão cedo, mas provavelmente ele morreu porque sua mente era o que víamos em músicas como essa (embora essa composição não tenha letra sua, e sim de Cantrell), pois esse álbum é tão atormentado e apavorante! A cada audição, afundamo-nos mais e mais nas profundezas do inferno. Eu sempre fico esperando o solo cortante e hipnótico e a harmonia inteira nos leva ao escuro da mente. O melhor arranjo do álbum sem dúvidas, na música mais assustadora da banda, composta por Cantrell, pelo baterista Sean Kinney e pelo ótimo baixista Mike Inez, que entra no lugar de Mike Starr neste disco e, além de trazer mais técnica, mostra-se também um bom parceiro de composições (a belíssima “Heaven Besides You”, por exemplo, é sua e de Cantrell).

Jerry Cantrell, uma máquina de riffs.

5. “Grind” – Alice in Chains (1995)

Para mim, “Brush Away” e “Grind” são irmãs, o que falei da faixa anterior aplica-se em quase a sua totalidade aqui, com a diferença de que o refrão parece ser um alívio em meio à escuridão. Aqui temos letra e música de Jerry Cantrell, em mais um exemplo de que ele é o Alice in Chains – e tem gente que jura que a letra é de Layne Staley, tamanha morbidez ela traz (“In the darkest hole, you’d be well advised / Not to plan my funeral before the body dies, yeah”). Como curiosidade, só passou a ser tocada ao vivo após a morte de Staley.


4. “Ain’t Like That” – Facelift (1990)

Essa porrada foi composta por Cantrell, Mike Starr e Sean Kinney – guitarra, bateria e baixo, respectivamente. No estúdio já dá para perceber como a bateria carrega essa música, mas nas versões ao vivo isso é determinante. Não à toa, eles a tocavam emendando “Man in the Box” na sequência, sem chance para dar um respiro. Preste atenção na guitarra cortante já no início que nos fere, sangra a pele, parece caco de vidro, enquanto o refrão assombrado cantado quase no grito por Staley nos mantém hipnotizado, aliado ao também hipnótico riff de Cantrell.


3. “Check my Brain” – Black Gives Way to Blue (2009)

Se esta lista fosse das 10 melhores ao invés das 10 preferidas, eu manteria “Check my Brain” no pódio e ainda lhe daria medalha de prata ao invés do bronze. Guitarras hipnóticas, aqueles vocais perfeitos e harmoniosos, bateria pesada e bem ritmada, baixo pulsante, refrão grudento, o que mais podemos pedir a Deus? Cantrell (antes que você pergunte, sim, a música é dele) é, depois de Tony Iommi, o maior fazedor de riffs de todos os tempos, seu som de guitarra é muito específico. Ouça-a e saia cantarolando, imaginando como deve ser a California. Nos versos “I hung my guns and put em away, oh yeah / The trick of the trade, and by the way, oh yeah”, a expressão “trick of the trade” seria, numa tradução bem coloquial, o que costumamos definir como “o cara tem a manha”, ou seja, o cara manja. Sim, esse é Cantrell, e ele nos canta feliz isso, com o apoio dos vocais de DuVall, que fariam Layne Staley ficar orgulhoso em saber que o Alice in Chains ainda não revelou tudo e que podemos esperar mais coisas quentes deles.


2. “Them Bones” – Dirt (1992)

Na Wikipedia, está escrito que “Dirt  considerado o magnum opus do Alice in Chains, e um dos maiores clássicos da era de ouro do grunge”. Eu concordo. Em “Them Bones” e “Dam That River”, percebemos a alegria deles em estarem ali tocando e cantando aquilo! Inclusive, “Dam That River” é, sem dúvida alguma, juntamente com “Man in the Box” e “It Ain’t Like That”, uma das três músicas mais pulsantes deles! Pergunte a Zakk Wylde se ele gostaria de ter composto alguma música do Alice in Chains e ele lhe dirá “Dam That River”, sem dúvidas! Inclusive, nas apresentações ao vivo com DuVall, eles a desaceleraram e isso a deixou sem impacto algum, ficou ruim – com Staley, eles muitas vezes faziam ao contrário e a aceleravam. Bom, voltemos a “Them Bones”: o que é aquela abertura?! Eu ainda vou escrever uma lista com as 10 melhores faixas de aberturas de discos e, certamente, “Them Bones” será pódio. Guitarra cavalar, bateria e baixo parecem dois tratores e os vocais de Cantrell e Staley lindamente harmoniosos. E aqueles gritos no começo… Dê uma festa e comece-a com “Them Bones” e “Dam That River”, seus amigos vão curtir. Vocês vão achar que é de propósito, mas de quem é tanto a letra quanto a música…? Sim, dele, Jerry Cantrell. Ah, e “Dam That River” é do moço também.


1. “Man in the Box” – Facelift (1990)

É o hino deles. Pesada, intrigante, mais uma que tem sua força nos vocais duplos, na bateria pesada de Kinney, no baixo marcando o ritmo de Starr e na guitarra de Cantrell, essa sempre hipnotizante. Para a minha geração, é ouvir e lembrar de Staley com seus óculos escuros naqueles clipes que reproduziam o show deles. O riff é absurdo, com os vocais o reproduzindo (faça-o agora enquanto lê, todos nós o sabemos imitar). Foi uma boa adolescência, quem tinha 15 anos na década de 90 foi feliz e sabia. A banda continua, é fato, mas se o eterno vocalista do Alice in Chains não tivesse morrido tão precocemente, certamente a produção deles seria o dobro do que temos hoje.

4 comentários sobre “Minhas 10 Favoritas do Alice in Chains

  1. Ótima lista!! Alice in Chains sempre foi um dos favoritos da casa, e na cena grunge para mim só perde para os inacreditavelmente subestimados Screaming Trees. Tive que ir atrás de algumas músicas que não lembrava mais, mas algumas não precisava – e numa nota bem pessoal, minha favorita da banda é “Them Bones”.
    Eu confesso que não dava muita bola para o vocal do Layne Staley até que ouvi pela primeira vez o “Unplugged” – e aí repensei minha opinião sobre o cara, que hoje considero o segundo melhor vocalista da cena grunge (ninguém supera Chris Cornell, outro que infelizmente se foi).

    1. Meu amigo, fico feliz demais que tenha gostado da lista! E “Them Bones” é uma coisa mesmo – se a lista fosse das melhores músicas deles, eu tiraria “Man in the Box” da seleção e “Them Bones” ficaria com o pódio.
      No qusito vocalistas, vejo que ambos concordamos tanto com os vocais do Staley no acústico quanto com o Cornell – acho até que minha próxima lista de favoritas poderia ser dele…
      Um abraço!

      1. Agora me dei conta de que não mencionei no comentário anterior outra favorita minha, que não é muito representativa do som do grupo, mas que acho uma verdadeira obra-prima, que é “No Excuses”. Também me recordo do clip passando direto na MTV quando “Jar of Flies” saiu, e da alegria de encontrar o EP à venda pouco depois. Bons tempos aquele em que M era “Music” na MTV, hehehe…

        1. Maravilhosa! Aquela bateria sincopada do início, se não me engano, foi resultado de um improviso do Sean Kinney, quando chegar em casa vou pesquisar e confirmar isso. E o clipe não é aquele de um cara correndo com uma mala?!
          E, sem surpresas, de quem é a música…? Jerry Cantrell… Realmente, Marcello, “No excuses” é primorosa.

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