Discos que ficariam melhores se as sobras de estúdio estivessem incluídas neles – parte 2
Por Micael Machado
Como prometido, este texto dará continuidade à matéria já publicada aqui neste site, citando mais cinco discos que, na minha visão, não são necessariamente ruins, mas poderiam ser ainda melhores se algumas “sobras de estúdio” ou faixas lançadas apenas como “lados B” de singles (ou tocadas apenas ao vivo) fizessem parte do track list oficial do disco finalizado. Reforço que estas escolhas seguem somente o meu próprio gosto pessoal, e deixo ao leitor que se sinta livre para concordar ou discordar nos comentários, além de sugerir outros álbuns que poderiam passar pelo mesmo “processo” de “melhoria” em sua versão mercadológica. Sendo assim, seguem minhas escolhas para esta segunda parte, novamente em ordem cronológica de lançamento.
1. In the Court of the Crimson King (King Crimson – 1969)
Assim como ocorre com Red, a estreia do King Crimson é um dos meus discos favoritos do grupo, mas eu nunca consegui entender ou gostar da primeira faixa do lado B, chamada “Moonchild”. Da primeira parte, mais calma e com vocais, eu gosto bastante, mas, quando a música se torna instrumental e mais abstrata, minha mente não consegue acompanhar a “viagem” da banda. Coubesse a mim selecionar as faixas que viriam a compor este clássico do rock progressivo, teria mantido apenas a primeira parte desta composição (como a banda passou a fazer ao vivo nas encarnações com Jakko Jakszyk nos vocais), e completaria o lado B (que, obviamente, contaria também com a inclusão da faixa de encerramento do álbum, a clássica “The Court of the Crimson King”) com alguma das faixas que a banda costumava interpretar ao vivo na época, mas que não chegaram a ser registradas em estúdio, como a cover para “Get Thy Bearings” (originalmente gravada pelo cantor Donovan), ou as originais “Travel Weary Capricorn” ou “Mantra”, faixas que me agradam muito mais que a sessão instrumental de “Moonchild”, e que podem ser encontradas em diversos registros oficiais do período lançados posteriormente, como o box set Epitaph.
2. Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me (The Cure – 1987)
Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me sempre me soou como um daqueles muitos casos de um vinil duplo que, se fosse simples, seria muito melhor. Contente com o sucesso do disco anterior, The Head on the Door, de 1985, o líder Robert Smith solicitou aos outros membros do grupo que participassem do processo de composição do novo álbum, abrindo mão da quase ditadura autoral que havia no The Cure até então. O resultado disso foi que nada mais nada menos que quarenta músicas foram apresentadas, sendo que trinta chegaram a ser gravadas, com dezoito delas fazendo parte do disco oficial (que ficou tão longo que uma faixa, “Hey You!!!”, acabou ficando de fora da versão em CD original por falta de espaço). Das faixas gravadas e não aproveitadas, pelo menos cinco foram aproveitadas como lados B dos singles lançados para promover o disco (além de fazerem parte de um vinil laranja que vem como bônus em uma raríssima edição britânica do mesmo, que eu, infelizmente, nunca vi). Pois qualquer uma destas cinco faixas, a meu ver, teria potencial para fazer parte da versão finalizada do álbum, especialmente “Breathe” e “A Chain of Flowers” (as outras são “A Japanese Dream”, “Snow in Summer” e “Sugar Girl”), que poderiam facilmente substituir faixas pelas quais não tenho tanto apego, como “Like Cockatoos”, “Icing Sugar” ou “The Perfect Girl” (ou mesmo outras mais famosas, mas que também não me agradam muito, como “Hot Hot Hot!!!”, “Why Can’t I Be You?” ou “If Only Tonight We Could Sleep”). Acredito que estas alterações não fariam o conceito do disco “subir” muito na minha avaliação em relação à discografia do grupo, mas certamente fariam com que eu fosse atraído a ouvi-lo mais constantemente do que faço!
3. Eldorado (Neil Young – 1989)
Eldorado é um EP de cinco músicas lançado por Neil Young no começo de 1989, inicialmente apenas no Japão e na Austrália, segundo a wikipedia. Apenas seis meses depois, o canadense lançaria Freedom, álbum que “resgatou” sua credibilidade no meio musical (depois de uma década de 1980 cheia de percalços), e levou a carreira do músico de volta ao nível de popularidade que ele tinha durante os anos 1970, e que continha três faixas também presentes em Eldorado. Acontece que este EP de vinte e cinco minutos é tão interessante (a meu ver), que, se a ele fossem somadas as duas versões de “Rockin’ in the Free World” (uma acústica, outra elétrica) mais a longa “Crime in the City (Sixty to Zero Part I)” e a também bastante recomendável “No More” (todas presentes em Freedom), teríamos mais pelo menos vinte e três minutos, que comporiam um disco de quase uma hora ainda mais conciso (em termos de estilo musical) e interessante do que Freedom, e que seria, a meu ver, melhor que muita coisa que Young lançou nos últimos quarenta e poucos anos. A opção do canadense foi outra (com um resultado até que bem satisfatório, pois Freedom não é, nem de longe, um disco desprezível como alguns registros que vieram antes e depois), mas algo bem mais atraente poderia ter resultado das sessões de gravação que ele fez com seus colegas à época.
4. Falling Into Infinity (Dream Theater – 1997)
A versão lançada pelo Dream Theater de Falling Into Infinity não é aquela que a banda gostaria que fosse. A ideia inicial do quinteto era lançar um álbum duplo, com algumas faixas mais progressivas, incluindo uma longa suíte que ocuparia todo o lado D (pensando no vinil) e seria uma sequência para a faixa “Metropolis – Part I (The Miracle And The Sleeper)”, do álbum Images And Words. Algumas demos foram registradas, mas a gravadora não concordou com as ideias do grupo. Ela queria um álbum com maior potencial comercial, e, para isto, trouxe o produtor Kevin Shirley para “arredondar” mais algumas ideias das composições, além do famoso compositor Desmond Child, que trabalhou junto a Petrucci em uma nova versão para uma faixa até então chamada de “You or Me” (que viria a se tornar a conhecida “You Not Me”). O fato do grupo se ver obrigado a lançar a “versão da gravadora” no mercado ao invés da sua própria fez com que o disco soasse bastante diferente dos registros anteriores do Dream Theater, sendo até hoje alvo de controvérsias por parte dos fãs mais devotos da banda. Caso faixas como “Cover My Eyes”, “Where Are You Now?”, “The Way it Used to Be”, e, principalmente, “Speak to Me” e “Raise the Knife” (todas disponibilizadas anos depois na série de “bootlegs oficiais” lançada pelo grupo, a qual viria a ser relançada mais recentemente sob o nome “Lost Not Forgotten Archives”) tivessem sido lançadas à época (talvez, junto com a sequência de “Metropolis”, que, como sabemos, acabou virando depois um álbum completo, o aclamado Metropolis Pt. 2: Scenes From A Memory), como era o desejo do grupo (sendo que eu não gostaria de ver estas canções substituindo nenhuma faixa do álbum original, mas, sim, sendo agregadas a ele, formando o disco duplo que a banda desejava), Falling Into Infinity seria um álbum mais condizente com a carreira do Dream Theater até então, e, a meu ver, ainda melhor do que já é, ainda que muitos possam não concordar comigo!
5. Death Magnetic (Metallica – 2008)
Death Magnetic resgatou muito do prestígio que o Metallica havia perdido junto aos fãs mais “true” com a dupla Load/Reload, e principalmente, com o fraco St. Anger. A volta a composições com mais características de “RÉVI METÁU” e o retorno dos solos (ausentes no disco anterior) atraíram uma multidão de fãs que havia se afastado do grupo nos anos anteriores. Aí, no começo de 2012, a banda lançou o EP Beyond Magnetic, com quatro faixas que “sobraram” das gravações do álbum original (e que até mereceu um War Room especial aqui no site). E foi aí que comecei a me perguntar como conseguiram deixar “Hate Train” e “Just a Bullet Away” de fora do Death Magnetic (sendo que “Rebel of Babylon” também podia muito bem ter se encaixado lá). Quais músicas tirar para colocar estas? Eu gosto bastante do disco original, mas trocaria facilmente “The Judas Kiss” ou “My Apocalypse” pelas duas “descartadas”. E tenho certeza que muita gente preferiria ver uma delas no lugar de “The Unforgiven III”, faixa que sei que não agrada muitos dos fãs da banda. Não sei se o álbum ficaria muito melhor do que já é, mas, pelo menos, as duas primeiras faixas do EP teriam uma chance maior de se destacarem na discografia do Metallica, ao invés de ficarem relegadas a meras “coadjuvantes” em um EP do qual poucos ainda se lembram!
Estas foram as minhas escolhas para a segunda parte desta matéria. Agora é com vocês! Deixem suas opiniões nos comentários, e indiquem outros álbuns que poderiam ser “alterados” em sua concepção, para quem sabe termos mais partes em breve, e transformar esta ideia em uma nova seção para o site!
Muito legal, Micael, essa série! É interessante revermos os discos que conhecemos por essa perspectiva – que leva em consideração tantos aspectos na elaboração/lançamento de um álbum! Torço para que tenha a parte III!
Abraços.
Muito obrigado pelas palavras, Marcelo! Deixo aos meus colegas a ideia, e também torço para que eles possam vir com novas sugestões de discos que poderiam ser “refeitos” com as sobras que existem… eu, neste momento, ainda não consegui juntar outros cinco discos para uma terceira parte, mas venho pensando nisso, quem sabe não chegue lá? Mas acredito que algum dos outros colaboradores consiga elaborar suas listas, também! Aguardemos!