Pride & Glory – Pride & Glory [1994]

Pride & Glory – Pride & Glory [1994]

 

Por Fernando Bueno

Um dos discos ao vivo que mais ouvi na minha vida é o Live & Loud (1993) do Madman Ozzy Osbourne. Gostava de todas as faixas sem exceção e sempre ficava impressionado com as guitarras do disco. Na época que conheci Ozzy eu nem sabia quem era Randy Rhoads e que ele havia sido o criador de muitas daquelas músicas, então Zakk Wylde era para mim sinônimo de guitar hero.

Com isso na cabeça fiquei muito interessado quando li na Rock Brigade que Zakk estava lançando um disco “solo”. Com ele estavam o então baixista do White Lion, James Lomenzo (que chegou a tocar no futuro com o Megadeth) e o baterista Brian Tichy, que já tocou com um monte de bandas. Porém Pride & Glory não havia sido lançado aqui no Brasil, para se ter o álbum só importando e não conhecia ninguém que tinha feito isso para poder gravar (crianças…lembrem-se que isso é pré-mp3). Resultado, fiquei muitos anos sabendo do disco e nunca conseguia ouvir. Quando finalmente encontrei na internet ouvi uma vez e só. Estava em uma época que escutava praticamente só progressivo e assim acabei não dando muita bola.

Depois de alguns anos voltei meu interesse para o southern rock. Nem lembro como esse interesse cresceu, mas comecei a curtir demais e, claro os medalhões do estilo foram e sempre serão os destaques. Daí lembrei-me do Pride & Glory e a minha idéia sobre ele mudou totalmente. Talvez por naquele momento estar mais habituado ao som de The Alman Brothers Brand e Lynyrd Skynyrd do que quando ouvi da primeira vez.

Muitos fãs do Black Label Society, a banda atual de Zakk Wylde, sabem da ligação que ele tem com esse estilo musical do sul dos Estados Unidos. Mesmo sendo do norte ele sempre fez questão de exaltar o que os seus conterrâneos do sul faziam. Porém se no Black Label Society essa influência aparece em doses menores, no Pride & Glory é muito maior. Entretanto temos muito menos southern rock no Pride & Glory do que muitos costumam atribuir. Mas veja bem, não estou falando que a influência não existe e sim que é menor do que as pessoas acham. Por outro lado as faixas de destaques são justamente as que abusam da influencias das bandas sulistas citadas acima.

Em faixas como “Losin’ Your Mind” e “Lovin’ Woman” a veia southern está pulsando forte. O riff feito no banjo da primeira é o charme da faixa, que foi um dos singles lançados à época. Em “Shine On” já é uma gaita que faz a diferença. Em sua parte final há a adição de um riff bem pesado que também remete muito ao Black Label Society. Só para deixar claro, e a critério de curiosidade, no sul do Brasil é comum chamar de gaita o que é conhecido em alguns lugares do Brasil como sanfona. Mas a gaita que estou me referindo é a que os americanos chamam de harmonica. “Machine Gun Man” tem refrão marcante com backing vocals bem evidentes acompanhados até com alguma palmas.

Um dos motivos alegados para que Ozzy e Zakk se separarem foi que eles chegaram em um acordo que as músicas da carreira do Ozzy estavam ficando muito parecidas com as do Black Label Society. Ouçam o início de “Harvest of Pain” e percebam que isso acontece há quase 20 anos. O uso daqueles harmônicos característicos de Wylde também o acompanham no Pride & Glory.

Algumas faixas antecipam o que Zakk viria a fazer com o Black Label Society. O peso e riffs arrastados e a sua voz peculiar estão presentes em várias faixas. Esse é o motivo de eu dizer em um parágrafo anterior que o Pride & Glory não é tão southern como alguns dizem. Por falar em seus dotes vocais, na época da gravação, com cerca de 27-28 anos, o álcool ainda não tinha calibrado sua garganta para o modo que ele está cantando atualmente. Afinal são quase 20 anos de diferença. Gosto de sua voz em várias faixas do disco em especial em “The Chosen One” e “Losin’ Tour Mind”. Segundo Zakk o problema com bebidas é uma página virada em sua vida.

Em alguma faixas – “The Chosen One”, “Sweet Jesus” e “Fadin’ Away” – há a adição de um acompanhamento sinfônico que dá um cara totalmente diferente e elegante aos arranjos. Os arranjos foram feitos por Paul Buckmaster que conduzia a Sinfonia de Seattle. Zakk também mostra seus dotes ao piano em “Sweet Jesus”. Em “Horse Called War” a velocidade é aumentada e a sua levada de bateria com chimbal aberto lembra algumas do Led Zeppelin, principalmente ao vivo.

 

Os singles do disco foram “Losin’ Your Mind”, “Horse Called War” e “Troubled Wine”, que são ótimas, mas o maior destaque disparado é sem dúvida nenhuma “Cry Me A River”. A faixa é tão boa que durante muito tempo achei que só poderia ser uma regravação de algum medalhão do estilo. Certamente não faria feio em um dos discos clássicos do Creedence Clearwater Revival. O que ajudou a me confundir foi que a edição japonesa que eu tenho do álbum tem uma notação dizendo que a música havia sido regravada. Depois do lançamento do disco nos Estados Unidos eles regravaram a faixa e essa nova versão foi a que entrou nos discos lançados em outros lugares do mundo. Uma edição especial dupla, bem rara, contem as duas versões da faixa.

Fecham o álbum, na edição japonesa, uma versão bem interessante de “The Wizard” da ex-banda de seu então patrão, o Black Sabbath. Se na versão original a gaita já era utilizada bastante, aqui ele eleva o instrumento à destaque. “Hate Your Guts” é um folk-country em que o bandolin e o banjo são acompanhados de uma levada bem simples de bateria. Ótima faixa que combina muito bem com a imagem bucólica da capa.

Zakk provou nesse álbum que não era apenas o guitarrista da banda solo de Ozzy Osbourne e abriu possibilidades do que viria a fazer com o Black Label Society. Também conseguiu trabalhar em um estilo que gosta muito, foi criado ouvindo, mas que seus fãs da época não estavam muito acostumados, principalmente os de fora dos Estados Unidos. Tive a oportunidade de ver sua banda atual em um show lá em seu país e percebi que os fãs de lá adoram o cara por ele ter uma imagem bastante vinculada com as raízes americanas. Não deixe de ouvir o Pride & Glory.

Track List

1. Losin’ Your Mind

2. Horse Called War

3. Shine On

4. Lovin’ Woman

5. Harvester of Pain

6. The Chosen One

7. Sweet Jesus

8. Troubled Wine

9. Machine Gun Man

10. Cry Me a River

11. Toe’n the Line

12. Found a Friend

13. Fadin’ Away

14. Hate Your Guts

15. The Wizard

Um comentário em “Pride & Glory – Pride & Glory [1994]

  1. Parabéns pela resenha, Fernando Bueno, muito obrigado por compartilhar! Já que você trouxe reminiscências de como esse álbum chegou em sua vida, vou dizer como chegou na minha: no século passado, no longínquo 1994, eu tinha 19 anos e, em uma bela tarde de sábado, curtinho um portal mágico chamado MTV (ah, como a juventude de hoje é azarada por não ter vivido isso, mas enfim, sigamos…), eis que surge um videoclipe de uma música chamada “Losin’ Your Mind”, de uma banda que eu nunca tinha ouvido falar e dirigido pelo Steve Hanft – quem é dessa época sabe como era importante ANOTARMOS (internet?! hahauehahahaueha, os Enzos piram…) as informações dadas na TV, no RÁDIO, nas REVISTAS e nos JORNAIS… Com tudo anotado e altamente impactado pelo que ouvi/vi, peguei o TELEFONE (hauehahahaueha celular?!) e liguei numa LOJA DE DISCOS daqui de Brasília perguntando se eles tinham essa banda e seu disco (no início e final dos videoclipes da MTV vinham todas essas informações); mas ninguém conhecia. Meus amigos e eu montamos uma força tarefa: sempre tinha um ligado 24 horas na MTV – nos revezávamos, montávamos uma ordem de quem estaria de serviço na frente do aparelho de TV em suas respectivas casas – com o VIDEOCASSETE PRONTO para gravarmos o clipe; em outra frente, rodávamos as lojas de discos avisando dessa banda e, por fim, ligamos nas rádios que tocavam rock para eles “descobrirem” logo a banda. Quando, no mesmo 1994, o primeiro da turma conseguiu o CD deles (que era caríssimo na época… MP3?! huehahahahaha), os demais arranjaram logo uma FITA CASSETE para copiarmos, e os que tinham grana copiaram para CD’s virgens essa pérola…

    Bons tempos…

    Estou escrevendo ouvindo e revendo pela milésima vez na vida o clipe.

    Qualquer discoteca de respeito precisa ter esse álbum.

    Abraços.

    Ah, segue o clipe, com imagens dos pântanos de Louisiana e da cidade de New Orleans:

    https://www.youtube.com/watch?v=QEPSeKB7qkI

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