Discografias Comentadas: Rammstein

Discografias Comentadas: Rammstein

Por Pablo Ribeiro

Formado mais de 3 d‪écadas‬, o Rammstein foi idealizado pelo Richard Z. Kruspe, um fugitivo da miséria imposta pelo comunismo na Alemanha oriental, retornou à sua Berlim natal com a queda do famigerado muro que separava a cidade. Foi então que encontrou os outros 5 integrantes que formariam a banda até hoje: o também guitarrista Heike Paul Hierschie (Paul Landers), o baixista Oliver “Ollie” Riedel, o baterista “Christoph “Doom” Schneider e o tecladista Christian “Flake” Lorenz. Já no ano seguinte o grupo chamou uma boa dose de atenção com seu álbum de estreia, e a partir de então, sua popularidade cresceu a cada lançamento, atingindo níveis estratosféricos em menos de quinze anos


HERZELEIDHerzeleid [1995]

O primeiro disco do quarteto já tem qualidades suficientes para inclusive merecer um “rótulo” musical próprio (consequentemente aplicado à todo o som do grupo a partir de então). Chamado de “Neue Deutsche Härte” (Novo Peso Germânico, em uma tradução/adaptação bem chutada), o estilo define muito bem o que está contido no álbum: Guitarras gêmeas cuspindo riffs industriais, cozinha “bate-estaca” e teclados que equilibram sua sonoridade entre efeitos hi-tech e ambientações claustrofóbicas. Tudo isso perfeitamente arrebatado pelo ameaçador vocal de timbre grave e entonação dura do vocalista Till. Destaque para “Asche Zu Asche“, “Du Riecht So Gut”, “Rammstein” e a balada “Seeman”. Um dos melhores discos de estreia da história do rock nas últimas décadas


SEHNSUCHTSehnsucht [1997]

Se o disco de estreia dos alemães apontava uma carreira de sucesso, o segundo álbum, lançado dois anos depois foi a confirmação. Contendo o maior sucesso do grupo, a canção “Dü Hast“, o disco logo atingiu altíssimas posições nas paradas da Europa, tanto pela qualidade de suas composições, quanto pela performance soberba do sexteto. A banda soa demolidora em números como “Engel”, “Bück Dich“, “Klavier”, “Küss Mich“, a faixa título e a própria “Dü Hast”. Foi nessa época que a banda começou sua dominação em outros territórios, como as américas, graças ao convite do Kiss (através do baixista Gene Simmons) para que os alemães abrissem os shows da reunião do quarteto mascarado no final da década de 90. Quem viu os shows dessa turnê aqui no Brasil, pode conferir o poderio dos Rammstein ao vivo. Muitos inclusive, mantém até hoje a ideia de que o shows dos caras foram superior aos dos anfitriões. Não seria loucura concordar.

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Rammstein ao vivo

MUTTERMutter [2001]


Foram quatro anos de espera entre o disco anterior e o terceiro disco do Rammstein. A espera valeu… Mutter é o álbum mais bem sucedido do sexteto até agora. De suas onze músicas, seis tornaram-se singles, todos atingindo o topo das paradas pelo mundo todo. Com uma sonoridade de modo geral um pouco mais acessível (embora não “pop”) que seus antecessores, o álbum atingiu em cheio o gosto tanto dos fãs quanto dos iniciantes no som da banda. A base de admiradores do conjunto aumentou substancialmente, refletindo o impacto causado por faixas como “Mein Herz Brennt“, “Links 234″, “Sonne“, “Feuer Frei!”, “Ich Will” e a faixa título. Mutter foi o disco que definitivamente tornou o Rammstein em uma banda do primeiro escalão. O melhor álbum para começar a conhecer a carreira da banda.


REISE_REISEReise, Reise [2004]

Com a popularidade na estratosfera, principalmente em solo europeu e japonês, a banda se torna – ainda que minimamente – a um material menos acessível que seu disco anterior. Mesmo assim o disco agrada em cheio a legião cada vez maior de seguidores do sexteto. Não é pra menos, já que é impossível não se render a pauladas do nível de “Mein Teil”, “Keine Lust“, a irônica “Amerika“, a faixa título ou a bela e melancólica “Ohne Dich“. Resultado: outro disco de sucesso, mais posições altíssimas nas paradas, e outros milhares de fãs para a banda.


ROSENROTRosenrot [2005]

O sucessor de Reise, Reise é também uma especie de continuação dele, contando com seis canções que sobraram de suas sessões mais cinco músicas compostas para completar o disco. Sendo assim, musicalmente os dois álbuns se complementam, sem no entanto configurarem-se em material óbvio ou repetitivo. Outro belo acerto da banda, Rosenrot tem qualidades de sobra, e novamente foi sucesso de público e crítica. Dentre as músicas do álbum, todas mantendo o alto nível característico da banda, destaque para a faixa título, “Benzin”, e “Mann Gagen Mann“. Mais um ponto pros caras…


LIEBE_IST_FUR_ALLE_DALiebe Ist Für Alle Da [2009]


Demorou quatro anos para que o sucessor de Rosenrot chegasse às lojas. E adivinhe? Mais um puta disco dos alemães. A quase meia década de espera se mostrou válida ao se escutar pedradas Neue Deutsche do naipe de “Haifisch”, “Ich Tu Dir Weh“, “Pussy“, “Rammlied” e a faixa que dá nome ao álbum. Todas dignas da carreira construída até aqui pela banda. Em relação aos álbuns anteriores, o disco é sensivelmente mais experimental, mas nada – nem de longe – que transgrida o que o grupo produziu até então. Com esse álbum a banda fechou um capítulo de sua historia, com uma pausa estratégica na banda para recarregar as baterias.

BAND
Os alemães do Rammstein

Após o lançamento de Liebe Ist Für Alle Da, a banda se manteve ocupada entre extensas tours e materiais individuais de Till (com o excelente Lindemann, projeto com o sueco Peter Tägtgren, guitarrista e vocalista do Hypocrisy) e Kruspe, (com o interessantíssimo Emmigrate), o que manteve a banda longe dos estúdios por praticamente um década.


(ohne titel) [2019]

Uma década separam o disco de estúdio anterior do Rammstein deste último lançamento que, além de não ter título, é embalado em um material gráfico com uma estética bem minimalista. Musicalmente, entretanto, o álbum apresenta toda a riqueza musical dos alemães, unindo o já tradicional Neue Deutsche Härte ao rock industrial, fusão que caracteriza o som banda desde seus primeiros anos. Fato que pode ser comprovado já na abertura da bolacha, com “Deutchland”, que chegou a render acusações de apologia ao nazismo por parte da banda. Quando, na realidade, tanto a música quanto seu videoclipe são justamente uma crítica à esse tipo de ideologia e – principalmente – da relação ambígua que muitos alemães ainda tem com o tema. “Radio” faixa seguinte justifica ter sido lançada como segundo single do álbum, uma vez que uma daquelas faixas que praticamente definem o lado mais acessível do Rammstein, lembrando bastante a icônica – e espetacular – “Dü Hast” (música que tornou a banda em um fenômeno mundial por volta do final do século passado quando foi incluída em diversas trilhas sonoras). Outra que foi lançada como single foi a contagiante “Ausländer”, com uma melodia mais otimista e um ritmo quase dançante (para os padrões do Rammstein, evidentemente), e uma letra esbanjando sarcasmo. É possível ainda destaques são “Puppe” com seu clima opressor e quase claustrofóbico, a balada “Diamant”, com sua atmosfera pessimista e “Tattoo”, que lembra bastante o material mais direto do início da careira da banda, mas todas as 11 faixas do álbum são excelentes e merecem atenção.


Zeit [2022]

Lançado no primeiro semestre de 2022, Zeit é um disco que poderia sequer ter existido, caso o contexto mundial à época fosse diferente, já que, devido à pandemia de COVID-19, boa parte da tour (que duraria de 3 a 4 anos) do álbum anterior teve que ser adiada. No entanto, a pausa forçada acabou por estimular a criatividade da banda que, mesmo à distância produziu um material digno de seus momentos mais criativos, caso de “Zick Zack” (com uma sonoridade que lembra algumas canções de “Mutter”), da pesada – e debochada – “Dicke Titten” (cujo título dá uma ideia do tema da letra, mesmo pra quem não manja de alemão), “Angst” onde os riffs pesadíssimos dialogam com um clima soturno do teclado e do vocal angustiado de Lindemann. Um dos maiores destaques do disco fica justamente com a faixa título – e primeiro single – da bolacha. Uma semibalada inspiradíssima cuja letra trata de nossa impotência frente à forma de como tempo transforma nossa existência no decorrer de nosso inevitável caminho rumo à morte. Com Zeit novamente o Rammstein entregou um disco coeso e consistente, no qual todas as faixas tem qualidade o suficiente para justificarem sua presença no álbum. Como curiosidade, cite-se a arte da capa, que apresenta uma – bela – foto de autoria do veterano músico canadense Bryan Adams.


Com o fim das restrições referentes à pandemia, o Rammstein voltou à estrada, onde se manteve até o meio de 2024. Nesse meio tempo, Kruspe colocou no mercado o 3º disco do Emmigrate, The Persistence of Menory. Já Lindemann lançou seu primeiro disco solo, Zunge, em 2023. No momento em que essa resenha está sendo publicada, não há nenhum plano previsto por parte banda, mas em se tratando de Rammstein, qualquer coisa é possível!

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