Discografias Comentadas: Destruction [Parte I]

Discografias Comentadas: Destruction [Parte I]

Por André Kaminski

Formados na cidade de Weil Am Rheim na Alemanha (na época a Ocidental), bem na tríplice fronteira com a França e a Suíça, o Destruction vem ao longo de 4 décadas fazendo um thrash metal (exceto por alguns anos na década de 90) consistente e nos brindando com músicas pesadas, blasfemas e de temática violenta. Inicialmente chamados como Knight of Demon e tendo Ulf Kühne (vocais), Mike Sifringer (guitarra), Marcel “Schmier” Schirmer (baixo) e Tommy Sandmann (bateria), começaram inicialmente tocando um heavy metal mais tradicional ao estilo da NWOBHM. Todavia, logo em seguida desistiram e partiram para um som mais cru e bruto ao estilo Venom, sua maior influência embora não tivessem partido para os caminhos do que se tornaria o black metal.

Tudo começou com Mike e Tommy, que eram já amigos de adolescência em Weil Am Rheim. Tommy tocava bateria mas estava parado e Sifringer já tocava guitarra fazendo algumas jams com uns amigos locais. Até que um dia convidaram Kühne para tocar com eles. Este deu uns berros e o Knight of Demon foi criado. Mas faltava um baixista.

Um dia, os três estavam bebendo em um clube local e viram um cara desconhecido deles usando roupas de heavy metal. Foram atrás dele, começaram a conversar e ficaram amigos. Umas semanas depois o convidaram para se juntar à banda como baixista. Ele aceitou. E esse baixista é o Schmier.

Continuaram a ensaiar mas eles não gostavam do nome Knight of Demon. Continuaram a pesquisar nomes até que o baterista Tommy veio com a ideia de se chamarem Destruction. A banda aprovou na hora.

Pouco antes de gravarem sua primeira demo, Kühne foi expulso da banda devido a um conflito por causa de uma garota com Mike Sifringer. O fato dele preferir que a banda fizesse um som mais ao estilo Twisted Sister também não ajudou. Em forma de trio e com Schmier também assumindo os vocais, e já sob o nome Destruction, eles lançam uma demo em cassete chamada Bestial Invasion of Hell [1984] e com a gravadora alemã Steamhammer gostando do material dos caras, eles lançariam ainda no final de 1984 um EP chamado Sentence of Death. Com boas vendas e recepção do público e dos zines, em poucos meses já emendariam seu primeiro disco de estúdio iniciando sua trajetória pelos palcos mundiais; uma história parecida com a dos contemporâneos do Kreator e do Sodom. Estes são até hoje considerados como a “Tríade do Thrash Alemão”. Veremos então a primeira parte da longa discografia dos germânicos.


Infernal Overkill [1985]

Aproveitando algumas faixas retrabalhadas de sua demo e mais algumas composições novas, temos as 8 músicas de seu primeiro trabalho de estúdio. Schmier faz aquele vocal de thrash meio agudo e esganiçado, bem típico de outras bandas similares dos anos 80. Apesar de um som veloz e cru, aquela típica produção meio pobre que para a galera desse estilo dá até um charme a mais, vejo que as músicas eram muito boas mas que tinham potencial para muito mais. Eu até perdoo geralmente essas gravações oitentistas pobres, mas aqui eu acredito que elas interferiram no resultado final. O baixo é quase inaudível e os pratos da bateria possuem uma mixagem muito ruim. Mas as composições e os riffs são ótimos e canções como “Death Trap”, “The Ritual”, “Tormentor” e “Bestial Invasion” são praticamente hinos da banda. Um disco curto mas que mostrou uma banda com grande potencial e que conseguiu logo no seu disco de estreia fazer uma tour com o Slayer pela Alemanha e indo tocar no festival WWIII no Canadá.


Eternal Devastation [1986]

Voltando do Canadá a banda já se enfiou em estúdio para em pouco tempo lançarem este Eternal Devastation. A banda melhorou muito sua técnica aqui. Esses 12 meses tocando e viajando fizeram um bem danado à banda. O disco é o meu favorito deles e as músicas são uma pedrada atrás da outra. O melhor saco de riffs de Sifringer está aqui. A produção, mesmo ainda tipicamente abafada, melhorou bastante. Até recomendo que ouçam a versão remasterizada deste disco que o melhorou imensamente. E a banda apresenta uma variação maior de suas facetas e influências como a introdução dedilhada de guitarra de “Curse the Gods” para então cair em um thrashzão fodido. Mesmo Tommy, que nunca foi lá um grande baterista, se segura muito bem e consegue uma ótima performance. Schmier manera um pouco mais nos agudos e apresenta um vocal rasgado muito melhor do que no primeiro disco. Todas as faixas são excelentes aqui, mas além de “Curse the Gods”, tenho como preferidas “United by Hatred” um pouco mais cadenciada e que me remeteu à coisas do Iron Maiden e “Confused Mind”, novamente com aquele belo dedilhado de guitarra e baixo em sua intro mostrando que a banda não precisa ficar apenas socando riffs para soar boa e interessante. Claro que isso dura pouco e a velocidade do thrash à la Slayer volta com tudo logo depois contando com riffs e solos muito bons. Discaço do Destruction e um dos melhores álbuns thrash que se ouvirá em sua vida. Deguste sem moderação!


Pouco tempo depois do lançamento de Eternal Devastation, o batera Tommy Sandmann se viu em uma enrascada. Aos 19 anos ele teria que servir 12 meses no exército ou passar 18 meses fazendo serviço comunitário. Schmier e Sifringer conseguiram dispensa do quartel, mas ele não. Tendo que se decidir entre deixar a banda na mão durante todo esse período, questionando a própria carreira futura visto que não acreditava que pudesse tocar em alto nível até os 30-35 anos e sem ainda saber uma profissão que pudesse exercer caso tivesse que parar de tocar bateria, ele optou por deixar a banda. Christian Dudek do Sodom tocou bateria na tour que se seguiu até que a banda recrutasse Oliver Kaiser para o seu lugar. Para o Destruction foi ótimo porque Kaiser é um baterista melhor que Sandmann. E o velho batera resolveu se aposentar da música e se tornou um policial. Mesmo não creditado, Tommy disse que contribuiu como convidado a fazer alguns backing vocals para vários discos da banda. Ele ainda possui boas relações com eles e Schmier volta e meia o visita para assistem shows juntos.


Release from Agony [1987]

Um pouco depois com o lançamento do EP Mad Bucther [1987] (e cuja faixa título se tornou um clássico nos shows da banda) eles também recrutam Harry Wilkens para fazer a segunda guitarra para o disco. Agora como um quarteto, veio este Release from Agony. A banda agora se tornou mais técnica com estes novos membros o que começou a desagradar o rabugento Schmier que era favorável ao “bom e puro thrash metal”. Embora o álbum esteja entre os favoritos dos fãs da banda, ainda tenho preferência maior pelo segundo. As músicas continuam soando bem, o baixo de Schmier finalmente aparece com mais clareza e a banda parece estar mais confiante no próprio taco. Minhas favoritas aqui são a porrada “Dissatisfied Existence” e a última faixa “Survive to Die” que me lembram mais o Destruction do disco anterior. Esta canção tem seus últimos segundos uma ripagem de “In the Mood”, clássico antigo da velha swing music eternizado por Glen Miller. Um ótimo álbum, uma evolução do anterior e que a despeito de eu ainda preferir o segundo, vejo que as composições deste álbum mantém um patamar alto de qualidade no que diz respeito a serem um thrash de qualidade.


Veio a turnê aos quais eles abriram para o Celtic Frost (na bizarra tour do álbum Cold Lake, que Tom Warrior renega até hoje) e começaram os conflitos internos em relação a Schmier e o restante da banda. Iniciaram as gravações para o que seria o próximo disco e segundo Sifringer, Schmier estava sempre desanimado e reclamando das composições (ainda mais técnicas que do álbum anterior). Sem muita conversa, os caras dispensaram o baixista e vocalista e chamaram André Grieder do Poltergeist para o seu lugar. Para os baixos, Mike e Harry dividiram eles junto ao convidado Christian Engler (que entraria para o Destruction como membro oficial somente uns anos depois). O velho Shima fundou então uma nova banda chamada Headhunter e lá esteve durante os anos 90 e até lançou um disco nos anos 2000 quando já havia retornado ao Destruction. Porém, difícil conciliar as duas bandas e o Headhunter está inativo há algum tempo.


Cracked Brain [1990]

Dentro da carreira do Destruction, este é um álbum tremendamente injustiçado. Grieder faz um belo trabalho com seus vocais e as composições continuam no nível Destruction de qualidade. Mas em termos de vendas este ficou muito abaixo dos anteriores e há relatos até mesmo de fãs que boicotavam a banda devido a dispensa do antigo baixista e vocalista. Aliás, devido aos próprios méritos deste disco, é o único trabalho que a banda considera como oficial sem ter Schmier em seus créditos. O disco é uma sequência natural de Release from Agony e faixas como “Time Must End” seguem novamente com uma alta qualidade de riffs por parte de Sifringer e solos por parte de Wilkens. Há até um cover bizarro do sucesso da banda de power pop The Knack, e eles gravaram “My Sharona” que ficou uma mistura a um estilo pop/thrash. Acho que com Schmier na banda, eles nunca poderiam viajar numa dessas.


Grieder apenas quebrou esse galho e logo voltou ao Poltergeist. Harry Wilkens também abandonou o barco para se tornar produtor de vídeo de uma tv suíça. Um tempo depois acabou voltando a tocar e lançou um disco há dois anos com a banda V-HAJD. Para piorar, o Destruction perdeu o contrato com a Steamhammer. Sifringer e Kaiser basicamente pegaram metade da formação do Ephemera’s Party (o chatíssimo vocalista Thomas Rosenmerkel, o baixista Christian Engler e o guitarrista Michael Piranio) e então passaram a se chamar “Neo-Destruction”, como uma sonoridade diferente do thrash de antigamente. Entre 1994 e 1998 lançaram os horrendos EPs Destruction e Them Not Me. Então veio 1998 e…


The Least Successful Human Cannonball [1998]

Sinceramente, nem quero me aprofundar muito nesse aqui. Tente imaginar uma mistura de Korn com Pantera feito por adolescentes espinhentos de 15 anos. Letras terrivelmente mal escritas, uma produção saturada e guitarras repetitivas sairão do som de suas caixas. Sem contar que Thomas Rosenmerkel tenta imitar Phil Anselmo. E com vocais cheios de efeitos ainda por cima. Bem compreensível que a banda renegue este álbum em sua discografia. Nada aqui se salva.


Agora também com Oliver Kaiser pulando fora, restou a Mike Sifringer sozinho reunir os cacos do que era o Destruction. Devido a questões jurídicas, Mike e Schmier tiveram que se reunir para discutirem estas questões. Já rolavam boatos de reunião entre a imprensa e os fãs. Os organizadores de alguns festivais como o do Wacken e With Full Force disseram que a banda poderia tocar nestes eventos caso se reunissem. Ambos botaram o rabinho entre as pernas, ensaiaram, tocaram e foram elogiadíssimos. Não restou outra alternativa senão Schmier retornar de vez.


All Hell Breaks Loose [2000]

Schmier e Sifringer se uniram ao baterista Sven Vormann e o restante da banda foi demitido. Como trio, soltaram em 2000 o lançamento deste ótimo disco. Para ajudar ainda, foi pela gigante Nuclear Blast. Com uma produção já mais modernizada e aos moldes dos anos 2000, a banda retorna em boa forma e exemplos disso já estão na excelente segunda faixa “The Final Curtain”, música que poderia facilmente estar nos dois primeiros discos com seu peso e velocidade. Ao longo do álbum Schmier e companhia não dão descanso e outra porrada de destaque se dá na forma de “World Domination of Pain”, seguida de “X-Treme Measures” que já dá uma cadenciada e se foca em riffs mais lentos e poderosos. Até este momento seu disco mais pesado e furioso e tal sonoridade continuaria nos lançamentos seguidos (com variados graus de sucesso).


Oliver Kaiser hoje é professor de musicologia e toca em uma banda pequena de jazz-fusion (jazz sempre foi uma de suas paixões),

A partir dos anos 2000 até hoje, a banda solta um calhamaço de álbuns com uma diferença de 1 a 3 anos entre cada lançamento. Alguns entre os melhores lançamentos da banda, outros menos inspirados. De qualquer forma, retorno em mais ou menos 20 dias para continuar com a segunda parte da discografia comentada do Destruction.

5 comentários sobre “Discografias Comentadas: Destruction [Parte I]

  1. “Eternal Devastation” é um dos maiores clássicos do heavy metal após 1985! Na verdade, esse foi o único disco do Destruction que realmente tive oportunidade de ouvir diversas vezes, pois, como nunca engoli “Infernal Overkill” por causa da sonoridade muito ruim e “Release from Agony” só me chegou às mãos numa fita cassete para lá de mal gravada, acabei perdendo os outros lançamentos – vou até conferir este e o “Cracked Brain”, porque fiquei curioso em ouvir “My Sharona”!

    1. Opa Marcello

      De fato, Eternal Devastation é um clássico deles. Meu preferido até um tempo atrás era o D.E.V.O.L.U.T.I.O.N. de 2008, mas o segundo acabou ganhando a minha preferência nos últimos dois anos. O Destruction lançou nos últimos tempos alguns discos muito bons. Vale a pena ir atrás!

  2. nas primeiras vezes que ouvi o Destruction eu confesso que não gostei. Aí, muito tempo depois eu vi um show da turnê do Antichrist em uma TV num bar. Fui atrás desse disco, curti, voltei para os primeiros discos e tudo mudou.

    1. Para quem gosta de thrash, eles tem tudo redondinho. Talvez seja o vocal meio esgoelado do Schmier que pode estranhar um pouco, mas com o tempo essa percepção melhora.

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