Alanis Morissette – Jagged Little Pill Box Set (2015):

Alanis Morissette – Jagged Little Pill Box Set (2015):

Na metade da década de 90, Alanis Morissette lançou Jagged Little Pill. O disco que jogou seu nome para o estrelato fez a cabeça da juventude e atualmente é considerado um clássico do rock. Em 2015, o disco retornou ao mercado em edição comemorativa. E é sobre isso que abordarei no texto de hoje.

You Oughta Know

Em 13 de Junho de 1995, chegava ao mercado, Jagged Little Pill, terceiro álbum da cantora canadense Alanis Morissette. O disco foi lançado pela Maverick, selo que tinha por trás a ‘queen of pop’, Madonna. Alanis, de fato, iniciou sua carreira como uma cantora pop. Seus dois primeiros álbuns – Alanis e Now Is The Time – tiveram um destaque razoável no Canadá. Havia até quem se dirigisse à ela como a “Debbie Gibson canadense”. No entanto, não foi por essa razão que a parceria surgiu. Na verdade, a Maverick foi a única empresa que demonstrou interesse na artista.

“No final de Janeiro de 1995, eu e toda sua equipe, havíamos sido desencorajados. Nenhuma gravadora se sentia motivada à assinar com ela e estávamos ficando sem opções, até que chegamos na Maverick, localizado na 8000 Beverly Boulevard”, afirma Glen Ballard no livro que acompanha essa edição. O rapaz havia enviado a fita demo para tudo quanto era gravadora e todas disseram não. Quem enxergou algo de diferente foi um executivo, de apenas 23 anos de idade, Guy Oseary. “Ele ouviu um verso de “Perfect” e demonstrou interesse. Ele identificou o talento dela em 15 segundos de uma música que não virou single, enquanto todos os outros executivos ouviram todos os futuros hit singles e deixaram passar”.

Alanis conheceu Glen Ballard através de Kurt Denny, um jovem publicitário da MCA Records, gravadora para qual havia feito aqueles 2 álbuns com pegada mais dançante. Kurt telefonou para Glen e disse que gostaria que conhecesse uma jovem compositora, que estava em busca de parceiros de composição. Avisou que ela havia sido dispensada da gravadora após ter lançado 2 álbuns, mas que seu acordo publicitário havia sido renovado. Logo em seguida, combinou de se encontrar com a Alanis em um restaurante e disse: “Tenho alguém que gostaria que conhecesse. Seu nome é Glen Ballard. Não sei se vocês vão conseguir criar alguma coisa juntos, mas certamente vocês se darão bem”.

 

Capa do disco original

 

Em 8 de Março de 1994, Alanis e Glen se encontraram pela primeira vez. O encontro ocorreu em um estúdio que ele tinha em sua residência, localizada em Encino, California. “No começo, escrevíamos letras juntos, mas logo estabelecemos nosso método de trabalho. Glen e eu escrevíamos a música juntos, eu escrevia as letras na mesma hora. Demorávamos de 20 a 40 minutos para escrever uma música”, relembra Alanis Morissette. Em todos os encontros, uma música era criada e registrada. Esse era o acordo: uma música por dia.

Em entrevista à Rolling Stone, Glen rasgou elogios à cantora: “me senti conectado enquanto pessoa, em um grau quase parentesco. Me pegava pensando: ‘Uau! Você tem mesmo 19 anos? Ela era extremamente inteligente e arriscou fazer algo que talvez não tivesse interesse comercial.”.

A parte da Alanis era rápida. A cantora havia decidido que não queria algo perfeitinho, queria algo mais verdadeiro, mais emotivo. Por isso, decidiu que gravaria todos os vocais de 1 a 2 takes, não mais do que isso. Ela também acompanhava de perto todo o processo de criação dos arranjos e, sempre que via seu parceiro viajando nas ideias, fazia questão de lembrá-lo: “mantenha simples”. Vale lembrar que de todas as letras que escreveram juntos, somente “Ironic” foi para o disco. Todas as demais letras que estão no álbum foram escritas pela cantora sozinha. Também vale deixar registrado que o trabalho vocal que você escuta no disco foram retirados da demo. Alanis não regravou nenhuma música depois que assinou com a Maverick.

Basicamente, grande parte do que você escuta no disco é o que foi registrado nas demos. O que foi feito na maior parte do material foi uma nova remasterização, se utilizando de equipamentos de ponta para deixar o som mais encorpado. Apenas 5 músicas tiveram seu instrumental regravado: “You Oughta Know”, “Right Trough You”, “Forgiven”, “Wake Up” e “Mary Jane”. Dentre essas, a mais curiosa é justamente o megahit “You Oughta Know”. Glen Ballard pediu para que Flea e Dave Navarro (à época, guitarrista do Red Hot Chili Peppers) criassem um novo arranjo para a música. Os músicos começaram a fazer inúmeras jams, tendo como guia apenas o vocal da Alanis, até chegar no arranjo final. E, sim, meus amigos, eles estão na gravação do disco.

 

Cantora criou disco a partir das demos

 

All I Really Want

Pois bem, o primeiro CD desse pacote é justamente o famoso e emblemático Jagged Little Pill. Para quem não viveu a época, vale lembrar que o disco foi um verdadeiro fenômeno, ultrapassando as 30 milhões de cópias vendidas e emplacando 5 músicas nas estações de rádio e programação da MTV: “You Oughta Know”, “Hand In My Pocket”, “You Learn”, “Ironic” e “Head Over Feet”. Os arranjos misturavam programações com guitarras distorcidas. Gosto de dizer que sua sonoridade é um pop rock com um pé no grunge. As letras, em sua maioria, eram autobiográficas.

“Right Trough You”, por exemplo, nasceu inspirada nas rejeições que vieram na busca pelo contrato. Do modo como os executivos, muitas vezes, eram prepotentes e desrespeitosos, já houve comentários de que existiu até proposta de sexo por parte de alguns profissionais. “You Oughta Know” foi inspirada em um relacionamento pessoal. Alanis namorava um homem mais velho e acabou sendo trocada por outra mulher. Embora existam muitas especulações sobre quem seria seu ex-namorado, a teoria mais aceita é que seria Dave Coulier. O próprio já deu algumas entrevistas comentando de situações e expressões particulares que aparecem na letra que, por sinal, é repleta de sarcasmo.

“Forgiven” retrata a relação de Alanis com a igreja católica. A cantora foi educada em escolas católicas, mas sempre questionou diversos preceitos, incluindo a diferença no tratamento entre homens e mulheres. É por isso que ela canta: “Eu contei meus atos mais sujos à um homem invejoso/ Meus irmãos nunca sentiram culpa pelo que fizeram, mas talvez eu tenha que fazer em nome do Pai, do Filho e do Cético”. Em 2015, quando esse box estava sendo lançado, a repórter do Interview Magazine, perguntou o que ela queria dizer com: “O que eu aprendi, eu rejeitei, mas tornei a acreditar”, um dos versos da letra, e Alanis foi direta e reta: “Minha relação com Deus”. Ela explica que acredita em Deus, mas não em uma figura necessariamente masculina e, por vezes, cruel e vingativo. Sua visão é que Deus não tem uma forma específica e essa ideia de divindade vingativa, de pecadores, foi criada pelo ser humano. Ou seja, vale a pena ouvir e dar uma atenção especial às letras.

 

Todos os registros vocais foram feitos em 1 ou 2 takes

 

Ironic

O disco 2 é formado por demos. “Mas, peraí, Davi, você não disse que o disco é basicamente a demo”? Sim, mas são músicas que não entraram para o disco. As 5 primeiras foram escritas para o álbum e acabaram ficando de fora. Dessas, minhas favoritas são “No Avalon” e “Comfort” que, com uma boa produção, poderiam se tornar faixas realmente fortes. Também é curioso notar que “Superstar Wonderful Weirdos” e “Closer Than You Might Believe” já traziam elementos que apareceriam em álbuns posteriores. A linha vocal do refrão de “Superstar Wonderful Weirdos”, por exemplo, remete diretamente ao álbum Under Rug Swept (2002).

Já as outras 5 faixas foram escritas durante e após a turnê de Jagged Little Pill. Possivelmente para serem usadas em um futuro álbum. E, de fato, o arranjo de “King Of Intimidation” é bem a cara de Supposed Former Infatuation Junkie. Para os fãs de carteirinha, contudo, as maiores curiosidades ficam por conta de “Bottom Line”, a primeira música escrita para Jagged Little Pill e a versão original de “These Are The Thoughts”, que seria regravada anos mais tarde no MTV Unplugged.

Em 2005, quando o álbum estava completando 10 anos, Alanis Morissete entrou em estúdio e regravou Jagged Little Pill, na íntegra, em formato acústico. E esse é o terceiro disco do pacote. As músicas seguem a sequência original e, embora seja impossível recriar a magia da época, acaba sendo uma audição interessante. Olhar todas aquelas canções, sob uma nova perspectiva, 10 anos depois é, no mínimo, curioso. Minhas regravações favoritas ficam por conta de “Hand In My Pocket” e “Your House”, que ganharam arranjos bem distintos das originais e ficaram muito boas.

 

Maior parte das letras é autobiográfica.

 

Wake Up

Para fechar o box, temos um disco ao vivo com um registro da turnê, gravado bem no início da gira, antes dela se tornar o furacão que assolou o mundo. É até curioso ouvir ela apresentar no microfone músicas que hoje são consideradas clássicas. A banda já estava afiada. Aliás, vale dar um destaque para o trabalho de bateria do saudoso Taylor Hawkins, extremamente criativo e com uma pegada fora do comum.

Se no estúdio, ficava claro o acento comercial, ao vivo a coisa mudava de figura. A banda ficava mais pesada, se aproximando do rock alternativo que estava em voga na época. Alanis demonstrava que já era uma bela cantora, atacando a voz para a cima durante todo o tempo. O único senão foi a escolha de “Perfect” para fechar a apresentação. Deveria ter encerrado com uma música mais impactante. E ela também é muito alta para ficar no fim do show. Mesmo Alanis sendo uma grande cantora, ela demonstrava dificuldade em chegar em determinadas notas. De todo modo, a performance é muito boa e vale destacar as performances de “Forgiven”, “Wake Up”, e especialmente “You Learn”, que considero a versão do show superior à do álbum.

2020, 25 anos depois do sucesso avassalador de Jagged Little Pill, Alanis Morissette sai em turnê comemorativa tocando o disco na íntegra. A tour que acabou sendo interrompida, depois de poucos shows, por conta da pandemia, está de volta e já tem show marcado no Brasil. Nos vemos lá!

 

Cartaz do show no Brasil

 

Faixas:

CD 1:

  1. All I Really Want
  2. You Oughta Know
  3. Perfect
  4. Hand In My Pocket
  5. Right Trough You
  6. Forgiven
  7. You Learn
  8. Head Over Feet
  9. Mary Jane
  10. Ironic
  11. Not The Doctor
  12. Wake Up
  13. You Oughta Know (Jimmy The Saint Blend) / Your House

CD2:

  1. The Bottom Line
  2. Superstar Wonderful Weirdos
  3. Closer Than You Might Believe
  4. No Avalon
  5. Comfort
  6. Gorgeous
  7. King Of Intimidation
  8. Death of Cinderella
  9. London
  10. These Are The Toughts

CD 3:

  1. All I Really Want
  2. You Oughta Know
  3. Perfect
  4. Hand In My Pocket
  5. Right Trough You
  6. Forgiven
  7. You Learn
  8. Head Over Feet
  9. Mary Jane
  10. Ironic
  11. Not The Doctor
  12. Wake Up / Your House

CD 4:

  1. All I Really Want
  2. Right Through You
  3. Not The Doctor
  4. Hand In My Pocket
  5. Mary Jane
  6. Ironic
  7. You Learn
  8. Forgiven
  9. You Oughta Know
  10. Wake Up
  11. Head Over Feet
  12. Perfect

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