Derek And The Dominos: The Layla Sessions [1990]

Derek And The Dominos: The Layla Sessions [1990]

Por Mairon Machado

Layla and Another Assorted Love Songs foi lançado em 1970. Um dos melhores álbuns da carreira de Eric Clapton, o disco ganha este status muito por conta da participação fundamental da guitarra de Duane Allman, que está como convidado da banda que Eric Clapton (guitarra, vocais) criou após o Blind Faith (ao lado de Steve Winwood, Ginger Baker e Rick Grech), a qual registrou o excelente álbum homônimo de 1969, e uma breve passagem pela banda de Delaney & Boney, com quem registrou Delaney & Boney & Friends On Tour, também de 1969.

Foi da passagem com a trupe de Delaney & Boney que Clapton teve um contato mais próximo com Carl Radle (baixo, percussão), Jim Gordon (bateria, percussão, piano) e Bobby Whitlock (órgão, piano, teclados, violões), músicos que também estão presentes em On Tour, e que acabaram saindo do primeiro para migrar, na primavera de 1970 (outono aqui no Brasil), no novo e ambicioso projeto de Clapton. Batizado de Derek & The Dominos, nele Clapton iria imortalizar para a eternidade sua dor e culpa por amar a mulher de seu melhor amigo. Apesar da choradeira nas letras por conta da (então) esposa de George Harrison, Pattie Boyd, o que se ouve nos sulcos do vinil duplo é uma música de muita força e sentimento.

Ao longo de 14 faixas, Clapton cria obras primas como “Tell The Truth”, “Keep On Growing”, “Have You Ever Loved A Woman”, e principalmente, a fenomenal versão de “Little Wing” (original de Jimi Hendrix) e um de seus maiores riffs, o de “Layla”, canção na qual ele externaliza toda sua dor por Pattie. O disco, ele pela Consultoria do Rock como um dos dez melhores discos de 1970, e considerado por muitos ao redor do mundo como um dos melhores discos de todos os tempos, teve muitos narizes sendo torcidos quando de seu lançamento, mas hoje são poucos os que não reconhecem a qualidade musical registrada ali. Tanto que em 2000, ele foi induzido ao Grammy Hall of Fame, a revista Rolling Stone elegeu ele número 117 de uma lista de 500 discos de todos os tempos em 2003 (reposicionada para a posição 226 em 2020), e eleito o 287 melhor disco de todos os tempos em uma eleição feita pelo Colin Larkin’s All Time Top 1000 Albums no ano 2000. Ainda em em 2003, a VH1 nomeou Layla and Other Assorted Love Songs o octagésimo nono melhos disco de todos os tempos.

20 anos depois, o álbum recebeu uma nova mixagem, que foi lançada há exatos 33 anos, no dia 18 de setembro de 1990, através do box The Layla Sessions. A caixa de três CDs traz no CD 1, batizado Layla And Other Assorted Love Songs (Remixed Version), como o nome já diz, Layla … na íntegra e com uma nova mixagem, mostrando todas as qualidades que já haviam sido apresentadas nos sulcos dos vinis de 1970. Aos mais atentos, irão perceber que as guitarras estão mais claras, principalmente nos solos, assim como os vocais também parecem ganhar mais força aqui. Porém, o principal atrativo do box não é o CD 1, mas sim, os adicionais dois CDs de improvisos, os quais foram registrados pouco antes da gravação de Layla …, nos dias 26 e 27 de agosto, bem como 2 de setembro de 1970 (lembrando que o disco original foi lançado em 9 de novembro de 1970), totalizando mais de duas horas e meia de extras para os fãs.

O CD 2, batizado The Jams, começa com os improvisos “Jam I”, “Jam II” e “Jam III”, os quais trazem o quarteto original do Derek and the Dominos, em improvisações bastante distintas. Enquanto a primeira é um boogie comandado pela repetição do baixo na qual Whitlock e Clapton estão em alta inspiração, solando por 20 minutos, o segundo é uma faixa mais rock ‘n’ roll, já com cara de canção pronta, faltando apenas melodia, e que faz sacudir o esqueleto por bons 12 minutos. Já “Jam III” é outra faixa praticamente pronta, com um solo magistral de Clapton, e com um belíssimo trabalho por Whitlock, em um improviso de 13 minutos. Claro, para quem não curte jams, pode ser maçante ficar ouvindo os improvisos em cima de uma única base, mas para quem aprecia as criações de canções emblemáticas desde sua embriogênese, é uma pedida e tanto, ainda mais pelas duas últimas jams.

Afinal, nos treze minutos de “Jam IV”, temos a fusão do Derek and the Dominos com a The Allman Brothers Band. A Allman Brothers adorava um improviso, e a liberdade que ganha para fazer isso com God Clapton é fantástica. Um blues animado, inspirado na clássica “Killing Floor” de Howlin’ Wolf, contando com Dickey Betts e Duane Allman nas guitarras, além de Clapton, Whitlock no órgão, Butch Trucks na bateria, Berry Oakley no baixo e um atrasado Greg Allman ao piano, já que o mesmo chegou na casa onde estavam feitos os ensaios quase no fim daquela jam. Em um embalo que parece ter saído dos palcos do Fillmore East, é muito bom ouvir claramente o estilo inconfundível de cada guitarrista em seu solo, com Duane, particularmente, sendo o que mais brilha dos três. Por fim, “Jam V”, apresenta a versão quinteto do Derek and the Dominos, e ao longo de 18 minutos, Duane brilha no slide sobre um embalo suave da cozinha Dominiana, e claro, Clapton fazendo das suas em uma base muito gostosa e relaxante, inspirada no country rock americano. Ambos os improvisos foram registrados na noite de 27 de agosto de 1970.

Já o terceiro CD, intitulado Alternate Masters, Jams And Outtakes, conforme o nome sugere traz versões alternativas para algumas canções do disco original, além de mais improvisos e outtakes. Aqui estão versões alternativas para “Have You Ever Loved a Woman” e “It’s Too Late”, outtakes para “Mean Old World” em dueto Clapton/Duane e com a banda completa, assim como uma versão de ensaio para a mesma também como quinteto, e improvisos que levam a construção de “Tell The Truth”. O grande destaque para mim é a dupla Clapton/Duane emocionando os ouvintes nos dois inebriantes minutos de “(When Things Go Wrong) It Hurts Me Too”.

O box também traz um livreto de 16 páginas, com uma bela capa em alto-relevo e contando um pouco da história do surgimento do grupo, das gravações do álbum, e do processo de remasterização para esse lançamento, além de uma pasta com 12 réplicas das páginas de registros de faixas no estúdio. Como curiosidades adicionais, no texto fica claro a mudança que Duane deu para o direcionamento do disco, tornando-o muito mais do que um simples dramalhão sentimental por amar a mulher de um amigo, principalmente no processo de animar Clapton a se soltar nos solos. Também é curiosa a primeira vez que Clapton e Duane se conheceram, um fã do trabalho do outro, e como ambos ficaram extremamente tímidos ao serem apresentados pelo amigo em comum, o produtor Tom Dowd. Altamente recomendado!!

Track list

CD 1 – Layla And Other Assorted Love Songs (Remixed Version)
1-1 I Looked Away
1-2 Bell Bottom Blues
1-3 Keep On Growing
1-4 Nobody Knows You When You’re Down And Out
1-5 I Am Yours
1-6 Anyday
1-7 Key To The Highway
1-8 Tell The Truth
1-9 Why Does Love Got To Be So Sad
1-10 Have You Ever Loved A Woman
1-11 Little Wing
1-12 It’s Too Late
1-13 Layla
1-14 Thorn Tree In The Garden

CD 2 – The Jams
2-1 Jam I
2-2 Jam II
2-3 Jam III
2-4 Jam IV
2-5 Jam V

CD 3 – Alternate Masters, Jams And Outtakes
3-1 Have You Ever Loved A Woman (Alternate Master #1)
3-2 Have You Ever Loved A Woman (Alternate Master #2)
3-3 Tell The Truth (Jam #1)
3-4 Tell The Truth (Jam #2)
3-5 Mean Old World (Rehearsal)
3-6 Mean Old World (Band Version, Master Take)
3-7 Mean Old World (Duet Version, Master Take)
3-8 (When Things Go Wrong) It Hurts Me Too (Jam)
3-9 Tender Love (Incomplete Master)
3-10 It’s Too Late (Alternate Master)

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