Cinco Discos Para Conhecer: Trabalhos Recentes da NWOBHM

Por André Kaminski
O final dos anos 70 e início dos anos 80 foram um período difícil para as bandas de rock pesado. Muitas das grandes bandas setentistas estavam em turbulência. Ou haviam acabado (Deep Purple), perderam importantes membros (Led Zeppelin, The Who) ou passavam por um período de baixa (Black Sabbath). Para ajudar, o punk rock havia tomado parte do público.
Mas eis que no Reino Unido começaram a surgir bandas que deram uma cara nova ao heavy metal. Limaram as influências do blues e começaram a apostar numa sonoridade forte, com guitarras cheias de peso, riffs marcantes e velocidade. Não era novidade, o Judas Priest já fazia isso. Mas pegaram essas características e as potencializaram, indo numa contra-maré do que o mainstream valorizava. E algumas delas acabaram se tornando grandes ou gigantes devido a tudo isso.
Iron Maiden, Def Leppard e Judas Priest se tornaram gigantes neste período. Venom, Motörhead e Saxon ficaram enormes. E mesmo as que ainda sejam menores como Grim Reaper, Raven, Tygers of Pan Tang e Angel Witch, possuem seus fãs fiéis indo aos shows e comprando seus discos.
Começaram a chamar de New Wave of British Heavy Metal. Não creio que seriam tanto um gênero específico dentro do rock, tanto que todas essas bandas acabaram seguindo por sonoridades diferentes. Mas assim como o grunge, elas tiveram um início em comum e eram de uma mesma região geográfica, o que acaba as relacionando de certa forma.
Os discos clássicos dessas bandas estão concentrados nos anos 80, mas venho com essa matéria divulgar trabalhos mais recentes dessas bandas antigas ainda na ativa.
Tank – Re-Ignition [2019]
O Tank é uma banda um pouco mais conhecida daquele período dos nos 80. A banda rachou ao meio em 2007 e então houve duas bandas Tank existindo ao mesmo tempo por um período de 10 anos. Uma do vocalista e baixista Algy Ward que faleceu em 2023 ao qual ele gravava tudo sozinho e gerou 2 discos e esta com a dupla de guitarristas Mick Tucker e Cliff Evans. Contando com David Readman nas vozes, que também fez durante muito tempo parte do Pink Cream 69, Re-Ignition traz aquele heavy metal bem veloz típico da NWOBHM sem muitas novidades (há um tecladinho aqui, uma orquestraçãozinha ali) mas ainda assim muito bom. É aquela crueza que muitos que gostam do estilo querem e por aqui está bem servido.
Traitors Gate – Fallen [2018]
Após muitas mudanças de nome nos anos 80 e apenas um EP gravado em 1985, o baterista Paul House consegue reviver a banda e lançar este disco em 2018. Infelizmente, da formação que gravou este disco, tanto o baixista Steve Colley (câncer) quanto o guitarrista Andy D’Urso (ataque cardíaco) se foram deste mundo em 2021 com apenas 1 mês de diferença entre um e outro. Mas eles deixaram este disco que, se ninguém te avisasse, acharia que era algum álbum perdido do Judas Priest. Por sinal, o vocalista Sy Davies é em tudo parecido com Rob Halford. Tanto na voz quanto na careca. Aparentemente eram as suas influências da época e pelo jeito continuam sendo até hoje. O disco em si é muito bom e vale uma audição se não se importar de ouvir uma outra versão do Priest.
Desolation Angels – Burning Black [2022]
É muito comum as bandas da NWOBHM estarem atualmente com apenas 1 ou 2 membros da formação original, sendo aqui o guitarrista Keith Sharp. Confesso que o vocalista Paul Taylor não me agrada muito, mas o instrumental compensa. Tendo influências mais do power metal e do hard rock, a banda fez um bom disco. “Mother Earth” é uma faixa com um riff principal bem ganchudo. Outras seguem esta linha mais melódica e até umas baladas surgem. O Desolation Angels é mais uma das muitas bandas da NWOBHM que lançaram 1 ou 2 discos e sumiram mas que com a procura por bandas da época começou a aumentar, eles também retornaram na década passada e seguem até hoje. é um disco bem variado, mas se você não exigir muito do vocalista, conseguirá apreciar.
Angel Witch – Angel of Life [2019]
Já o Angel Witch é bem mais conhecido! Principalmente pelo seu primeiro disco auto-intitulado, eles conseguiram uma legião de fãs fiéis que continuam os seguindo mesmo após vários hiatos e mudanças de formação. O líder e alma da banda Kevin Heyborne segue a frente e, apesar da curta discografia deles em quase 50 anos de carreira, não deixa a peteca cair e segue fazendo shows tendo agendado vários junto a Paradise Lost e King Diamond. Neste disco, a receita NWOBHM segue intacta e aquelas guitarras velozes, bateria intensa e letras com um pé no ocultismo e outro na fantasia prosseguem sendo a base de suas canções. Este sim você pode conferir sem medo. Heyborne segue fiel às sonoridades que marcaram a banda nos anos 80.
Quartz – Six [2025]
Eles sendo um pouco mais melódicos que os anteriores, o Quartz não é lá uma banda muito conhecida, mas existe desde 1974! E com a maioria dos integrantes originais em sua formação atual! Foi inclusive a primeira banda do tecladista Geoff Nicholls, famoso por tocar em vários discos do Sabbath. Também apostando em uma sonoridade mais moderna, o Quartz lançou este álbum no mês passado e me impressionou muito com seu instrumental mais cadenciado e que remete ao hard rock. “Give It All You’ve Got” me lembra bastante de algumas faixas mais atuais do Tygers of Pan Tang. Já “I’m a Survivor” me lembrou de alguma coisinha do Diamond Head. Se você curte estas duas bandas citadas, irá gostar muito deste disco do Quartz.