Discografias Comentadas: RPM
Por Davi Pascale
Quem viveu os anos 80, certamente recorda-se do furacão RPM, banda que levou o rock nacional à um novo patamar. Eles são considerados o artista que maior teve projeção na cena de rock do Brasil e também são conhecidos por trazerem inovações tecnológicas nos shows. A banda – que era constantemente atacada pela crítica especializada – agradou ao público fazendo um som moderno e maduro. Os músicos apostavam na onda do new romantic usando e abusando de sintetizadores, bateria eletrônica e letras que oras faziam crítica política e oras versavam sobre amor.
O embrião do RPM ocorreu, em 1978, quando Paulo Ricardo assistia ao ensaio de uma banda cover do Deep Purple, cujo tecladista era Luiz Schiavon. Nesse dia, a banda discutia sobre qual caminho tomar nas composições próprias, se deveriam escrever em português ou inglês. Os músicos queriam uma opinião externa e perguntaram à Paulo o que achava. “Bem… Estamos no Brasil, então acho que tem que ser em português”. A partir dali, nascia uma amizade entre os dois músicos. Não demoraria muito para surgir o primeiro projeto dos rapazes; a banda Aura, que apostava em um rock progressivo instrumental. A banda não vingou e Paulo decidiu focar na sua carreira de jornalista.
O cantor se mudou para Londres, onde trabalhava como correspondente internacional da revista SomTrês. Enquanto estava por lá, trocava cartas com o tecladista falando sobre a nova cena musical. Schiavon comentou, em uma dessas cartas, sobre o estouro da Blitz e o interesse que surgia pela nova geração do rock nacional. A partir daí, começaram a desenvolver o conceito de uma nova banda: o RPM. Paulo voltou ao Brasil em 1983 e os dois começam a colocar em prática o projeto que haviam pensado. Nasce aí, a primeira demo com as canções “Olhar 43”, “A Cruz e a Espada” e “Revoluções por Minuto”. Gravada inicialmente como um duo, a demo foi recusada, mas os músicos não desanimaram. Resolveram lapidar o material, criar novas composições e seguir adiante.
Schiavon decidiu convidar Fernando Deluqui para se juntar ao grupo. Vindo da banda de apoio da ex-Gang 90, May East, o rapaz penou a aceitar o convite do tecladista, mas acabou topando. O primeiro baterista foi um garoto de 15 anos de idade que atendia pelo nome de Moreno Júnior. O músico durou pouco. Ele resolveu abandonar a banda, para focar nos estudos, após poucos shows. Para seu lugar, veio o baterista Charles Gavin (Titãs, Ira!), mas sua permanência também foi curta. Tanto que quando entraram em estúdio para gravar seu álbum de estreia, eles não tinham baterista. É por isso que o Paulo Pagni não aparece na capa de Revoluções Por Minuto. Inclusive, as músicas lançadas no primeiro compacto do grupo – “Olhar 43” e “Revoluções Por Minuto” – contaram com uma bateria programada pelo tecladista.
Assim como acontecia com os demais grupos de sua geração, o RPM teve um compacto lançado antes do vinil. A recepção do disquinho foi morna, mas a gravadora enxergava potencial e resolveu investir nos rapazes. Sabendo que a juventude estava frequentando discotecas, Marcos Maynard pediu para que os DJ´s Iraí Campos, Julinho Mazzei e Grego criassem remixes para o rock “Louras Geladas”. A partir daí, a coisa começou a andar.
Revoluções Por Minuto foi lançado em Maio de 1985. O disco já começa de cara com 3 de seus maiores sucessos: “Rádio Pirata” (um protesto para que as rádios dessem mais atenção aos artistas brasileiros), “Olhar 43” e a balada “A Cruz e a Espada”. Nessa época, era comum os artistas colocarem as músicas mais radiofônicas como primeira faixa do Lado A e primeira do lado B, para que facilitasse a vida dos radialistas na hora de criar a programação. Contudo, era comum também que os artistas pensassem como um produto artístico e foi esse o pensamento de Paulo Ricardo, que decidiu que colocaria todas as músicas mais comerciais no primeiro lado e as demais no segundo.
As duas músicas do compacto foram para o vinil com a mesma gravação. Ou seja, com a bateria programada por Schiavon, sem o P.A. A faixa-título, que havia sido censurada por conta do verso: “Agora a China, bebe Coca-Cola, aqui na esquina cheiram cola” foi escolhida para fechar o LP. O disco é extremamente consistente e conta com outras grandes faixas como “Liberdade/Guerra Fria”, “Sob a Luz do Sol”, “Juvenília” e “Estação do Inferno”. Certamente, o grande álbum do RPM. E, para mim, um dos grandes álbuns do rock brasileiro.
A turnê do álbum foi um estrondoso sucesso e uma versão pirata de “London, London” caiu na programação das rádios. Juntou o sucesso da gravação não oficial com o momento invejável que viviam e o resultado não poderia ser outro. Os músicos se viram obrigados a gravar um LP ao vivo, mesmo tendo apenas 1 disco nas costas.
Rádio Pirata Ao Vivo [1986]
A banda tentou manter o formato de power trio. A ideia dos músicos seria usar um baterista contratado, mas quando fizeram a oferta à P.A., o músico recusou. “Ou me aceitam como integrante da banda, ou estou fora”. A banda tinha interesse no P.A. porque ele era um dos poucos músicos brasileiros que possuía uma (bateria eletrônica) Simmons e decidiram atender seu pedido.
O show do RPM foi muito comentado na época. Parte por conta do uso da tecnologia de raio laser e gelo seco, parte por conta da produção primorosa de Ney Matogrosso. O cantor do Secos & Molhados orientou sobre como se posicionar no palco e mais do que isso, sobre como criar o repertório de um show. Partiu de Ney, a orientação para que buscassem mais músicas para que a apresentação não ficasse muito curta e também foi dele a ideia de criar um momento mais intimista no meio do show. “É importante ter um momento mais calmo, para depois explodir no final”.
A audição é impactante. O público estava histérico e os músicos transbordavam energia. Para que o disco não ficasse repetitivo, os músicos trouxeram todos os momentos inéditos para o LP: as novas faixas “Naja” e “Alvorada Voraz”, além dos covers “Flores Astrais” (Secos & Molhados) e “London, London” (Caetano Veloso). Dentre as regravações, minhas preferidas são “Revoluções Por Minuto” e “Estação do Inferno”, que considero as versões ao vivo ainda mais empolgantes que as de estúdio (que já eram muito boas).
Esse disco foi uma verdadeira febre. É comum, entre aqueles que viveram esse período, brincarem dizendo. “Toda casa que você entrava, quando olhava a coleção de discos, lá estava o Thriller e o Rádio Pirata“. E, de fato, era raro você encontrar alguém que não tivesse esse LP, que chegou à marca de 2.500.000 de discos vendidos. Normalmente, não abordamos trabalhos ao vivo nas discografias comentadas, mas por ter tido todo esse impacto, achei que seria uma falha não abordá-lo.
Homo-Sapiens / Feito Nós (1987)
Antes de gravarem o segundo álbum de estúdio, mais um projeto estava a caminho. Enquanto mixavam o disco ao vivo em Los Angeles, os músicos acompanharam o produtor Marco Mazzola à um show que o Milton Nascimento estava fazendo por lá. A banda foi falar com o famoso ‘bituca’ no camarim e nasceu a ideia de criarem algo juntos. Pois bem, praticamente um ano depois chegava às lojas o LP Mix com apenas duas musicas, ambas inéditas: “Feito Nós” e “Homo Sapiens”.
Os músicos, que eram fãs de Milton, ficaram felizes com a oportunidade de trabalhar com um artista que admiravam, mas a jogada não fluiu tão bem quanto esperavam. Os fãs de Milton Nascimento não gostaram da ideia de ver o seu ídolo trabalhando com roqueiros. O contrário também ocorria. Os fãs de rock não achavam bacana ver os músicos gravando um álbum com um cantor de MPB. Internamente, a parceria também trouxe problemas. Paulo Ricardo e Luiz Schiavon tinham um acordo para sempre dividirem os créditos, independente de quem tivesse escrito o quê. Paulo conversou com o bituca sobre a parceira e ouviu com todas as letras: “Você faz com a sua parte, o que quiser. A minha, não”. O problema é que Schiavon sempre focava nos arranjos e Paulo nas letras. E aqui, os arranjos eram de Milton Nascimento.
O disco tinha apenas 2 músicas: “Homo Sapiens” e “Feito Nós”. Não sei se foi algo combinado entre eles ou não, mas “Homo Sapiens” soa como uma canção do RPM, enquanto “Feito Nós” traz uma pegada mais MPB, mais próxima ao universo do compositor carioca. Parceria bacana, que continha todos os elementos da época, mas nenhuma música inesquecível. Ainda em 1987, chegou às lojas o VHS com um show completo da tour Rádio Pirata.
E eis que chega o tão aguardado segundo álbum. Quando esse disco foi gravado, o quarteto já atravessava um momento delicado. Em 28 de Agosto de 1987, a banda enviou uma carta à CBS anunciando o fim das atividades. Vários fatores ocorreram: uma discussão infinita em cima da divisão de direitos autorais. O baterista P.A. e o guitarrista Fernando Deluqui queriam maior participação nas composições e insistiam para cantar algumas musicas nos discos e nos shows. Havia ainda o fim da produtora de vídeo, por onde lançaram o VHS, que havia tido prejuízo financeiro. Sem contar, no projeto de um filme do RPM que acabou não acontecendo. Na carta, estava escrito apenas divergências musicais, mas anos mais tarde a historia veio à tona no livro Revelações Por Minuto.
Nesse tempo que passaram separados, os músicos ficaram perdidos, sem rumo. A volta era questão de tempo e ocorreu mais cedo do que esperavam. Musicalmente, o disco é muito bom. Depois da mediana “Os Quatro Coiotes”, o álbum dá um salto de qualidade em “A Dália Negra”. O Lado A segue em alta com a balada “Um Caso de Amor Assim”, o rock “Ponto de Fuga” (provavelmente a que mais se assemelha com o repertório do álbum anterior) e “Partners”, a minha favorita desse trabalho. O Lado B tem seus melhores momentos em “A Estratégia do Caos” e “Sete Mares”. “Show It To Me” poderia ter sido melhor elaborada, enquanto “O Teu Futuro Espelha Essa Grandeza” é curiosa pela participação inesperada de Bezerra da Silva, mas a música em si, não empolga.
Os Quatro Coiotes não é um disco ruim, mas é não é um trabalho comercial, por isso não me assusta que o LP não tenha causado o impacto que todos esperavam. Isso sem contar na estratégia equivocada de Paulo Ricardo em negar a utilização de “Partners” na trilha sonora de Vale Tudo, alegando que não queria ver sua musica associada à personagens de novela. Certamente, não foi uma decisão sábia. Naquela época, as trilhas vendiam muito e poderiam ter ajudado a alavancar as vendas do disco que tanto confundiu a cabeça da crítica e do público. Vale citar que, musicalmente, Paulo Ricardo acertou. Esse LP é certamente o álbum que tem seu melhor trabalho de baixo em toda a história do RPM.
O show no Rock In Rio foi bem falado. Não demorou muito e Paulo quis tentar uma nova encarnação. Mais uma vez, convidou Schiavon e, mais uma vez, o rapaz negou sua participação e uso do nome. Depois de muita discussão, o tecladista autorizou que utilizassem o nome com a condição de que tivesse outra palavra na frente. Paulo Ricardo usou a velha tática de colocar o nome do cantor à frente do grupo. Fora do Brasil, essa tática era comum. Alguns exemplos? Eric Burdon and The Animals, John Kay & The Steppenwolf, Frankie Valli and The Four Seasons, a lista segue. Pois bem… P.A. disse que só retornaria se fosse para voltar a banda toda. Fernando Deluqui (que já tinha participado dos dois primeiros trabalhos solos de Paulo Ricardo) foi em frente. Completavam o time; o tecladista Franco Júnior e o baterista Marquinho Costa.
Os músicos decidiram atualizar o seu som. Novamente, tentaram trazer uma sonoridade que estava em alta no exterior e que estava sendo pouco explorada no mercado brasileiro. Com isso, resolveram flertar a sonoridade deles com o hard rock. Sem dúvidas, esse é o trabalho mais pesado tanto da carreira de Paulo Ricardo, quanto do RPM. Haviam ainda mais duas similaridades entre esse disco e o debut: as letras (oras românticas, oras de crítica política) e o modo de dividir o LP com as musicas mais pesadas em maior ênfase no Lado A e as mais pops com maior ênfase no Lado B. Destacam-se “Gênese”, “Pérola”, “Ninfa, “O Fim” e “Veneno”. Embora seja um excelente disco, as vendas não foram boas. O retorno, mais uma vez, não vingou e Paulo Ricardo voltou a focar em sua carreira solo. Mas, esse ainda não seria o fim definitivo do RPM. Após uma bem sucedida carreira romântica, o cantor fez um novo retorno em 2002, contando agora com o apoio da MTV.
MTV Ao Vivo [2002]
A MTV estava dominando o mercado com a série Acústico MTV e convidou o grupo para gravar um álbum no formato. O músicos toparam fazer algo com a emissora, mas decidiram fazer algo diferente. Queriam manter o ar de novidade e, por isso, optaram por criar arranjos eletroacústicos. Os shows, mais uma vez, trouxeram novas tecnologias. Decidiram utilizar um telão 3D, além de uma orquestra acompanhando a banda.
O show acabou sendo lançado como parte da série MTV Ao Vivo. A banda estava lidando com outra época, outra geração, porém haviam poucos álbuns para explorarem. Eles atualizaram o visual, atualizaram a sonoridade (com P.A. tocando uma bateria tradicional no lugar da bateria eletrônica e Deluqui fazendo bastante uso de violões), precisavam ter alguma novidade no repertório também. E assim foi… Além de resgatarem músicas de seus álbuns dos anos 80, eles trouxeram algumas faixas inéditas – como as ótimas “Fatal” e “Rainha” (uma recriação de “Girl” do Projeto S) – além do novo hit “Vida Real” (trilha do Big Brother Brasil).
Havia ainda uma homenagem ao Renato Russo – que surgia fazendo um dueto em “A Cruz e a Espada” – e uma homenagem ao Cazuza com uma boa versão de “Exagerado”. Obviamente, eles não tiveram a mesma projeção da década de 80, mas causaram barulho. Os shows estavam vendendo bem, as músicas estavam voltando a tocar nas rádios, até que chegou o momento de dar continuidade e criar um álbum de inéditas. Paulo Ricardo passou o nome da banda para o nome dele (o que deixou Schiavon puto) e, para piorar, os músicos tinham visões diferentes de como a banda deveria soar. Schiavon defendia um som mais nostálgico, calcado em Revoluções Por Minuto, enquanto Paulo Ricardo queria manter o espírito de inovação e trazer novas influencias. Juntou um problema com o outro e tivemos mais um fim do RPM.
Em 2007, foi colocado no mercado um box intitulado Revolução. O pacote trazia os 3 primeiros álbuns, um CD de raridades (incluindo os duetos com Milton Nascimento e a ótima versão de “Gita”) e um DVD com o VHS Radio Pirata, acrescido de alguns (poucos) bônus. Infelizmente, o produto ignorou o álbum lançado em 1993 (tanto a versão em português, quanto a raríssima versão em espanhol ficaram de fora) e o CD/DVD da MTV. De boa, dava para fazer um volume 2, incluindo esses 3 discos e adicionando também as musicas que já haviam sido gravadas em 2003 e que ficaram perdidas.
E eis que finalmente os fãs tiveram a oportunidade de ouvir um trabalho de inéditas com a formação clássica do RPM. E vieram com um CD duplo!!! O primeiro era o novo trabalho, enquanto o segundo trazia alguns remixes das novas canções. Tem a ver, uma vez que o primeiro hit deles foi uma versão remixada de “Louras Geladas” como comentamos no início desse texto. O álbum traz a mistura de rock com elementos eletrônicos que acabou se tornando a marca do grupo, mas esse não é um álbum nostálgico. Eles trabalharam com os elementos que estavam em voga na época. Paulo Ricardo chegou a dizer em entrevistas que haviam se inspirado em grupos como Blur, The Killers e Muse para criar o novo material. A ideia era boa, mas o resultado final poderia ser mais impactante.
O disco é legalzinho, mas deixa aquele ar de ‘esperava mais’. Pelo tempo que ficaram sem gravar nada, poderiam ter vindo com um material mais forte. Há bons momentos como “Problema Seu”, “Deusa das Águas”, “Elektra”, “Cassino Royale” e “Crepúsculo”. No entanto, músicas como “Muito Tudo”, “Pessoa X”, “Vidro e Cola” e “Santo Graal” mereciam arranjos melhores. A releitura de “Ninfa” também não precisava. Não chega nem perto da linda versão do álbum de 1993. No disco de remixes, as que mais me chamaram a atenção foram o single “Dois Olhos Verdes” (que, honestamente, prefiro o remix à versão original) e “Cassino Royale”.
O grupo prometeu o lançamento de um novo DVD ao vivo e um novo trabalho de estúdio. Nem uma coisa, nem outra. Na hora de sentarem para compor o novo material, mais um desentendimento e mais uma separação. Em uma entrevista que vi de Paulo Ricardo, o cantor afirmou que havia pedido um tempo. Dizia que não tinha músicas que soassem como RPM, que não queria gravar qualquer coisa, e que os demais integrantes não concordaram com a pausa. Paulo foi expulso da banda e os músicos contrataram Dioy Pallone, ex-integrante do Carrão de Gás, para seu lugar. Finalmente, Deluqui realizaria seu sonho de cantar no RPM, mas… Será que a decisão foi acertada?
Sem Parar [2023]
Sem Parar chegou às lojas em 2023 diante de muita polêmica. O público se dividiu com a lavação de roupa suja e lamentou a triste situação que atravessavam. O novo álbum deixa claro a situação delicada que enfrentavam. O baterista Paulo Pagni, que faleceu em 2019 por complicações de saúde, toca em apenas 2 faixas do disco: os rockões “Ah! Onde Está Você?” (que, por alguma razão, tem alguns licks que me remeteram à “Que País É Este?”) e “Escravo da Estrada” (faixa que considero a melhor do álbum). O restante do material foi gravado por Kiko Zara, músico que substituiu P.A. em algumas apresentações e que acabou sendo efetivado. Luiz Schiavon, que sempre foi um nome importante no RPM, aparece apagado. Os teclados no (bom) single “Sem Parar” traz uma timbragem bem magra e, em vários momentos ao longo do disco, o som do instrumento está bem atrás.
Quem ganhou bastante destaque na mixagem foi o baixista/cantor Dioy Pallone e o guitarrista Fernando Deluqui, que aqui já assumia a postura de dono do RPM. Gostei do trabalho de guitarra em “Promessas”. O disco tem músicas bem bacanas como “Luar Neon” e “Ritual”, além das já citadas “Sem Parar”, “Ah! Onde Está Você” e “Escravos da Estrada”. Agora… É nítido que eles poderiam ter tido um cuidado maior com a parte de gravação/mixagem e é nítido que falta um vocalista na banda. Enfim, o disco é bom, mas deixa a impressão que, com um pouco mais de cuidado, poderia ter sido muito melhor.
Quando o álbum já estava anunciado para pré-venda, chegou a notícia do falecimento de Luiz Schiavon. A banda seguiu adiante com os shows tendo a participação dos músicos Tato Andreatta e Luis Gus Martins. Depois de uma interminável briga entre Deluqui e Paulo Ricardo sobre a utilização da marca RPM, os músicos entraram em um acordo parecido ao de 1993, e um novo nome foi adotado RPM: O Legado. A última notícia que tivemos foi de que Dioy Pallone e Luis Martins haviam saído do grupo. Para o lugar de Dioy, veio o músico Fabio Pelissioni, que já havia trabalhado com o guitarrista no projeto Delux. Para o lugar de Luis Martins, ninguém foi adicionado. A banda segue na estrada com Fernando Deluqui (guitarra/voz), Fabio Pelissioni (baixo, voz), Kiko Zara (bateria / backings) e Tato Andreatta (teclados). Enquanto isso, nós fãs, seguimos torcendo para que Fernando Deluqui e Paulo Ricardo se entendam e voltem a tocar juntos no futuro.
Caramba, que belo texto, Davi Pascale, muito obrigado por compartilhar!
Li e reli com a tristeza impressa em cada frase, do que poderia ter sido e não aconteceu… Somente quem tem mais de 50 anos sabe o que foi o RPM! Em 1985 eu era um garoto de 11 anos, o mundo era outro, ouvia-se muito rádio e a TV era o nosso portal para as coisas do mundo e SÓ TOCAVA RPM nas rádios!! Todo dia, toda hora, nos nossos walkmans, o que rolava era RPM! Nos programas de TV, Chacrinha, Clube do Bolinha, Perdidos na noite, só dava RPM. Ah, outros tempos… No natal de 1986, aquele garoto de 12 anos ganhou em um amigo-oculto o disco ao vivo deles que todos tinham, caramba, que natal massa foi aquele, rolava direto na vitrola lá em casa, nas festas, nos encontros, se não levasse o disco, nem entrava nas casas…
Depois disso, ainda que os fãs vejam muitas pérolas no que eles lançaram, sejamos honestos: foram sombra do meteoro que tomou conta do Brasil entre 1985-1987, daí a tristeza na hora de ler esta discografia comentada e descobrir que o que não conheço deles não me desperta curiosidade… Uma pena.
Tenho vontade de ler a biografia da banda, essa sim me deu vontade agora de comprar. Dinheiro, drogas… Um roteiro conhecido, mas sempre impressionante.
Abraços.
Muito obrigado, Marcelo.
Realmente, é uma pena. Se eles tivessem conseguido segurar a onda ali na década de 80, hoje eles seriam um dos maiores nomes da música brasileira. Não ia ter pra ninguém. E o mais triste é notar que eles perderam a chance 2 vezes. Porque ali em 2002, embora fosse em uma proporção menor, eles conseguiram uma projeção bacana. Se tivessem mantido ali, hoje eles poderiam ter a projeção que tem um Capital Inicial, o que já é bom. Lembro que assisti eles no Olympia, nessa época. Eles fizeram 2 noites com ingressos esgotados. Ou seja, não iriam mais tocar em ginásios e arenas, mas poderiam encher grandes casas de shows, o que já seria interessante. Enfim, uma pena…
Em relação ao auge deles ser de 85-87, eu concordo. Aquele foi o auge mesmo, indiscutível, mas tem coisas bacanas depois…
Belo texto. Será que sou o único que acha a versão do KLB de “Olhar 43”, muito melhor que a original?
Muito obrigado, Ronaldo. Em relação à versão do KLB, eu não curto. Quem fez uma versão bacaninha do RPM foi o Engenheiros do Hawaii. A versão deles de Rádio Pirata ficou bem legal.
Ah, o RPM! Ô bandinha complicada que eu adoro.
É lamentável que seus egos e as drogas meio que mataram a carreira dos quatro sujeitos que poderia ter sido muito maior. Paulo Ricardo até fez algum sucesso na carreira romântica, mas esta tinha data de uns 5 anos para terminar. Schiavon ficou um tempão sem produzir muita coisa sendo líder da banda do Faustão. Mas ainda ganhou um bom dinheiro fazendo temas para novelas.
Deluqui bateu cabeça com suas bandas que não deram em nada (e ainda tocou 2 anos no Engenheiros do Hawaii) e P.A. meio que se carcomiu para os vícios.
Eu até vejo com bons olhos o Deluqui tentar levar o legado da banda adiante, mas ele insiste em cantar. Aquele tom de voz grave e fanho dele não combina com o RPM. Combinaria apenas se ele montasse uma banda de rock insdustrial mesmo.
Enfim, o RPM sempre será aquela banda que poderia ter sido mas não foi. Uma pena mesmo, mas temos aí boas composições principalmente dos anos 80 para curtir.
Sim, temos ótimas composições para curtir. O primeiro disco é obra-prima.
A minha teoria é de que se o RPM tivesse acabado depois do Rádio Pirata Ao Vivo, o lugar entre as grandes bandas de rock brasileiro ainda estava garantido a eles. Mas infelizmente as constantes brigas entre seus membros (que se odiavam muito a partir daí) e os insípidos lançamentos que vieram a partir do disco dos Quatro Coiotes só reforçaram essa negativa impressão aos olhos do público…